2009/08/09

A Esconsa Realidade da Saúde Privada

- Dr. estou mal. Mal. Muito mal da cabeça.
- Não, não me dói, não são dores, passo é a vida a discutir com o senso comum, ruídos na cabeça, besouros, murmurios. Desta vez são as estórias das "virtudes" da saúde privada, dos seguros de saúde, das farmacêuticas boazinhas que nos querem tratar da saúde, dessas vigarices todas.
- Pois pois, bem sei que não posso passar a vida a discutir comigo, canso-me muito, mas se não dou vazão à bilis fico com bezouros na cabeça, veja bem esta lista de "virtudes":


E depois quando eles defendem que:
É um imperativo nacional a defesa e o reforço do SNS, como serviço público de saúde geral, universal e gratuito, como garantia de acesso a cuidados de saúde de qualidade, independentemente das condições socioeconómicas do indivíduo.
Objectivo que deve ser acompanhado de um conjunto de medidas tais como:
- Promover a humanização, a qualidade e a sustentabilidade do SNS com o pleno aproveitamento da capacidade instalada e o reforço dos seus recursos técnicos e humanos;
- Reintegrar os Hospitais EPE no serviço público administrativo e assegurar criação das unidades de cuidados de saúde em falta [...];
- Defender a implementação de um modelo de gestão pública e democrática, participada, competente e desgovernamentalizada;
- Pôr fim à promiscuidade entre o sector público e o privado;
- Alargar as áreas de actuação do SNS numa linha de convergência no progresso com os subsistemas públicos e retomar o caminho da sua gratuitidade abolindo as taxas moderadoras;
- Avançar para uma verdadeira reforma dos Cuidados de Saúde Primários que aproxime os serviços dos utentes, com um significativo investimento em meios técnicos e humanos que assegure médicos de família a todos os utentes;
- Promover o desenvolvimento da rede de cuidados continuados;
- Promover a produção nacional de medicamentos e a redução do seu custo para o Estado e para os doentes;
- Reforçar o papel fiscalizador e regulador do INFARMED e definir com rigor a intervenção de cada uma das componentes do sector do medicamento, impedindo que alguma das partes possa ter uma intervenção do tipo cartel;
- Defender a criação de um laboratório nacional de medicamentos e a abertura de farmácias públicas nos hospitais e em alguns dos maiores Centros de Saúde;
- Adoptar medidas estratégicas relativas à formação pré e pós graduada de profissionais de saúde, que permitam responder às reais necessidades do país;
- Restabelecer o vínculo público de nomeação, valorizado pela melhoria condições de trabalho e por carreiras e remunerações condignas assentes no princípio de salário igual para trabalho e condições de trabalho iguais;
- Adoptar medidas de emergência para aumentar o número de profissionais de saúde, principalmente de médicos.

Aonde é que vou arranjar desculpas esfarrapadas para não votar neles?

2009/06/06

Campanha dos Média ou a Santa Paciência de um Cidadão

Como a campanha acabou e não tenho nada para fazer além de ver a selecção perder com o Henver Hoxa, deixa-me verter aqui três dos muitos escritos que a cobertura televisiva da campanha me foi suscitando
.
Dia 24 de Maio a guerra foi com o grupo SIC que me levou a enviar um escrito para o Sindicato dos Jornalistas.
Caros Srs.,
Ignorando eu:
1. A quem cabe a responsabilidade pela emissão de carteiras profissionais de Jornalista
2. Qual o teor do, a existir, Código Deontológico dos Jornalistas,
Venho chamar a vossa melhor atenção para o que me parece ser um claro sintoma da mais absoluta incompetência que reina na vossa profissão:
Hoje, Domingo dia 24 de Maio no Jornal da Noite da SIC e uma hora depois na SIC Noticias tive a oportunidade de observar um facto bizarro: para os Srs. que captam e editam as imagens dos referidos telejornais a súmula informativa do passeio de um candidato ao PE pelas ruas de Seia reside nos pés e nas pernas dos caminhantes e as imagens mais informativas do comicio de um outro candidato são de um acordeão e de uma porta de saída.
Eu compreendo que a crise obrigue os grandes grupos de comunicação a recorrer a amadores baratuxos, mas perante a incompetência dos senhores que hoje na SIC captaram e editaram as imagens da campanha para o PE talvez o Sindicato dos Jornalistas possa aconselhar o referido grupo de comunicação a contratar um (acredito que um seja suficiente) Jornalista Profissional, de preferência idóneo, com ideias claras sobre objectividade e que tenha lido o (a existir) vosso Código Deontológico para ensinar os Srs. que andam a dar instruções aos cameraman sobre quais as imagens com conteúdo informativo sobre cada tipo de evento. Aqui ficam algus conselhos.

- As imagens mais informativas do passeio de um candidato por uma cidade NÃO SÃO os pés dos Srs. caminhantes (salvo os casos em que as imagens se destinem, por exemplo, a tratar da específica problemática dos pés dos Srs. caminhantes).
- As imagens mais informativas de um comicio NÃO SÃO as de um acordeão que ocupe a totalidade do écran (a não ser que estas se destinem, por exemplo, a ilustrar o virtuosimo do músico).
- As imagens mais informativas de um comicio NÃO SÃO as da porta de saída (a não ser que, por exemplo, se pretenda demonstrar a legal presença, ou ilegal ausência, do Bombeiro de serviço).
- A noticia sobre o cão que mordeu um homem carece de valor informativo, a não ser que se pretenda, por exemplo, polemizar sobre a problemática da crescente agressividade dos animais de companhia com carências alimentares graves.

Agradecendo desde já todos os esforços que possam envidar no sentido de fazer chegar estes singelos conselhos aos Srs. Editores dos referidos canais,

Sempre com os melhores cumprimentos,
Referencia Sem Mais,
Algures em Portugal

Lá por volta de 29 de Maio, a desgraça veio da TVI a quem diligentemente fiz saber que:
Eu compreendo que a cobertura da TVI é sistematicamente mais opinativa do que jornalisticamente informativa.
Acredito que tal se deva à escola da Srª MMG e a outros motivos que a honestidade desconhece.
Mas os comentários que ontem a menina que acompanha a campanha da CDU teceu sobre a forma de comunicar da Candidata Ilda Figueiredo pareceram-me algo excessivos.
Desde um "não se sabe quem estava a vender o quê" até um "trabalhadores, trabalhadores, trabalhadores repetido até gastar a palavra" parecem-me muito pouco deontologicamente jornalisticos. Há coisas que se dizem à mesa mas transcendem a objectividade jornalistica.

E para terminar em beleza, ontem mesmo mesmo no finzinho, lá foi mais um para a RTP-N:
É incomensurável a incompetência do sr. que estava há cinco minutos na RTP-N a fazer perguntas ao que eu deduzo ser um qualquer comentador desportivo!
Logo após uma peça em que a cabeça de lista da CDU fala de: desemprego, trabalho precário, crise económica e reforma universal findos 40 anos de descontos, o moço que os srs contrataram, deduzo que por falta de recursos financeiros para contratar um Jornalista, pergunta ao comentador desportivo: "mas o que é importante para a CDU é saber se ganha ao Bloco, não é verdade?
Ao que o comentador desportivo responde com um qualquer arrazoado em que lhe foge a cabeça para a sua profissão ao referir "os do clube".
Meus Srs, já não sei se tudo isto é resultado da mais absoluta incapacidade de descodificar o português dos candidatos ou pura desonestidade intelectual.
Quando são os srs que editam por aí as noticias a ouvir uma coisa das bocas dos candidatos e depois a repetir adnauseum que aquilo que os candidatos disseram não são temas europeus (mas onde é que se definem as directivas sobre o emprego que depois são transpostas para a legislação nacional, mas de onde vêm as directivas para impedir todo o qualquer esforço para reformar os mais idosos por forma a empregar os mais jovens?)
Quando são os srs que comentam que em vez de comentarem as propostas que os candidatos fazem se limitam a repetir a cassete que meteram na cabeça antes de entrar em estúdio.
Quando são os srs que filmam os eventos a optar pelo fait divers em vez de filmarem o que pode ser informativo: os palanques e as pessoas que estão a participar nos eventos!
Para depois concluir que o povo português se está nas tintas para as europeias!
O que estão de facto a fazer é a não alimentar o cavalo para no fim concluirem que os cavalos não comem!

Incompetência ou desonestidade?
Não encontro outra explicação

2009/06/04

Podiamos ganhar imenso se aprendessemos com os outros

Esta vai escrita a frio. Se a quisesse a quente tinha cá vindo ontem logo a seguir à amena cavaqueira da Ana com o Miguel na SIC Noticias.

É claro que eu, como bom proletário que se quer bem, só posso mesmo votar comunista. E se eles vão coligados na CDU, voto na CDU que é uma alegria (será?). Depois dos 85000 - na minha modesta opinião muito por baixo, muito por baixo - alegres comunistas reunidos em Lisboa a desfilar pela avenida abaixo até se fica com outro alento para apoiar os Camaradas.

O que é que querem? A Consciência de Classe fala mais alto e em épocas de crise não me dou ao luxo de votar com o coração, tem mesmo de ser com a cabeça fria porque isto da Consciência de Classe é uma chatice, sempre a morder o subconsciente: olha que isto está preto, olha eles têm de apanhar um susto para ver se se emendam (Ingénuo? Eu?), olha que tu queres é acabar com a exploração do homem pelo homem e não limitar-te a gerir simpática, ética e social-democraticamente este lamaçal da s”u”ciedade contemporanea, olha assim e ollha assado. Raio da Consciência de Classe não para de zumbir. E assim sendo, não há alternativa lá vou eu votar na CDU e na Camarada Ilda e no único Jovem (30 anitos para mim ainda é ser Jovem :) em lugar elegível nas listas das europeias.

Dito isto está na hora de começar a zurzir. Ainda nem sei se começo por zurzir nos meus Camaradas ou por cantar loas ao Miguel. Vou pela segunda que foi o que me trouxe aqui ao sofá do psicanalista e deixo o zurzimento lá mais para depois.

Se eu pudesse votar com o coração, depois da entrevista de ontem na SIC Noticias, confesso que votava no meu amigo Miguel. Foi simplesmente brilhante. Foi o primeiro candidato ás europeias que eu ouvi que chegou ali e disse: o que de todo não se discutiu foi a politica externa da UE e isto assim não pode ser e andar a transportar torturados dum lado para o outro não é próprio das sociais-democracias. Não? Epá! Isto de ler livros velhos é lixado, estou agora a terminar “A Queda de Paris” do Ehrenburg que já tem teias de aranha e um gajo até chora quando vê os chuchas do Século XXI a fazerem exactamente o mesmo que os chuchas de 1935: sempre sempre ao lado dos exploradores! Antes os Alemães que os comunistas! Antes a ditadura que os comunistas!

Está bem, concordo, estes torturados que passaram por Portugal até são fundamentalistas anti-comunistas, mas quando chegar a hora, fazem conn]osco o mesmo que estão agora a fazer com eles. Certinho que nem água. Vamos acabar com o parentesis já vai longo.

Mas dizia eu, foi o primeiro que vi na trebentina a dizer que assim não pode ser e que o que precisamos é de facilitar as reformas ao fim de 40 anos de descontos para deixar entrar a juventude no mercado de trabalho e que está tudo a sair do ensino para o desemprego (curioso, acho que já li algures uma proposta parecida dos meus camaradas, mas não me lembro de ouvir a Camarada Ilda ou o Camarada Jerónimo falarem nisto durante esta campanha, mas deve ser um problema de memória ou uma confusão minha). E que a CIP até gostava disso, mas que o trócaste não vai nisso e até é de estranhar porque como o trócaste tá sempre de acordo com a CIP não se percebe porque é que nisto não lhes faz o jeitinho. E que se calhar a culpa é toda do Varroso que mandou umas directivas lá de Bruxelas a dizer que não se pode reformar ninguém e que toca a mourejar até aos 70 e de preferência até aos 80 e se for possivel até aos 90 qué para irem directamente do travalho pá cova e não andarem a chular o estado, que o estado mal tem dinheiro para dar à especulação financeira e não tem nada que andar a gastar o dinheiro dos descontos dos trabalhadores em pensões de reforma dos trabalhadores! Pronto, mandou o Varroso e o trócaste assinou por baixo!

Foi o primeiro que ouvi a dizer, preto no branco, clarinho que nem água que as pessoas estão a ver mal o filme e que na verdade é cada vez mais lá em Bruxelas que elas se fazem e depois aqui só se assina por baixo. Não, espera lá, quem tem andado a repetir isto à saciedade é a Drª Ilda Figueiredo, a candidata da CDU, com o tal “Lá se fazem cá se pagam”, mas que o Miguel foi cristalino na explicação lá isso foi.

Foi o primeiro que ouvi a dizer, preto no branco, clarinho que nem água, que é preciso criar uma politica social europeia, porque isto da europa é tudo muito lindo mas só funciona para politicas enconómicas que é como quem diz para roubar quem trabalha e que depois essa coisa do social fica por conta de cada estado membro e cada um que se amanhe com o que cobrar a quem trabalha. E que até se pode financiar essa politica social europeia com um imposto sobre as vigarices especulativas (curioso, acho que foram os meus amigos comunistas que apresentaram a semana passada uma coisa parecida na AR só para o país, mas não me lembro de ouvir a Camarada Ilda ou o Camarada Jerónimo falarem nisto para a Europa toda, se bem que o possam ter feito até porque como tão todos no mesmo grupo parlamentar lá da europa devem ter propostas semelhantes nesta área.)

Foi o primeiro a quem ouvi a dizer, preto no branco ... está bem, pronto, é verdade que ele estava a jogar em casa, é verdade que toda gente já percebeu que a Jornalista Ana Lourenço tem um fraquinho pelas esquerdas, é verdade que ela fez as perguntinhas todas que o meu amigo Miguel tinha estado a “ensaiar” no comicio umas horas antes, é verdade que de vez em quando a camera lá mostrava a Ana a dizer que sim com a cabeça e a deixar passar um sorrisinho sincero (distraiu-se, que ela até costuma ser profissionalmente hiper contida), tudo isso é verdade, mas também é verdade que o Miguel deve ter perdido umas horas a preparar os 15 minutos de sucesso e depois chegou ali e fez um ganda brilharete.

Parabéns Miguel, só não levas o meu voto porque Consciência de Classe Oblige!

Mas quando é que os meus camaradas conseguem fazer brilharetes destes?
Mas porque é que eles não conseguem ser assim tão claros?

E pronto, agora que já dei os parabéns a quem merece e zurzi nos meus amigos e também já fui beber um copinho de água e já acalmei os ânimos, já posso dar os parabéns à Drª Ilda Figueiredo, cabeça de lista da CDU, pela excelente campanha que tem feito e pelas várias vezes que me surpreendeu muito positivamente ao conseguir dizer tudo o que queria dizer apesar dos despropósitos daquela senhora que lê noticias no 2º canal com os seus constantes: mas a sua proposta não foi aprovada, tá bem tá bem, mas diga-me lá o que é que acha das trocas e baldrocas e a Drª Ilda sempre na sua até ao fim do “e é por tudo o que foi dito que é importante votar CDU no dia 7 de Junho”. Toma lá qué pa não tares a chatear quem tem propostas concretas.

Só mesmo para terminar, falta um desabafo sobre a tal srª que lê noticias:

- Mas Ó Querida! Mas como é que você quer que as propostas da Esquerda passem no parlamento europeu se as pessoas continuam a votar nos dois partidos que têm governado portugal nos últimos 30 anos? Nos dois partidos responsáveis pela crise, pelo mal estar, pelos baixos salários, pelo desemprego, pelo atraso, pela destruição da indústria, pela destruição da agricultura, pela privatização da saúde, pela carestia do ensino, pelos ataques serrados aos professores que ensinam os vossos filhos, pelas vigarices dos BCP's e dos BPN's e dos BPP's, pela governamentalização da justiça, pelo desemprego?

Só quando as pessoas perceberem que têm de votar em quem propõe uma saúde pública gratuita e universal, um ensino público gratuito e universal, mais impostos sobre o Capital e os lucros da finança e melhores salários para quem trabalha, melhores reformas e reforma universal ao fim de 40 anos de descontos, investimento público na agricultura e na indústria, o fim dos paraísos fiscais e taxação das vigarices, só quando a Srª que até deve estar a viver da força de trabalho que vende aí no canal votar com Consciência de Classe é que as propostas da Esquerda vão conseguir passar no Parlamento Europeu!

Pois, mas para isso é preciso Consciência .... de Classe.

2009/03/22

Mea Culpa, Mea Culpa Mea Máxima Culpa

Mea Culpa, Mea Culpa, Mea Máxima Culpa ... Schlack, Schlack, Schlack (*)

Epá Ganda Bronca!

Ainda há meia hora perdi mais de uma hora a zurzir em dois perfeitos inocentes e agora tenho de vir aqui engolir com lingua de palmo tudo o que estive a escrevinhar. (Mas como ninguém lê isto, posso dizer o que me apetecer que ninguém dá por nada :)

Antes de mais, aqui fica o meu mais desvelado pedido de desculpa à Profissional que conduziu a entrevista. A Jornalista Judite de Sousa foi de um comportamente exemplar! Afinal até deixava o entrevistado acabar os raciocinios preocupando-se apenas em obter respostas cabais às perguntas que fazia sempre que considerava que o entrevistado estava a fugir com o rabinho à seringa. Mea Culpa um.

Depois, aqui fica também lavrado castanho escuro no claro, o claro arrependimento pelas amargas palavras com que aí em baixo zurzi no Camarada Carvalho da Silva. Afinal, ao longo dos trinta minutos, foram mais as vezes em que alinhavou duas ou três de rajada do que aquelas em que se perdeu com circunlóquios e voltas à praça. Mea Culpa dois.

Finalmente uma justificaçãozita em jeito de desculpa de mau pagador. Só podia mesmo estar muito cansado e cheio de fome quando vi o prog ramaem directo. Agora que o estive a rever na web, não sei se por rever, se por estar bem disposto, se por já ter vertido todo o fel que me ia na alma, a verdade é que achei a entrevista muito mais esclarecedora e exceptuando alguma atrapalhação e má dicção por parte do entrevistado, o que reduzia a compreensão, até gostei da coisa. Mea Máxima Culpa, três.

(*) É o som do chicote a zurzir nas costas do proletário de sangue quente nas veias.

Istéumundesofrimente

Epá o esforço que eu tenho feito neste últimos dias para deixar passar e seguir em frente sem zurzir no gajo!

Epá! É qu'eu gramo buéé do gajo. É um comuna pacífico, dialogante, tenta desesperadamente explicar aos patrões que não podem ser assim tão vergonhosamente garganeiros sob pena do Zé Ferrugem ficar memo chateado, e não o queiram ver chateado que não é boa pinta, tenta desesperadamente explicar aos gajos que os sindicatos são uns gajos porreiros que lhes fazem imensa falta, porque enquanto forem os sindicatos a organizar a raiva talvez ela não chegue a esventrar máquinas, queimar carros e partir montras.

Enfim, eu gramo memo do gajo e quando o deixam até diz duas seguidas bem alinhavadas.

O problema é que a gente já sabe que quando bai á trebisão é pa não nos deixarem alinhavar duas seguidas e a mocinha é useira e vezeira em não deixar ninguém falar. Não sei se aquilo é estilo, ou má educação ou a mania de que as cabeças dos outros são tão oucas comá dela e só assimilam sound bites bissilábicos. O que é certo é que toda a gente conhece a Judite pela capacidade de interromper o entrevistado. Eu nem nunca percebi bem para que é que ela precisa de alguém do outro lado. Acho que sozinha fazia entrevistas muito melhores. Pergunta, pergunta, interrompe, interrompe, pergunta, interrompe, insiste, insiste, assim comássim quem veja as entrevistas dela também nunca chega a perceber bem o que é que o entrevistado está ali a fazer e muito menos o que é ele pensará sobre o que quer que seja.

Enfim, deixemos a moça em paz que não tem culpa nenhuma. Aquilo é a maneira de ser dela e quem quiser que a veja a dar o seu melhor a interromper o entrevistado e a enervar o espectador.

Epá! E não se enganem que nem sequer é má vontade, ó menos a Judinha, justiça lhe seja feita, é igualmente intragável a entrevistar quem quer que seja.

Desta vez o meu drama é mesmo com o entrevistado. Um gajo porreiro, com montes de coisa importantes e relevantes pa dizer e que ao longo de 30 minutos não conseguiu alinhavar duas seguidas.

Mais parecia um peixinho maluco, sempre de isco em isco, debica aqui, debica ali, não come daqui mas morde e fica, e lá foi ficando pendurado em cada anzol que debicava até se soltar com umas barbatanadas, só pa voltar a morder no anzol do lado, atrás de cada pergunta, de cada interrupção, de cada interjeição da Judinha, como se a anterior já tivesse fugido "né?", sem nunca conseguir retomar o raciocinio no ponto em que o deixou, sem nunca conseguir deixar-me perceber o que pensa sobre a precariedade, os baixos salários, o edividamento, a exploração o vale-tudo-até-tirar-olhos a que chegámos ...

E eu até sei o que ele pensa!

Imagino o que terão percebido os que não sabem o que ele pensa! Sinceramente acho que ficaram a perceber que ele não pensa memo nada. E olhem que é mentira, os gajos, esses dos sindicatos, pensam memo muita coisa bem pensada sobre muita coisa. A gente é que nunca tem oportunidade de os ouvir pensar :)

Há já muito tempo que não via ninguém tão bem manipuladinho, tão enganadinho, tão rabiadinho a sangue frio a deixar-me um amargo na boca que raistapartiça!

Prontes malta lá fiquei eu triste outra vez. Lá menfrasquei nuns prozacs, jurei e rejurei que deixa andar co meu pai é bombeiro e os gajos que se lixem que nunca mais aprendem a diferença entre discursar pa duzentos mil amigos e explicar uma coisa a um inimigo, a diferença entre falar num plenário de trabalhadores e falar na trebentina, a diferença entre discutir um acordo colectivo com os bosses da indústria e enfrentar o horário nobre da trebisão.

Poças coisinhos! Mas quando é que vocês aprendem que se é pa irem ao horário nobre é pa perderem o dia a preparar a guerra! Se querem dizer alguma coisinha a alguém têm que perder pelo menos um dia a pensar como é que a vão dizer, a treinar, a pensar, a cortar, a burilar, a discutir, mas não numa de amigalhaços, têm memo de arranjar dois gajos, a entrevistadora é senhora? Arranjem duas gajas, perdão, duas camaradas, duas senhoras, pa barrarem o Carvalho com salvas de perguntas, interrupções, interjeições, pa lhe cortarem o raciocinio passo a passo, marcação cerrada.

Poças malta aprendam a enfrentar o inimigo com as armas dele e não me chateiem qu'eu tou a ficar raivosamente furioso.

E não me venham dizer que ele até esteve muito bem, dadas as circunstâncias! Mas quais circunstâncias? Mas bem o quê? Em trinta minutos de toma lá dá cá não se percebeu rigorosamente nada sobre as propostas da CGTP!

Se tiverem aquilo gravado, vejam lá a coisa com olhos de ver e digam-me: se tivessem de explicar a alguém o que ele ali quis dizer, apenas com base no que ali foi dito, como é que descalçavam a bota?

Vêm aí as eleições todas, as entrevistas todas, os debates, os plenários. Arranjem lá uns diazinhos de estágio, gravem as entrevistas com o Paulo Portas e o Loicinha e aprendam qualquer coisinha cos gajos poças!

Fechem-se numa sala com dois ou três gajos dispostos a fazer de chatos e enfrentem-nos 4 horas seguidas em toda a sua chatice! Até à exaustão!

Capacitem-se de que sempre que forem à trebentina vão enfrentar um inimigo tenebroso que está lá pa vos arrasar.

E deixem de se queixar que os "media não passam a nossa mensagem", que "deturpam as nossas palavras", que ninguém gosta da gente, ca gente somos uns pobrezinhos.

A culpa é toda vossa!

Salvo raríssimas excepções, sempre que têm uma oportunidadezinha de dizer qualquer coisa de relevante à malta, perdem-na por incapacidade, impreparação e irresponsabilidade.

Já acho que vocês fazem de propósito, vão-se mas é lixar!

2009/01/02

Continuemos então a dar na ferradura!

Vou ser honesto!

Quando vim prá'qui debitar escritos, a ideia era zurzir no Glorioso. Enfim, em vez de ficar em casa a dizer cobras e lagartos dos pontapés que eles dão nos Materialismos todos, históricos e dialéticos e mailás economias políticas dos capitalismos, em vez de marrar com as paredes sobre os voluntarismos, tantas e tantas vezes estalinianamente arrepiantes, à luz dos quais "analisam" os socialismos "reais", em lugar de embirrar em silêncio com congressos unanimistas, "teses" de 200 páginas e purgas cirúrgicas, vinha pá'qui e descarregava a bílis.

A ideia era poupar na conta do psicanalista!

Bom. Essa era a ideia original.

Mas como os media lhes dão cada vez menos tempo de antena e eu vou tendo cada vez menos motivos pa me chatear com eles, resta-me continuar a dar na ferradura.

Desta vez a propósito de uma série de artigos publicados em finais do ano transacto no "Jornal de Actualidades" cá do Novo proletário.

Confesso-me desde já um criterioso visualizador de tudo quanto é noticiário dos nossos isentos e pluralistas canais de trebisão. Confesso aqui o meu terrível vicio que dolorosamente me força a sentar às 19:00 frente ao tubo de raios catódicos, telecomando na mão e guardanapo por baixo dos queixos pra limpar a baba que vai escorrendo pelos cantos dos lábios.

Confesso também que nas últimas semanas não ouvi nenhum dos comentadores de serbiço dar a devida relevância ao cerco israelita que desde 9 de Dezembro levou ao completo esgotamento da maior parte dos bens alimentares e de primeira necessidade na Faixa de Gaza e estará provavelmente na origem do esgotar da paciência dos meus figadais inimigos - de classe e civilizacionais – integristas islâmicos que por ali dominam.

Confesso também que ainda não ouvi um comentário que fosse sobre a libertação unilateral de prisioneiros que as FARC estão em vias de concretizar depois de públicas negociações com intelectuais colombianos.

Confesso que também não ouvi comentáriozito que fosse à noticia do insuspeito Financial Times (19.12.08) que avalia os prejuízos totais resultantes do chamado «papel tóxico» algures entre 2,8 e 6 milhões de milhões de dólares como o fez o comuna do Jorge Cadima no Avança de 24 de Dezembro(*) nem vi nenhum telejornal dar a palavra a um(a) qualquer analista que me explicasse os potenciais desenvolvimentos da actual crise capitalista nos termos em que o faz o GEAB.

É por tudo isto que tenho cada vez mais dificuldade em perder tempo a dar no cavalo e tenho mesmo que debitar escritos a dar na ferradura.

É por tudo isto que um gajo tem mesmo de procurar um bocadinho mais de informação pra lá da que nos é metida às colheradas pela casa dentro.

Ou então morremos estúpidos.


A verdade é que isto é uma ganda poupança em sofá e agora já posso ir descansar a consciência de classe pá frente do trebentino.


(*) Não malta não o li, porque como saberão tou chateado cos gajos. Li o artigo no “Jornal de Actualidades” deste repositório psicanalítico.