2017/09/28
2017/09/18
Uma Vela para Iluminar os Rohingya
Ainda não sei bem se serei queimado, crucificado, lapidado, ou tudo isso ao mesmo tempo, mas neste momento ando algo necessitado de ver alguma luz a iluminar o que se passa com os rohingya.
Pode ser a luz da fogueira feita com a madeira da cruz acesa com as pedras a baterem umas nas outras, desde que não seja oriunda das sempre omnipresentes agências de produção de realidades alternativas.
A verdade é que não consigo imaginar uma mulher com o passado de Aung San Suu Kyi a permitir e tentar esconder o (alegado?) genocídio em curso na antiga Birmânia.
Não encaixa, não faz sentido, custa a engolir. De um lado, os media todos, e o Sr. António (bilderberg) Guterres, e as ONG's (alegadamente?) do Sr. Soros, a mostrarem-me imagens de pessoas, claramente oriundas do sudoeste asiático, a atravessarem a selva com os seus pertences à cabeça, apresentadas como estando a fugir de uma perseguição étnica, do outro, uma mulher por quem sempre tive respeito a dizer-me que não, não há nenhum genocídio em curso. Não encaixa.
Ora de acordo com os mesmos media que produzem realidades alternativas está em curso um genocídio que a prémio Nobel da Paz, e prémio Sakharov (?!?) desmente.
E como eu já não consigo dar crédito imediato aos media que aos meus olhos já só são famosos enquanto produtores de realidades alternativas, deixo-vos aqui uma vela que mistura Jorge Soros com petróleo, gas natural, oleodutos e a necessidade de ir lançando alguma areia no desenvolvimento avassalador do império do meio ... podem acender a fogueira, mas digam-me se este artigo do António Abreu lançou alguma luz sobre o que se poderá estar a passar antes de me porem nela.
Pode ser a luz da fogueira feita com a madeira da cruz acesa com as pedras a baterem umas nas outras, desde que não seja oriunda das sempre omnipresentes agências de produção de realidades alternativas.
A verdade é que não consigo imaginar uma mulher com o passado de Aung San Suu Kyi a permitir e tentar esconder o (alegado?) genocídio em curso na antiga Birmânia.
Não encaixa, não faz sentido, custa a engolir. De um lado, os media todos, e o Sr. António (bilderberg) Guterres, e as ONG's (alegadamente?) do Sr. Soros, a mostrarem-me imagens de pessoas, claramente oriundas do sudoeste asiático, a atravessarem a selva com os seus pertences à cabeça, apresentadas como estando a fugir de uma perseguição étnica, do outro, uma mulher por quem sempre tive respeito a dizer-me que não, não há nenhum genocídio em curso. Não encaixa.
Ora de acordo com os mesmos media que produzem realidades alternativas está em curso um genocídio que a prémio Nobel da Paz, e prémio Sakharov (?!?) desmente.
E como eu já não consigo dar crédito imediato aos media que aos meus olhos já só são famosos enquanto produtores de realidades alternativas, deixo-vos aqui uma vela que mistura Jorge Soros com petróleo, gas natural, oleodutos e a necessidade de ir lançando alguma areia no desenvolvimento avassalador do império do meio ... podem acender a fogueira, mas digam-me se este artigo do António Abreu lançou alguma luz sobre o que se poderá estar a passar antes de me porem nela.
2017/09/17
Cops that should be in jail
Sobre policias democratadores ao serviço de amos democratadores na celebérrima democratadura. Uma democratadura de classe onde ter pele escura é pior do que ser pobre e o pior de tudo é ser um pobre de pele escura.
E este post nem tem nada que ver com os protestos em St. Louis depois de um tribunal ter absolvido o policia que assassinou um negro com cinco tiros nas costas alegando ter tido a impressão de que o assassinado iria sacar da pistola encontrada ao seu lado com ADN apenas ... do policia ... puff, nem um ponto, nem uma virgula. É um recorde?
E este post nem tem nada que ver com os protestos em St. Louis depois de um tribunal ter absolvido o policia que assassinou um negro com cinco tiros nas costas alegando ter tido a impressão de que o assassinado iria sacar da pistola encontrada ao seu lado com ADN apenas ... do policia ... puff, nem um ponto, nem uma virgula. É um recorde?
2017/09/16
Todos Contra o CETA
Venham daí e tragam outros amigos também.
Ainda podemos dizer não.
Partilhem, divulguem e apareçam.
CONCERTOS:
16h00 - Fly the Sun
18h30 - Produtos Biológicos Grátis
20h45 - André Cid Lauret
INTERVENÇÕES da sociedade civil:
Plataforma Não ao Tratado Transatlântico
Gil Penha Lopes, Sandro Mendonça
João Costa (Academia Cidadã)
Tânia Russo (Precários Inflexíveis)
Augusto Graça (CGTP-In)
Ana Marta Paz (Liga para a Protecção da Natureza)
João Vieira (Confederação Nacional de Agricultura)
Carla Graça (Zero)
Rita Silva (Animal)
Ainda podemos dizer não.
Partilhem, divulguem e apareçam.
CONCERTOS:
16h00 - Fly the Sun
18h30 - Produtos Biológicos Grátis
20h45 - André Cid Lauret
INTERVENÇÕES da sociedade civil:
Plataforma Não ao Tratado Transatlântico
Gil Penha Lopes, Sandro Mendonça
João Costa (Academia Cidadã)
Tânia Russo (Precários Inflexíveis)
Augusto Graça (CGTP-In)
Ana Marta Paz (Liga para a Protecção da Natureza)
João Vieira (Confederação Nacional de Agricultura)
Carla Graça (Zero)
Rita Silva (Animal)
2017/09/11
A Greve Patronal de 1972 no Chile
Na passagem dos 45 anos sobre o sangrento golpe militar que derrubou o governo de Unidade Popular, liderado por um Presidente democraticamente eleito, vale a pena lembrar a famosa greve dos camionistas que, ao longo de três semanas, tentou paralisar a economia Chilena.
Sabemos hoje, através de documentos da própria CIA, publicados ao abrigo da "Freedom Information Act ou FIA", que se tratou de uma greve fomentada, organizada e financiada pela CIA.
Sabemos, hoje com provas documentais, que já desde 1968 os EUA preparavam uma reacção musculada para o caso de Salvador Allende vir a ser eleito em 1970, depois de quase o ter sido numas eleições fraudulentas em que esteve a 30 000 votos da presidência.
Interessante é verificar as semelhanças, as sincronias, as sintonias entre os métodos de 1972 e os deste novo século XXI, ver como tudo se desenrola de acordo com o mesmo cenário, o mesmo plano, as mesmas fases:
Uma fase inicial de campanha mediática onde vale tudo, desde geringonçar, desligitimar e vigarizar, uma segunda de roubos, bombas, fogos e desestabilizações, tudo a preparar um descontentamento que, exista ou não, vai acabar por "trans"parecer, então nas rádios e jornais, agora nas televisões e nas redes sociais. A fase seguinte, a das greves patronais, das caçarolas e pandeiretas, da burguesia nas ruas pudemos vê-la na Venezuela e no Brasil, durou três ou quatro anos, mas o Capital chegou onde queria. O Brasil já é governado novamente por uma corja de corruptos da pior espécie de direita pinochista trauliteira, a Venezuela está na calha e, como é no resto do mundo? Onde é que encontramos semelhanças com o Chile de 1972?
Sabemos hoje, através de documentos da própria CIA, publicados ao abrigo da "Freedom Information Act ou FIA", que se tratou de uma greve fomentada, organizada e financiada pela CIA.
Sabemos, hoje com provas documentais, que já desde 1968 os EUA preparavam uma reacção musculada para o caso de Salvador Allende vir a ser eleito em 1970, depois de quase o ter sido numas eleições fraudulentas em que esteve a 30 000 votos da presidência.
Interessante é verificar as semelhanças, as sincronias, as sintonias entre os métodos de 1972 e os deste novo século XXI, ver como tudo se desenrola de acordo com o mesmo cenário, o mesmo plano, as mesmas fases:
Uma fase inicial de campanha mediática onde vale tudo, desde geringonçar, desligitimar e vigarizar, uma segunda de roubos, bombas, fogos e desestabilizações, tudo a preparar um descontentamento que, exista ou não, vai acabar por "trans"parecer, então nas rádios e jornais, agora nas televisões e nas redes sociais. A fase seguinte, a das greves patronais, das caçarolas e pandeiretas, da burguesia nas ruas pudemos vê-la na Venezuela e no Brasil, durou três ou quatro anos, mas o Capital chegou onde queria. O Brasil já é governado novamente por uma corja de corruptos da pior espécie de direita pinochista trauliteira, a Venezuela está na calha e, como é no resto do mundo? Onde é que encontramos semelhanças com o Chile de 1972?
Grande Reportagem de uma Grande Homenagem
Grande texto, grande reportagem de uma grande homenagem.
Tudo em grande como costuma sair da pena do "Manel do Violino".
Obrigado Manel, não pares de escrever violino, perdão, de tocar violino.
A música dos dias em que o futuro nasceu
(Manuel Pires Rocha in Avante!, 2017/09/07)
Quando as primeiras notas da Carvalhesa soaram nas colunas de som do Palco 25 de Abril, a orquestra e o coro estavam já instalados e prontos a iniciar o Concerto “100 Anos de Futuro”. A praça foi então tomada pela dança colectiva que sempre acompanha o toque da velha moda transmontana. Por breves instantes a Sinfonietta de Lisboa e o Coro Lisboa Cantat foram o público, e o público o protagonista.
Calado o brado das muitas vozes, acendidas as luzes sobre o palco, instalado o silêncio na praça, por sobre o sussurro da Festa, as madeiras abriram caminho às vozes da primeira das Danças Polovtsianas de Borodine, no primeiro dos maravilhamentos do Concerto. Portuguesas as vozes mas russo o cantar, Alexander Borodine moldando a música do seu povo. Era o surgimento de uma nova Rússia, a vida colectiva construída a partir da imagem sonora popular, um traço mais na criação da consciência revolucionária que viria a dar origem à Revolução de Outubro. Vibrante a orquestra, as Danças foram fixando no relvado, ainda pouco pisado, quem passava pela avenida que circunda a praça.
Tudo em grande como costuma sair da pena do "Manel do Violino".
Obrigado Manel, não pares de escrever violino, perdão, de tocar violino.
A música dos dias em que o futuro nasceu
(Manuel Pires Rocha in Avante!, 2017/09/07)
Quando as primeiras notas da Carvalhesa soaram nas colunas de som do Palco 25 de Abril, a orquestra e o coro estavam já instalados e prontos a iniciar o Concerto “100 Anos de Futuro”. A praça foi então tomada pela dança colectiva que sempre acompanha o toque da velha moda transmontana. Por breves instantes a Sinfonietta de Lisboa e o Coro Lisboa Cantat foram o público, e o público o protagonista.
Calado o brado das muitas vozes, acendidas as luzes sobre o palco, instalado o silêncio na praça, por sobre o sussurro da Festa, as madeiras abriram caminho às vozes da primeira das Danças Polovtsianas de Borodine, no primeiro dos maravilhamentos do Concerto. Portuguesas as vozes mas russo o cantar, Alexander Borodine moldando a música do seu povo. Era o surgimento de uma nova Rússia, a vida colectiva construída a partir da imagem sonora popular, um traço mais na criação da consciência revolucionária que viria a dar origem à Revolução de Outubro. Vibrante a orquestra, as Danças foram fixando no relvado, ainda pouco pisado, quem passava pela avenida que circunda a praça.
2017/09/10
A Politica do PCP e a Falta Dela no PSD
Leia-se a entrevista do lider parlamentar do PCP ao DN onde, entre outras coisas, diz preto no branco que «o principal problema do país não é o défice orçamental. Os principais défices do país são cinco no essencial: o produtivo, o alimentar, o energético, o tecnológico e o demográfico. [...]».
Onde se explica que «Se olharmos para o OE com a perspetiva de satisfazer os interesses e as imposições da UE, naturalmente amarramos o país à situação em que ele se encontra. Se olharmos para o OE com a perspetiva de ele ser instrumento para responder aos problemas do país, então é uma questão de se ir buscar os recursos que o Estado necessita e canalizá-los para aí.»
E reafirma que o «PCP não deixará de se bater pelo aumento do SMN para 600 euros [já em 2018] com tudo o que isso implica de garantia de condições de progresso e desenvolvimento do país, enquanto o puto passos dizia que o país nunca aguentaria o aumento de 2017 para 557 que afinal devolveu confiança a consumidores e investidores.
E defende que «É preciso aliviar a carga de impostos sobre os rendimentos do trabalho, mas é preciso tributar de forma mais firme os rendimentos do capital e os mais elevados. A nossa proposta é de constituição de 10 escalões, que teria uma vantagem que era a de tornar efetivamente mais progressivo o imposto que é o IRS. Menos escalões significa menos progressividade e esta significa mais injustiça fiscal. A diferença entre os que ganham menos e os que ganham mais acaba por ficar mais esbatida.», assim, para quem já se esqueceu da Marilú Coelho que extinguiu escalões para fazer os pobres pagarem mais para os ricos pagarem menos quando procedeu ao «enorme aumento de impostos, o brutal agravamento de impostos sobre os rendimentos do trabalho que foi concretizado pelo anterior governo PSD/CDS»
Querem mais social-democracia do que as propostas do PCP? Mais reformismo do que o proposto pelo João Oliveira?
E depois compare-se com os tiros de pólvora seca do ex-jotinha da tecnoforma sobre o assalto a tancos que afinal não terá sido, ou sobre os fogos que lavram onde ele acabou com os guardas florestais, ou sobre o crescimento do pib que seria maior com ele, como não foi quando ele foi além da troika, ou sobre os suicidios de Pedrogão que não existiram, ao contrário dos que aumentaram quando ele mandou toda a gente emigrar, ou sobre os atuais direitos dos enfermeiros a quem ele, quando foi mais longe do que a troika, pagava a 4 euros a hora.
Quando comparo propostas de salários e reformas do IRS com coscuvelhices de comadres, percebo porque é que o ex-jotinha da tecnoforma não consegue propor nada e se devia reformar a ele próprio.
Onde se explica que «Se olharmos para o OE com a perspetiva de satisfazer os interesses e as imposições da UE, naturalmente amarramos o país à situação em que ele se encontra. Se olharmos para o OE com a perspetiva de ele ser instrumento para responder aos problemas do país, então é uma questão de se ir buscar os recursos que o Estado necessita e canalizá-los para aí.»
E reafirma que o «PCP não deixará de se bater pelo aumento do SMN para 600 euros [já em 2018] com tudo o que isso implica de garantia de condições de progresso e desenvolvimento do país, enquanto o puto passos dizia que o país nunca aguentaria o aumento de 2017 para 557 que afinal devolveu confiança a consumidores e investidores.
E defende que «É preciso aliviar a carga de impostos sobre os rendimentos do trabalho, mas é preciso tributar de forma mais firme os rendimentos do capital e os mais elevados. A nossa proposta é de constituição de 10 escalões, que teria uma vantagem que era a de tornar efetivamente mais progressivo o imposto que é o IRS. Menos escalões significa menos progressividade e esta significa mais injustiça fiscal. A diferença entre os que ganham menos e os que ganham mais acaba por ficar mais esbatida.», assim, para quem já se esqueceu da Marilú Coelho que extinguiu escalões para fazer os pobres pagarem mais para os ricos pagarem menos quando procedeu ao «enorme aumento de impostos, o brutal agravamento de impostos sobre os rendimentos do trabalho que foi concretizado pelo anterior governo PSD/CDS»
Querem mais social-democracia do que as propostas do PCP? Mais reformismo do que o proposto pelo João Oliveira?
E depois compare-se com os tiros de pólvora seca do ex-jotinha da tecnoforma sobre o assalto a tancos que afinal não terá sido, ou sobre os fogos que lavram onde ele acabou com os guardas florestais, ou sobre o crescimento do pib que seria maior com ele, como não foi quando ele foi além da troika, ou sobre os suicidios de Pedrogão que não existiram, ao contrário dos que aumentaram quando ele mandou toda a gente emigrar, ou sobre os atuais direitos dos enfermeiros a quem ele, quando foi mais longe do que a troika, pagava a 4 euros a hora.
Quando comparo propostas de salários e reformas do IRS com coscuvelhices de comadres, percebo porque é que o ex-jotinha da tecnoforma não consegue propor nada e se devia reformar a ele próprio.
2017/09/08
Auto-Europa: no lutar é que está o ganho
Tiveram noticias da reunião da Comissão Sindical do SITE SUL com a administração da Auto Europa?
Não? De certeza? Não viram nada?
Queres ver que os caneiros e os pasquins que andaram atrás do choradinho deixaram passar a reunião em que a administração da ae ia anunciar a tão, por eles, desejada e apregoada deslocalização da fábrica para o kuala-lompur?
Ah, não, afinal sempre se reuniram com o sindicato e parece que ainda não será desta que põem os robots no Gana.
Segundo o único jornal com jornalistas ainda existente, o abrilabril, a «administração [da auto europa] reconheceu que o modelo de horário apresentado continha aspectos negativos para a vida dos trabalhadores, do ponto de vista social, familiar, económico, etc.», mostrando-se «disponível para encontrar outra solução, [...] tendo ficado acordado a realização de uma nova reunião nos próximos dias, com data a agendar.»
Parece que o comunicado do sindicato afeto à CGTP, a quem o tó birrento ainda não conseguiu partir a espinha, também informa que, no passado dia 6, o SITE SUL se reuniu com responsáveis do IG Metall, Sindicato Industrial dos Metarlurgicos, da Alemanha, que se mostraram «solidários e disponíveis para estar ao lado dos trabalhadores da Volkswagen Autoeuropa».
Viram alguma coisa nas sincas e nos correios cheios de manha? Não? É pra saberem a qualidade da livre e plural informação da classe dominante que grassa nas nossas benditas democrataduras burguesas ;-)
Não? De certeza? Não viram nada?
Queres ver que os caneiros e os pasquins que andaram atrás do choradinho deixaram passar a reunião em que a administração da ae ia anunciar a tão, por eles, desejada e apregoada deslocalização da fábrica para o kuala-lompur?
Ah, não, afinal sempre se reuniram com o sindicato e parece que ainda não será desta que põem os robots no Gana.
Segundo o único jornal com jornalistas ainda existente, o abrilabril, a «administração [da auto europa] reconheceu que o modelo de horário apresentado continha aspectos negativos para a vida dos trabalhadores, do ponto de vista social, familiar, económico, etc.», mostrando-se «disponível para encontrar outra solução, [...] tendo ficado acordado a realização de uma nova reunião nos próximos dias, com data a agendar.»
Parece que o comunicado do sindicato afeto à CGTP, a quem o tó birrento ainda não conseguiu partir a espinha, também informa que, no passado dia 6, o SITE SUL se reuniu com responsáveis do IG Metall, Sindicato Industrial dos Metarlurgicos, da Alemanha, que se mostraram «solidários e disponíveis para estar ao lado dos trabalhadores da Volkswagen Autoeuropa».
Viram alguma coisa nas sincas e nos correios cheios de manha? Não? É pra saberem a qualidade da livre e plural informação da classe dominante que grassa nas nossas benditas democrataduras burguesas ;-)
2017/09/07
A Bastoneira Cavaca e a Solidariedade Jornalistica.
Ainda não tinha falado nisto porque até sou dos que considera que os enfermeiros especialistas devem, de facto, usufruir de uma remuneração diferenciada relativamente ao seus colegas sem especialização ... mas ...
Pois, alguém já disse que tudo o que seja dito antes de um "mas" não vale nada ... mas ... acabo de ler o post do 77 colinas sobre a cavacanária dos enfermeiros e, de facto, não me lembro da cara dela quando os enfermeiros estavam a receber 4 euros por hora, nem quando os enfermeiros apareciam na portela a embarcar para a imigração.
Pois, é verdade, nesses idos de 2012, 2013, 2014 e 2015 a cavaqueira era dirigente pafista, e o pafismo estava no poder a esmifrar enfermeiros, e a esmifrar médicos, e a matar pacientes, e a esmifrar saudáveis. Tudo o que auferisse menos de 100 000 anuais era esmifradinho. Lembram-se? Safaram-se os zeinaldos, e os bettencurtes, e os theutónios, e os pereira-coutinho, e o ricardinho, e o esteves, e o relvado, enfim, todos os que empochavam acima dos 100, 200 000.
Pois, não sei se ainda é dirigente pafista nem me interessa porque nem é sobre a cavacacária nem sobre os seus eleitores enfermeiros que venho falar.
Pois, o que de repente me ficou nos olhos, a brilhar tipo grande clarão, foi a abissal diferença entre o solidário tratamento dado pelos media ao original protesto dos enfermeiros por aumentos de 800 euros, protesto que, de acordo com alguns doutos especialistas em direito do trabalho, será, no mínimo, de uma algo duvidosa legalidade, e a escabrosa animosidade com que há menos de uma semana tratou a justíssima, legalíssima e arrasadora greve dos trabalhadores da auto-europa contra a imposição de trabalharem 4 sábados por 175 euros ...
Mais ninguém vê a diferença entre luta de classes e luta da classe?
Pois, alguém já disse que tudo o que seja dito antes de um "mas" não vale nada ... mas ... acabo de ler o post do 77 colinas sobre a cavacanária dos enfermeiros e, de facto, não me lembro da cara dela quando os enfermeiros estavam a receber 4 euros por hora, nem quando os enfermeiros apareciam na portela a embarcar para a imigração.
Pois, é verdade, nesses idos de 2012, 2013, 2014 e 2015 a cavaqueira era dirigente pafista, e o pafismo estava no poder a esmifrar enfermeiros, e a esmifrar médicos, e a matar pacientes, e a esmifrar saudáveis. Tudo o que auferisse menos de 100 000 anuais era esmifradinho. Lembram-se? Safaram-se os zeinaldos, e os bettencurtes, e os theutónios, e os pereira-coutinho, e o ricardinho, e o esteves, e o relvado, enfim, todos os que empochavam acima dos 100, 200 000.
Pois, não sei se ainda é dirigente pafista nem me interessa porque nem é sobre a cavacacária nem sobre os seus eleitores enfermeiros que venho falar.
Pois, o que de repente me ficou nos olhos, a brilhar tipo grande clarão, foi a abissal diferença entre o solidário tratamento dado pelos media ao original protesto dos enfermeiros por aumentos de 800 euros, protesto que, de acordo com alguns doutos especialistas em direito do trabalho, será, no mínimo, de uma algo duvidosa legalidade, e a escabrosa animosidade com que há menos de uma semana tratou a justíssima, legalíssima e arrasadora greve dos trabalhadores da auto-europa contra a imposição de trabalharem 4 sábados por 175 euros ...
Mais ninguém vê a diferença entre luta de classes e luta da classe?
2017/09/06
Sobre a Campanha Negra Anti-Sindical
A Autoeuropa e o Fervor Anti-Sindical
(Alfredo Maia in AbrilAbril, 2017/09/05)
A última semana foi marcada pela greve dos trabalhadores da Autoeuropa, que os órgãos de comunicação social não se cansaram de rotular de «histórica», mas não necessariamente pelas melhores razões segundo a leitura prevalecente nos próprios media.
Foi uma greve tão histórica que pelo menos dois jornais1 guindaram a «figura da semana», não o líder sindical ou a organização sindical que conduziu a importante jornada de luta, mas, de forma exaltante, nada menos que a pessoa – o antigo coordenador da Comissão de Trabalhadores – que mais se destacou no ataque ostensivo e ofensivo aos sindicatos e aos próprios trabalhadores que massivamente votaram e cumpriram a greve.
Com o fervor anti-sindical dos editocratas e para gáudio dos patrões2, que vêem reflorescer o divisionismo entre os trabalhadores, os media, que abandonaram há quase três décadas a «rotina» informativa sobre trabalho e sindicalismo, mostraram sem pudor o lado obscuro da captura do campo jornalístico pelos interesses do capital.
Mário Soares teve a ambição de «partir a espinha à Intersindical», mas não o conseguiu, nem com a central sindical fabricada com conluio com Sá Carneiro. Revisitando o que se leu, ouviu e viu nos meios de informação em relação à luta dos trabalhadores da Autoeuropa – na senda, de resto, do comportamento em relação a outras lutas –, apetece perguntar se os media se assumem os herdeiros dessa missão.
O que é patente é que, sem a mínima prudência no resguardo de imparcialidade que deveriam seguir, os órgãos de informação que se reclamam independentes tomaram partido por um dos lados, numa ressonância pública e impúdica das campainhas de alarme dos interesses patronais que retiniram com fragor nas redacções.
Uma análise, mesmo não exaustiva, ao conteúdo da «cobertura» jornalística da jornada, tanto na sua preparação desde o início de Agosto como no próprio dia e nos dias seguintes, evidencia oito linhas-força, ou ideias-chave, da narrativa patronal e do divisionismo, à qual os meios de informação deram enfático destaque.
Em muitos casos, fizeram-no com abundância e sobrevalorização de pormenores, designadamente as «contrapartidas» da empresa, que os mal-agradecidos trabalhadores parecem recusarem, como se tivessem ensandecido, para escândalo de editorialistas, patrões e dirigentes do CDS, do PSD e… de outros partidos que se dizem de esquerda.
Ei-las:
Primeira – Portugal necessita absolutamente da Autoeuropa e do reforço da sua capacidade produtiva, pois a empresa, com um volume de negócios anual de 1,5 milhões de euros3, representa 4% das nossas exportações4 e 1% do PIB5.
Segunda – Essa necessidade justifica e legitima alterações gravosas aos horários de trabalho, com a imposição de trabalho ao sábado, que passa a ser dia «normal», e a diminuição da retribuição do trabalho suplementar, que na realidade passa a ser pago com bonificações que, evidentemente, os trabalhadores deveriam aceitar6.
Terceira – A Comissão de Trabalhadores estabeleceu um pré-acordo com a Administração da Empresa, mas os trabalhadores, acometidos por uma súbita irresponsabilidade colectiva, decidiram causar danos muito sérios à «paz social» que reinou, praticamente incólume, durante mais de duas décadas na empresa, rejeitando o texto com 74,6% dos resultados de uma consulta directa e por voto secreto.
Quarta – Isso aconteceu porque os trabalhadores foram instrumentalizados «por quatro ou cinco populistas»7 do sindicato8 «afecto à CGTP» e desautorizaram a Comissão de Trabalhadores, que se demitiu em consequência dos resultados da consulta9.
Quinta – O sindicato, que pelos vistos não metia prego nem estopa na Autoeuropa, está a «preencher o vazio deixado pela demissão» da CT, ameaçando a obra de paz social e obtendo um «protagonismo» ilegítimo, pois a Administração só negoceia com a dita comissão10.
Sexta – O sindicato carece de legitimidade não só para conduzir a luta, mas também para representar os trabalhadores, apesar a confirmação da rejeição do pré-acordo entre a CT e a administração e da greve do dia 30, bem como o mandato para que represente os trabalhadores em reunião urgente com a Administração ter sido sufragada em plenário com mais de três mil trabalhadores, com apenas sete abstenções e um voto contra11.
Sétima – Se a administração da empresa «não conseguir convencer os trabalhadores»12, o mais certo, numa linha de pura chantagem, é deslocalizar a produção do novo modelo da Wolkswagen para outro país, como acontecera, alega-se, com a fábrica da Opel na Azambuja.
Oitava – Tudo o que doravante acontecer de mau será culpa dos sindicatos13.
Em contrapartida, aspectos essenciais foram claramente subvalorizados, desvalorizados e até escamoteados, designadamente o direito ao descanso, à saúde e às relações sociais e familiares, o valor efectivamente baixo da retribuição do trabalho suplementar, o risco de retrocesso de direitos, incluindo, de futuro, o de descanso ao domingo, bem como a obrigação da empresa de respeitar os seus compromissos com o Estado Português14, que a tem apoiado.
Mas isso, face aos sacrossantos interesses do capital, são minudências informativas pouco relevantes…
***************************************************
1. Sol (suplemento B.I.) e Público, edições de 2 de Setembro
2. Veja-se, entre outros materiais, a entrevista – mais uma! – do presidente da CIP ao Expresso (edição de 22 de Setembro): «O que se passa na Autoeuropa é uma luta por poder sindical, adulterando um activo enorme que é a estabilidade social da empresa».
3. Expresso, 2 de Setembro
4. Público, 29 de Agosto e 2 de Setembro
5. Diário de Notícias, 29 de Setembro
6. Pormenores sobre esta contrapartida encontram-se na generalidade dos meios de informação, incluindo em editoriais e artigos de opinião, valorizando a generosidade da empresa. Só falta sugerirem que, tendo em conta a importância estratégica da Autoeuropa, não viria mal ao mundo se os trabalhadores vendessem também o domingo…
7. António Chora, entrevista, aliás carregada de insultos, incluindo à inteligência e à autonomia dos trabalhadores, ao Jornal de Negócios, 30 de Agosto
8. Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (SITE Sul)
9. É curioso que nenhum órgão de informação, que se tenha presente, tenha perguntado à Comissão de Trabalhadores por que razões não acatou a decisão democrática, aliás tão esmagadora, dos trabalhadores
10. Veja-se, entre outras muitas outras peças, que incensam o «papel único» da CT, numa espécie de sindicalismo de substituição, isto é, arredando para fora da empresa os sindicatos e pondo-a a negociar matérias da competência legal dos sindicatos, a já referida entrevista de Chora ao «Negócios» e a curiosa chamada a toda a largura da primeira página do i de 30 de Agosto: «Trabalhadores das empresas fornecedoras da Autoeuropa estão contra a greve». Dentro, o jornal destaca que empresas fornecedoras e a comissão coordenadora das comissões de trabalhadores do Parque Industrial de Palmela insurgem-se contra «o protagonismo dos sindicatos». Esquece-se apenas de referir que a posição da referida «coordenadora» data de 27 dias antes e que já não era propriamente novidade…
11. Público, 29 de Agosto
12. Diário de Notícias, 29 de Agosto
13. Veja-se, entre outras peças, escamoteando que a deslocalização da fábrica da Opel estava há muito decidida, a entrevista de Chora já referida, o parágrafo final do editorial do Diário de Notícias de 30 de Agosto: «Em 22 anos, só duas greves gerais beliscaram a paz social na Autoeuropa. Essa tradição parece ter os dias contados e, perante a manobra do poder dos sindicatos nas últimas semanas, só resta esperar que os mais de 3300 trabalhadores da Autoeuropa não acabem estes dias carregados de direitos e sem fábrica para trabalhar».
14. Como alerta, em rara referência, o dirigente do SITE Sul, Público, 29 de Agosto
(Alfredo Maia in AbrilAbril, 2017/09/05)
A última semana foi marcada pela greve dos trabalhadores da Autoeuropa, que os órgãos de comunicação social não se cansaram de rotular de «histórica», mas não necessariamente pelas melhores razões segundo a leitura prevalecente nos próprios media.
Foi uma greve tão histórica que pelo menos dois jornais1 guindaram a «figura da semana», não o líder sindical ou a organização sindical que conduziu a importante jornada de luta, mas, de forma exaltante, nada menos que a pessoa – o antigo coordenador da Comissão de Trabalhadores – que mais se destacou no ataque ostensivo e ofensivo aos sindicatos e aos próprios trabalhadores que massivamente votaram e cumpriram a greve.
Com o fervor anti-sindical dos editocratas e para gáudio dos patrões2, que vêem reflorescer o divisionismo entre os trabalhadores, os media, que abandonaram há quase três décadas a «rotina» informativa sobre trabalho e sindicalismo, mostraram sem pudor o lado obscuro da captura do campo jornalístico pelos interesses do capital.
Mário Soares teve a ambição de «partir a espinha à Intersindical», mas não o conseguiu, nem com a central sindical fabricada com conluio com Sá Carneiro. Revisitando o que se leu, ouviu e viu nos meios de informação em relação à luta dos trabalhadores da Autoeuropa – na senda, de resto, do comportamento em relação a outras lutas –, apetece perguntar se os media se assumem os herdeiros dessa missão.
O que é patente é que, sem a mínima prudência no resguardo de imparcialidade que deveriam seguir, os órgãos de informação que se reclamam independentes tomaram partido por um dos lados, numa ressonância pública e impúdica das campainhas de alarme dos interesses patronais que retiniram com fragor nas redacções.
Uma análise, mesmo não exaustiva, ao conteúdo da «cobertura» jornalística da jornada, tanto na sua preparação desde o início de Agosto como no próprio dia e nos dias seguintes, evidencia oito linhas-força, ou ideias-chave, da narrativa patronal e do divisionismo, à qual os meios de informação deram enfático destaque.
Em muitos casos, fizeram-no com abundância e sobrevalorização de pormenores, designadamente as «contrapartidas» da empresa, que os mal-agradecidos trabalhadores parecem recusarem, como se tivessem ensandecido, para escândalo de editorialistas, patrões e dirigentes do CDS, do PSD e… de outros partidos que se dizem de esquerda.
Ei-las:
Primeira – Portugal necessita absolutamente da Autoeuropa e do reforço da sua capacidade produtiva, pois a empresa, com um volume de negócios anual de 1,5 milhões de euros3, representa 4% das nossas exportações4 e 1% do PIB5.
Segunda – Essa necessidade justifica e legitima alterações gravosas aos horários de trabalho, com a imposição de trabalho ao sábado, que passa a ser dia «normal», e a diminuição da retribuição do trabalho suplementar, que na realidade passa a ser pago com bonificações que, evidentemente, os trabalhadores deveriam aceitar6.
Terceira – A Comissão de Trabalhadores estabeleceu um pré-acordo com a Administração da Empresa, mas os trabalhadores, acometidos por uma súbita irresponsabilidade colectiva, decidiram causar danos muito sérios à «paz social» que reinou, praticamente incólume, durante mais de duas décadas na empresa, rejeitando o texto com 74,6% dos resultados de uma consulta directa e por voto secreto.
Quarta – Isso aconteceu porque os trabalhadores foram instrumentalizados «por quatro ou cinco populistas»7 do sindicato8 «afecto à CGTP» e desautorizaram a Comissão de Trabalhadores, que se demitiu em consequência dos resultados da consulta9.
Quinta – O sindicato, que pelos vistos não metia prego nem estopa na Autoeuropa, está a «preencher o vazio deixado pela demissão» da CT, ameaçando a obra de paz social e obtendo um «protagonismo» ilegítimo, pois a Administração só negoceia com a dita comissão10.
Sexta – O sindicato carece de legitimidade não só para conduzir a luta, mas também para representar os trabalhadores, apesar a confirmação da rejeição do pré-acordo entre a CT e a administração e da greve do dia 30, bem como o mandato para que represente os trabalhadores em reunião urgente com a Administração ter sido sufragada em plenário com mais de três mil trabalhadores, com apenas sete abstenções e um voto contra11.
Sétima – Se a administração da empresa «não conseguir convencer os trabalhadores»12, o mais certo, numa linha de pura chantagem, é deslocalizar a produção do novo modelo da Wolkswagen para outro país, como acontecera, alega-se, com a fábrica da Opel na Azambuja.
Oitava – Tudo o que doravante acontecer de mau será culpa dos sindicatos13.
Em contrapartida, aspectos essenciais foram claramente subvalorizados, desvalorizados e até escamoteados, designadamente o direito ao descanso, à saúde e às relações sociais e familiares, o valor efectivamente baixo da retribuição do trabalho suplementar, o risco de retrocesso de direitos, incluindo, de futuro, o de descanso ao domingo, bem como a obrigação da empresa de respeitar os seus compromissos com o Estado Português14, que a tem apoiado.
Mas isso, face aos sacrossantos interesses do capital, são minudências informativas pouco relevantes…
***************************************************
1. Sol (suplemento B.I.) e Público, edições de 2 de Setembro
2. Veja-se, entre outros materiais, a entrevista – mais uma! – do presidente da CIP ao Expresso (edição de 22 de Setembro): «O que se passa na Autoeuropa é uma luta por poder sindical, adulterando um activo enorme que é a estabilidade social da empresa».
3. Expresso, 2 de Setembro
4. Público, 29 de Agosto e 2 de Setembro
5. Diário de Notícias, 29 de Setembro
6. Pormenores sobre esta contrapartida encontram-se na generalidade dos meios de informação, incluindo em editoriais e artigos de opinião, valorizando a generosidade da empresa. Só falta sugerirem que, tendo em conta a importância estratégica da Autoeuropa, não viria mal ao mundo se os trabalhadores vendessem também o domingo…
7. António Chora, entrevista, aliás carregada de insultos, incluindo à inteligência e à autonomia dos trabalhadores, ao Jornal de Negócios, 30 de Agosto
8. Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (SITE Sul)
9. É curioso que nenhum órgão de informação, que se tenha presente, tenha perguntado à Comissão de Trabalhadores por que razões não acatou a decisão democrática, aliás tão esmagadora, dos trabalhadores
10. Veja-se, entre outras muitas outras peças, que incensam o «papel único» da CT, numa espécie de sindicalismo de substituição, isto é, arredando para fora da empresa os sindicatos e pondo-a a negociar matérias da competência legal dos sindicatos, a já referida entrevista de Chora ao «Negócios» e a curiosa chamada a toda a largura da primeira página do i de 30 de Agosto: «Trabalhadores das empresas fornecedoras da Autoeuropa estão contra a greve». Dentro, o jornal destaca que empresas fornecedoras e a comissão coordenadora das comissões de trabalhadores do Parque Industrial de Palmela insurgem-se contra «o protagonismo dos sindicatos». Esquece-se apenas de referir que a posição da referida «coordenadora» data de 27 dias antes e que já não era propriamente novidade…
11. Público, 29 de Agosto
12. Diário de Notícias, 29 de Agosto
13. Veja-se, entre outras peças, escamoteando que a deslocalização da fábrica da Opel estava há muito decidida, a entrevista de Chora já referida, o parágrafo final do editorial do Diário de Notícias de 30 de Agosto: «Em 22 anos, só duas greves gerais beliscaram a paz social na Autoeuropa. Essa tradição parece ter os dias contados e, perante a manobra do poder dos sindicatos nas últimas semanas, só resta esperar que os mais de 3300 trabalhadores da Autoeuropa não acabem estes dias carregados de direitos e sem fábrica para trabalhar».
14. Como alerta, em rara referência, o dirigente do SITE Sul, Público, 29 de Agosto
2017/09/04
MEC foi à Festa do Avante! (IV)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (IV)
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(conclusão)
Espero que não se ofendam os sportinguistas e comunistas quando eu disser que estar na Festa do Avante! foi como assistir à festa de rua quando o Sporting ganhou o campeonato. Até aí eu tinha a ideia, como sábio benfiquista, que os sportinguistas eram uma minúscula agremiação de queques em que um dos requisitos fundamentais era não gostar muito de futebol. Quando vi as multidões de sportinguistas a festejar – de todas as classes, cores e qualidades de camisolas -, fiquei tão espantado que ainda levei uns minutos a ficar profundamente deprimido.
Por outro lado, quando se vê que os comunistas não fazem o favor de corresponder à conveniência instantaneamente arrumável das nossas expectativas - nem o PCP é o IKEA -, a primeira reacção é de canseira. Como quem diz:”Que chatice – não só não são iguais ao que eu pensava como são todos diferentes. Vou ter de avaliá-los um a um. Estou tramado. Nunca mais saio daqui.” Nem tão pouco há a consolação ilusória do pick and choose. ...É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas... Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Há uma frase do Jerónimo de Sousa no comício de encerramento que diz tudo. A propósito de Cuba (que não está a atravessar um período particularmente feliz), diz que “resistir já é vencer”. É verdade – sobretudo se dermos a devida importância ao “já”. Aquele “já” é o contrário da pressa, mas é também “agora”.
Na Festa do Avante! Não se vêem comunistas desiludidos ou frustrados. Nem tão pouco delirantemente esperançosos. A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles. Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar.
Na Festa do Avante! Sente-se a satisfação de chatear. O PCP chateia. Os sindicatos chateiam. A dimensão e o êxito da Festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Do ensimesmamento online, do relativismo ou niilismo ideológico. Chatear é uma forma especialmente eficaz de resistir. Pode ser miudinho – mas, sendo constante, faz a diferença. Resistir é já vencer. A Festa do Avante! é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espírito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante!: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas. Parabéns! E, para mais, pouquíssimo contrariado. (E só com um bocadinho de nada com medo)
In revista "Sábado" - Edição de 13 de Setembro de 2007
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(conclusão)
Espero que não se ofendam os sportinguistas e comunistas quando eu disser que estar na Festa do Avante! foi como assistir à festa de rua quando o Sporting ganhou o campeonato. Até aí eu tinha a ideia, como sábio benfiquista, que os sportinguistas eram uma minúscula agremiação de queques em que um dos requisitos fundamentais era não gostar muito de futebol. Quando vi as multidões de sportinguistas a festejar – de todas as classes, cores e qualidades de camisolas -, fiquei tão espantado que ainda levei uns minutos a ficar profundamente deprimido.
Por outro lado, quando se vê que os comunistas não fazem o favor de corresponder à conveniência instantaneamente arrumável das nossas expectativas - nem o PCP é o IKEA -, a primeira reacção é de canseira. Como quem diz:”Que chatice – não só não são iguais ao que eu pensava como são todos diferentes. Vou ter de avaliá-los um a um. Estou tramado. Nunca mais saio daqui.” Nem tão pouco há a consolação ilusória do pick and choose. ...É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas... Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Há uma frase do Jerónimo de Sousa no comício de encerramento que diz tudo. A propósito de Cuba (que não está a atravessar um período particularmente feliz), diz que “resistir já é vencer”. É verdade – sobretudo se dermos a devida importância ao “já”. Aquele “já” é o contrário da pressa, mas é também “agora”.
Na Festa do Avante! Não se vêem comunistas desiludidos ou frustrados. Nem tão pouco delirantemente esperançosos. A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles. Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar.
Na Festa do Avante! Sente-se a satisfação de chatear. O PCP chateia. Os sindicatos chateiam. A dimensão e o êxito da Festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Do ensimesmamento online, do relativismo ou niilismo ideológico. Chatear é uma forma especialmente eficaz de resistir. Pode ser miudinho – mas, sendo constante, faz a diferença. Resistir é já vencer. A Festa do Avante! é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espírito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante!: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas. Parabéns! E, para mais, pouquíssimo contrariado. (E só com um bocadinho de nada com medo)
In revista "Sábado" - Edição de 13 de Setembro de 2007
o MEC foi à Festa do Avante! (III)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (III)
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(Continuação)
A Exposição do Mundo português era “para inglês ver”, mas a Festa do Avante! em muitos aspectos importantes, parece mesmo inglesa. Para mais, inglesa no sentido irreal. As bichas, direitinhas e céleres, não podiam ser menos portuguesas. Nem tão-pouco a maneira como cada pessoa limpa a mesa antes de se levantar, deixando-a impecável. As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante! dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisíveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca. O preconceito anticomunista dá-os como disciplinados e regimentados – se calhar, estamos a confundi-los com a Mocidade portuguesa. Não são nada disso. A Festa funciona para que eles não tenham de funcionar. Ao contrário de tantos festivais apolíticos, não há pressa; a ansiedade da diversão; o cumprimento de rotinas obrigatórias; a preocupação com a aparência. Há até, sem se sentir ameaçado por tudo o que se passa à volta, um saudável tédio, de piquenique depois de uma barrigada, à espera da ocupação do sono.
Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro. Nem vale a pena indagar acerca da marca do champô. Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes. E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. É um alívio a falta de entusiasmo fabricado – e, num sentido geral, de esforço. Não há consensos propostos ou unanimidades às quais aderir. Uns queixam-se de que já não é o que era e que dantes era melhor; outros que nunca foi tão bom.
É claro que nada disto será novidade para quem lá vai. Parece óbvio. Mas para quem gosta de dar uma sacudidela aos preconceitos anticomunista é um exercício de higiene mental. Por muito que custe dize-lo, o preconceito - base, dos mais ligeiros snobismos e sectarismos ao mais feroz racismo, anda sempre à volta da noção de que “eles não são como nós”. É muito conveniente esta separação. Mas é tão ténue que basta uma pequena aproximação para perceber, de repente, que “afinal eles são como nós”. Uma vez passada a tristeza pelo desaparecimento da justificação da nossa superioridade (e a vergonha por ter sido tão simples), sente-se de novo respeito pela cabeça de cada um.
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(Continuação)
A Exposição do Mundo português era “para inglês ver”, mas a Festa do Avante! em muitos aspectos importantes, parece mesmo inglesa. Para mais, inglesa no sentido irreal. As bichas, direitinhas e céleres, não podiam ser menos portuguesas. Nem tão-pouco a maneira como cada pessoa limpa a mesa antes de se levantar, deixando-a impecável. As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante! dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisíveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca. O preconceito anticomunista dá-os como disciplinados e regimentados – se calhar, estamos a confundi-los com a Mocidade portuguesa. Não são nada disso. A Festa funciona para que eles não tenham de funcionar. Ao contrário de tantos festivais apolíticos, não há pressa; a ansiedade da diversão; o cumprimento de rotinas obrigatórias; a preocupação com a aparência. Há até, sem se sentir ameaçado por tudo o que se passa à volta, um saudável tédio, de piquenique depois de uma barrigada, à espera da ocupação do sono.
Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro. Nem vale a pena indagar acerca da marca do champô. Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes. E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. É um alívio a falta de entusiasmo fabricado – e, num sentido geral, de esforço. Não há consensos propostos ou unanimidades às quais aderir. Uns queixam-se de que já não é o que era e que dantes era melhor; outros que nunca foi tão bom.
É claro que nada disto será novidade para quem lá vai. Parece óbvio. Mas para quem gosta de dar uma sacudidela aos preconceitos anticomunista é um exercício de higiene mental. Por muito que custe dize-lo, o preconceito - base, dos mais ligeiros snobismos e sectarismos ao mais feroz racismo, anda sempre à volta da noção de que “eles não são como nós”. É muito conveniente esta separação. Mas é tão ténue que basta uma pequena aproximação para perceber, de repente, que “afinal eles são como nós”. Uma vez passada a tristeza pelo desaparecimento da justificação da nossa superioridade (e a vergonha por ter sido tão simples), sente-se de novo respeito pela cabeça de cada um.
o MEC foi à Festa do Avante! (II)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (II)
Terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(continuação)
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades. Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante! é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira e dissessem e fizessem as mesmas coisas – paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo – mas não estão. Estão é fartos do capitalismo – e um bocadinho zangados. Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista.
Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias.
Convinha-nos pensar que as comunas eram um rebanho mas a parecença é mais com um jardim zoológico inteiro. Ali uma zebra; em frente um leão e um flamingo; aqui ao lado uma manada de guardas a dormir na relva.
Quando se chega à Festa o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre de trânsito, é como voltar aos anos 60. Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós. Mesmo assim tenho de confessar, como reaccionário que sou, que me passou pela cabeça que a razão de tanta preocupação talvez fosse a probabilidade de todos os potenciais bombistas já estarem lá dentro, nos pavilhões internacionais, a beber copos uns com os outros e a divertirem-se.
A Festa do Avante! é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é difícil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. O desaparecimento da União Soviética foi, deste ponto de vista, particularmente infeliz por ter eliminado a potência cujas ordens eram cegamente obedecidas pelo PCP. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice. Quer se queira quer não (eu não queria), sente-se na Festa do Avante! Que está ali uma reserva ecológica de Portugal. Se por acaso falharem os modelos vigentes, poderemos ir buscar as sementes e os enxertos para começar tudo o que é Portugal outra vez.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada. (Fiquemos por aqui que já estou a escrever à comunista).
Terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(continuação)
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades. Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante! é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira e dissessem e fizessem as mesmas coisas – paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo – mas não estão. Estão é fartos do capitalismo – e um bocadinho zangados. Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista.
Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias.
Convinha-nos pensar que as comunas eram um rebanho mas a parecença é mais com um jardim zoológico inteiro. Ali uma zebra; em frente um leão e um flamingo; aqui ao lado uma manada de guardas a dormir na relva.
Quando se chega à Festa o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre de trânsito, é como voltar aos anos 60. Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós. Mesmo assim tenho de confessar, como reaccionário que sou, que me passou pela cabeça que a razão de tanta preocupação talvez fosse a probabilidade de todos os potenciais bombistas já estarem lá dentro, nos pavilhões internacionais, a beber copos uns com os outros e a divertirem-se.
A Festa do Avante! é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é difícil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. O desaparecimento da União Soviética foi, deste ponto de vista, particularmente infeliz por ter eliminado a potência cujas ordens eram cegamente obedecidas pelo PCP. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice. Quer se queira quer não (eu não queria), sente-se na Festa do Avante! Que está ali uma reserva ecológica de Portugal. Se por acaso falharem os modelos vigentes, poderemos ir buscar as sementes e os enxertos para começar tudo o que é Portugal outra vez.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada. (Fiquemos por aqui que já estou a escrever à comunista).
o MEC foi à Festa do Avante! (I)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (I)
Segunda-feira, 1 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
E teve medo, muito medo. Às constantes tentativas de intimidação por parte dos inimigos comunistas, o repórter assumidamente reaccionário respondeu com a sua polaróide e registou todas as adversidades. Entre uma e outra conversas mais azeda, ainda teve tempo para comer bem e beber melhor.
Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante! faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante! faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça!, Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas. Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária e só uma – então, muito francamente, é aterrador. Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Bem sei que a condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez, que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “ capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "Se não fossem os comunistas, hoje não haveria..." e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas " que lhe devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão.
É por isso que não se sentem “derrotados”. O desaparecimento da URSS, por exemplo, pode ter sido chato mas, na amplitude do panorama marxista-leninista, foi apenas um contratempo. Mas não é só por isso que a Festa do Avante! faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o show off é mínimo e saudável.
Segunda-feira, 1 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
E teve medo, muito medo. Às constantes tentativas de intimidação por parte dos inimigos comunistas, o repórter assumidamente reaccionário respondeu com a sua polaróide e registou todas as adversidades. Entre uma e outra conversas mais azeda, ainda teve tempo para comer bem e beber melhor.
Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante! faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante! faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça!, Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas. Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária e só uma – então, muito francamente, é aterrador. Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Bem sei que a condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez, que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “ capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "Se não fossem os comunistas, hoje não haveria..." e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas " que lhe devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão.
É por isso que não se sentem “derrotados”. O desaparecimento da URSS, por exemplo, pode ter sido chato mas, na amplitude do panorama marxista-leninista, foi apenas um contratempo. Mas não é só por isso que a Festa do Avante! faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o show off é mínimo e saudável.
A Festa do Avante Incomóda Muita Gente
A Festa do «Avante!» chateia…
(António Vilarigues em O Castendo 2010/09)
Dizem-se muitas mentiras acerca delas mas, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
A Festa do Avante! é a maior iniciativa político-cultural do país. Ela é, como se sabe, o resultado do trabalho voluntário de milhares e milhares de militantes e simpatizantes comunistas. A forma como é tratada pela comunicação social dominante é um exemplo, dos mais evidentes, do silenciamento a que é submetida nos jornais, revistas, rádios e televisões toda a actividade do PCP. Uma actividade que, sublinhe-se, é maior do que a soma das actividades de todos os restantes partidos.
Quando não é o silêncio, é a inverdade. Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante!: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas. É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça. Mas não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer, só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo. Por isso o conceito do PCP de "colectivo partidário" parece provocar indisposições a muito comentador de serviço.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. Por isso sobre a construção da festa cai um silêncio ensurdecedor.
Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo, até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. Por isso, a festa é um "perigo" que há que exterminar.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre "nós" dirigentes e "eles" militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. Por isso, ao programa da festa, anunciado em conferências de imprensa, é concedido meia dúzia de linhas ou de segundos.
Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a- dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Por isso a dimensão e o êxito da festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação.
Escrito com a colaboração (in)voluntária do "camarada" MEC Nota final: Desafio ao leitor: o que é escrito meu e o que não é? O texto original de Miguel Esteves Cardoso está na revista Sábado, edição de 2007/09/13. E aqui na Internet
(António Vilarigues em O Castendo 2010/09)
Dizem-se muitas mentiras acerca delas mas, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
A Festa do Avante! é a maior iniciativa político-cultural do país. Ela é, como se sabe, o resultado do trabalho voluntário de milhares e milhares de militantes e simpatizantes comunistas. A forma como é tratada pela comunicação social dominante é um exemplo, dos mais evidentes, do silenciamento a que é submetida nos jornais, revistas, rádios e televisões toda a actividade do PCP. Uma actividade que, sublinhe-se, é maior do que a soma das actividades de todos os restantes partidos.
Quando não é o silêncio, é a inverdade. Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante!: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas. É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça. Mas não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer, só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo. Por isso o conceito do PCP de "colectivo partidário" parece provocar indisposições a muito comentador de serviço.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. Por isso sobre a construção da festa cai um silêncio ensurdecedor.
Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo, até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. Por isso, a festa é um "perigo" que há que exterminar.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre "nós" dirigentes e "eles" militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. Por isso, ao programa da festa, anunciado em conferências de imprensa, é concedido meia dúzia de linhas ou de segundos.
Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a- dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Por isso a dimensão e o êxito da festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação.
Escrito com a colaboração (in)voluntária do "camarada" MEC Nota final: Desafio ao leitor: o que é escrito meu e o que não é? O texto original de Miguel Esteves Cardoso está na revista Sábado, edição de 2007/09/13. E aqui na Internet
2017/09/03
2017/09/02
Venham Ver a Festa !
Não é novidade e por isso nem sequer me surpreende, mas cansa.
Começou ontem o maior evento político-cultural nacional.
Durante dois dias e meio vão passar pela Festa do Avante mais de 200 artistas, visitantes do norte ao sul do país e de todos os cinco continentes, representantes de dezenas de partidos comunistas de todo o mundo e de todas as fábricas, escolas, campos, distritos e concelhos do país.
Durante mais dois dias vão ter lugar dezenas de concertos de música popular portuguesa e do mundo, vão realizar-se dezenas de debates, com pessoas que estiveram nos locais, sem comentadeiros de ouvir dizer e que reproduzem as imagens das centrais que vendem desinformação a metro. Vão lá estar sírios que estiveram na guerra, palestinianos que saíram do campo de concentração de Gaza, ex-guerrilheiros das FARC que pela primeira vez viajam com passaporte, venezuelanos que votaram na constituinte e compram produtos nos armazéns estatais porque os golpistas pinochistas queimam e escondem a comida. Alemães que gritam em letras garrafais serem dos bons, por contraposição aos maus que nos impuseram uma austeridade destruidora. Estão lá representantes de toda a manta de retalhos do comunismo espanhol, os eurocomunistas do PCE, os refundadores, os catalães, os galegos, todos.
Qualquer jornalista passaria ali os três dias em diretas de 24 horas para ouvir, gravar, questionar esta amálgama de informação em primeira mão. Qualquer? Sim, mas teriam de ser jornalistas e não jornaleiros, teriam de trabalhar para meios de informação e não caneiros publicitários de propaganda.
Sabiam?
Não?
Eu sei porque estive lá ontem. Nos pasquins nacionais nem uma referência de capa. Combinaram todos? É cartel? Não, é pior! São os meios de informação todos nas mãos da burguesia a reproduzirem a ideologia dominante. A censurar, a esconder, a silenciar um mundo que está ali ao alcance de todos nós.
Basta ir lá.
Não querem passar por lá?
É ali na Atalaia, Seixal. Aquilo está maior, tem espaço para mais gente.
Apareçam, bebam umas jolas, ou umas vodcas, umas ponchas ou uns mojitos, ou uns Douros, ou uns Dãos que estão a bom preço, comam umas espetadas, ou umas catchupas, ou uma mariscada de Sesimbra, ou um esparguete bolonhesa feito por italianos, ou uma sandes de leitão na Bairrada, ou uma patatas diablo, oiçam umas coisas e conversem com o tipo do lado que não morde ;-)
Apareçam ;-)
Começou ontem o maior evento político-cultural nacional.
Durante dois dias e meio vão passar pela Festa do Avante mais de 200 artistas, visitantes do norte ao sul do país e de todos os cinco continentes, representantes de dezenas de partidos comunistas de todo o mundo e de todas as fábricas, escolas, campos, distritos e concelhos do país.
Durante mais dois dias vão ter lugar dezenas de concertos de música popular portuguesa e do mundo, vão realizar-se dezenas de debates, com pessoas que estiveram nos locais, sem comentadeiros de ouvir dizer e que reproduzem as imagens das centrais que vendem desinformação a metro. Vão lá estar sírios que estiveram na guerra, palestinianos que saíram do campo de concentração de Gaza, ex-guerrilheiros das FARC que pela primeira vez viajam com passaporte, venezuelanos que votaram na constituinte e compram produtos nos armazéns estatais porque os golpistas pinochistas queimam e escondem a comida. Alemães que gritam em letras garrafais serem dos bons, por contraposição aos maus que nos impuseram uma austeridade destruidora. Estão lá representantes de toda a manta de retalhos do comunismo espanhol, os eurocomunistas do PCE, os refundadores, os catalães, os galegos, todos.
Qualquer jornalista passaria ali os três dias em diretas de 24 horas para ouvir, gravar, questionar esta amálgama de informação em primeira mão. Qualquer? Sim, mas teriam de ser jornalistas e não jornaleiros, teriam de trabalhar para meios de informação e não caneiros publicitários de propaganda.
Sabiam?
Não?
Eu sei porque estive lá ontem. Nos pasquins nacionais nem uma referência de capa. Combinaram todos? É cartel? Não, é pior! São os meios de informação todos nas mãos da burguesia a reproduzirem a ideologia dominante. A censurar, a esconder, a silenciar um mundo que está ali ao alcance de todos nós.
Basta ir lá.
Não querem passar por lá?
É ali na Atalaia, Seixal. Aquilo está maior, tem espaço para mais gente.
Apareçam, bebam umas jolas, ou umas vodcas, umas ponchas ou uns mojitos, ou uns Douros, ou uns Dãos que estão a bom preço, comam umas espetadas, ou umas catchupas, ou uma mariscada de Sesimbra, ou um esparguete bolonhesa feito por italianos, ou uma sandes de leitão na Bairrada, ou uma patatas diablo, oiçam umas coisas e conversem com o tipo do lado que não morde ;-)
Apareçam ;-)