2019/07/31

A Ideologia Dominante reproduz-se

Vem isto a propósito de um chavão vertido por uma douta jornaleira da tbimba em pleno horário nobre. Dizia a douta cabeça de vento que o qualquer coisa ou a qualquer coisa de serviço no momento "Promete baixar impostos, o sonho de t o d o s  os  portugueses"! Assim, de chofre a srª jornaleira decretou que o sonho de todos os portugueses é pagar menos impostos.

Ignoro com que massa lhe terão enchido a cabeça, mas talvez fosse relevante explicar três coisinhas ao jornaleiro que redigiu a bosta que a outra verbalizou. Uma é que a saúde pública, a escola pública, os tribunais em que a ignorância dela será julgada mais dia menos dia, as estradas onde o carro dela circula e até a água que lhe chega a casa, são exemplos de bens e serviços pagos com os impostos de todos nós numa justa lógica de "quem ganha mais paga mais para o bem comum" e que se sra. jornaleira quer andar de carro tem de pagar o suficiente para não haver filas de espera nas lojas do cidadão. Outras é que há muitos mais que, como eu, querem é bons serviços públicos, boas estradas, boas ruas, água de qualidade, um SNS de qualidade, universal e universalmente gratuito e um estado funcional, vigiadinho para evitar compras de golas que filtram o fumo moderadamente, mas plenamente funcional, e que se para isso temos de pagar impostos, pela minha parte, até acho que devo pagar mais, desde que o ricardinho ex-dono-disto-tudo e as famiglie bolomirro e bolsanamão paguem em função da vida que levam e não das (in)verdades que traficam. E finalmente um terceiro aspecto fundamental no discurso anti-impostos do capital neo-liberal representado pelos patrões dela: mostra a história que de cada vez que a direita-cristas-passos-rio e quejandos grita que quer baixar impostos está de facto a dizer três coisas, que quer baixar os impostos sobre os mais ricos e o capital, subir os impostos sobre o trabalho e quem trabalha e fazer definhar o estado até aos níveis assistênciais do fascismo de má memória.

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Chamem-me maluco!
(José Braz, facebroncas, 2019/07/25)

Não há dúvida de que a ideologia dominante se reproduz.

Mais interessante é ver como ela "é entranhada" no mais educado dos seres humanos através dos simples e corriqueiros atos do nosso dia a dia.

Querem um exemplo assustador? O trânsito do IC20 para entrar na ponte.

Sim, vamos ver como uma "fila de trânsito" contribui para ensinar, de outra forma, excelentes pessoas a tornarem-se nas mais vis e selvagens feras neo-liberais-cada-um-por-sí-e-que-se-lixe-o-próximo-vale-tudo-até-tirar-olhos!

Três faixas confluem numa única que dá acesso à ponte 25 de Abril.

Os ingénuos respeitadores do próximo vão chegando, ordeiramente, ao final da fila, na faixa central, e aí ficam, parados, por umas horas, a ver os xicos-espertos, já selvagizados, a circularem pelas faixas da direita e da esquerda para se encaixarem na fila da faixa central, lá bem à frente quase em cima da ponte ... ensinando os ingénuos seres humanos, ainda não completamente desumanizados, a comportar-se como selvagens, a saírem da fila para uma das laterais e irem entrar selvaticamente lá bem à frente.

Funciona! É assim: ou aprendes selvajaria em tempo real e chegas à ponte ou optas por te manter humano e bem podes esperar. Escolhe!

Mas mesmo que optes por ficar, educadamente, parado, na fila do meio, a ver passar os xicos-espertos, terás de "aprender" a ser violentamente selvagem quando chegar a hora de não os deixar aceder à comida, perdão, de não os deixar entrar na fila onde estiveste à espera, parado.

Funciona sempre. Se sim sim se não sim! Mas sais dali selvagizadinho g a r a n t i d a m e n t e. Eu aprendi à primeira e em dez minutos. Já sou um espertalhaço promovido a espertalhão.

Cheguei, parei, esperei, vi passar os elétricos e dez minutos nos ponteiros do relógio. Passei para a faixa da direita e entrei lá à frente, na segunda tentativa, depois de selvagizar uns ingénuos que não me queriam deixar entrar. Indecentes! Parvos! Burros! Para ali parados e não me deixavam entrar, a mim que tenho pressa!

Quem mantém aquela fila há mais de 20 anos sabe bem o que está a fazer! Abaixo os impostos, não servem para nada! Quem quiser saúde que a pague! Mais estradas e menos comboios. Quero quatro faixas no IC20! Não há dinheiro? Cortem nos comboios e nas camionetas! Quem tinha razão era o Cavaco: cada família deve ter dois carros! Ou então duas trotinetas! Os comboios e os barcos são bons para os que vivem de subsídios! Passes iguais para todos, quer vivam em Lisboa ou em santa marta do assobio! Menos estado pior estado, ou melhor ó-que-é, como quer a Srª Cristas, qu'éssa é que sim senhor, ou senhora ó-que-é, vivam mas é os contratos com os colégios privados que são bons e a coisa funciona, diz ela, a Srª, como na saúde, onde os privados é que sim senhora, da gestão disso, e coisa e tal, e que metem os doentes nos refeitórios para otimizar o espaço e o tempo, sempre comem e dormem no mesmo sitio, isso é que é poupança e boa gestão, e na casas de banho, para rentabilizar os autoclismos e poupar tempo em deslocações, e falsificam as fichas, para terem bons resultados, assim é que é, é “comá-mim” na fila da ponte, não é ficar à espera, sentado, na fila, a ouvir a música e a empatar o trânsito e mais quem cá anda e quer trabalhar para ganhar a vida, cada um por si e os privados da saúde por eles mesmos e com menos impostos, qu'isso dos impostos é tudo um corja! E o Rio! Vivó Rio e menos impostos, toca a poupar os 3600 milhões não interessa onde, toca a cortar nas gorduras que o estado é gordo e toda agente sabe que a dieta faz bem à saúde, privada! E quem quiser saúde que a pague e quem quiser reforma vá trabalhar! Razão tinha o Passos em não pagar a segurança social, quem quiser disso que a pague! Eu prefiro um seguro de saúde com plafon limitado para cancro, afinal quem é que vai ter cancro? E um plano poupança reforma do BES, espera, do BES não que faliu, do Novo Banco que é outra coisa, mais nova mais modernaça! Quem quiser que vá para a fila que eu vou de helicóptero e se ainda não vou hei de ir, vou ali pisar mais uns gajos e já cá volto, de helicóptero.

Esperem sentados!

Não?

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