2021/08/17

Afeganistão: em três fotos, uns comentários e uma cronologia

Assim muito rapidamente em duas fotos e uma capa roubadas ao Manifesto74: Os combatentes do Ronald Reagan na casa branca com o Santo Ronald Reagan, as raparigas afegãs que os combatentes do Ronald Reagan foram "libertar" ao Afeganistão e o empresário saudita que o Ronald Reagan contratou para recrutar os combatentes que foram libertar as raparigas afegãs nos anos 80 do século XX. 

Está tudo nas fotos.
Nos anos oitenta do século XX o ator Ronaldo e os contratados pelo empresário saudita Osama Bin Laden, em Washington, na Casa Branca, conversam sobre como é que vão libertar as raparigas afegãs que se passeiam por Cabul na foto abaixo.
As raparigas afegãs que os contratados do Ronald Reagan iam libertar ainda se passeiam por Cabul, em saia e camisa, nos anos oitenta, antes de serem definitivamente libertadas deste mundo pelo Ronald Reagan seus apaniguados & CIA.
Uma reportagem do britânico "The Independent" sobre o empresário saudita Osama Bin Laden que o Ronald Reagan & CIA contrataram para recrutar e treinar os criminosos que foram libertar as raparigas afegãs da foto acima, depois de as ter libertado e de ter começado a pôr os seus contratados no "caminho da paz" que iria, uns anos mais tarde, rebentar com as torres gémeas de quem lhe armou o exército.


E como os comentadeiros e seus patrões mediáticos tentam desesperadamente iludir a História, aqui ficam, quase todos retirados do Manifesto74, alguns marcos essenciais para compreender o último século afegão:

1921 -- Amanullah Khan chega ao poder, procura reafirmar a soberania e modernizar o seu país. Aproxima-se do governo russo, liderado por Lénine, que responde reconhecendo a independência do Afeganistão e assinando o primeiro tratado de amizade afegão-soviético. 

1921 a 1929 -- Apesar da oposição de elementos reaccionários, apoiados pelos britânicos, os soviéticos ajudam a lançar projectos de infraestruturas como centrais eléctricas, recursos hídricos, transportes e comunicações. Milhares de estudantes afegãos frequentam escolas técnicas e universidades soviéticas.

1929 -- Amanullah Khan é forçado a abdicar. 

1929 - 1933 -- Várias convulsões políticas com sucessivas lideranças derrubadas.

1933 - 1973 -- Mohammed Zahir Shah assume o poder naquele que seria o último reinado no Afeganistão.  Nos anos 60, o ressurgimento de projectos conjuntos afegão-soviéticos incluiu o Instituto Politécnico de Cabul, o principal recurso educativo do país para engenheiros, geólogos e outros especialistas. 

«A partir da década de 20, foram muitas as correntes progressistas de luta que beberam da experiência da revolução de Outubro, na Rússia. No Afeganistão, em meados dos anos 60, estes grupos uniram-se para fundar o Partido Democrático do Povo (PDP).» 

1973 -- Forças burguesas locais, ajudadas por alguns elementos do PDP, derrubaram o reinado de 40 anos de Mohammad Zahir Shah. 

1978 -- Um movimento de libertação liderado pelo Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) derrubou a ditadura de Mohammad Dawd, primo do rei Zahir Shah e começou a desenvolver políticas para tornar a distribuição da riqueza mais equitativa. Entre os seus objectivos estavam a emancipação da mulher, subjugada até então à servidão tribal, a igualdade de direitos para as nacionalidades minoritárias, incluindo o grupo mais oprimido do país, os Hazara, e a democratização do acesso à educação, saúde e habitação. 

Marilyn Bechtel[1] «[...] recordou que durante as duas visitas viu o princípio deste processo progressista. Viu mulheres a trabalharem juntas em cooperativas de artesanato, onde pela primeira vez podiam ser pagas decentemente pelo seu trabalho e controlar o dinheiro que ganhavam, também testemunhou adultos, tanto mulheres como homens, que aprendiam a ler. Por outro lado, observou que havia mulheres já a ocupar cargos de governo, incluindo a Ministra da Educação. De facto, as famílias de trabalhadores mais pobres passaram a ter acesso a cuidados médicos e ver os seus filhos na escola. As dívidas dos trabalhadores agrícolas foram anuladas e deu-se início à reforma agrária. No âmbito do custo de vida, o governo promoveu o controlo de preços e a redução dos preços de alimentos essenciais. Apoios aos nómadas interessados em ter uma vida estável foi outra das políticas de inclusão. Muitas destas políticas foram possíveis graças aos acordos de amizade com a União Soviética. Também aqui se pode ver a diferença dos papéis que Moscovo e Washington tiveram no país.» 

1979 -- A 3 de Julho o presidente dos EUA James Carter assina a 1ª directiva de financiamento secreto dos fundamentalistas islâmicos opositores ao governo afegão.

1979 -- A 24 de Dezembro entram no Afeganistão as primeiras tropas do Exército Vermelho soviético a pedido do governo afegão.

1988 -- O Exército Vermelho soviético abandona o Afeganistão. 

1988 - 1991 -- Durante 3 anos o legitimo governo afegão resiste sozinho à ofensiva dos fundamentalistas islâmicos criados, financiados e treinados pelos EEUU. 

1991 -- Os fundamentalistas islâmicos criados, financiados e treinados pelos EEUU entram em Cabul e derrubam a república laica.

1991 - 1996 -- O regime fundamentalista islâmico implantado em Cabul pelos EEUU privatiza os principais recursos do país e transforma o Afeganistão no principal produtor de papoila dormideira e no maior exportador de ópio. As mulheres são eliminadas da ribalta politica e é-lhes vedado o acesso ao ensino. As feministas, engenheiras e cientistas formadas desde 1973 são assassinadas.

1996 -- Os talibãs, oriundos das fações mais radicais do fundamentalismo islâmico no poder desde 1991, multiplicados nas madrassas, derrubam o governo e instalam-se em Cabul.

1996 - 2001 -- Os talibã, a facção mais fundamentalista dos terroristas criados, financiados e treinados pelos EEUU, governam o Afeganistão de acordo com a  sharia. As mulheres são impedidas de trabalhar, remetidas para o interior das habitações, obrigadas a usar chador no espaço público. A lapidação de adulteras e o corte das mão de ladrões espalha-se pelo país. Apesar da bandeira da luta contra o tráfico de ópio empunhada pelos talibãs durante a sua revolta, o Afeganistão mantém-se como maior produtor de papoila e maior exportador de ópio. Torna-se ainda no abrigo para diferentes ramos de grupos terroristas religiosos, entre os quais a Al-Quaeda do ex-empresário saudita, agora terrorista, Osama Bin-Laden que terá organizado os atentados que, em 11/9 de 2001, destruirão as torres gémeas. Parafraseando Alexandre Hoffmann no Manifesto74: haja quem cuspa no prato onde comeu.

2001 -- Os EUA, à cabeça dos seus apaniguados da OTAN, invadem o Afeganistão, alegadamente para capturar o Osama Bin-Laden que criaram no final dos anos 70 do século XX. 

2011 -- Osama Bin-Laden é capturado e assassinado por forças especiais do exército norte-americano numa aldeia Paquistanesa, o seu corpo é lançado ao mar.

2021 -- O exército dos EUA é escorraçado do Afeganistão pelos fundamentalistas islâmicos que criou, financiou e treinou nas décadas de 70 e 80 do século XX. Os últimos norte-americanos são evacuados de helicóptero a partir dos telhados da embaixada em direcção ao aeroporto de Cabul onde reina o caos. 

[1] Marilyn Bechtel foi «correspondente do People’s World e editora da revista bimestral New World Review, visitou duas vezes o Afeganistão, em 1980 e em 1981, para conhecer a revolução Saur. A 6 de Outubro de 2001, um dia antes de os Estados Unidos invadirem o Afeganistão depois da declaração de guerra aos ex-aliados, a jornalista publicou “Afeganistão: alguns ignoraram a história“.»

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