2025/03/27

Grande Paulo Raimundo


GRANDE Paulo Raimundo!

Encostou o terrorista nazi às cordas!
A não perder!
Só isto?
É tudo?
Ó orelhas, perdeste o fôlego?

Com a saúde no estado em que está, a inflação, a educação, a habitação, o país, as vigarices do rural, os andrébistas e os trumpistas, o órelhas esteve 10 minutos a tentar pôr na boca do entrevistado as suas palavras. Não conseguiu.

Somos pela Paz, sempre fomos e continuamos a ser. Não trocamos saúde, habitação, salários e pensões por armas e guerras. Nunca trocámos e nunca trocaremos. O PS, o PSD, O Livre, o BE que aplaudiram na AR os deputados da Rada não o poderiam fazer na Rada porque os seus partidos estão proibidos. Nós não somos hipócritas. Quem os aplaudiu sancionou o banimento dos seus congéneres.

GRANDE Paulo Raimundo!
Obrigado 😉

2025/03/22

EUA: Entre a Manipulação e a Imparcialidade Homérica

EUA: Entre a Manipulação e a Imparcialidade Homérica
(Viriato Soromenho-Marques, Carlos Fino Facebroncas, 2025/03/20)

Uma das mais dolorosas aprendizagens durante estes mais de três anos de guerra na Ucrânia tem sido a de me confrontar com o trágico declínio da honorabilidade académica e do brio intelectual, tanto nas instituições universitárias como nos meios de comunicação social.

É com tristeza que tenho acompanhado o modo como professores, investigadores e jornalistas têm violado o imperativo de “imparcialidade homérica”, expressão cunhada por Hannah Arendt para definir uma virtude específica da tradição espiritual do Ocidente: a capacidade de analisar com objetividade a realidade, a natureza das situações, e os motivos dos agentes coletivos e individuais, mesmo no quadro de conflitos violentos.



O exemplo indicado por Arendt foi o do modo como Homero, na Ilíada, tratou as principais personalidades envolvidas nesse grande drama épico, escrito na aurora da literatura europeia: o príncipe troiano, Heitor, e o herói grego, Aquiles. O imortal autor grego não menorizou nem diabolizou Heitor, nem idolatrou Aquiles. Pelo contrário, procurou reconhecer neles as qualidades humanas e os motivos que dirigiam a sua conduta. Isso significa estar atento aos dados reais, aos factos elementares, abstraindo-nos dos preconceitos.

Na guerra da Ucrânia nada disso aconteceu. A invasão militar russa, libertou no Ocidente um tsunami propagandístico que há muito esperava que ela acontecesse. Slogans correram a imprensa de todo o mundo, nomeadamente, a frase “invasão não provocada”. Riscar a história, significa colocar a invasão num plano estritamente jurídico e moral.

Se uma agressão não tem causas, isso significa que se tratou do ato de um agente malévolo. Ao aceitarem a tese de uma invasão fora da esfera objetiva e material da causalidade, muitos cientistas sociais juntaram-se ao registo ululante e propagandista de uma nova vaga de russofobia, que há muito estava a ser preparada. Já em 2014, Kissinger acusava a crescente diabolização de Putin nos meios de comunicação social americanos como sendo o pior exemplo da ausência de uma política realista dos EUA perante a Rússia. Na verdade, a russofobia, velha presença na cultura ocidental, foi intensificada nos últimos quinze anos. Disso são prova os filmes e séries, onde os russos são sempre tratados como criminosos.


Henry Kissinger, Conferência de Segurança de Munique, 2014

Perante a guerra, esta ou qualquer outra, o que se espera de um intelectual é o exercício da sua capacidade analítica, antecipada pela procura dos dados empíricos que são as fontes primárias que alimentam o pensamento crítico.

Nada disso sucedeu. Como nos sistemas totalitários, formou-se no Ocidente uma cultura de massa vigilante para com a dissidência. Na imprensa ocidental, vozes desafinadas, jornalistas e colaboradores, mesmo académicos prestigiados, foram afastados. Nas universidades, fez-se caça às bruxas. Carreiras profissionais foram interrompidas. O objetivo de quem domina e manipula consiste em manter o controlo da narrativa binária: “ou és amigo, ou és inimigo”. Para isso, seria preciso esconder os factos, se não fosse possível destruí-los.

Agora, quando a guerra se encontra num momento tão sangrento como decisivo, a necessidade de mergulhar nas fontes, de conhecer os acontecimentos, de ler os documentos, é mais necessária do que nunca. Nesse sentido, os norte-americanos sempre se portaram melhor do que os europeus. Enfrentaram com mais coragem os obstáculos, também imbuídos pelo imperativo ético de denunciarem os abusos praticados pelo seu país para ocultar as suas próprias responsabilidades. São três documentos de autores norte-americanos, aquilo que gostaria de propor ao leitor. Estes três contributos são de uma riqueza extraordinária, e são acessíveis a todos os que a eles queiram aceder. Indispensáveis para a formulação de um juízo esclarecido e livre.

Primeiro. Conferência de Jeffrey Sachs no Parlamento Europeu. No dia 21 de fevereiro, por convite do deputado alemão, conde Michael von der Schulenburg (da Aliança Sahra Wagenknecht), um dos mais famosos e influentes economistas mundiais veio falar ao Parlamento Europeu, até hoje uma das mais belicistas instituições da UE. Durante mais de hora e meia, Jeffrey Sachs falou com conhecimento de causa, profunda sabedoria e notável eloquência sobre a sua experiência vivida junto de responsáveis políticos dos EUA e da Rússia, além de outros países do leste europeu, durante os mais de 30 anos que precederam a guerra. Testemunhou com veemência o efeito devastador de uma política externa dos EUA, onde o excesso de vontade de poder contrastava com a falta de competente prudência (1).

Segundo. Uma Cronologia da Guerra da Ucrânia. Dois escritores e jornalistas independentes americanos – Matt Taibbi e Greg Collard – produziram um documento que é um tesouro documental para historiadores profissionais e amadores. Inseridas nessa cronologia, encontram-se 114 documentos – ofícios desclassificados, filmes, gravações áudio, cópias de declarações oficiais, etc. -, desde a célebre reunião de 9 de fevereiro de 1990 (quando os EUA prometeram à URSS de Gorbachev que a NATO não se estenderia para Leste…) até à atualidade. Descarregando estes materiais, o leitor poderá construir o seu próprio arquivo sobre o sombrio rasto deixado pelas reais causas deste conflito (2).

Terceiro. As responsabilidades do Ocidente. O terceiro e último documento é um ensaio breve, mas muito esclarecedor, de um investigador independente, Benjamin Abelow. Escrito no início do conflito, este ensaio recolhe uma pertinente informação sobre os numerosos esforços de diplomatas, políticos e académicos norte-americanos que tentaram evitar o alargamento da NATO e a degradação crescente das relações russo-americanas que tal implicaria. Muito bem assente nos dados empíricos, o ensaio partilha com os leitores o pensamento de autores de grande relevância, entre os quais sobressaem os seguintes: John Mearsheimer, Stephen F. Cohen, Richard Sakwa, Gilbert Doctorow, George F. Kennan, Chas Freeman, Douglas Macgregor, e Brennan Deveraux (3). Trata-se de uma oportunidade única de alargar horizontes. Sobretudo, o leitor pode encontrar aqui instrumentos que o imunizam contra a poderosa máquina de desinformação e manipulação, que considera a liberdade do espírito crítico como o seu principal inimigo. 

Referências 

2025/03/18

Sebastião, O Mouro de Bruxelas

Sebastião, O Mouro de Bruxelas
(Tiago Franco, Facebroncas,2025/03/17)



Sou um grande admirador da coragem de Sebastião Bugalho. Assim de repente pensarão que estou a brincar mas não, até porque raramente brinco com assuntos de estado. O Sebastião faz-me lembrar aquele cantor que anima as manhãs do Goucha ou do Baião. Da convicção que mete no que faz, na verdadeira festa que tenta trazer enquanto está em cima de um atrelado, a bater palmas ao playback e a animar umas velhinhas ali, no jardim municipal do Crato, e em casa, já acamadas e sem braços fortes que as façam chegar ao comando da televisão.

Não é bem o disparate sem sentido mas sim a forma decidida com que ele é dito ou feito que, verdadeiramente, me apaixona. Em tempos tive um colega assim. Falava alto, não sorria, dizia tudo com uma certeza que convencia logo pela entoação. Maior parte das vezes atirava ao lado mas a pose de estado não deixava espaço para questões.

O Sebastião é dessa cepa. Daquela gente que acredita muito naquilo que diz e raramente tem dúvidas. Afirmar, aos 29 anos e num país de trabalhadores tendencialmente pobres, que se fartou de trabalhar, é um acto arriscado. Para não dizer estúpido.

Em tempos que já lá vão, o amigo Bugalho tinha um CV todo porreiro no linkedin. Entretanto, provando que é de facto um rapaz esperto, apagou-o (pelo menos eu já não o consigo ver) para precaver males maiores.

O Sebastão comecou a escrever artigos de opinião no "I" enquanto fazia uma licenciatura na Católica. Foi esta a sua entrada no mercado de trabalho aos 19 anos. Diz, Vitor Raínho, o director do "I" nessa altura:
"O então diretor do jornal, Vítor Rainho, confirma ao Observador que Bugalho começou por escrever artigos de opinião que começou a enviar-lhe e, mais tarde, acabou por estagiar no jornal: “Na altura em que ele mandava textos de opinião não sabia que era filho da Patrícia [Reis, que tinha trabalhado com Vítor Rainho no passado]. Um dia ela ligou-me a pedir para ele estagiar no jornal para ver se se desencantava com o jornalismo".

Maior parte das pessoas que concorrem a empregos mandam CVs, preenchem formulários, esperam por respostas que, não raras vezes, não aparecem. O Sebastião, que se fartou de trabalhar, entrou nos jornais com um telefonema da mãe.

Não vou fazer o papel hipócrita de desprezar as cunhas e muito menos as ajudas que um pai ou uma mãe possam dar a um filho. Tenho sobre isso uma opinião baseada naquilo que a vida me ensinou. Nunca tive uma cunha para absolutamente nada e, por variadíssimas vezes, escolhi o caminho mais demorado e tortuoso para as evitar. Isso teve um preço que hoje não sei se valeu a pena pagar. Portanto, se a mãe o ajudou e a rede de contactos dos pais o empurraram precocemente, entre o CDS e os jornais, pois tudo bem. O rapaz aproveitou as oportunidades, vestiu um fato, aprumou o discurso de velho do restelo e fez-se à vida.

A culpa de estar em Bruxelas não é dele, é vossa que votam em gente desta.

Agora...há que assumir. É apenas isso. Nada de conversas de proletariado e tal. É que isso enerva, Sebastião. Gente com muito mais talento do que os Bugalhos desta vida nunca chegam sequer a ter uma oportunidade que não seja em forma de um recibo verde. É por respeito a essa gente que o Bugalho, agora eurodeputado com um salário que 97% dos portugueses nunca viram, deve dizer menos disparates e viver o privilégio que lhe foi concedido com alguma discrição. Não é preciso ter vergonha do berço, basta que não se tente passar por aquilo que nunca foi.

Quando o Sebastião mostra a sede de poder e a miragem de um dia chegar a primeiro-ministro (algo em que acredito, sinceramente), fá-lo com um anúncio solene cheio de nada. "Entrevistei 5 primeiros-ministros e por isso sei o que devem ter e o que não devem ter os responsáveis do cargo". É uma frase ao nível de "já vi 300 desempates por penaltis, sei que uma baliza tem 7 metros e nenhum homem chega a 3 metros, logo, matematicamente, sei bem como bater um penalti à malha lateral e nunca falhar".

Quando nos diz que sabe perfeitamente quem apoiar para esse cargo (Montenegro) está, no fundo, a explicar que tal como no seu exemplo, o "fartar de trabalhar" nos corredores dos favores e na dependência dos partidos, é o "que devem ter" os homens e mulheres que, neste país, querem chegar a um cargo relevante de decisão política.

Nunca me incomodou que o Sebastião fosse um deputado em tenra idade. Aliás, acho isso uma enorme vantagem para a vida no parlamento europeu. O que sempre me preocupou foi ver aquele rapaz, num corpo novo com o discurso bafiento de outros tempos. E perceber que alguém que, durante meses e anos, fez fretes ao PSD no comentariado, acabou por ser recompensado. Alegadamente, claro. Pode ter sido apenas coincidência. Notem ainda na rapidez com que ele percebeu que nem CDS, e muito menos Chega, o colocariam onde ele queria estar.

Sebastião é mais um, entre uma enorme linhagem de privilegiados, que entram nos corredores da política pela porta grande. Que conseguem empregos com telefonemas, que nasceram perto de gente que conhece gente, que aliam um discurso fluente a uma gritante falta de princípios. Que mudam as convicções consoante o programa que, entendam, são essencialmente eles próprios e as suas ambições. Não há nada que Sebastião possa ou queira fazer por quem nele votou. Daqui a 20 anos terá um CV cheio de nomeações e saltos entre cargos do partido.

Percebo a narrativa, percebo que queira dar a imagem de um homem que subiu a pulso, percebo que se queira mostrar como um de nós. Mas como nada disso é verdade e como, ele próprio perceberá, a realidade política portuguesa já está sobrecarregada de mentiras e disparates, porque não se remete apenas ao silêncio enquanto vai tecendo as linhas do próximo salto?
Trabalha menos Sebastião. 

A sério, tira umas férias. E vê se te calas.

2025/03/13

O que Disse Putin Sobre a Proposta de Cessar Fogo

Declaração de Putin sobre a proposta de cessar-fogo de Trump na Ucrânia
(RT, 2025/03/13)
 
A Rússia está pronta, disse o presidente, sublinhando que tal acordo “deve conduzir a uma paz a longo prazo”



O Presidente russo, Vladimir Putin, confirmou na quinta-feira que a Rússia está pronta para discutir um cessar-fogo, mas que os termos de um acordo desse tipo devem ser esclarecidos. Putin disse em julho de 2024 que Moscovo não estava interessada em pausas de curto prazo, mas estava pronta para se envolver na abordagem das causas do conflito.

Washington e Kiev aprovaram uma trégua temporária de 30 dias após uma reunião entre as respetivas delegações na Arábia Saudita na terça-feira.

Eis uma transcrição completa da resposta do Presidente russo:

Antes de avaliar como vejo a disponibilidade da Ucrânia para um cessar-fogo, gostaria de começar por agradecer ao Presidente dos Estados Unidos, Sr. Trump, por ter dado tanta atenção à resolução do conflito na Ucrânia.

Todos temos problemas suficientes para lidar. Mas muitos chefes de Estado, o Presidente da República Popular da China, o Primeiro-Ministro da Índia, os Presidentes do Brasil e da República da África do Sul estão a passar demasiado tempo a tratar desta questão. Estamos gratos a todos eles, porque isto visa cumprir uma missão nobre, uma missão para pôr fim às hostilidades e à perda de vidas humanas.

Em segundo lugar, concordamos com as propostas para cessar as hostilidades. Mas a nossa posição é que este cessar-fogo deve conduzir a uma paz a longo prazo e eliminar as causas iniciais desta crise.

Agora, sobre a disponibilidade da Ucrânia para cessar as hostilidades. À primeira vista, pode parecer uma decisão tomada pela Ucrânia sob pressão dos EUA. Na verdade, estou absolutamente convencido de que o lado ucraniano deverá ter insistido nisso (cessar-fogo) com os americanos com base na forma como a situação (na linha da frente) se está a desenrolar, nas realidades no terreno.

E como é que isso se está a desenrolar? Estou certo de que muitos de vós sabem que ontem estive na Região de Kursk e ouvi os relatórios do chefe do Estado-Maior, do comandante do grupo de forças "Norte" e do seu adjunto sobre a situação na fronteira, especificamente na área de incursão da Região de Kursk.

O que está a acontecer aí? A situação ali está completamente sob o nosso controlo, e o grupo de forças que invadiu o nosso território está completamente isolado e sob o nosso total controlo de tiro.

O comando das tropas ucranianas nesta zona foi perdido. E se nas primeiras fases, há literalmente uma ou duas semanas, os militares ucranianos tentavam sair de lá em grandes grupos, agora é impossível. Estão a tentar sair de lá em grupos muito pequenos, duas ou três pessoas, porque está tudo sob o nosso total controlo de fogo. O equipamento está completamente abandonado. É impossível evacuá-lo. Ele permanecerá lá. Isso já está garantido.

E se nos próximos dias houver um bloqueio físico, ninguém poderá sair. Haverá apenas dois caminhos. Render-se ou morrer.

E nestas condições, penso que seria muito bom para o lado ucraniano conseguir uma trégua de, pelo menos, 30 dias.

E nós somos a favor disso. Mas há nuances. Quais são? Em primeiro lugar, o que faremos com esta força de incursão na região de Kursk?

Se pararmos de lutar durante 30 dias, o que é que isso significa? Que todos os que lá estão se vão embora sem lutar? Devemos deixá-los ir depois de terem cometido crimes em massa contra civis? Ou será que a liderança ucraniana lhes ordenará que deponham as armas? Simplesmente rendam-se. Como é que isso vai funcionar? Não está claro.

Como serão resolvidas outras questões em toda a linha de contacto? São quase 2.000 quilómetros.

Como sabem, as tropas russas estão a avançar em quase toda a frente. E há operações militares em curso para cercar grupos bastante grandes de forças inimigas.

Esses 30 dias — como serão utilizados? Para a Ucrânia continuar com a mobilização forçada? Para receber mais fornecimentos de armas? Para treinar unidades recém-mobilizadas? Ou nada disto terá lugar?

Como serão resolvidas as questões de controlo e verificação? Como podemos ter a certeza de que nada disto vai acontecer? Como será organizado o controlo?

Espero que todos entendam isto ao nível do senso comum. Todas estas são questões sérias.

Quem dará ordens para interromper as hostilidades? E qual é o preço desses pedidos? Consegue imaginar? Quase 2.000 quilómetros. Quem determinará onde e quem violou o potencial cessar-fogo? Quem será o culpado?

Todas estas são questões exigem um exame minucioso de ambos os lados.

Portanto, a ideia em si é a correta, e certamente que a apoiamos. Mas há questões que precisamos de discutir. Acho que precisamos de trabalhar com os nossos parceiros americanos. Talvez eu fale com o Presidente Trump. Mas apoiamos a ideia de pôr fim a este conflito através de meios pacíficos.

2025/03/02

A "Ameaça Russa"

 A "Ameaça Russa".
(José Brás, in facebook, 2025/03/02)

No centro de toda a propaganda ocidental está a mantra da "Ameaça Russa", uma coisa que me é apresentada como verdade absoluta, realidade indiscutível, primado que não necessita argumentação, passe a redundância.

Vejamos.

A "Ameaça Russa" teria começado pouco depois de derrotada a "Ameaça Soviética", mas a realidade, o facto, é que quando acabou a "Ameaça Soviética", acabou também o Pacto de Varsóvia, o que não acabou foi a NATO, nascida anos antes do "temível" pacto e alegadamente criada para conter a "Ameaça Soviética".

Em finais do século XX, enquanto durou a apropriação privada da propriedade socialista soviética pelas máfias oligárquicas russas, houve sim uma tentativa russa de entrar para a NATO, Rússia essa que inclusivamente foi convidada a manter, e aceitou, uma missão diplomática na NATO em Bruxelas, até outubro de 2021, quando os EUA expulsaram 8 dos seus diplomatas dessa missão.

De finais da década de 90 do século passado até 2021, e apesar das confrontações entre a NATO e a Rússia, por interpostas geórgias, arménias, ossétias e abcásias, tudo lá longe dos nosso olhos, as fronteiras russas não se alteraram um milímetro. Já o mesmo não podemos dizer das fronteiras da NATO que, apesar das juras e promessas ocidentais feitas aquando do esboroamento da URSS, de que não se deslocariam uma polegada para leste, foram absorvendo os diferentes países europeus outrora integrantes do Pacto de Varsóvia, sempre democraticamente, sempre de acordo com os anseios dos povos desses países, e assim aproximando os mísseis norte-americanos, ao serviço da NATO, das até então mudas e quedas fronteiras russas.

É em 2014 que tem lugar o Euromaidan, um golpe de estado orquestrado pelos neocons norte-americanos, com a Srª Victoria "Fuck Europe" Nuland, mais a nossa inqualificável Ana Gomes a distribuírem sanduíches pelos revoltosos da praça maidan, dias mais tarde vitimas de fogo amigo, oriundo das janelas do hotel que eles próprios controlavam, e que deu lugar a uma escalada conducente à queda do presidente eleito em eleições justas e democráticas, a acreditar nos observadores da UE e da OSCE, que foram lá vigiar a coisa para evitar "boletins-borboleta", como os das famosas eleições norte-americanas do bush-gore. 

Imaginam a santa Rússia a deixar a NATO cortar-lhe o acesso ao Mar Negro? Imaginam os EUA a sair da base naval de Guantánamo em Cuba como o Estado Cubano exige desde 1959? Esperem sentados.

E foi para não perder a base naval na Crimeia e com isso o acesso ao Mar Negro, que a Rússia rapidamente organizou um referendo onde os 80% de população russófona e russófila da Crimeia deram uma maioria democraticamente esmagadora à reintegração da Crimeia na Rússia. Nada que a NATO não tivesse já feito com o esfrangalhamento da Jusgoslávia ou a criação da Bósnia, se bem que aí nem referendo houve.

Foi também na sequência da tomada de poder pelos nazis ucranianos que as maiorias russófonas e russófilas do Donbass declararam a independência das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. E note-se que nem mesmo nesse já longínquo 2014 a Rússia "invadiu" o Donbass, pelo contrário, sentou-se com os ex-parceiros europeus mais os nazis ucranianos a negociar os tratados de Minsk que reintegrariam na Ucrânia as recém proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, as quais nem a Rússia, então, reconhecia.

Em 2022, passados 8 anos sobre os acordo de Minsk, sem que a Ucrânia desse um só passo para a reintegração do Donbass como repúblicas autónomas, o constante aumento das confrontações ao longo da linha de separação, com os monitores de interposição da OSCE a ignorarem sistematicamente os ataques ucranianos a alvos civis no Donbass e a preparação de uma ofensiva ucraniana em grande escala contra aquelas repúblicas, a Rússia declara mortos os tratados de Minsk e invade a Ucrânia.

Viemos a saber, já em 2022, após a invasão Russa, pelas bocas dos mediadores europeus dos tratados, a então chanceler alemã Angela Merkel e o então presidente francês François Holande que os Acordos de Minsk foram apenas uma tentativa de dar tempo à Ucrânia para fortificar as Forças Armadas, por forma a reconquistar o Donbass, digo eu. Sobre quem terá posto fim aos acordos ou quem nunca pensou respeitá-los não há muito mais a dizer.

Já depois de iniciada a guerra, em Maio de 2022, em Istambul, é rubricado um acordo que, no fundamental, recolocava o conflito nos termos dos acordos de Minsk, com a Ucrânia a abandonar em definitivo a integração na NATO, a assumir um estatuto de neutralidade semelhante ao da Áustria, redução do exército a dimensões mínimas com garantias de segurança por parte da UE, EUA e Rússia.

No dia seguinte o Boris "Brexit" Johnson foi a Kiev informar Zelensky que a NATO não lhe poderia dar garantias de segurança nos termos do acordo rubricado em Istambul, mas que, se ele quisesse continuar a guerra, o Ocidente Alargado estaria com ele até ao fim e que, mais tarde ou mais cedo, a Ucrânia entraria na UE e na NATO.

Passados 3 anos e umas largas centenas de milhares de mortos de ambos os lados, a Ucrânia ainda não entrou para a NATO, ainda não integra a UE, a Rússia ocupa 1/5 da Ucrânia, o tio sam pôs o Zelensky na rua, o Mark "Os portugueses querem é vinho e não sei o quê" Rutte da NATO informa o Zelensky que tem de fazer as pazes com o Trump e que os EUA só estão a abrir uma porta para conversar com a Rússia e o Keith "Booths on the ground" Starmer reuniu uma dúzia de intrépidos guerreiros para alinhavar uma proposta de cessar fogo, proposta essa que, diga-se de passagem, já foi chumbada pelo Putin que continua a avançar, devagarinho, mas a avançar pela Ucrânia adentro e que diz que negociações sim, mas cessar fogo só depois de alcançado um acordo que conduza a uma paz longa, duradoura, que respeite as realidades no terreno e mutuamente interessante para t o d a  a Europa.

Em 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o PCP disse clara, cristalina e taxativamente que a resolução do conflito tinha de ser política e alcançada na mesa de negociações. Passados 3 anos e várias centenas de milhares de mortos a realidade prova que os partidários da paz sempre tiveram razão e os partidários da guerra, depois de  semearam milhares de mortos estão prestes a dar razão aos partidários da paz.

Regressando ao embuste da Ameaça Russa que nos querem fazer digerir. 

Alguém consegue acreditar que uma Rússia que vai da fronteira com a Ucrânia até à fronteira com o Alasca, com recursos minerais, gás e petróleo para dar e vender, precisa de invadir alguma coisa para ter mais de qualquer coisa?

Alguém consegue acreditar que um país com 145 milhões de habitantes iria arriscar uma guerra contra uma economia 10 vezes maior com 510 milhões de habitantes?

Alguém consegue acreditar que uma Rússia que anda há 3 anos para atravessar o Donbass, tem capacidade para ameaçar uma Europa que vai da Polónia ao Cabo de São Vicente?

Uma coisa é uma potência militar com 145 milhões de habitantes e um PIB de 2 milhões de milhões de $US vencer uma Ucrânia com menos de 38 milhões de habitantes e um PIB de 180 mil milhões, outra coisa é ameaçar um PIB de 19 milhões de milhões e 510 milhões de europeus. 

É a realidade dos números.

Quantas vezes a Rússia chegou ao centro da europa? Duas, uma atrás do Napoleão e outra a correr atrás do Hitler.

Quantas vezes é que um país europeu foi chatear o urso russo? Deixando de fora as invasões napoleónicas e a guerra da Crimeia, começada e perdida pelo império russo, resta-nos a I Guerra Mundial, que acabou com a revolução soviética a por fim ao milenar império russo, as intervenções britânica, francesa e norte-americana, a ocidente e oriente na sequência do triunfo bolchevique, seguida duas décadas depois pela invasão nazi.

É a realidade histórica.

Não será a Rússia um país com medo de uma europa central que sazonalmente o invade?