A Europa e o abismo
(Marco Capitão Ferreira, in Expresso Diário, 30/05/2018)
Itália é apenas o último episódio na degradação contínua de um aspeto central da construção Europeia e da moeda única: a sua compatibilidade com o funcionamento das Democracias.
Diz muito do monumental falhanço que é a arquitetura do Euro que, por estes dias, entre a proteção da ortodoxia financeira inerente às regras e a garantia do direito dos povos a decidirem o seu futuro, faz com que prevaleça em muitas cabeças a segunda.
Como se já não bastasse que, pela segunda vez desde 2011, em Itália se vá nomear um Governo “tecnocrático”, que é uma palavra simpática para dizer que se vai nomear alguém sem legitimidade democrática, Bruxelas decidiu piorar as coisas com o habitual tom paternalista e ameaçador e as subsequentes retratações mais ou menos tíbias.
«Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação. Só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir.»(Sérgio Godinho)
2018/05/31
2018/05/30
No Reino das Misérias
A recuperação do Imperio e a desaparição dos trabalhadores
(James Petras in ODiário.info, 2018/05/30)
Introdução
Os impérios entram em decadência ou expandem-se em função, basicamente, das relações entre governantes e governados. Há vários factores determinantes, entre os quais se incluem: 1) o rendimento, a terra e a habitação; 2) a evolução do nível de vida; 3) o aumento ou descida da taxa de mortalidade; e 4) a diminuição ou o aumento das famílias.
Ao longo da história, os impérios em expansão incorporaram a população no império, distribuindo às massas uma parte dos recursos espoliados, proporcionando-lhes terras, arrendamentos reduzidos e habitações. Os grandes latifundiários que tinham que fazer frente aos jovens veteranos regressados das guerras evitavam uma excessiva concentração da terra para evitar distúrbios nos seus feudos. Os impérios em expansão melhoravam as condições de vida, pois empregados assalariados, artesãos, mercadores e escriturários encontravam emprego quando a oligarquia dava rédea solta ao seu consumo de ostentação e crescia a burocracia que administrava o império.
(James Petras in ODiário.info, 2018/05/30)
Introdução
Os impérios entram em decadência ou expandem-se em função, basicamente, das relações entre governantes e governados. Há vários factores determinantes, entre os quais se incluem: 1) o rendimento, a terra e a habitação; 2) a evolução do nível de vida; 3) o aumento ou descida da taxa de mortalidade; e 4) a diminuição ou o aumento das famílias.
Ao longo da história, os impérios em expansão incorporaram a população no império, distribuindo às massas uma parte dos recursos espoliados, proporcionando-lhes terras, arrendamentos reduzidos e habitações. Os grandes latifundiários que tinham que fazer frente aos jovens veteranos regressados das guerras evitavam uma excessiva concentração da terra para evitar distúrbios nos seus feudos. Os impérios em expansão melhoravam as condições de vida, pois empregados assalariados, artesãos, mercadores e escriturários encontravam emprego quando a oligarquia dava rédea solta ao seu consumo de ostentação e crescia a burocracia que administrava o império.
Abriu-se a porta
Os quatro projetos postos à votação foram derrotados. É um facto. Um deles tangencialmente, é outro facto. Creio ser a primeira vez que uma matéria com o impacto da morte medicamente assistida foi posta à discussão, encontrou eco no parlamento para ser debatida e foi a votos, num espaço de tempo tão curto.
Todos sabemos que nada acabou ontem, muito pelo contrário. Ontem abriu-se a porta para um elefante que já tinha entrado na loja de cristais mas que alguns teimaram não ver. Estou certo que a matéria será a partir de ontem objeto de uma discussão alargada e crescentemente informada. Vamos fazer parte dela? Ou vamos sofrer os efeitos de um debate que, independentemente da relevância que lhe reconheçamos, vai fazer o seu caminho nos próximos anos?
Não tenciono, de todo, entrar no caminho da confrontação com os meus amigos e camaradas de sempre, com quem ainda tenho todo um caminho para fazer. Mas fica-me uma preocupação grande ao constatar a ligeireza com que, aos meus olhos, foi definida uma posição sobre uma questão que, todos nós podiamos antever, iria abrir um debate apaixonado entre as muitas e diversificadas esquerdas, com especial intensidade em redor de quem nos habituou a posições fundamentadas e bem ponderadas.
Recordo exemplos de debates sobre questões desta natureza organizados em redor de "grandes" conferências nacionais, conferências que acabavam por extravasar o debate e oferecer terreno bem mais sólido para tomar posições mais informadas e menos apaixonadas..
Espero desesperadamente não ver cair tal tradição.
O tema veio para ficar, a rapidez das transformações demográficas e da ofensiva da classe dominante já não nos dá os anos que precisariamos para debater e consolidar ideias. Tudo hoje é muito mais rápido. Ainda vamos a tempo de quebrar tabus e debater a sério uma questão que vai estar em cima da mesa até se encontrar uma solução consensual. Ou aceitamos o desafio, já que não soubemos liderá-lo, ou deixaremos que tudo se resolva sem o nosso contributo. Como é que vai ser?
Todos sabemos que nada acabou ontem, muito pelo contrário. Ontem abriu-se a porta para um elefante que já tinha entrado na loja de cristais mas que alguns teimaram não ver. Estou certo que a matéria será a partir de ontem objeto de uma discussão alargada e crescentemente informada. Vamos fazer parte dela? Ou vamos sofrer os efeitos de um debate que, independentemente da relevância que lhe reconheçamos, vai fazer o seu caminho nos próximos anos?
Não tenciono, de todo, entrar no caminho da confrontação com os meus amigos e camaradas de sempre, com quem ainda tenho todo um caminho para fazer. Mas fica-me uma preocupação grande ao constatar a ligeireza com que, aos meus olhos, foi definida uma posição sobre uma questão que, todos nós podiamos antever, iria abrir um debate apaixonado entre as muitas e diversificadas esquerdas, com especial intensidade em redor de quem nos habituou a posições fundamentadas e bem ponderadas.
Recordo exemplos de debates sobre questões desta natureza organizados em redor de "grandes" conferências nacionais, conferências que acabavam por extravasar o debate e oferecer terreno bem mais sólido para tomar posições mais informadas e menos apaixonadas..
Espero desesperadamente não ver cair tal tradição.
O tema veio para ficar, a rapidez das transformações demográficas e da ofensiva da classe dominante já não nos dá os anos que precisariamos para debater e consolidar ideias. Tudo hoje é muito mais rápido. Ainda vamos a tempo de quebrar tabus e debater a sério uma questão que vai estar em cima da mesa até se encontrar uma solução consensual. Ou aceitamos o desafio, já que não soubemos liderá-lo, ou deixaremos que tudo se resolva sem o nosso contributo. Como é que vai ser?
Podem Não Ver, Mas Lá Por Baixo Já Está Tudo a Arder!
Operações «Robin dos Bosques» e tartarugas militantes
(Rémy Herrera in ODiário.info, 2018/05/18)
Neste fim de Maio a movimentação social continua em numerosas localidades de França. A sua própria prolongada duração aproxima-se de um endurecimento dos conflitos. A contestação de fundo, dirigida contra as políticas neoliberais aplicadas desde há um ano pelo governo do Presidente Emmanuel Macron, não perde força. Mesmo que não seja nada fácil para muitas das famílias de trabalhadores mobilizados nas greves ver as suas folhas de pagamento amputadas no fim do mês, ou dispor sempre da energia para participar no enorme número de manifestações que são planeadas pelas assembleias gerais e pelas organizações sindicais.
(Rémy Herrera in ODiário.info, 2018/05/18)
Neste fim de Maio a movimentação social continua em numerosas localidades de França. A sua própria prolongada duração aproxima-se de um endurecimento dos conflitos. A contestação de fundo, dirigida contra as políticas neoliberais aplicadas desde há um ano pelo governo do Presidente Emmanuel Macron, não perde força. Mesmo que não seja nada fácil para muitas das famílias de trabalhadores mobilizados nas greves ver as suas folhas de pagamento amputadas no fim do mês, ou dispor sempre da energia para participar no enorme número de manifestações que são planeadas pelas assembleias gerais e pelas organizações sindicais.
As Democráticas Eleições no México
Mais de cem políticos assassinados no México no período eleitoral
(Abril Abril, 2018/05/28)
A consultora de riscos Etellekt dá conta de 313 agressões contra políticos entre 8 de Setembro de 2017 e 26 de Maio de 2018. Mais de uma centena encontram-se sob ameaça e 102 foram assassinados.
A campanha para as eleições que terão lugar a 1 de Julho no México começou a 30 de Março, mas o período eleitoral já se prolonga há oito meses. No mais recente relatório sobre «violência política», apresentado esta segunda-feira, a consultora de análise de riscos Etellekt revela que, entre 8 de Setembro do ano passado e 26 de Maio último, se registaram 357 agressões contra políticos e candidatos às eleições (incluindo neste registo atentados contra familiares).
(Abril Abril, 2018/05/28)
A consultora de riscos Etellekt dá conta de 313 agressões contra políticos entre 8 de Setembro de 2017 e 26 de Maio de 2018. Mais de uma centena encontram-se sob ameaça e 102 foram assassinados.
A campanha para as eleições que terão lugar a 1 de Julho no México começou a 30 de Março, mas o período eleitoral já se prolonga há oito meses. No mais recente relatório sobre «violência política», apresentado esta segunda-feira, a consultora de análise de riscos Etellekt revela que, entre 8 de Setembro do ano passado e 26 de Maio último, se registaram 357 agressões contra políticos e candidatos às eleições (incluindo neste registo atentados contra familiares).
2018/05/29
Ler Bons Argumentos
Uma vida digna, já agora
(Nuno Ramos de Almeida in Jornal i, 2018/05/28)
É preciso discutir o direito a um fim em condições, que tenha em conta a qualidade de vida, sem cair em simplismos e campanhas imbecis, e não esquecendo que as condições sociais em que se aprovarão um dia estas medidas ditarão se esta decisão será livre
Provavelmente, matar-me-ei. Ou, pelo menos, não descarto a possibilidade de decidir fazê-lo. Esta é uma decisão individual que não depende da crença dos outros. Ela é formada pela vida de cada um. Nunca tinha pensado muito nisso, até porque a morte era uma noite longínqua, até ter tropeçado em linhas, palavras, dias e sentimentos que me acordaram.
(Nuno Ramos de Almeida in Jornal i, 2018/05/28)
É preciso discutir o direito a um fim em condições, que tenha em conta a qualidade de vida, sem cair em simplismos e campanhas imbecis, e não esquecendo que as condições sociais em que se aprovarão um dia estas medidas ditarão se esta decisão será livre
Provavelmente, matar-me-ei. Ou, pelo menos, não descarto a possibilidade de decidir fazê-lo. Esta é uma decisão individual que não depende da crença dos outros. Ela é formada pela vida de cada um. Nunca tinha pensado muito nisso, até porque a morte era uma noite longínqua, até ter tropeçado em linhas, palavras, dias e sentimentos que me acordaram.
2018/05/27
A Guerra dos EUA Contra a Venezuela
«Golpe de Mestre»: o roteiro oficial da guerra contra a Venezuela
(José Goulão in AbrilAbril 2018/05/24)
Os EUA estão a atacar a Venezuela cumprindo um plano «top secret» elaborado pelo SouthCom do Pentágono, que só será dado como concluído «quando a ditadura corrupta de Nicolás Maduro tiver sido derrotada».
Elaborado para ser aplicado em várias fases, o «Plano para Derrubar a Ditadura Venezuelana – Golpe de Mestre», assim foi baptizado o documento assinado pelo almirante Kurt Walter Tidd, comandante do SouthCom (Comando Sul), prevê uma agressão militar multinacional integrando tropas de combate norte-americanas e de países da região, incluindo o Brasil, sob comando directo do Pentágono. Como se percebe pela leitura integral do texto, esta guerra será um primeiro passo para o «renascimento da democracia» à «escala continental».
(José Goulão in AbrilAbril 2018/05/24)
Os EUA estão a atacar a Venezuela cumprindo um plano «top secret» elaborado pelo SouthCom do Pentágono, que só será dado como concluído «quando a ditadura corrupta de Nicolás Maduro tiver sido derrotada».
Elaborado para ser aplicado em várias fases, o «Plano para Derrubar a Ditadura Venezuelana – Golpe de Mestre», assim foi baptizado o documento assinado pelo almirante Kurt Walter Tidd, comandante do SouthCom (Comando Sul), prevê uma agressão militar multinacional integrando tropas de combate norte-americanas e de países da região, incluindo o Brasil, sob comando directo do Pentágono. Como se percebe pela leitura integral do texto, esta guerra será um primeiro passo para o «renascimento da democracia» à «escala continental».
2018/05/26
Para uma Discussão da Legislação Sobre a Eutanásia
Enquanto antigo e empenhado partidário de uma liberdade plena, individual e socialmente inserida no primado coletivo, a que todos estamos eticamente obrigados, de fazer o melhor possível pelos restantes membros da sociedade ou, pelo menos, a abster-nos de lhes fazer mal, sou também, naturalmente favorável à prática da morte medicamente assistida, de quem, enquanto cidadão lúcido e adulto, manifeste expressamente a sua vontade para tal. Penso desta forma por entender que, ao recusar ajuda ao meu próximo na execução da sua vontade, que só nele tem impacto, estaria obviamente a cercear-lhe a liberdade e portanto a infligir-lhe um sofrimento por ele indesejado.
Neste quadro, parece-me especialmente interessante discutir a argumentação que o psiquiatra José Manuel Jara, enquanto franco opositor da eutanásia, publicou no AbrilAbril. E porque foi uma das poucas argumentações algo fundamentadas, interessa-me pensá-la com mais vagar tentando encontrar linhas de confluência e rebater pontos de discordância.
1. Não me parece correto pôr em oposição a legislação sobre a morte medicamente assistida (MMA) e a continua e persistente melhoria dos cuidados paliativos continuados (CPC's). Muito pelo contrário, a MMA é um último recurso para quem não se queira sujeitar a CPC's e não possa pôr fim à vida por meios próprios. Irei mesmo mais longe, a já existente legislação sobre o testamento vital resolve, quanto a mim, uma grande maioria dos potenciais casos, deixando de fora a liberdade individual de terminar a própria vida. Há assim a necessidade de complementar os CPC's com legislação sobre a MMA.
Aqui chegado, e parafraseando JM Jara, diria que toda a visão eutanasiófoba nega esta liberdade concreta da pessoa ao sobrevalorizar uma vontade externa ao individuo, baseada num direito mitificado de decidir sobre a vida e a morte de outrém com o beneplácito de uma religião multimilenar.
2. Já muito pelo contrário, concordo plenamente com a necessidade de suprir plenamente as insuficiências do nosso país em matéria de cuidados no fim de vida, investindo mais em recursos em cuidados paliativos, tanto institucionais como domiciliares, na eliminação das falhas de apoio social e médico para idosos e doentes, particularmente para os cidadãos mais desprotegidos, empobrecidos e isolados. E sim, é aqui que está o cerne da questão, mas não me compete a mim, nem a ninguém mais, decidir sobre a morte da minha companheira, pelo que importa legislar corretamente sobre a MMA.
Se pela sua experiência Jara entende que o desespero e a desesperança que levam ao suicídio, prenúncios de um pedido para «ser morto», são sintomas, quase sempre, de falhas assistenciais, importa legislar no sentido de suprir essas falhas e inibir esses casos. Impõe-se por isso legislar sobre a MMA por forma a definir cientificamente os aspetos técnicos e práticos, nada mais.
3. Também concordo que «a introdução de uma lei de eutanásia num país em que o processo não corresponde a uma necessidade palpável da sociedade, resulta em grande medida de um artefacto mediático de uma causa fraturante, [...], partidarizada e sobrepolitizada por via parlamentar.». Discordando já, plenamente, da acusação de fundamentação doutrinária, quanto a mim muito mais enraizada e ideologicamente encapotada na cultura religiosa dominante em que se baseia a divinização da vida por contraposição ao respeito pela vida.
4. Já sobre a restante argumentação pouco há a dizer. Contrapor o direito à vida constitucionalmente instituido com a ausência da morte como um direito lavrado nessa mesma constituição, não é argumento, é desespero em forma de oratória. Mas alguém imagina que, por lá não estar lavrado o direito à morte, alguém dela escapará? Apontar como potenciais eugenistas os partidários da MMA não passa de uma forma rebuscada de tentar esconder numa nuvem de fumo as incómodas companhias das igrejas, das direitas ultramontanas e das múmias vagais que, natural, religiosa e ideologicamente se me opoem do outro lado da barricada. Finalmente, momento baixo do argumentário, não posso deixar passar a indidiosa acusação sobre alegados "incidentes preocupantes" a que uma real argumentação teria obrigatoriamente de dar espaço e fundamento. Assim, como remoque de finalização, cheira a papão e lobo mau. @Refer&ncia
P.S: hoje 31 de Maio, caiu-me no facebroncas um artigo do público sobre «incidentes preocupantes». Seria a estes incidentes que JM Jara se referia?
Neste quadro, parece-me especialmente interessante discutir a argumentação que o psiquiatra José Manuel Jara, enquanto franco opositor da eutanásia, publicou no AbrilAbril. E porque foi uma das poucas argumentações algo fundamentadas, interessa-me pensá-la com mais vagar tentando encontrar linhas de confluência e rebater pontos de discordância.
1. Não me parece correto pôr em oposição a legislação sobre a morte medicamente assistida (MMA) e a continua e persistente melhoria dos cuidados paliativos continuados (CPC's). Muito pelo contrário, a MMA é um último recurso para quem não se queira sujeitar a CPC's e não possa pôr fim à vida por meios próprios. Irei mesmo mais longe, a já existente legislação sobre o testamento vital resolve, quanto a mim, uma grande maioria dos potenciais casos, deixando de fora a liberdade individual de terminar a própria vida. Há assim a necessidade de complementar os CPC's com legislação sobre a MMA.
Aqui chegado, e parafraseando JM Jara, diria que toda a visão eutanasiófoba nega esta liberdade concreta da pessoa ao sobrevalorizar uma vontade externa ao individuo, baseada num direito mitificado de decidir sobre a vida e a morte de outrém com o beneplácito de uma religião multimilenar.
2. Já muito pelo contrário, concordo plenamente com a necessidade de suprir plenamente as insuficiências do nosso país em matéria de cuidados no fim de vida, investindo mais em recursos em cuidados paliativos, tanto institucionais como domiciliares, na eliminação das falhas de apoio social e médico para idosos e doentes, particularmente para os cidadãos mais desprotegidos, empobrecidos e isolados. E sim, é aqui que está o cerne da questão, mas não me compete a mim, nem a ninguém mais, decidir sobre a morte da minha companheira, pelo que importa legislar corretamente sobre a MMA.
Se pela sua experiência Jara entende que o desespero e a desesperança que levam ao suicídio, prenúncios de um pedido para «ser morto», são sintomas, quase sempre, de falhas assistenciais, importa legislar no sentido de suprir essas falhas e inibir esses casos. Impõe-se por isso legislar sobre a MMA por forma a definir cientificamente os aspetos técnicos e práticos, nada mais.
3. Também concordo que «a introdução de uma lei de eutanásia num país em que o processo não corresponde a uma necessidade palpável da sociedade, resulta em grande medida de um artefacto mediático de uma causa fraturante, [...], partidarizada e sobrepolitizada por via parlamentar.». Discordando já, plenamente, da acusação de fundamentação doutrinária, quanto a mim muito mais enraizada e ideologicamente encapotada na cultura religiosa dominante em que se baseia a divinização da vida por contraposição ao respeito pela vida.
4. Já sobre a restante argumentação pouco há a dizer. Contrapor o direito à vida constitucionalmente instituido com a ausência da morte como um direito lavrado nessa mesma constituição, não é argumento, é desespero em forma de oratória. Mas alguém imagina que, por lá não estar lavrado o direito à morte, alguém dela escapará? Apontar como potenciais eugenistas os partidários da MMA não passa de uma forma rebuscada de tentar esconder numa nuvem de fumo as incómodas companhias das igrejas, das direitas ultramontanas e das múmias vagais que, natural, religiosa e ideologicamente se me opoem do outro lado da barricada. Finalmente, momento baixo do argumentário, não posso deixar passar a indidiosa acusação sobre alegados "incidentes preocupantes" a que uma real argumentação teria obrigatoriamente de dar espaço e fundamento. Assim, como remoque de finalização, cheira a papão e lobo mau. @Refer&ncia
P.S: hoje 31 de Maio, caiu-me no facebroncas um artigo do público sobre «incidentes preocupantes». Seria a estes incidentes que JM Jara se referia?
Eutanásia? Sim! Porquê?
Porque a múmia é contra.
Se alguma dúvida ainda tivesse, que há muito não tenho, bastaria para me dar descanso olhar para o cortejo de inimigos de classe muito preocupados com o reino de terror e pecado que se seguiriam à aprovação de legislação sobre a morte medicamente assistida. A Cristas não espanta, assim como não é de admirar toda a obra de deus, da familia eanes aos pobres numerários, mas quando até a múmia sai do sarcófago para bradar que é pecado fico com a certeza de estar mais uma vez do lado certo da barricada. @Refer&ncia
Sem Titulo
(Uma Página de Uma Rede Social, 2018/05/25)
"É pecado." Bastava que o Prof. Doutor Cavaco Silva, a malta do CDS e seus acólitos dissessem isso, quando falam sobre eutanásia. Não é pela falta de investimento em cuidados de saúde, nomeadamente em cuidados paliativos, que a direita conservadora se opõe à eutanásia - até porque a direita foi e ainda é contra o SNS universal e tendencialmente gratuito. Se dependesse da direita, os cuidados paliativos de boa qualidade só estariam disponíveis para ricos.
Se alguma dúvida ainda tivesse, que há muito não tenho, bastaria para me dar descanso olhar para o cortejo de inimigos de classe muito preocupados com o reino de terror e pecado que se seguiriam à aprovação de legislação sobre a morte medicamente assistida. A Cristas não espanta, assim como não é de admirar toda a obra de deus, da familia eanes aos pobres numerários, mas quando até a múmia sai do sarcófago para bradar que é pecado fico com a certeza de estar mais uma vez do lado certo da barricada. @Refer&ncia
Sem Titulo
(Uma Página de Uma Rede Social, 2018/05/25)
"É pecado." Bastava que o Prof. Doutor Cavaco Silva, a malta do CDS e seus acólitos dissessem isso, quando falam sobre eutanásia. Não é pela falta de investimento em cuidados de saúde, nomeadamente em cuidados paliativos, que a direita conservadora se opõe à eutanásia - até porque a direita foi e ainda é contra o SNS universal e tendencialmente gratuito. Se dependesse da direita, os cuidados paliativos de boa qualidade só estariam disponíveis para ricos.
2018/05/25
Eutanásia? Sim! Porque:
Eu quero poder usufruir da benemérita ajuda de terceiros para por termo à minha vida, no caso de eu próprio, estando incapaz de o fazer autónomamente, entender ter chegado o momento de lhe por termo, sem para tal forçar esses terceiros a porem em risco a sua vida ou liberdade por, benemeritamente, me ajudarem a levar a cabo algo que, porque só em mim tem impacto, só a mim diz respeito e sobre o que não aceito quaisquer juízos de valor.
Se o puder fazer autonomamente fá-lo-ei sem envolver terceiros, obviamente.
Dito isto, e porque são o destino da minha vida e o meu direito de sobre ele decidir que estão em causa, vou começar por olhar para os dois valores essenciais em causa: vida e liberdade. Por esta ordem.
«Matar um ser humano é destruir um universo» e «é proibido proibir» são valores para mim fundamentais. E digo fundamentais e não absolutos porque, adepto que sou da dialética, me estão vedados, sim, proibidos, quaisquer absolutos. Quero com esta escolha do fundamental sobre o absoluto, relevar o papel essencial do contexto, da realidade em que estou imerso, do mundo em que vivo, da sociedade em que atuo, para a tomada de qualquer decisão, seja ela do foro intimo e pessoal, como a que está em causa, ou tenha ela impactos sensíveis em terceiros, caso em que me verei obrigado, eticamente obrigado, a considerar e sopesar os limites fundamentais da minha liberdade individual.
Se uma, minha, potencial, acção, poder dar corpo a uma contradição entre eles ver-me-ei eticamente obrigado a pensar cuidadosamente e a sopesar todas as consequências de tal acção.
Um exemplo? Uma escolha simples: sim, concordo que é proibido matar! E sim, acabo de optar pelo valor da vida sobre o valor da liberdade. De forma absoluta? Não! Caso a caso, terei de sopesar e avaliar a justeza de mortes ocorridas em legitima defesa, incluindo aqui a legitima defesa de valores coletivos e individuais.
Sim, as escolhas nunca são simples quando estão em causa contradições, mas, se abrirmos espaço para a dialética, da contradição entre as duas teses acima enunciadas, acabará por emergir uma síntese, uma terceira tese que porá fim a essas contradições.
Um exemplo? Durante séculos as mulheres lutaram pela seu direito de decidir sobre o seu corpo e durante séculos, mercê de um contexto cultural imposto por uma crença, tal direito foi-lhes negado em nome de uma pretensa divinização da vida". Passaram-se séculos de abortos reais, fogueiras de fogo e excumunhão, evolução do conhecimento sobre a vida, incluindo a vida humana, e só no século passado, meio século depois de as mulheres terem direito de voto, se conseguiu racionalmente sintetizar um caminho que respeita o direito da mulher de decidir sobre o seu corpo e a sua vida.
Como? Legislando sobre a interrupção voluntária da gravidez.
A resolução da contradição pôs fim ao estigma que remetia para as catacumbas do oprobio um ato levado a cabo por um imenso número de mulheres, mas mais do que no foro intimo pessoal da mulher, o ato de legislar sobre a ivg retirou da esfera criminal todos os que, benemeritamente, a queriam ajudar a executar a sua decisão mas não o podiam fazer sem por em risco a sua liberdade e bem estar.
É exatamente isso que está em causa quando falamos da morte medicamente assistida.
Eu quero por fim à minha vida. Em que medida é que essa minha vontade tem impacto nas vidas de terceiros? N E N H U M A !
Logo ninguém tem nada a ver com isso. Se o puder fazer autonomamente fa-lo-ei, se não o puder fazer autonomamente T E N H O de ter o direito de pedir ajuda a quem me possa ajudar sem com isso por em risco a sua saúde, liberdade e bem estar.
Qual é a solução? Legislar sobre a morte medicamente assistida.
P.S. - Dia 23 de julho, quase uma semana depois da morte do Fernando Semedo, dei de caras com este texto da Isabel Moreira. Como além de homenagear um homem, honra uma das suas últimas causas, tenho de o manter aqui há mão. Mais cedo do que tarde vou precisar deles, três, dela, dele e do texto dela sobre ele ;-)
Não me lembro do dia em que te conheci, João Semedo
(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 22/07/2018)
Estive a fazer um esforço de memória, mas não me lembro do dia em que te conheci, João. Não deveria ser difícil, porque a nossa amizade não tem décadas, tem antes os anos da minha vida parlamentar.
Não me lembro do dia em que te conheci.
Não me lembro desse dia porque – agora percebo – é comum a adesão a alguém, quando imediata e intensa, jogar com a temporalidade e, subitamente, parece que aquela pessoa sempre ali este. Tu, no caso, meu querido João.
Aderi a ti por causa da tua autenticidade e da firmeza do teu carácter. Antes mesmo de ser tua amiga, essas qualidades choviam do teu olhar direto, forte, irónico, atento, sorridente, cúmplice, terno, e, de repente, nosso.
Aderi a ti por causa das tuas causas.
A igualdade era para ti condição de liberdade e, por isso, estiveste sempre ao lado de quem menos pode, porque menos tem.
Aderi a ti porque um dia deste por mim. E ajudaste-me numa fase lixada da minha vida. Olhaste fundo, pegaste-me no braço e fomos dar uma volta. Com o teu saber médico e com a tua generosidade, deste cabo do que estava a dar cabo de mim. Fiquei boa. E menos sozinha. E fizemos piadas para sempre sobre o meu caso clínico.
Percebi que eras assim. Um coração aberto, empático, um diálogo para quem o quisesse.
Mas atenção, gente que esteja a ler isto: o João tomava partido. O João tomou partido toda a sua vida, escolheu os seus combates, nunca temeu adversários e, nos últimos tempos da sua vida, entregou-se até ao fim às causas do SNS e da morte assistida.
Foi na luta pela despenalização da morte assistida que ficamos mais amigos. O João lutou pela aprovação da dignidade de todos na liberdade de cada um. E acreditou que após um debate tão alargado e sério na sociedade, a seriedade se mantivesse até ao fim e que a tolerância vencesse.
Enganou-se.
Por isso mesmo, quando foi lançado o livro por si organizado com o título “Morrer com Dignidade”, o João, não podendo estar presente por causa da doença, enviou um texto magnífico, no qual diz isto: “Nos últimos dois anos, não me recordo de qualquer outro tema tão discutido como a morte assistida. Foi um debate intenso, muito participado e que mobilizou e envolveu a opinião pública portuguesa. Infelizmente, nem tudo correu bem. O radicalismo extremista em que apostaram alguns adversários da despenalização poluiu o debate com uma série de mentiras, insinuações e falsificações sobre o que se verifica nos países em que a morte assistida é permitida e sobre o que propõem os projetos de lei que vão a votos, no próximo dia 29, no nosso Parlamento. O Movimento considerou, e bem, ser indispensável responder a essa campanha e repor a verdade com isenção, rigor e objetividade informativa. Não sendo obra perfeita, julgo que esse propósito foi plenamente conseguido com esta edição, constituindo um importantíssimo contributo para a aprovação, entre nós, da despenalização da morte assistida. Ajudar a morrer serena e tranquilamente, acabando com o sofrimento inútil, é uma atitude muito nobre, de elevado valor moral e de grande humanismo, que não podemos deixar que seja desvalorizada, caricaturada ou comparada com um homicídio. Consagrar na lei a despenalização da morte assistida é consagrar o direito de todos a verem respeitada a sua vontade, sem obrigar, mas também sem impedir seja quem for de encurtar a sua vida, para por termo a um sofrimento que considere inútil e desumano. Despenalizar é colocar a tolerância onde até hoje tem estado a prepotência de alguns impondo-se a todos os outros. No dia 29, é isso que está em causa”.
Não me lembro do dia em que te conheci, João.
Mas conheci-te e reconheci-te. Seremos muitas e muitos a continuar as tuas lutas, tomando partido, dialogando, exigindo seriedade, inscrevendo o teu nome nas vitórias.
Talvez seja isso a ressurreição, como tão bem me disse aquele teu amigo.
Se o puder fazer autonomamente fá-lo-ei sem envolver terceiros, obviamente.
Dito isto, e porque são o destino da minha vida e o meu direito de sobre ele decidir que estão em causa, vou começar por olhar para os dois valores essenciais em causa: vida e liberdade. Por esta ordem.
«Matar um ser humano é destruir um universo» e «é proibido proibir» são valores para mim fundamentais. E digo fundamentais e não absolutos porque, adepto que sou da dialética, me estão vedados, sim, proibidos, quaisquer absolutos. Quero com esta escolha do fundamental sobre o absoluto, relevar o papel essencial do contexto, da realidade em que estou imerso, do mundo em que vivo, da sociedade em que atuo, para a tomada de qualquer decisão, seja ela do foro intimo e pessoal, como a que está em causa, ou tenha ela impactos sensíveis em terceiros, caso em que me verei obrigado, eticamente obrigado, a considerar e sopesar os limites fundamentais da minha liberdade individual.
Se uma, minha, potencial, acção, poder dar corpo a uma contradição entre eles ver-me-ei eticamente obrigado a pensar cuidadosamente e a sopesar todas as consequências de tal acção.
Um exemplo? Uma escolha simples: sim, concordo que é proibido matar! E sim, acabo de optar pelo valor da vida sobre o valor da liberdade. De forma absoluta? Não! Caso a caso, terei de sopesar e avaliar a justeza de mortes ocorridas em legitima defesa, incluindo aqui a legitima defesa de valores coletivos e individuais.
Sim, as escolhas nunca são simples quando estão em causa contradições, mas, se abrirmos espaço para a dialética, da contradição entre as duas teses acima enunciadas, acabará por emergir uma síntese, uma terceira tese que porá fim a essas contradições.
Um exemplo? Durante séculos as mulheres lutaram pela seu direito de decidir sobre o seu corpo e durante séculos, mercê de um contexto cultural imposto por uma crença, tal direito foi-lhes negado em nome de uma pretensa divinização da vida". Passaram-se séculos de abortos reais, fogueiras de fogo e excumunhão, evolução do conhecimento sobre a vida, incluindo a vida humana, e só no século passado, meio século depois de as mulheres terem direito de voto, se conseguiu racionalmente sintetizar um caminho que respeita o direito da mulher de decidir sobre o seu corpo e a sua vida.
Como? Legislando sobre a interrupção voluntária da gravidez.
A resolução da contradição pôs fim ao estigma que remetia para as catacumbas do oprobio um ato levado a cabo por um imenso número de mulheres, mas mais do que no foro intimo pessoal da mulher, o ato de legislar sobre a ivg retirou da esfera criminal todos os que, benemeritamente, a queriam ajudar a executar a sua decisão mas não o podiam fazer sem por em risco a sua liberdade e bem estar.
É exatamente isso que está em causa quando falamos da morte medicamente assistida.
Eu quero por fim à minha vida. Em que medida é que essa minha vontade tem impacto nas vidas de terceiros? N E N H U M A !
Logo ninguém tem nada a ver com isso. Se o puder fazer autonomamente fa-lo-ei, se não o puder fazer autonomamente T E N H O de ter o direito de pedir ajuda a quem me possa ajudar sem com isso por em risco a sua saúde, liberdade e bem estar.
Qual é a solução? Legislar sobre a morte medicamente assistida.
P.S. - Dia 23 de julho, quase uma semana depois da morte do Fernando Semedo, dei de caras com este texto da Isabel Moreira. Como além de homenagear um homem, honra uma das suas últimas causas, tenho de o manter aqui há mão. Mais cedo do que tarde vou precisar deles, três, dela, dele e do texto dela sobre ele ;-)
Não me lembro do dia em que te conheci, João Semedo
(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 22/07/2018)
Estive a fazer um esforço de memória, mas não me lembro do dia em que te conheci, João. Não deveria ser difícil, porque a nossa amizade não tem décadas, tem antes os anos da minha vida parlamentar.
Não me lembro do dia em que te conheci.
Não me lembro desse dia porque – agora percebo – é comum a adesão a alguém, quando imediata e intensa, jogar com a temporalidade e, subitamente, parece que aquela pessoa sempre ali este. Tu, no caso, meu querido João.
Aderi a ti por causa da tua autenticidade e da firmeza do teu carácter. Antes mesmo de ser tua amiga, essas qualidades choviam do teu olhar direto, forte, irónico, atento, sorridente, cúmplice, terno, e, de repente, nosso.
Aderi a ti por causa das tuas causas.
A igualdade era para ti condição de liberdade e, por isso, estiveste sempre ao lado de quem menos pode, porque menos tem.
Aderi a ti porque um dia deste por mim. E ajudaste-me numa fase lixada da minha vida. Olhaste fundo, pegaste-me no braço e fomos dar uma volta. Com o teu saber médico e com a tua generosidade, deste cabo do que estava a dar cabo de mim. Fiquei boa. E menos sozinha. E fizemos piadas para sempre sobre o meu caso clínico.
Percebi que eras assim. Um coração aberto, empático, um diálogo para quem o quisesse.
Mas atenção, gente que esteja a ler isto: o João tomava partido. O João tomou partido toda a sua vida, escolheu os seus combates, nunca temeu adversários e, nos últimos tempos da sua vida, entregou-se até ao fim às causas do SNS e da morte assistida.
Foi na luta pela despenalização da morte assistida que ficamos mais amigos. O João lutou pela aprovação da dignidade de todos na liberdade de cada um. E acreditou que após um debate tão alargado e sério na sociedade, a seriedade se mantivesse até ao fim e que a tolerância vencesse.
Enganou-se.
Por isso mesmo, quando foi lançado o livro por si organizado com o título “Morrer com Dignidade”, o João, não podendo estar presente por causa da doença, enviou um texto magnífico, no qual diz isto: “Nos últimos dois anos, não me recordo de qualquer outro tema tão discutido como a morte assistida. Foi um debate intenso, muito participado e que mobilizou e envolveu a opinião pública portuguesa. Infelizmente, nem tudo correu bem. O radicalismo extremista em que apostaram alguns adversários da despenalização poluiu o debate com uma série de mentiras, insinuações e falsificações sobre o que se verifica nos países em que a morte assistida é permitida e sobre o que propõem os projetos de lei que vão a votos, no próximo dia 29, no nosso Parlamento. O Movimento considerou, e bem, ser indispensável responder a essa campanha e repor a verdade com isenção, rigor e objetividade informativa. Não sendo obra perfeita, julgo que esse propósito foi plenamente conseguido com esta edição, constituindo um importantíssimo contributo para a aprovação, entre nós, da despenalização da morte assistida. Ajudar a morrer serena e tranquilamente, acabando com o sofrimento inútil, é uma atitude muito nobre, de elevado valor moral e de grande humanismo, que não podemos deixar que seja desvalorizada, caricaturada ou comparada com um homicídio. Consagrar na lei a despenalização da morte assistida é consagrar o direito de todos a verem respeitada a sua vontade, sem obrigar, mas também sem impedir seja quem for de encurtar a sua vida, para por termo a um sofrimento que considere inútil e desumano. Despenalizar é colocar a tolerância onde até hoje tem estado a prepotência de alguns impondo-se a todos os outros. No dia 29, é isso que está em causa”.
Não me lembro do dia em que te conheci, João.
Mas conheci-te e reconheci-te. Seremos muitas e muitos a continuar as tuas lutas, tomando partido, dialogando, exigindo seriedade, inscrevendo o teu nome nas vitórias.
Talvez seja isso a ressurreição, como tão bem me disse aquele teu amigo.
2018/05/19
Para a História da Corrupção Capitalista
O Polvo – algumas considerações sobre casos de corrupção em Portugal
(António Abreu in AbrilAbril, 2018/05/15)
Casos que têm origem nas privatizações, na submissão a imposições externas e na crescente subordinação do poder político ao poder económico, de que o «bloco central de interesses» foi motor.
Mais uma acha para a fogueira da corrupção
1. O mais recente caso envolvendo o ex-ministro Manuel Pinho, o BES, a EDP e também o ex-ministro António Mexia, terá desejavelmente um curso de investigação e processos judiciais dela decorrentes, mas não podem deixar de ser apreciadas no plano político. As rendas, que foram sendo permitidas à EDP por aquele ex-governante, poderão ser mais um caso da corrupção de membros de governos pelo poder económico.
Como noutros casos, os comunistas referem que é indissociável do processo de privatizações, da submissão às imposições externas, da recuperação do poder monopolista e da sua relação com a crescente subordinação do poder político ao poder económico.
(António Abreu in AbrilAbril, 2018/05/15)
Casos que têm origem nas privatizações, na submissão a imposições externas e na crescente subordinação do poder político ao poder económico, de que o «bloco central de interesses» foi motor.
Mais uma acha para a fogueira da corrupção
1. O mais recente caso envolvendo o ex-ministro Manuel Pinho, o BES, a EDP e também o ex-ministro António Mexia, terá desejavelmente um curso de investigação e processos judiciais dela decorrentes, mas não podem deixar de ser apreciadas no plano político. As rendas, que foram sendo permitidas à EDP por aquele ex-governante, poderão ser mais um caso da corrupção de membros de governos pelo poder económico.
Como noutros casos, os comunistas referem que é indissociável do processo de privatizações, da submissão às imposições externas, da recuperação do poder monopolista e da sua relação com a crescente subordinação do poder político ao poder económico.
2018/05/15
Palestina
MUITAS CENTENAS MANIFESTAM SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA E CONDENAÇÃO DE ISRAEL E ESTADOS UNIDOS NO LARGO DE CAMÕES EM LISBOA
Mais de cinco centenas de pessoas reuniram-se esta tarde, no Largo de Camões, em Lisboa, em resposta a um apelo lançado pelo CPPC, pela CGTP-IN, pelo MDM e pelo MPPM, a que se associaram mais de 50 outras organizações e acima de uma centena de subscritores individuais. Falaram, em nome das organizações primeiras promotoras, Filipe Ferreira (CPPC), Ana Souto (MDM), Carlos Almeida (MPPM) e Arménio Carlos (CGTP-IN). Houve sentida manifestação de solidariedade com a heróica resistência do povo palestino e uma veemente condenação da decisão da administração americana pela decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e par aí transferir a sua embaixada. Causou vivo repúdio a realização dos festejos de inauguração da embaixada ao mesmo tempo que o exército israelita continua a assassinar manifestantes palestinos desarmados. Só no dia de hoje, já se tinham registado mais de 50 mortos e acima de dois milhares de feridos.
Transcrevemos o texto do apelo e a lista de organizações e individualidade subscritoras:
Mais de cinco centenas de pessoas reuniram-se esta tarde, no Largo de Camões, em Lisboa, em resposta a um apelo lançado pelo CPPC, pela CGTP-IN, pelo MDM e pelo MPPM, a que se associaram mais de 50 outras organizações e acima de uma centena de subscritores individuais. Falaram, em nome das organizações primeiras promotoras, Filipe Ferreira (CPPC), Ana Souto (MDM), Carlos Almeida (MPPM) e Arménio Carlos (CGTP-IN). Houve sentida manifestação de solidariedade com a heróica resistência do povo palestino e uma veemente condenação da decisão da administração americana pela decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e par aí transferir a sua embaixada. Causou vivo repúdio a realização dos festejos de inauguração da embaixada ao mesmo tempo que o exército israelita continua a assassinar manifestantes palestinos desarmados. Só no dia de hoje, já se tinham registado mais de 50 mortos e acima de dois milhares de feridos.
Transcrevemos o texto do apelo e a lista de organizações e individualidade subscritoras:
2018/05/13
Ainda Maio'68 - à Revelia do Pensamento Dominante
Vale sempre a pena ler e reler quem, remando contra a maré da história escrita pelos vencedores, continua a olhar para esse Maio meio centenário em que as esperanças eram todas e os resultados foram parcos.
A "não-revolução" do Manuel Augusto Araújo, que abaixo se reproduz, interessa desde logo porque nos fala das raízes e das involuções dos grandes protagonistas, ou nisso tornados pelos media que escrevem a história dos vencedores. Fala-nos nos Cohn-Bendits que hoje acompanham um Macron de pacotilha, fabricado ao gosto de clientes enganados, e dos Henrys-Levys, hoje atlantistas ferrenhos, conservadores que apelidam de racistas os multiculturalistas. Diz-me onde acabaste dir-te-ei quão enganado andaste, ou melhor, dir-te-ei quão bem andaste a enganar tolos nesses idos de maio.
Mas não se fica pela referência ao simples trajecto dos então grandes revolucionários e hoje instalados burgueses. Vai mais longe. Vai mais longe e dá-nos a ler algumas das pérolas da Internacional Situacionista que, já nesses idos de Maio, apelava à espontaneidade das massas, por oposição à sua organização que estaria já fora de moda, tal como já então estariam fora de moda os partidos, pelos Situacionistas empurrados para a amálgama da "política especializada" e onde podemos adivinhar o actual e neo-liberal dizer d'"os politicos" que, para estes sempre instalados e muito experimentados burgueses, sempre foram e continuam a ser "todos iguais", mas olhem que não, olhem que não são todos iguais e há mesmo alguns muito diferentes.
Mas sabem o que é mais importante para mim? É que eu consigo imaginar-me de um mesmo lado da barricada com essas versões das juventudes deles. Também eu quero gritar que «a criação é a mais alta forma de actividade humana e a arte a forma mais alta de criação», também eu quero o mar das praias que estão logo por baixo da calçadas de granito. Também para mim, mas hoje, passados cinquenta anos, a esperança só pode vir dos desesperados. Mas isso sou eu, de esquerda, solidário, comunista, que quero transformar o mundo e aprendi com a história que só organizadamente o poderemos fazer. Que o primeiro passo para as praias de areia dourada é o fim da exploração do Trabalho pelo Capital. Que para nos libertar a todos para um mundo de criatividade, não basta "decretar a «felicidade permanente», é preciso primeiro acabar com quem nos nega o pão da felicidade e o conhecimento criativo. Mas isso sou eu, porque nem mesmo as suas versões de Maio me quiseram ao lado deles, nas barricadas que já então eram só deles. Hoje sou eu que não os posso aceitar do meu lado da barricada, hoje eles são já claramente inimigos de classe. Te-lo-ão sido sempre? @Refer&ncia
Maio 68, a não-revolução
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 13 de Maio 2018)
O impulso revolucionário é desviado para o território do espectáculo. Os mitos dadaístas e anarquistas na política e na arte aterram, com a Internacional Situacionista, em Paris, no Maio 68.
Maio 68 faz cinquenta anos. A 13 de Maio a França assistiu à maior greve geral de sempre, que paralisou o país. Uma greve só comparável à greve de 1936 e à que antecedeu a Comuna de Paris. A maior greve geral que alguma vez aconteceu na Europa ou em qualquer parte do mundo.
Era o culminar de lutas operárias que se tinham intensificado desde os princípios dos anos 60, com lutas enquadradas, algumas desenquadradas, pelas estruturas sindicais, e das lutas estudantis desse ano.
Estudantes e operários confluíram nesse dia numa batalha contra o poder gaulista, corporizado por um general reaccionário que até aí tinha a maior oposição em Miterrand, um político oportunista.
Maio 68 destrói o jogo de xadrez em que esses dois filibusteiros se enfrentavam. Destrói o jogo mas não destrói o tabuleiro. O jogo irá continuar com outros gambitos e, como os lances imediatos e os seguintes a curto e médio prazo mostraram, são eles que acabam por sair triunfantes.
A "não-revolução" do Manuel Augusto Araújo, que abaixo se reproduz, interessa desde logo porque nos fala das raízes e das involuções dos grandes protagonistas, ou nisso tornados pelos media que escrevem a história dos vencedores. Fala-nos nos Cohn-Bendits que hoje acompanham um Macron de pacotilha, fabricado ao gosto de clientes enganados, e dos Henrys-Levys, hoje atlantistas ferrenhos, conservadores que apelidam de racistas os multiculturalistas. Diz-me onde acabaste dir-te-ei quão enganado andaste, ou melhor, dir-te-ei quão bem andaste a enganar tolos nesses idos de maio.
Mas não se fica pela referência ao simples trajecto dos então grandes revolucionários e hoje instalados burgueses. Vai mais longe. Vai mais longe e dá-nos a ler algumas das pérolas da Internacional Situacionista que, já nesses idos de Maio, apelava à espontaneidade das massas, por oposição à sua organização que estaria já fora de moda, tal como já então estariam fora de moda os partidos, pelos Situacionistas empurrados para a amálgama da "política especializada" e onde podemos adivinhar o actual e neo-liberal dizer d'"os politicos" que, para estes sempre instalados e muito experimentados burgueses, sempre foram e continuam a ser "todos iguais", mas olhem que não, olhem que não são todos iguais e há mesmo alguns muito diferentes.
Mas sabem o que é mais importante para mim? É que eu consigo imaginar-me de um mesmo lado da barricada com essas versões das juventudes deles. Também eu quero gritar que «a criação é a mais alta forma de actividade humana e a arte a forma mais alta de criação», também eu quero o mar das praias que estão logo por baixo da calçadas de granito. Também para mim, mas hoje, passados cinquenta anos, a esperança só pode vir dos desesperados. Mas isso sou eu, de esquerda, solidário, comunista, que quero transformar o mundo e aprendi com a história que só organizadamente o poderemos fazer. Que o primeiro passo para as praias de areia dourada é o fim da exploração do Trabalho pelo Capital. Que para nos libertar a todos para um mundo de criatividade, não basta "decretar a «felicidade permanente», é preciso primeiro acabar com quem nos nega o pão da felicidade e o conhecimento criativo. Mas isso sou eu, porque nem mesmo as suas versões de Maio me quiseram ao lado deles, nas barricadas que já então eram só deles. Hoje sou eu que não os posso aceitar do meu lado da barricada, hoje eles são já claramente inimigos de classe. Te-lo-ão sido sempre? @Refer&ncia
Maio 68, a não-revolução
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 13 de Maio 2018)
O impulso revolucionário é desviado para o território do espectáculo. Os mitos dadaístas e anarquistas na política e na arte aterram, com a Internacional Situacionista, em Paris, no Maio 68.
Maio 68 faz cinquenta anos. A 13 de Maio a França assistiu à maior greve geral de sempre, que paralisou o país. Uma greve só comparável à greve de 1936 e à que antecedeu a Comuna de Paris. A maior greve geral que alguma vez aconteceu na Europa ou em qualquer parte do mundo.
Era o culminar de lutas operárias que se tinham intensificado desde os princípios dos anos 60, com lutas enquadradas, algumas desenquadradas, pelas estruturas sindicais, e das lutas estudantis desse ano.
Estudantes e operários confluíram nesse dia numa batalha contra o poder gaulista, corporizado por um general reaccionário que até aí tinha a maior oposição em Miterrand, um político oportunista.
Maio 68 destrói o jogo de xadrez em que esses dois filibusteiros se enfrentavam. Destrói o jogo mas não destrói o tabuleiro. O jogo irá continuar com outros gambitos e, como os lances imediatos e os seguintes a curto e médio prazo mostraram, são eles que acabam por sair triunfantes.
2018/05/10
Então e o Esteves?
Não vou aqui deixar o link e muito menos reproduzir o escrito do João Merkel Taverneiro por motivos de higiene e saúde pública. Ponto. Quem o quiser ler que o procure lá nos pasquins que lhe dão tribuna, este é um espaço público, de higiene mental, frequentado por menores e que entendo, por esses motivos, não dever ser contaminado com falsidades generalizadoras de escrevinhadores com tribuna paga ao serviço da ideologia dominante.
Mas, até porque pressinto a necessidade de o vir a usar em futuros debates, não resisto a arranjar espaço para o contraditório publicado numa página numa rede social. Aqui ficam eles, o espaço e o contraditório para @Refer&ncia futura.
Sem Título
(Uma Página numa Rede Social, 2018/05/10)
Costumamos satirizar com a frase "À esquerda, é corrupção. À direita, é empreendedorismo". Hoje, João Miguel Tavares prestou-se ao revelador exercício de tentar desenvolver esta sofrida tese.
Resumidamente, o articulista defende que corrupção à esquerda é um cancro da democracia, mas corrupção à direita é fofinha, cometida por gente de bem, que nem más intenções tinha.
Mas, até porque pressinto a necessidade de o vir a usar em futuros debates, não resisto a arranjar espaço para o contraditório publicado numa página numa rede social. Aqui ficam eles, o espaço e o contraditório para @Refer&ncia futura.
Sem Título
(Uma Página numa Rede Social, 2018/05/10)
Costumamos satirizar com a frase "À esquerda, é corrupção. À direita, é empreendedorismo". Hoje, João Miguel Tavares prestou-se ao revelador exercício de tentar desenvolver esta sofrida tese.
Resumidamente, o articulista defende que corrupção à esquerda é um cancro da democracia, mas corrupção à direita é fofinha, cometida por gente de bem, que nem más intenções tinha.
Maio'68 - Realidade á Revelia dos Mitos
Maio de 68: «Tous ensemble, dix ans, ça suffit!»
(António Abreu in AbrilAbril, 2018/05/07)
Ao Maio de 68, a todos os acontecimentos desse ano em todo o mundo, ninguém ficou indiferente. Gostasse ou não deles. Passar do sonho e da utopia à realidade deu força a outros movimentos, mesmo os da intimidade, dos costumes, da igualdade de sexos e da «revolução sexual», que não ficando concluídos, contribuíram para novos comportamentos, novas ideias, para o carácter do ensino e a atitude dos professores, para a confiança na força da contestação do que parecia imutável e da sua capacidade de transformar.
Mas os media dominantes também criaram mitos, uma interpretação própria das causas e consequências, valorizaram aspectos marginais, desprezando o essencial do que se passou.
(António Abreu in AbrilAbril, 2018/05/07)
Ao Maio de 68, a todos os acontecimentos desse ano em todo o mundo, ninguém ficou indiferente. Gostasse ou não deles. Passar do sonho e da utopia à realidade deu força a outros movimentos, mesmo os da intimidade, dos costumes, da igualdade de sexos e da «revolução sexual», que não ficando concluídos, contribuíram para novos comportamentos, novas ideias, para o carácter do ensino e a atitude dos professores, para a confiança na força da contestação do que parecia imutável e da sua capacidade de transformar.
Mas os media dominantes também criaram mitos, uma interpretação própria das causas e consequências, valorizaram aspectos marginais, desprezando o essencial do que se passou.
Conto Tonto 204
Os últimos humanos eram construídos todos na mesma Torre da Mesma Cidade Fantasma, a TTT 331 na Galáxia Parda.
Tinham sido reconstruídos pelos ROBOTS DDD 412 a partir de tecidos conservados pelos Robots da sétima geração em frigoríficos designados como “ Originais “ .
Estes últimos humanos não eram sociais como os robots. Eram egocentrados e buscavam ouro e platina por instinto em diversos planetas.
Não necessitavam ser amestrados para o efeito porque o faziam por instinto até morrerem.
José João Louro
Conto Tonto 204
10 de Maio de 2018
(Alhures do Ciberespaço)
Tinham sido reconstruídos pelos ROBOTS DDD 412 a partir de tecidos conservados pelos Robots da sétima geração em frigoríficos designados como “ Originais “ .
Estes últimos humanos não eram sociais como os robots. Eram egocentrados e buscavam ouro e platina por instinto em diversos planetas.
Não necessitavam ser amestrados para o efeito porque o faziam por instinto até morrerem.
José João Louro
Conto Tonto 204
10 de Maio de 2018
(Alhures do Ciberespaço)
2018/05/06
Para a História da ETA Um Dia Depois da Dissolução
ETA: o último dia do que restava da vida dela
(António Freitas de Sousa in Jornal Económico, 2018/05/05)
Chega hoje ao fim, e ninguém parece colocar a hipótese de um renascimento, a organização armada mais antiga da Europa. Ao cabo de quase 60 anos, a história da ETA confunde-se com a história contemporânea de Espanha.
A ETA chega hoje ao fim por decisão própria, numa altura em que já não era mais que um anacronismo remanescente dos anos de brasa das décadas de 70 e 80 do século passado – quando não só a Espanha mas também o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Itália e Portugal tiveram que se haver com fenómenos semelhantes: o da luta armada no seio das suas próprias cidades.
(António Freitas de Sousa in Jornal Económico, 2018/05/05)
Chega hoje ao fim, e ninguém parece colocar a hipótese de um renascimento, a organização armada mais antiga da Europa. Ao cabo de quase 60 anos, a história da ETA confunde-se com a história contemporânea de Espanha.
A ETA chega hoje ao fim por decisão própria, numa altura em que já não era mais que um anacronismo remanescente dos anos de brasa das décadas de 70 e 80 do século passado – quando não só a Espanha mas também o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Itália e Portugal tiveram que se haver com fenómenos semelhantes: o da luta armada no seio das suas próprias cidades.
2018/05/05
Karl Marx ao Chicago Tribune em 1878
Entrevista com Karl Marx, o fundador do socialismo moderno
Do nosso correspondente exclusivo em Londres
Londres, 18 de dezembro (1878).
— Karl Marx, fundador do socialismo moderno, mora numa pequena casa em Haverstock Hill, bairro do noroeste de Londres. Banido em 1844 da sua pátria, a Alemanha, por ter propagado teorias revolucionárias, vive desde então no exílio. Retornou ao seu país em 1848, mas foi expulso dois meses depois do seu retorno. Marx estabeleceu-se, em seguida, em Paris, onde, já no ano seguinte, as suas ideias políticas lhe valeram uma nova expulsão. Desde então, fez de Londres o seu quartel-general. As suas convicções não cessaram, desde o primeiro dia, de lhe criar dificuldades e, a julgar pelo aspecto de sua casa, não lhe proporcionaram grande conforto. Durante todo esse tempo, Marx pregou suas convicções com uma obstinação, indubitavelmente fundada na certeza que tem da justeza delas. Por mais que se possa ser contrário à difusão dessas ideias, é preciso admitir que a abnegação deste homem, actualmente em idade venerável, merece uma certa apreciação.
Do nosso correspondente exclusivo em Londres
Londres, 18 de dezembro (1878).
— Karl Marx, fundador do socialismo moderno, mora numa pequena casa em Haverstock Hill, bairro do noroeste de Londres. Banido em 1844 da sua pátria, a Alemanha, por ter propagado teorias revolucionárias, vive desde então no exílio. Retornou ao seu país em 1848, mas foi expulso dois meses depois do seu retorno. Marx estabeleceu-se, em seguida, em Paris, onde, já no ano seguinte, as suas ideias políticas lhe valeram uma nova expulsão. Desde então, fez de Londres o seu quartel-general. As suas convicções não cessaram, desde o primeiro dia, de lhe criar dificuldades e, a julgar pelo aspecto de sua casa, não lhe proporcionaram grande conforto. Durante todo esse tempo, Marx pregou suas convicções com uma obstinação, indubitavelmente fundada na certeza que tem da justeza delas. Por mais que se possa ser contrário à difusão dessas ideias, é preciso admitir que a abnegação deste homem, actualmente em idade venerável, merece uma certa apreciação.
Comunismo é o Mundo Sem Fronteiras
Proletários de Todo o Mundo Uni-vos é muito mais do que um slogan, é todo um programa revolucionário.
É a forma de dizermos de onde vimos, para onde vamos e como vamos.
Vimos do mundo do capital que nos divide com fronteiras.
Caminhamos para um mundo sem elas, unidos como os dedos da mão.
É um programa revolucionário que começa com a organização num partido comunista, passa pela miscegenização dos nacionalismos numa só internacional e só terminará quando o mundo for um, sem muros, classes ou fronteiras, um mundo justo, fraterno e solidário com todos e para todos.
É um programa revolucionário para levarmos o planeta a uma terra sem amos nem fronteiras.
Proletários de Todo o Mundo Uni-vos por um planeta sem amos.
É a forma de dizermos de onde vimos, para onde vamos e como vamos.
Vimos do mundo do capital que nos divide com fronteiras.
Caminhamos para um mundo sem elas, unidos como os dedos da mão.
É um programa revolucionário que começa com a organização num partido comunista, passa pela miscegenização dos nacionalismos numa só internacional e só terminará quando o mundo for um, sem muros, classes ou fronteiras, um mundo justo, fraterno e solidário com todos e para todos.
É um programa revolucionário para levarmos o planeta a uma terra sem amos nem fronteiras.
Proletários de Todo o Mundo Uni-vos por um planeta sem amos.
Viva a Democracia do Proletariado!
É verdade, o nome escolhido pelos pais do Marxismo para a verdadeira democracia foi um fenomenal erro de casting.
É verdade, já em finais do século XIX a palavra democracia estava muito desvalorizada pelo conteúdo que a burguesia lhe tinha inculcado, com proibições de partidos, eleições fraudulentas, tribunais ao serviço do capital, policias a reprimir nas ruas os revoltados com a ignomínia da ditadura burguesa.
É tempo de reclamarmos o que é legitimamente nosso: a democracia do proletariado, a democracia popular, a verdadeira democracia, a democracia de todos os dias, completa, interventiva, solidária, justa.
Viva a Democracia do Proletariado!
2018/05/04
Comunismo é Liberdade
É a mais pura verdade. Sem incorrer num retrocesso aos socialismos utópicos das descrições de futuros idílicos, Marx e Engels descrevem um processo histórico em que a luta de classes é o motor da evolução no sentido de uma sempre maior emancipação do trabalho.
Desde o escravo, livre para morrer escravo, passando pelo servo, acorrentado à terra e com ela vendido, até ao proletário, livre para vender a sua força de trabalho num mercado viciado pelo capital, atingimos um patamar em que só a mais absoluta libertação das grilhetas da exploração pode ser aceitável.
É precisamente isso que propoem uma sociedade comunista: a absoluta libertação do trabalho.
É por isso que nós comunistas lutamos: l i b e r d a d e !
Desde o escravo, livre para morrer escravo, passando pelo servo, acorrentado à terra e com ela vendido, até ao proletário, livre para vender a sua força de trabalho num mercado viciado pelo capital, atingimos um patamar em que só a mais absoluta libertação das grilhetas da exploração pode ser aceitável.
É precisamente isso que propoem uma sociedade comunista: a absoluta libertação do trabalho.
É por isso que nós comunistas lutamos: l i b e r d a d e !
2018/05/01
França - A Luta que as tv's escondem
Guerra social e guerra imperialista
(Rémy Herrera in ODiário.info, 2018/04/23)
A França está habituada a greves e manifestações. Mas neste início de primavera a atmosfera está invulgarmente pesada, tensa. Os discursos presdenciais e mediáticos afirmando que a ordem está em vias de ser reestabelecida são demasiado frequentes para que possamos estar seguros de que nada de sério esteja em preparação. Os descontentamentos subiram de tom nas últimas semanas. Graças a Macron, principalmente, que diz estar a ouvir os protestos e aparece a dialogar com os que o interpelam em particular, mas que faz espancar tudo o que mexe.
Em meados de Abril enviou 2500 militares para evacuar uma centena de activistas da «zona a defender» (ZAD) em Notre-Dame-des-Landes, no oeste do país. Esses militantes, ligados a movimentos ecologistas e autónomos (extrema-esquerda) tinham aí impedido a construção de um aeroporto e permaneciam no local, transformado em ocupação a céu aberto, procurando espaços agrícolas alternativos, colectivos, e recusando a propriedade individualizada. No dia seguinte à intervenção os «zadistas» tinham multiplicado por cinco o número dos que afrontavam as forças da ordem. Na mesma altura, Macron lançava a polícia de choque para desalojar os estudantes que ocupavam a Sorbonne e Tolbiac para protestar contra a «reforma educativa». Foram de imediato ocupas, ou reocupadas, outras universidades, como em Nanterre – e mesmo Sciences Po, grande escola em que o Presidente da República se diplomou. Em Lille, os estudantes tiveram que encaminhar-se para os exames entre duas alas de polícias.
(Rémy Herrera in ODiário.info, 2018/04/23)
A França está habituada a greves e manifestações. Mas neste início de primavera a atmosfera está invulgarmente pesada, tensa. Os discursos presdenciais e mediáticos afirmando que a ordem está em vias de ser reestabelecida são demasiado frequentes para que possamos estar seguros de que nada de sério esteja em preparação. Os descontentamentos subiram de tom nas últimas semanas. Graças a Macron, principalmente, que diz estar a ouvir os protestos e aparece a dialogar com os que o interpelam em particular, mas que faz espancar tudo o que mexe.
Em meados de Abril enviou 2500 militares para evacuar uma centena de activistas da «zona a defender» (ZAD) em Notre-Dame-des-Landes, no oeste do país. Esses militantes, ligados a movimentos ecologistas e autónomos (extrema-esquerda) tinham aí impedido a construção de um aeroporto e permaneciam no local, transformado em ocupação a céu aberto, procurando espaços agrícolas alternativos, colectivos, e recusando a propriedade individualizada. No dia seguinte à intervenção os «zadistas» tinham multiplicado por cinco o número dos que afrontavam as forças da ordem. Na mesma altura, Macron lançava a polícia de choque para desalojar os estudantes que ocupavam a Sorbonne e Tolbiac para protestar contra a «reforma educativa». Foram de imediato ocupas, ou reocupadas, outras universidades, como em Nanterre – e mesmo Sciences Po, grande escola em que o Presidente da República se diplomou. Em Lille, os estudantes tiveram que encaminhar-se para os exames entre duas alas de polícias.
Subscrever:
Mensagens (Atom)