Os quatro projetos postos à votação foram derrotados. É um facto. Um deles tangencialmente, é outro facto. Creio ser a primeira vez que uma matéria com o impacto da morte medicamente assistida foi posta à discussão, encontrou eco no parlamento para ser debatida e foi a votos, num espaço de tempo tão curto.
Todos sabemos que nada acabou ontem, muito pelo contrário. Ontem abriu-se a porta para um elefante que já tinha entrado na loja de cristais mas que alguns teimaram não ver. Estou certo que a matéria será a partir de ontem objeto de uma discussão alargada e crescentemente informada. Vamos fazer parte dela? Ou vamos sofrer os efeitos de um debate que, independentemente da relevância que lhe reconheçamos, vai fazer o seu caminho nos próximos anos?
Não tenciono, de todo, entrar no caminho da confrontação com os meus amigos e camaradas de sempre, com quem ainda tenho todo um caminho para fazer. Mas fica-me uma preocupação grande ao constatar a ligeireza com que, aos meus olhos, foi definida uma posição sobre uma questão que, todos nós podiamos antever, iria abrir um debate apaixonado entre as muitas e diversificadas esquerdas, com especial intensidade em redor de quem nos habituou a posições fundamentadas e bem ponderadas.
Recordo exemplos de debates sobre questões desta natureza organizados em redor de "grandes" conferências nacionais, conferências que acabavam por extravasar o debate e oferecer terreno bem mais sólido para tomar posições mais informadas e menos apaixonadas..
Espero desesperadamente não ver cair tal tradição.
O tema veio para ficar, a rapidez das transformações demográficas e da ofensiva da classe dominante já não nos dá os anos que precisariamos para debater e consolidar ideias. Tudo hoje é muito mais rápido. Ainda vamos a tempo de quebrar tabus e debater a sério uma questão que vai estar em cima da mesa até se encontrar uma solução consensual. Ou aceitamos o desafio, já que não soubemos liderá-lo, ou deixaremos que tudo se resolva sem o nosso contributo. Como é que vai ser?
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