2024/07/31

Sobre a credibilidade de uns e de outros ao tratarem das eleições venezuelanas

Ontem á noite vi na CNN a imagem da entrada da embaixada do milei na Venezuela, no vídeo captado em directo reinava a maior das calmarias, entretanto, a senhora pivot informava-nos, com a maior excitação, que um opositor do Maduro, asilado no interior da embaixada, divulgava nas redes sociais que a embaixada do milei estava a ser invadida por forças policiais. Como é que é possível dar voz a um mentiroso com as imagens que o desmentem a passarem em simultâneo? 

Hoje, no telejornal da TVI, o Hernâni Carvalho informava-nos da existência de um número indeterminado de mortos e de grandes manifestações pacificas, violentamente reprimidas pela policia, ao mesmo tempo as imagens da outra metade do ecrã mostravam uns desordeiros a deslocar caixotes a arder e a atirar pedras aos policias.

Perante o grau de credibilidade desta desinformação, desmentida em direto pelas próprias imagens que nos estão a ser mostradas, voltei-me para a bastante mais credível propaganda russa.

Vídeos falsos sobre a situação na Venezuela inundam as redes
(RT, 2024/07/30 16:02 GMT)

Desde capturas de há 8 anos, passando por material já difundido antes das eleições, até videos sobre acontecimentos ocorridos noutros países [há de tudo nas redes sociais].

Acto de campanha da oposição em Caracas, 4 de julho de 2024 Gabriela Oraa / AFP

Na sequência dos protestos e focos de violência gerados pela oposição de extrema direita na Venezuela, com o objetivo de não reconhecer a vitória do presidente Nicolás Maduro, têm proliferado, nas redes sociais, falsos vídeos sobre essas manifestações.

Na segunda feira 29 de julho, a ex-vice-presidente e ex-ministra dos negócios estrangeiros da Colômbia Marta Lucía Ramírez, publicou na sua conta do X um vídeo de uma manifestação em Caracas, com a mensagem: "Onde está a OEA? Alguém sabe algo de Luis Almagro? Como é possível que não haja reacção do Conselho Permanente da OEA? Quem enterrou a Carta Democrática?".

O que a ex-funcionária colombiana não esclareceu na sua publicação, mas que fizeram alguns utilizadores dessa rede social, é que o vídeo corresponde a uma mobilização ocorrida em 2017.

Este falso vídeo foi também repostado pelo ex-presidente do México, Vicente Fox.


Nestes erros também incorreu o jornalista e ex-político equatoriano Emilio Palacio, que também usou o rede social X para publicar outro vídeo e escreveu: "Lo que se está vivendo na Venezuela hoy lunes tiene nombre y apellido: se llama revolución democrática. Ayer se peló en las urnas; hoy se pelea en las calles".

No entanto, o vídeo que carregou não é de um protesto na Venezuela mas no Quênia; e os factos são do passado dia 25 de junho, segundo esclareceu Carolina Bazante, também jornalista e fundadora da Lupa Media EC, que se dedica ao jornalismo de verificação.


"Isto não é desinformação reciclada, é apenas desinformação. Não é na Venezuela, é no Quênia a 25 de junho de 2024. Uma multidão de manifestantes contra um novo projeto de lei económica irrompeu no parlamento. Não gastam mais de 2 minutos a verificar isso", disse Bazante sobre o vídeo.

A AFP Factual também desmentiu a publicação de um vídeo que supostamente mostra uma mobilização da oposição a caminho do Palácio de Miraflores, sede do Executivo venezuelano.  No entanto, trata-se de uma gravação que circula desde 4 de julho e mostra uma concentração liderada pela opositora María Corina Machado, a cerca de 11 quilómetros da sede presidencial.



O portal EsPaja, site venezuelano de verificação e 'fact checking', também se encarregou de esclarecer a procedência de alguns dos vídeos publicados como atuais, mas que são de protestos antigos.

Por exemplo, circulou um vídeo de uma manifestação de protesto ocorrida no populoso bairro de Petare, na área metropolitana de Caracas. No entanto, se bem que seja sobre uma manifestação nesse local, o vídeo circula nas redes desde pelo menos 19 de julho passado, nove dias antes das eleições.


Outro dos vídeos que circula é de uma concentração frente ao Palácio da Justiça, também em Caracas; mas trata-se de uma manifestação que teve lugar em 29 de maio de 2024 num protesto pelo assassinato de um adolescente, identificado como Eleazar Fuentes (17 anos), por fogo de forças de segurança no setor de Carapita durante uma atividade de 'motopiruetas'.

Também se tornou viral um vídeo de um pronunciamento militar, mas que já conta com sete anos.

O vídeo original é de quando o capitão Juan Caguaripano se revoltou. Foi gravado durante a chamada "Operação Carabobo", que consistiu no assalto ao Forte Paramacay da cidade de Valência, na madrugada de domingo, 6 de agosto de 2017.


Caguaripano foi detido em 11 de agosto desse mesmo ano e continua preso no El Helicoide, em Caracas.

Nas redes sociais, além disso, foi publicado um vídeo de um suposto ataque a pessoas a partir de um helicóptero militar. No entanto, o acontecimento ocorreu na Turquia, em 2016, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado.
Acontecimentos violentos

Na 2ª feira, Maduro acusou Elon Musk, o multimilionário sul-africano e empresário tecnológico residente nos EE.UU, de tentar denegrir, com informações falsas, os resultados das eleições presidenciais que vencera no domingo.

Maduro comentou que Musk publicou na rede social X, de que é proprietário, uma mensagem "vergonhosa", atacando o processo eleitoral venezuelano, ao divulgar um vídeo de pessoas que estão a retirar ares condicionados apresentando-o como suposta tentativa de roubo de urnas eleitorais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e a manipular os leitores com informações falsas, como fizeram outros governos regionais que "caem no ridículo" ao pretender impor os resultados que eles desejavam e não os que foram expressos pelos venezuelanos.

“Estás desesperado, precipitaste-te Elon Musk, controla-te”, escreveu Maduro.

Por outro lado, o procurador geral da Venezuela, Tarek William Saab, declarou esta 3ª feira que no país sul-americano não estão a ter lugar protestos antigovernamentais, mas sim focos de violência com objetivos desestabilizadoras.

Denunciou que se estão a verificar "atos de instigação ao ódio e ao terrorismo" para "criar um caos" nacional e gerar um clima para uma "intervenção estrangeira".

De acordo com o procurador, até agora foram detidas 749 pessoas pelos crimes de instigação ao ódio, resistência à autoridade e terrorismo.

Informou, além disso, que um membro da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) faleceu em virtude de disparo de arma de fogo e que há mais 48 funcionários policiais e militares feridos.

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