2009/01/02

Continuemos então a dar na ferradura!

Vou ser honesto!

Quando vim prá'qui debitar escritos, a ideia era zurzir no Glorioso. Enfim, em vez de ficar em casa a dizer cobras e lagartos dos pontapés que eles dão nos Materialismos todos, históricos e dialéticos e mailás economias políticas dos capitalismos, em vez de marrar com as paredes sobre os voluntarismos, tantas e tantas vezes estalinianamente arrepiantes, à luz dos quais "analisam" os socialismos "reais", em lugar de embirrar em silêncio com congressos unanimistas, "teses" de 200 páginas e purgas cirúrgicas, vinha pá'qui e descarregava a bílis.

A ideia era poupar na conta do psicanalista!

Bom. Essa era a ideia original.

Mas como os media lhes dão cada vez menos tempo de antena e eu vou tendo cada vez menos motivos pa me chatear com eles, resta-me continuar a dar na ferradura.

Desta vez a propósito de uma série de artigos publicados em finais do ano transacto no "Jornal de Actualidades" cá do Novo proletário.

Confesso-me desde já um criterioso visualizador de tudo quanto é noticiário dos nossos isentos e pluralistas canais de trebisão. Confesso aqui o meu terrível vicio que dolorosamente me força a sentar às 19:00 frente ao tubo de raios catódicos, telecomando na mão e guardanapo por baixo dos queixos pra limpar a baba que vai escorrendo pelos cantos dos lábios.

Confesso também que nas últimas semanas não ouvi nenhum dos comentadores de serbiço dar a devida relevância ao cerco israelita que desde 9 de Dezembro levou ao completo esgotamento da maior parte dos bens alimentares e de primeira necessidade na Faixa de Gaza e estará provavelmente na origem do esgotar da paciência dos meus figadais inimigos - de classe e civilizacionais – integristas islâmicos que por ali dominam.

Confesso também que ainda não ouvi um comentário que fosse sobre a libertação unilateral de prisioneiros que as FARC estão em vias de concretizar depois de públicas negociações com intelectuais colombianos.

Confesso que também não ouvi comentáriozito que fosse à noticia do insuspeito Financial Times (19.12.08) que avalia os prejuízos totais resultantes do chamado «papel tóxico» algures entre 2,8 e 6 milhões de milhões de dólares como o fez o comuna do Jorge Cadima no Avança de 24 de Dezembro(*) nem vi nenhum telejornal dar a palavra a um(a) qualquer analista que me explicasse os potenciais desenvolvimentos da actual crise capitalista nos termos em que o faz o GEAB.

É por tudo isto que tenho cada vez mais dificuldade em perder tempo a dar no cavalo e tenho mesmo que debitar escritos a dar na ferradura.

É por tudo isto que um gajo tem mesmo de procurar um bocadinho mais de informação pra lá da que nos é metida às colheradas pela casa dentro.

Ou então morremos estúpidos.


A verdade é que isto é uma ganda poupança em sofá e agora já posso ir descansar a consciência de classe pá frente do trebentino.


(*) Não malta não o li, porque como saberão tou chateado cos gajos. Li o artigo no “Jornal de Actualidades” deste repositório psicanalítico.