Da utopia dos mundos sonhados à transformação prática da realidade
(José Barata-Moura, Conferência «II Centenário do nascimento de Karl Marx – Legado, Intervenção, Luta. Transformar o Mundo», 2018/02/28)
1. Tema.
Escolhi para título da minha palradura de hoje: «Da utopia dos mundos sonhados à transformação prática das realidades».
Penso que esta formulação – em programa consequentemente desenvolvida – se apresenta como susceptível de traduzir aquele movimento específico que funda a teoria marxista do socialismo, e que, desde o fundo, interpela.
Nos termos sedimentados em que Marx o aborda, e concebe, o socialismo deixa de se cristalizar numa «aspiração» para se converter em transpiração.
Não dispensa os suores na viagem. E na viragem.
Implica um trabalho humano da história: no trânsito da representação peitoral de uns «ideais» generosos (pelos quais visionariamente se anseia) à materialização prática de revolucionamentos necessários (na sua possibilidade real, e no seu ângulo eficaz de incidência, compreendidos).
«Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação. Só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir.»(Sérgio Godinho)
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2018/01/17
Jean Salemn (1956, 2018)
No passado dia 14 de Janeiro faleceu o filósofo marxista Jean Salemn.
Que melhor homenagem do que ler e discutir um texto dele traduzido por João Paulo Gascão para o diário.info?
Marxismo, uma filosofia da praxis para a revolução
(Jean Salemn, XVII Jornadas Independentistas Galegas, 2013/04/20)
Marx, mais actual que nunca
1. Marx não é apenas um «clássico» do pensamento filosófico. Estou convencido que Marx é hoje mais contemporâneo para nós do que era há trinta ou quarenta anos! Tomemos, por exemplo, o Manifesto do Partido Comunista. Lembro-me de, quando o lia pela primeira vez, ir perguntar ao meu pai: que significa essa «concorrência» entre operários que os autores falam em várias ocasiões? A concorrência entre capitalistas, a concorrência mesmo no seio da burguesia, isso era na verdade evidente; mas a possibilidade de que existisse uma concorrência entre trabalhadores não parecia tão evidente, numa época em que os sindicatos eram fortes, em que a classe operária estava poderosamente organizada, numa época de pleno emprego (ou quase) e de políticas «keynesianas». Hoje em dia, pelo contrário, qualquer pessoa remetida para empregos cada vez mais precários e menos frequentes compreenderia isto desde a primeira leitura: efectivamente, o sistema repete-lhe constantemente «se não estás contente, e mais ainda se protestares, há mais dez que estão dispostos a ocupar o teu lugar!». Penso também naquele trecho em que Marx e Engels falam da prostituição, na altura muito alargada entre a classe operária inglesa: não era um fenómeno de massas na década de 1960. Mas, nos nossos dias, depois da grande «libertação» de 1989-1991, há mais de 4 milhões de mulheres que foram – literalmente – vendidas: e esta atmosfera de mercantilização generalizada dos objectos e dos seres humanos, a nossa, facilita-nos, mais uma vez a compreensão imediata do texto do Manifesto. Definitivamente, há muitas coisas que poderemos encontrar em Marx adaptando-as, claro está, à nossa própria época. Por isso é que continuo a acreditar que o marxismo se mantém, como filosofia, inultrapassável do nosso tempo.
Que melhor homenagem do que ler e discutir um texto dele traduzido por João Paulo Gascão para o diário.info?
Marxismo, uma filosofia da praxis para a revolução
(Jean Salemn, XVII Jornadas Independentistas Galegas, 2013/04/20)
Marx, mais actual que nunca
1. Marx não é apenas um «clássico» do pensamento filosófico. Estou convencido que Marx é hoje mais contemporâneo para nós do que era há trinta ou quarenta anos! Tomemos, por exemplo, o Manifesto do Partido Comunista. Lembro-me de, quando o lia pela primeira vez, ir perguntar ao meu pai: que significa essa «concorrência» entre operários que os autores falam em várias ocasiões? A concorrência entre capitalistas, a concorrência mesmo no seio da burguesia, isso era na verdade evidente; mas a possibilidade de que existisse uma concorrência entre trabalhadores não parecia tão evidente, numa época em que os sindicatos eram fortes, em que a classe operária estava poderosamente organizada, numa época de pleno emprego (ou quase) e de políticas «keynesianas». Hoje em dia, pelo contrário, qualquer pessoa remetida para empregos cada vez mais precários e menos frequentes compreenderia isto desde a primeira leitura: efectivamente, o sistema repete-lhe constantemente «se não estás contente, e mais ainda se protestares, há mais dez que estão dispostos a ocupar o teu lugar!». Penso também naquele trecho em que Marx e Engels falam da prostituição, na altura muito alargada entre a classe operária inglesa: não era um fenómeno de massas na década de 1960. Mas, nos nossos dias, depois da grande «libertação» de 1989-1991, há mais de 4 milhões de mulheres que foram – literalmente – vendidas: e esta atmosfera de mercantilização generalizada dos objectos e dos seres humanos, a nossa, facilita-nos, mais uma vez a compreensão imediata do texto do Manifesto. Definitivamente, há muitas coisas que poderemos encontrar em Marx adaptando-as, claro está, à nossa própria época. Por isso é que continuo a acreditar que o marxismo se mantém, como filosofia, inultrapassável do nosso tempo.
2017/12/18
A Caverna Reinventada
Sem titulo
(Carlos Clara Gomes, in facebook, 2017)
Na esteira dos ensinamentos fornecidos por Platão, na sua Alegoria da Caverna, saibamos que a falta de horizontes é uma agressão ao potencial intelectual de cada Ser Humano.
Desde sempre foi o Louco, o Sonhador, o Visionário, o Preguiçoso, quem ficou na História desde que a História se escreve, desde que a História o é.
O Louco, porque sempre ignorou a sua condição de louco e resolveu fazer as suas loucuras a despeito da sensatez que imperava no seu tempo; O Sonhador, porque se deu conta que havia mundo para além do Mundo e resolveu construir Futuros para ele e para os outros percorrerem; O Visionário porque, mesmo dentro da Caverna, soube ver fora dela pois recusou-se a aceitar as paredes que o espartilhavam e ignorou as sombras que via dançando; Por último: o Preguiçoso porque foi de todos o mais trabalhador pois esforçou-se inventando máquinas e processos para não ter que se esforçar tanto.
Todas estas quatro personagens são responsáveis pela nossa evolução Humanista. Toda esta gente gerou pensamento, pistas, ideias, para que muitos de nós, hoje, nos possamos dar ao luxo de desprezar tal capital.
Lamentavelmente vivemos enclausurados numa caverna brutal e sórdida, deleitando-nos com as sombras gigantescas que na parede da gruta se projectam, mera ampliação das imagens que uma tecnologia desprovida de alma faz com que muitos jovens detestem a História, abominem a Filosofia e enjeitem qualquer Ciência Social e Humana.
A conspiração contra a Alma está em curso e no seu apogeu.
Urge abrir casting para Loucos, Sonhadores, Visionários e Preguiçosos.
Urge recorrer a quem deite abaixo todas as Cavernas: Os muros do pensamento enclausurado, o Dogma, essa castração da liberdade de Ser-se.
Muitos desses muros são também, eles-mesmos, vestidos de Academia e enfeitados na sobranceria do sábio que troca cromos repetidos na sua caderneta com os outros sabiozinhos ali domiciliados que, todos juntos, se recusam a fazer desabar a muralha que os protege da Vida.
(Carlos Clara Gomes, in facebook, 2017)
Na esteira dos ensinamentos fornecidos por Platão, na sua Alegoria da Caverna, saibamos que a falta de horizontes é uma agressão ao potencial intelectual de cada Ser Humano.
Desde sempre foi o Louco, o Sonhador, o Visionário, o Preguiçoso, quem ficou na História desde que a História se escreve, desde que a História o é.
O Louco, porque sempre ignorou a sua condição de louco e resolveu fazer as suas loucuras a despeito da sensatez que imperava no seu tempo; O Sonhador, porque se deu conta que havia mundo para além do Mundo e resolveu construir Futuros para ele e para os outros percorrerem; O Visionário porque, mesmo dentro da Caverna, soube ver fora dela pois recusou-se a aceitar as paredes que o espartilhavam e ignorou as sombras que via dançando; Por último: o Preguiçoso porque foi de todos o mais trabalhador pois esforçou-se inventando máquinas e processos para não ter que se esforçar tanto.
Todas estas quatro personagens são responsáveis pela nossa evolução Humanista. Toda esta gente gerou pensamento, pistas, ideias, para que muitos de nós, hoje, nos possamos dar ao luxo de desprezar tal capital.
Lamentavelmente vivemos enclausurados numa caverna brutal e sórdida, deleitando-nos com as sombras gigantescas que na parede da gruta se projectam, mera ampliação das imagens que uma tecnologia desprovida de alma faz com que muitos jovens detestem a História, abominem a Filosofia e enjeitem qualquer Ciência Social e Humana.
A conspiração contra a Alma está em curso e no seu apogeu.
Urge abrir casting para Loucos, Sonhadores, Visionários e Preguiçosos.
Urge recorrer a quem deite abaixo todas as Cavernas: Os muros do pensamento enclausurado, o Dogma, essa castração da liberdade de Ser-se.
Muitos desses muros são também, eles-mesmos, vestidos de Academia e enfeitados na sobranceria do sábio que troca cromos repetidos na sua caderneta com os outros sabiozinhos ali domiciliados que, todos juntos, se recusam a fazer desabar a muralha que os protege da Vida.
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