Já poucos se lembrarão das praças de jorna onde, pelos nasceres do sol desses alentejos, se apresentavam os jornaleiros, diariamente, para serem contados e escolhidos e aceitarem ou não a jorna por que trabalhariam até ao pôr do sol.
E a casa do conto? A praça de jorna dos estivadores? Ainda ontem uma amiga narrava como o pai por lá passou meia vida, todos os dias, uns contado outros não. Gostava de dizer que tudo isso é passado, mas não é. Hoje, a casa do conto cabe no telemóvel onde o jornaleiro recebe o SMS, com a convocação para o turno da estiva, e com ela o contrato com despedimento garantido no fim do turno. Hoje, como há cem anos.
Hoje, com os 90 estivadores do porto de Setúbal, precários vai para vinte anos, em greve pela contratação coletiva, a policia de intervenção alugada pelo governo aos patrões mafiosos, protegeu a entrada no porto dos amarelos fura greves, protegeu o autocarro de vidros fumados que escondia os cobardes amarelos, fura greves, que fizeram dois turnos de caras tapadas, escondidas envergonhadas com a vergonha da miséria amarela. Ninguém sabe quem são, todos sabemos o que são: miseráveis amarelos fura greves. O lôdo chegou aos cais de Setúbal. A casa do conto continua de boa saúde no porto de Setúbal.