2019/07/31

A Ideologia Dominante reproduz-se

Vem isto a propósito de um chavão vertido por uma douta jornaleira da tbimba em pleno horário nobre. Dizia a douta cabeça de vento que o qualquer coisa ou a qualquer coisa de serviço no momento "Promete baixar impostos, o sonho de t o d o s  os  portugueses"! Assim, de chofre a srª jornaleira decretou que o sonho de todos os portugueses é pagar menos impostos.

Ignoro com que massa lhe terão enchido a cabeça, mas talvez fosse relevante explicar três coisinhas ao jornaleiro que redigiu a bosta que a outra verbalizou. Uma é que a saúde pública, a escola pública, os tribunais em que a ignorância dela será julgada mais dia menos dia, as estradas onde o carro dela circula e até a água que lhe chega a casa, são exemplos de bens e serviços pagos com os impostos de todos nós numa justa lógica de "quem ganha mais paga mais para o bem comum" e que se sra. jornaleira quer andar de carro tem de pagar o suficiente para não haver filas de espera nas lojas do cidadão. Outras é que há muitos mais que, como eu, querem é bons serviços públicos, boas estradas, boas ruas, água de qualidade, um SNS de qualidade, universal e universalmente gratuito e um estado funcional, vigiadinho para evitar compras de golas que filtram o fumo moderadamente, mas plenamente funcional, e que se para isso temos de pagar impostos, pela minha parte, até acho que devo pagar mais, desde que o ricardinho ex-dono-disto-tudo e as famiglie bolomirro e bolsanamão paguem em função da vida que levam e não das (in)verdades que traficam. E finalmente um terceiro aspecto fundamental no discurso anti-impostos do capital neo-liberal representado pelos patrões dela: mostra a história que de cada vez que a direita-cristas-passos-rio e quejandos grita que quer baixar impostos está de facto a dizer três coisas, que quer baixar os impostos sobre os mais ricos e o capital, subir os impostos sobre o trabalho e quem trabalha e fazer definhar o estado até aos níveis assistênciais do fascismo de má memória.

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Chamem-me maluco!
(José Braz, facebroncas, 2019/07/25)

Não há dúvida de que a ideologia dominante se reproduz.

Mais interessante é ver como ela "é entranhada" no mais educado dos seres humanos através dos simples e corriqueiros atos do nosso dia a dia.

Querem um exemplo assustador? O trânsito do IC20 para entrar na ponte.

Sim, vamos ver como uma "fila de trânsito" contribui para ensinar, de outra forma, excelentes pessoas a tornarem-se nas mais vis e selvagens feras neo-liberais-cada-um-por-sí-e-que-se-lixe-o-próximo-vale-tudo-até-tirar-olhos!

Três faixas confluem numa única que dá acesso à ponte 25 de Abril.

Os ingénuos respeitadores do próximo vão chegando, ordeiramente, ao final da fila, na faixa central, e aí ficam, parados, por umas horas, a ver os xicos-espertos, já selvagizados, a circularem pelas faixas da direita e da esquerda para se encaixarem na fila da faixa central, lá bem à frente quase em cima da ponte ... ensinando os ingénuos seres humanos, ainda não completamente desumanizados, a comportar-se como selvagens, a saírem da fila para uma das laterais e irem entrar selvaticamente lá bem à frente.

Funciona! É assim: ou aprendes selvajaria em tempo real e chegas à ponte ou optas por te manter humano e bem podes esperar. Escolhe!

Mas mesmo que optes por ficar, educadamente, parado, na fila do meio, a ver passar os xicos-espertos, terás de "aprender" a ser violentamente selvagem quando chegar a hora de não os deixar aceder à comida, perdão, de não os deixar entrar na fila onde estiveste à espera, parado.

Funciona sempre. Se sim sim se não sim! Mas sais dali selvagizadinho g a r a n t i d a m e n t e. Eu aprendi à primeira e em dez minutos. Já sou um espertalhaço promovido a espertalhão.

Cheguei, parei, esperei, vi passar os elétricos e dez minutos nos ponteiros do relógio. Passei para a faixa da direita e entrei lá à frente, na segunda tentativa, depois de selvagizar uns ingénuos que não me queriam deixar entrar. Indecentes! Parvos! Burros! Para ali parados e não me deixavam entrar, a mim que tenho pressa!

Quem mantém aquela fila há mais de 20 anos sabe bem o que está a fazer! Abaixo os impostos, não servem para nada! Quem quiser saúde que a pague! Mais estradas e menos comboios. Quero quatro faixas no IC20! Não há dinheiro? Cortem nos comboios e nas camionetas! Quem tinha razão era o Cavaco: cada família deve ter dois carros! Ou então duas trotinetas! Os comboios e os barcos são bons para os que vivem de subsídios! Passes iguais para todos, quer vivam em Lisboa ou em santa marta do assobio! Menos estado pior estado, ou melhor ó-que-é, como quer a Srª Cristas, qu'éssa é que sim senhor, ou senhora ó-que-é, vivam mas é os contratos com os colégios privados que são bons e a coisa funciona, diz ela, a Srª, como na saúde, onde os privados é que sim senhora, da gestão disso, e coisa e tal, e que metem os doentes nos refeitórios para otimizar o espaço e o tempo, sempre comem e dormem no mesmo sitio, isso é que é poupança e boa gestão, e na casas de banho, para rentabilizar os autoclismos e poupar tempo em deslocações, e falsificam as fichas, para terem bons resultados, assim é que é, é “comá-mim” na fila da ponte, não é ficar à espera, sentado, na fila, a ouvir a música e a empatar o trânsito e mais quem cá anda e quer trabalhar para ganhar a vida, cada um por si e os privados da saúde por eles mesmos e com menos impostos, qu'isso dos impostos é tudo um corja! E o Rio! Vivó Rio e menos impostos, toca a poupar os 3600 milhões não interessa onde, toca a cortar nas gorduras que o estado é gordo e toda agente sabe que a dieta faz bem à saúde, privada! E quem quiser saúde que a pague e quem quiser reforma vá trabalhar! Razão tinha o Passos em não pagar a segurança social, quem quiser disso que a pague! Eu prefiro um seguro de saúde com plafon limitado para cancro, afinal quem é que vai ter cancro? E um plano poupança reforma do BES, espera, do BES não que faliu, do Novo Banco que é outra coisa, mais nova mais modernaça! Quem quiser que vá para a fila que eu vou de helicóptero e se ainda não vou hei de ir, vou ali pisar mais uns gajos e já cá volto, de helicóptero.

Esperem sentados!

Não?

2019/07/28

A MenTVI MenTVIu !

A TVI mentiu. Nem é novidade, nem foi a primeira, nem a segunda nem a terceira vez, nem é a única, mas mentiu e importa, mais uma vez, repor a verdade. «O que se exige é que a TVI dê conta agora, com expressão idêntica à que dedicou à ofensa ao PCP e ao seu Secretário-geral, da Deliberação agora adoptada pela ERC. E, sobretudo, que peça desculpa pública ao PCP e a Jerónimo de Sousa, assim como às centenas de milhar de telespectadores que durante semanas deliberadamente enganou para sustentar, em pleno período pré-eleitoral, uma operação com indisfarçáveis e repudiáveis objectivos políticos»

Depois de um caneiro televisivo ter, durante dois meses, espalhado a infâmia, vou recolher aqui as noticias que for encontrando sobre o desmentido. Até ao momento nem uma menção da decisão da ERC nas página do caneiro desinformativo.


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A calúnia
(Rui Sá, JN, 2019/07/29)

O filme "A calúnia", de Sydney Pollack, estreado em 1981 com dois grandes atores - Paul Newman e Sally Field - aborda a história de uma jornalista manipulada que conta uma história falsa sobre um homem que é inocente - e que, deste modo, fica com o seu nome manchado para sempre.

2019/07/27

Para a História de um Estado Totalitário

A tradição dos campos de concentração nos EUA começou, pelo menos, nos princípios da década de 40 do século passado, quando o governo, democrataduramente eleito em processos sem qualquer proporcionalidade, decidiu criar campos de "internamento" para os nipo-descendentes[1a][1b][1c], não fossem estes virem a revelar-se uma quinta coluna do estado imperial japonês. Ninguém nota aqui a falta de uma acusação? De uma a investigação? De um julgamento? Pois, foi precisamente assim: antes que cometam um crime toca a interná-los, preventivamente, em barracos de madeira cercados de arame farpado, "just in case". Querem melhor exemplo de totalitarismo?

E a tradição criou raizes e desta feita foi a vez dos migrantes, mais das vezes refugiados, fugidos de estados como as Honduras, onde este mesmo estado totalitário patrocinou uma chapelada[2], ou das guatemalas, salvadores e nicaráguas[3] onde os mesmos totalitários EUA mantêm há décadas guerras de baixa intensidade. Mas desta vez a tradição dos campos de concentração vai mais longe e já separa as crianças dos pais[4].

Enfim é mais uma pá de terra em cima de um estado totalitário, com 800 bases militares no estrangeiro[5] e a intervir militarmente em 80 cenários de guerra[5], onde duas versões de um mesmo partido levam a cabo uma mesma politica há mais de 150 anos[6], os presidentes são consecutivamente eleitos com menos votos expressos nas urnas do que os candidatos derrotados[7], em eleições eivadas de fraudes e chapeladas[8].

Com 5% da população mundial os eua são responsáveis por 25% da população prisional em todo o mundo mantendo prisioneiros sem culpa formada há mais de 14 anos[9].

Em cinco meses, entre Janeiro e Maio de 2019 os eua "deixaram morrer" 6 filhos de migrantes, separados dos pais e encarceradas nos "campos de retenção" para menores.[10]

Alguém me explica como é que, por esse mundo fora, um estado totalitário como os EUA continua a conseguir fazer-se passar por uma democracia?

[1a] « (...)C’est maintenant le tour des migrants ; et malgré les protestations féroces de ceux qui commettent ou justifient le crime d’arracher des bébés et des enfants des bras de leurs parents et de les emprisonner dans des cases gelées, ce que les responsables de l’administration Trump ont décrit avec euphémisme comme des « camps de vacances », il ne fait aucun doute que des camps de concentration sont encore une fois opérationnels sur le sol étasunien. La tentative de l’administration Trump de dépeindre l’emprisonnement des enfants comme quelque chose de beaucoup plus heureux rappelle immédiatement les films de propagande de la Seconde Guerre mondiale montrant les prisonniers d’origine japonaise heureux de vivre... derrière des barbelés. L’acteur George Takei, qui a été interné avec sa famille pendant la guerre, était tout sauf content. « Je sais ce que sont les camps de concentration », a-t-il tweeté au milieu de la controverse actuelle. « J’étais interné dans deux d’entre eux. Aux États-Unis. Et oui, nous opérons à nouveau de tels camps ». Takei a noté une grande différence entre hier et aujourd’hui : « Au moins pendant l’internement des Étasuniens d’origine japonaise, nous et les autres enfants n’avons pas été privés de nos parents », a-t-il écrit, ajoutant que « ‘tout au moins pendant l’internement’, sont des mots que je pensais ne jamais plus avoir à prononcer ». Brett Wilkins» https://otempodascerejas2.blogspot.com/2019/07/uma-longa-e-triste-historia.html
[1b] «There are concentration camps at America’s southern border and, increasingly, in its interior as well. Everyone knows this, including the people who say they are not concentration camps.» https://theoutline.com/post/7645/there-are-concentration-camps-in-america?zd=1&zi=6mhy3myy
[1c] https://www.nybooks.com/daily/2019/06/21/some-suburb-of-hell-americas-new-concentration-camp-system/

[2] «Um dia depois das eleições e com cerca de 60% das actas escrutinadas, o candidato da oposição aparecia à frente do actual presidente com 5% de vantagem, mas, dois dias volvidos, depois de alguns «problemas técnicos» na página do STE, já era Orlando Hernández que estava à frente – e nunca mais deixou de estar.» https://www.abrilabril.pt/internacional/fraude-eleitoral-nas-honduras-e-clara-acusa-oposicao. https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%B5es_gerais_em_Honduras_em_2017

[3] http://www.fao.org/fao-stories/article/es/c/1106593/; https://books.openedition.org/cemca/690?lang=en; https://pt.wikipedia.org/wiki/Contras

[4] «Número de crianças separadas dos pais na fronteira dos EUA pode ser ainda maior, diz auditoria
Milhares de crianças poderiam ter sido separadas durante uma onda migratória que começou em 2017, antes de a Justiça solicitar identificação dos menores ao governo» https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/17/auditoria-revela-que-nao-ha-informacao-exata-sobre-numero-de-criancas-separadas-de-seus-pais-nos-eua.ghtml
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/criancas-migrantes-ainda-sao-separadas-dos-pais-ao-cruzarem-a-fronteira-dos-eua.shtml

[5] «Actualmente, na ONU, estão representados 193 estados soberanos, 193 países, 193 governos. Há poucos dias, num artigo d'O Lado Oculto, ficámos a saber que os EUA têm 800 bases militares espalhadas por cerca de 80 países. Agora, noutro artigo da mesma newsletter, Stephanie Savell, da Universidade de Brown, compilou 80 países onde os EUA estão actualmente a "intervir" a coberto daquilo a que eles próprios chamam "guerra global ao terrorismo". As "intervenções" são dos mais variados tipos, desde invasões como a do Afeganistão, da Síria ou do Iraque, passando por destacamentos militares ou missões conjuntas, como na Líbia ou no Iémen, bombardeamentos ou ataques com drones, como no Paquistão, na Tunísia, na Somália, no Mali ou no Quénia, até ao mais genérico guarda chuva das missões de "treino e assistência" a decorrerem em 65 países e onde os "treinadores" e "assistentes" são bastas vezes condecorados com medalhas por "Extrema Bravura em Combate", normalmente atribuídas a quem arrisca a vida em combates fora das casernas e dos campos de treino.» https://referenciasemmais.blogspot.com/2019/03/sao-eles-contra-o-mundo-ou-o-mundo.html

[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Presidente_dos_Estados_Unidos; https://en.wikipedia.org/wiki/President_of_the_United_States

[7] «O ocupante da cadeira da casa branca não é nomeado em resultado de eleições directas "cada-pessoa-um-voto", mas por um colégio eleitoral. Lembram-se do salazarismo? O tal colégio eleitoral emerge de uma eleições em que, tradicionalmente e principalmente pelos métodos valores financeiros envolvidos nas campanhas, só dois candidatos podem almejar à nomeação: o candidato do partido (neoliberal) democrático e o candidato do partido (neoliberal) republicano. O actual ocupante da casa branca, que decretou a necessidade de democratar a Venezuela, teve 46% de votos nas urnas, menos 5% de votos do que a derrotada, do partido neoliberal democrático, mas "conseguiu" a maioria do colégio eleitoral. Os dois últimos ocupantes da casa branca pelo partido neoliberal republicano foram nomeados pelo colégio eleitoral com menos votos nas urnas do que o candidato derrotado do partido neoliberal democrático.» https://referenciasemmais.blogspot.com/2019/02/os-eua-como-paradigma-da-democracia.html

[8]«Na primeira votação que conduziu à nomeação do Bush Jr. foram inúmeras as irregularidades e fraudes reportadas, tendo a recontagem dos votos sido suspensa pelo Supremo Tribunal quando o candidato Al Gore estava já prestes a ganhar o decisivo estado da Florida. Algumas das irregularidades passaram pela remoção de milhares de afro-americanos dos cadernos eleitorais milhares nos estados do sul e pela utilização, na Florida, dos famosos boletins borboleta em que o eleitor premia o botão para votar num candidato e o cartão ficava perfurado noutro, de tal forma que num circulo de maioria judaica venceu um candidato neonazi. O Bush Jr. foi nomeado pelo colégio eleitoral com menos 1% de votos e menos 500 000 votos do que o derrotada Al Gore, tendo este ficado conhecido como o primeiro ex-futuro presidente dos EUA.» https://referenciasemmais.blogspot.com/2019/02/os-eua-como-paradigma-da-democracia.html

[9] https://www.facebook.com/photo.php?fbid=113493269977931


[10] «Reporting from Houston — Six migrant children — five from Guatemala and one from El Salvador — have died in federal custody since September. Most of the children died after becoming ill in Border Patrol’s crowded temporary holding areas. On Monday, a 16-year-old died after being diagnosed with the flu; 32 people in the McAllen, Texas, facility where he had been held were later quarantined with the flu.» https://www.latimes.com/nation/la-na-migrant-child-border-deaths-20190524-story.html

2019/07/17

Um Trump ou Vários Iranianos? (Poema!)



    O boçal 
    imperador de serviço
  bolsou mais uns racismos, 
               travestidos 
  de misoginia variada, 
  e continua à frente 
           do império
  dos donos disto tudo

  Como recompensa 
  pelas xenofobias 
  bolsadas 
           o comentador 
      eleito presidente 
  dos portugueses 
que nele votaram 
reiterou o convite 
ao xenófobo misógino 
para dormir uma noite 
      na nossa casa 
quando for ali 
       ao lado 
      a Madrid, 
     a compras,
na capital da península 

(e se não é 
devia ser 
digo eu 
e o que nós ganhávamos
se ela fosse capital
da nossa ibéria
mas não é
pronto)

Por troca
o cenoura
não quer por cá
iranianos
e o silva
de serviço
rasteja que sim senhor

ninguém me perguntou
mas eu respondo
antes iranianos 
que americanos
de merda


O tempo dos monstros
(António Santos, Avante!, 2019/07/20)

«A crise consiste no facto de que o velho morre e o novo não pode nascer: neste interregno verificam-se os mais variados sintomas mórbidos» Da cela onde, há 80 anos, viria a morrer, Gramsci descrevia os nossos tempos com sibilina precisão. Donald Trump, arrais do capitalismo mundial e pontífice das ocidentais democracias à sua imagem criadas, veio a terreiro mandar quatro congressistas democratas «para a terra delas». Literalmente. O mundo, já algo dessensibilizado para os tweets de Trump, lavrou a cita nos rodapés dos noticiários e mandou arquivar, para amnésia futura, sob «Trump a ser politicamente incorrecto». Mas Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley, Rashida Tlaib e Ilhan Omar são, note-se, estado-unidenses: as primeiras três por nascimento, a última por cidadania adquirida em criança. E Trump sabia-o, como também sabia que Obama nascera nos EUA, o que tampouco o impediu de, até hoje, insinuar o contrário. A nacionalidade é a mais importante arma ideológica de Trump, que se declara, aliás, «nacionalista». Na mesma tirada de tweets, Trump descreveu as congressistas como «anti-América», nação que as acusou de «odiar» e prometeu-lhes que «A América nunca será comunista», pelo que «SE NÃO ESTÃO BEM AQUI, VÃO-SE EMBORA» [sic]. Para o magnata, ser «americano» é uma ideologia: rezar ao mesmo deus, odiar os mesmos inimigos, venerar os símbolos nacionais, amar as forças armadas, ter medo da diferença e pertencer à «raça branca». Este, podia tê-lo escrito Gramsci, é, efectivamente, o tempo dos monstros.

A ideologia nacional de Trump não é nova. Foi sendo, durante o último século, visceralmente embutida na consciência popular. Theodore Roosevelt dizia que o «americanismo» é «uma questão de espírito, convicção e dever, e não uma questão de crença ou de nascimento», mas, e Trump percebeu-o, o conceito tão moldável que com ele também se pode dividir a classe trabalhadora, ganhar eleições e construir o fascismo.

Leia-se por este prisma a guerra declarada por Trump aos trabalhadores imigrantes. O Presidente dos EUA chama aos imigrantes «violadores» e «traficantes», refere-se publicamente às suas pátrias como «países de merda», encoraja a delação dos não-documentados e celebra, ufano, «as maiores rusgas de sempre». A Casa Branca, que esta semana declarou o fim do asilo, franqueou o trilho a milhares de actos de violência nas ruas, nas escolas e nos locais de trabalho de todo o país, alargando ainda o vasto sistema de campos de concentração ao longo da fronteira com o México onde crianças são enjauladas, abusadas e, por vezes, «suicidadas».

Há metade de uma América, ideologicamente americana, com cicatrizes da guerra civil, que aceita tudo isto. E é assim que alguém um dia patrioticamente faz notar que nos campos de concentração não cabem só imigrantes

2019/07/11

A Credibilidade da Bachelet Fotografada

Um relatório sobre a Venezuela baseado em entrevistas feitas essencialmente fora da Venezuela - das 558 entrevistas realizadas, 460 foram feitas fora da Venezuela[1].

Um relatório que ignora os graves impactos que o bloqueio estado-unidense tem sobre a economia e o povo venezuelano - confiscados pelos EUA 30 000 milhões de dólares em activos da PDVSA e 5400 milhões de dólares ilegalmente retidos em diversos bancos internacionais.

Um relatório que apagou as entrevistas feitas aos familiares das vitimas das guarimbas assassinados porque eram chavistas ou tinham a pele mais escura.

São apenas três das 70 observações relativas a «erros de facto» apresentadas pelo governo da República Bolivariana da Venezuela relativamente ao relatório da Srª que sorri na foto.

Palavras para quê? O riso de felicidade que ultrapassa em muito o sorriso politicamente correto de uma foto de família diz tudo sobre a credibilidade do relatório elaborado pela Srª. Bachelet[2], sobre o país eleito para liderar o movimento dos países não alinhados[3], um país para o qual até a FAI pede ao governo espanhol para rever a sua já inqualificável posição de apoio ao pró-consul golpista[4][5].

[1] «Entre as inconsistências apontadas ao relatório, disse que, das 558 entrevistas realizadas, 460 foram feitas fora da Venezuela (82% do material investigado). Castillo criticou ainda Bachelet por «não fazer qualquer menção aos avanços da Venezuela em matéria de direitos humanos e ignorar os graves impactos que o ilegal, criminoso e imoral bloqueio económico está a ter sobre o nosso povo».» (https://www.abrilabril.pt/internacional/venezuela-denuncia-parcialidade-e-erros-de-facto-no-relatorio-de-bachelet)
[2] https://abrildenovomagazineweb.blogspot.com/2019/07/a-credibilidade-da-desvergonha.html
[3] http://navalbrasil.com/venezuela-cria-frente-dos-paises-nao-alinhados-pela-paz-mundial
[4]https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/07/08/carta-del-fai-al-presidente-del-gobierno-sobre-doble-rasero-acerca-de-las-crisis-en-venezuela-y-honduras/
[5] https://www.facebook.com/groups/piresabilio1/permalink/348967955770937/

2019/07/08

Há Liberdade de Manifestação! Não há Liberdade de Repressão!

Ninguém corre! Ninguém corre!
(Lúcia Gomes, Manifesto 74, 2019/06/11)

NINGUÉM CORRE! Esta foi a expressão que aprendi ser dita por qualquer negro de um bairro periférico quando aparece a polícia. Serão já as décadas em que participo em manifestações e jamais me lembro de ter ouvido semelhante expressão. Aliás, ponto de ordem: ali, ninguém pode correr. Seja no Pendão, seja no Alto da Cova da Moura, seja no 6 de Maio, seja na Avenida da Liberdade. A negritude dita-lhes a regra: se corres, vão achar que fizeste alguma coisa. Vão apanhar-te, vão levar-te para a esquadra. E a verdade é que, dependendo da esquadra a que fores parar, não saberás exactamente como regressarás a casa.

2019/07/05

Cuba - Crianças Seguras, Livres e Felizes

Quem o diz é a Save the Children, uma ONG que, faz agora 100 anos, anda por esse mundo fora, a salvar, proteger e ensinar crianças(1). O único meio de informação com coragem para furar o bloqueio imperialista e falar nisso foi o AbrilAbril(2). Mas não é só esta ONG a notar o que os media corporativos ao serviço do bloqueio imperialista escondem cuidadosamente. Já em Maio de 2018 a Unicef punha Cuba na liderança da defesa dos direitos da infância(3).

E no que respeita ás crianças, à infância e à sua felicidade e segurança muitos outros indicadores colocam a pequena ilha caribenha na vanguarda dos direitos humanos. Apesar do hediondo bloqueio imperialista, Cuba consegue pelo 11º ano consecutivo uma taxa de mortalidade infantil inferior a 4 mortes por cada nado vivo, um valor só comparável aos valores europeus e sem paralelo com qualquer outro país da américa latina(4). Foi a directora da Unicef para a América Latina e as Caraíbas, María Cristina Perceval a reconhecer que Cuba foi o primeiro país do mundo a eliminar a transmissão do vírus HIV de mãe para filho», em 2015.(5)

Os factos acabarão por trazer à tona a verdade sobre a pequena Ilha caribenha que continua a resistir a um bloqueio imperialista com mais de 50 anos.

Viva Cuba!

(1) «Around the world, too many children still start life at a disadvantage simply because of who they are and where they are from. Save the Children has a bold ambition: we believe in a world in which all children survive, have the chance to learn, and are protected from abuse, neglect and exploitation.» (https://www.savethechildren.net/">https://www.savethechildren.net)
(2) «Num relatório da organização Save the Children, afirma-se que a taxa mais elevada de homicídio infantil se encontra na América Latina e Caraíbas. No que respeita à infância, Cuba destaca-se pela positiva.[...] No ranking global, o país da América Latina e Caraíbas com melhor desempenho é Cuba, seguido do Chile e Barbados.» (https://www.abrilabril.pt/internacional/cuba-pais-mais-seguro-da-america-latina-para-crescer)
(3)«Cuba é líder mundial na promoção e protecção dos direitos da infância, afirmou a directora da Unicef para a América Latina e as Caraíbas, María Cristina Perceval.[...] sublinhou o [...] programa «Educa o teu filho», que caracterizou como «um modelo mundial no desenvolvimento infantil» e que a Unicef tem partilhado noutros países. A equipa da Unicef em Cuba participa neste programa, promovido pelo governo cubano há 26 anos e que contribui para o desenvolvimento integral de crianças até aos 6 anos que ainda não frequentam creches ou outras instituições educacionais. [...]
(4) Pelo 11.º ano consecutivo, Cuba mantém uma taxa de mortalidade infantil inferior a cinco por cada mil nados vivos. Para além disso, ao terminar o ano de 2018, constata-se um outro feito do país caribenho: pelo segundo ano consecutivo, atinge a taxa de mortalidade infantil mais baixa da sua história, com cerca de 4 mortes por cada mil nados vivos. Relativamente ao ano anterior – quando se verificaram 4,044 óbitos por cada mil nados vivos –, em 2018 a taxa diminuiu em 0,081, passando para 3,963 óbitos por cada mil nados vivos. (https://www.abrilabril.pt/internacional/cuba-regista-mortalidade-infantil-mais-baixa-da-sua-historia)
(5) «Fora do âmbito educativo, a directora da Unicef para a América Latina e as Caraíbas sublinhou os avanços no domínio da saúde no país caribenho, que foi o primeiro a eliminar a transmissão do vírus HIV de mãe para filho, em 2015»

2019/07/03

Uma Resumo da Realidade Factual

O Irão assinou um tratado com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha. O Irão cumpre o tratado como provam os relatórios da agência da ONU responsável pela monitorização do tratado. Os EUA retiraram-se unilateralmente do tratado. Os EUA puseram um drone a sobrevoar, comprovada e reprovadamente, o espaço aéreo iraniano e o Irão "explicou-lhes" de forma contundente que o espaço aéreo iraniano é iraniano não é norte-americano. Os EUA acusam o Irão de ter posto umas minas nuns petroleiros e dizem que têm outras provas além de um vídeo manhoso, mas ainda não as mostraram a ninguém. O Irão, o capitão do navio japonês, o Japão e a Noruega dizem que não, nem foi o Irão, nem foram minas, foi um objecto voador (que os EUA acham ser) não identificado.

A Rússia está a desenvolver um míssil de médio alcance que, segundo afirma a Rússia, não viola o tratado assinado com os EUA, os EUA dizem que não, que viola. Os EUA instalam armamento ofensivo a 50 km das fronteiras da Rússia e a 5 000 km dos EUA. Dizem os EUA que é para se defenderem dos russos. Os EUA instalam bases militares a 50 km da Rússia e a 10 000 km dos EUA, dizem os EUA que é para se defenderem dos russos. Até hoje a Rússia nunca atacou os EUA, pelo contrário, em 1918 os EUA invadiram a Rússia. Quem é que precisa de se defender de quem?

Os EUA mudaram a sua lei de “defesa” para permitir a utilização de armamento nuclear como forma de vencer conflitos de média dimensão. Os critérios editoriais dos media corporativos deixam de fora a desinteressante temática. Afinal, a quem interessa que uma potência com capacidade para destruir o mundo ache que o pode fazer?

O pró-cônsul estado-unidense para a Venezuela e "sus muchachos" meteram ao bolso o dinheiro angariado com o concerto do benfeitor concertante, e mais uns trocos, e mais o dinheiro venezuelano que os EUA e o NovoBanco e os bretões roubaram à Venezuela, e deixaram a apodrecer na Colômbia os três carregos de ajuda militária que os EUA quiseram introduzir à força na Venezuela. Os critérios editoriais dos media corporativos calam a desinteressante temática. Afinal, a quem é que interessa que o pró-consul dos EUA não só não tenha organizado as eleições que se tinha proposto organizar, como esteja a usar o dinheiro venezuelano para pagar as contas dos hotéis e das jantaradas "de sus muchachos" residentes na Colômbia?

São tudo coisas que ficamos a saber no artigo do José Goulão sobre realidades paralelas, e eu tinha de lhe arranjar aqui um cantinho para futura @Refer&ncia.

O mundo em realidade paralela
(José Goulão, AbrilAbril, 2019/06/27)

Por que está o Irão a ser vítima de uma guerra, através de sanções económicas arbitrárias, que pode estender-se à componente militar? Procurem a resposta no mainstream: encontrá-la é como acertar no euromilhões.