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2019/09/02

Sobre Falsificações Históricas ...

OK, primeiro a declaração de interesses: sim, sou ideologicamente anti-estalinista. Sim, responsabilizo o estalinismo pelo colapso do movimento comunista soviético e internacional e também sim, não aceito que a ideologia dominante continue a falsificar a história nem que os "comparatistas" queiram equiparar um Estaline herdeiro dos mais utópicos ideais humanistas a um Hitler carniceiro que destruiu uma Europa e foi responsável pela morte de 60 milhões de homens e mulheres em todos o mundo. Para compreender o pacto de não agressão germano-soviético de 1939 é essencial conhecer o cerco ocidental, montado em redor da URSS após a fracassada tentativa de invasão de 1917, e toda a sequência de negociações cruzadas entre os três eixos: alemanha-itália-japão, frança-inglaterra e URSS, nomeadamente o breve resumo que Fadi Kassem nos dá sobre o comportamento das "potências" ocidentais face ao crescente militarismo do eixo alemanha-itália-japão:
- Ausência de reacção face à invasão japonesa da Manchúria na China a partir de Setembro de 1931, com o Japão a ser visto como um baluarte contra o bolchevismo na Ásia;
- Ausência de reacção à reintrodução do serviço militar obrigatório na Alemanha em Março de 1935, apesar de proibida pelo Tratado de Versalhes de 28 de Junho de 1919;
- O veto franco-britânico contra a “aliança inversa” sem trégua proposta pela URSS desde 1933, depois pelo pretenso “pacto franco-soviético” de Maio de 1935 sabotado do lado francês;
- Acordo anglo-alemão de Junho de 1935, permitindo um poderoso rearmamento naval da Alemanha nazi;
- Contactos mantidos e reforçados entre as elites francesas e britânicas em particular, com as elites alemãs na década de 1930, a ponto de o ex-primeiro-ministro britânico Lloyd George, de visita ao chalé do Führer em Berchtesgaden em Setembro de 1936, declarar acerca deste último: “Hitler não sonha com uma Alemanha que ameace a Europa. Os alemães perderam todo desejo de entrar em conflito connosco";
- Acordo secreto entre a França e o Reino Unido com a Itália fascista [12] para anexar uma grande parte da Etiópia em Maio de 1936 - registar que a Itália não é sancionada pela Liga das Nações (SDN) na altura…;
- Remilitarização da Renânia em Março de 1936 (proibida pelo Tratado de Versalhes …);
- Guerra da Espanha no decurso da qual apenas a URSS e as Brigadas Internacionais vêm em socorro do campo republicano contra Franco e seus aliados fascistas e nazis, operando em total cumplicidade com o Reich e a Itália;
- Obviamente, a criação do pacto anti-Komintern;
- Anschluss (anexação da Áustria pela Alemanha) em Março de 1938, apesar de proibida pelo Tratado de Versalhes;
E, momento alto do espectáculo, entrega da Checoslováquia aos apetites hitlerianos pela França - apesar da sua ligação à Checoslováquia por um tratado desde 1924 … - e Reino Unido no seguimento da assinatura dos vergonhosos acordos de Munique na noite de 29 para 30 de Setembro de 1938 (decisão definitivamente tomada em Londres pelos britânicos e franceses em 29 de Novembro de 1937 [13]). Notar que a URSS estava ausente deste acordo (e por boas razões), ao contrário da Itália fascista que, tal como a Alemanha nazi, a França e o Reino Unido, não desejava a presença dos soviéticos (nem aliás dos checoslovacos …).
- Chamberlain (Reino Unido), Daladier (França), Hitler (Alemanha) e Mussolini (Itália) assinam o Acordo de Munique em 30 de Setembro de 1938. Um ano antes de a URSS, por falta de resposta aos seus pedidos de um acordo de defesa com a França e a Inglaterra, se ver reduzida a assinar o pacto germano-soviético.

Em suma, sigamos os factos e argumentação de Fadi Kassem ...

Há oitenta anos, o pacto germano-soviético: um símbolo da história desfigurado pelos reaccionários!
(Fadi Kasem, O Diário.info, 2019/08/30)

As efabulações dogmáticas dos anticomunistas primários

“Porque também se trata do 80º aniversário do «pacto germano-soviético», verdadeiro tratado de aliança com o regime de Hitler (que quase imediatamente levará, para começar, ao desmembramento da Polónia entre os dois predadores) é bom esclarecer esse pacto e as suas implicações “: eis o que se pode ler no blog de Marc Daniel Lévy, no site da Médiapart [1] sobre o pacto germano-soviético assinado em 23 de Agosto de 1939 entre Molotov e Ribbentrop. Para além da argumentação próxima da nulidade - menos de 20 linhas contentando-se com as acusações -, encontramos as efabulações clássicas dignas dos mais ferozes anticomunistas, que o título do artigo (”20 de Agosto de 40: é o grande aliado da Gestapo quem faz matar Trotsky”) ilustra perfeitamente. De facto, desde a assinatura do pacto em 23 de Agosto de 1939, anticomunistas de todos os tipos entoam a plenos pulmões esse refrão de uma suposta “aliança” entre Hitler e Stalin, à imagem de Jean-François Copé: já pouco à vontade para dominar os números – recordemos a sua incapacidade em avaliar o preço de um pão com chocolate [2] ou de seus problemas de contabilidade para a campanha de Sarkozy em 2012 [3] – o homem que obteve 0,3% nas primárias da direita para as presidenciais de 2017 [4] – ou seja menos votos do que Jean-Luc Bennahmias nas primárias do Partido Socialista! - já se tinha ilustrado no decurso da campanha para as eleições europeias ao declarar: “Sim, há 75 anos dia por dia, Stalin e Hitler assinavam um pacto de aliança que levou ao esmagamento da Europa sob a bota nazi: 60 milhões de mortos “[5]. Não poderia ser-se mais inventor do que isto…

2018/07/25

A Censura do Diferente Molda as Mentalidades

Ali por volta de meados do século XIX, dois modernos filósofos, o Carlos e o Frederico, demonstraram que a ideologia dominante, naquele caso a burguesa, se reproduzia e mostraram como era o processo, hoje, no DN o Pedro Tadeu aborda uma das formas de reprodução da ideologia dominante: a censura da diferença. @Refer&ncia

Um mamilo de Rubens desafia o capitalismo?
(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 2018/07/25)

Os dirigentes do Rubenshuis, de Antuérpia, decidiram gozar com o Facebook: filmaram um vídeo onde se veem dois supostos seguranças a percorrerem o museu, que mostra inúmeras pinturas do século XVI assinadas por Peter Paul Rubens.

Os dois capangas abordam visitantes e perguntam: “tem conta numa rede social?”. Quando o espantado turista responde que sim, os seguranças pedem desculpa mas, justificando-se com as regras em vigor das redes sociais, obrigam-no a afastar-se das pinturas de mulheres nuas que deram reputação de génio ao pintor flamengo e, provavelmente, ocuparam lugar de relevo entre os sonhos eróticos de certas realezas barrocas europeias, que mecenaram o artista.

2018/03/23

Superar a Cultura de Catástrofe em Permanência

Monumento Nacional.
Tinta da china e fotografia.
Diário de Lisboa,1969/11/21.
João Abel Manta
Spleen
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 2018/03/19)

Não haverá uma tradução que exprima a amplitude do significado de spleen, o que explica porque Baudelaire o utilizou, sem tentar traduzir, no título de um grupo de poemas Spleen de Paris e no título de vários dos poemas dessa série (*). Spleen é o que Walter Benjamin descreve «como o sentimento que corresponde à catástrofe em permanência». Nos tempos que se estão a viver é determinante para o pensamento único impor um sistema a partir de condições pré-estabelecidas para dissuadir os homens de intervir. Vive-se mergulhado num permanente spleen.

Sistema que faz prova de vida como se fosse um caleidoscópio em que, sempre com os mesmos cristais, quando se roda o tubo se transforma a desordem numa nova ordem e as sucessivas imagens virtuais simulam uma pulsação que não existe nem desinquieta a base com que se formam novas imagens. A realidade permanece quase imutável por debaixo das camadas de maquilhagem que se vão acumulando, deixando intocado o essencial. A perversidade é a crescente importância que as imagens virtuais adquirem para garantir a quase imobilidade do sistema, num cenário em que o simulacro e simulação substituíram a realidade.