«Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação. Só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir.»(Sérgio Godinho)
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2022/08/21
Sobre a importância do contexto histórico
Na era dos julgamentos relâmpago e radicais, das sentenças perpétuas e indiscutíveis, dos cancelamentos e das censuras moralistas é interessante ler textos distanciados e contextualizantes. Este é curto, e deixa-nos entrever uma paleta de cores num mundo que "as redes" nos vendem colorido a preto e branco. Ontem, na têvê, revi "O Leitor", um filme que nos confronta com uma nação onde o nazismo esteve tão normalizado que uma analfabeta operária da siemens "preferiu" candidatar-se a um emprego de guarda de campo nas ss e, mais tarde, assumir, sózinha, em julgamento, o massacre de dezenas de judeus, a revelar o analfabetismo de que se envergonhava. Ficção? Sim, também. Mas porquê o paralelo? Pelo arco-iris de sentimentos, razões, motivos e justificações para aquilo que, aos olhos já então era inadmissível e hoje injustificável.
"Et puoro si move" ;-)
2020/02/05
Joker podemos ser todos!
(Santana Castilho, Púbico, 2020/02/05)
Que sociedade estamos a criar? A democracia não pode ser tolerante com aqueles que a querem destruir.
1. Um vídeo mostrando um rosto limpo, antes da imobilização feita com brutalidade inaceitável por um polícia, um rosto deformado por hematomas, feridas com sangue pisado, olhos e lábios inchados, depois, a mulher acusando o polícia e o polícia acusando a mulher no fim, foi tema de muitas análises. Não vi nenhuma sobre o que terá ficado gravado na psique da criança de oito anos, que assistiu à brutalidade exercida sobre a mãe. Mas desejo que um dia, já adulta, esteja livre de qualquer trauma, provocado pela sociedade em que começou a viver. Como o palhaço triste de Gotham, metaforicamente afundada no lixo moral que o transformou no vilão do Joker.
2. O fenómeno da penetração da extrema-direita nas nossas forças de segurança (foi o Conselho da Europa que o disse) deve ser encarado com urgência, porque as repetidas suspeitas sobre a actuação de alguns dos seus membros degradam o Estado de direito.
(Santana Castilho, Púbico, 2020/02/05)
Que sociedade estamos a criar? A democracia não pode ser tolerante com aqueles que a querem destruir.
1. Um vídeo mostrando um rosto limpo, antes da imobilização feita com brutalidade inaceitável por um polícia, um rosto deformado por hematomas, feridas com sangue pisado, olhos e lábios inchados, depois, a mulher acusando o polícia e o polícia acusando a mulher no fim, foi tema de muitas análises. Não vi nenhuma sobre o que terá ficado gravado na psique da criança de oito anos, que assistiu à brutalidade exercida sobre a mãe. Mas desejo que um dia, já adulta, esteja livre de qualquer trauma, provocado pela sociedade em que começou a viver. Como o palhaço triste de Gotham, metaforicamente afundada no lixo moral que o transformou no vilão do Joker.
2. O fenómeno da penetração da extrema-direita nas nossas forças de segurança (foi o Conselho da Europa que o disse) deve ser encarado com urgência, porque as repetidas suspeitas sobre a actuação de alguns dos seus membros degradam o Estado de direito.
2020/01/13
A Saúde Pública a Pagar Lucros Privados
SNS – Problemas e soluções
(Isabel do Carmo, Púbico, 2019/12/07)
Qualquer de nós que trabalhou em hospitais sabe que o que deseja a maioria dos recém-especialistas é ser contratada e ficar no SNS. Estará o Estado à espera que lhes aconteça como à menina do Capuchinho Vermelho e que venha um lobo e os coma? É que os lobos estão por aí. É o mercado…
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem aparecido aos olhos do público como sendo um caos, mas não é um caos. Convém ver a quem aproveita esse retrato e claro que se chega facilmente à conclusão que aproveita a quem vive do negócio da saúde: serviços privados e seguros. Não é o caso dos profissionais do SNS, que acreditam que este é um serviço que está na base, a par da Educação e da Segurança Social, do que nos resta na luta pela igualdade. Serviço público baseado no Orçamento Geral do Estado (OGE), o qual vive sobretudo dos impostos, que são progressivos. Um esforço de compensação das desigualdades de rendimentos. É também para isto que servem os nossos impostos. Podemos ter uma doença crónica como a diabetes ou uma doença aguda como um infarto ou um acidente vascular cerebral, sem temermos ficar na miséria, endividados ou morrer sem assistência.
(Isabel do Carmo, Púbico, 2019/12/07)
Qualquer de nós que trabalhou em hospitais sabe que o que deseja a maioria dos recém-especialistas é ser contratada e ficar no SNS. Estará o Estado à espera que lhes aconteça como à menina do Capuchinho Vermelho e que venha um lobo e os coma? É que os lobos estão por aí. É o mercado…
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem aparecido aos olhos do público como sendo um caos, mas não é um caos. Convém ver a quem aproveita esse retrato e claro que se chega facilmente à conclusão que aproveita a quem vive do negócio da saúde: serviços privados e seguros. Não é o caso dos profissionais do SNS, que acreditam que este é um serviço que está na base, a par da Educação e da Segurança Social, do que nos resta na luta pela igualdade. Serviço público baseado no Orçamento Geral do Estado (OGE), o qual vive sobretudo dos impostos, que são progressivos. Um esforço de compensação das desigualdades de rendimentos. É também para isto que servem os nossos impostos. Podemos ter uma doença crónica como a diabetes ou uma doença aguda como um infarto ou um acidente vascular cerebral, sem temermos ficar na miséria, endividados ou morrer sem assistência.
2020/01/12
A Saúde: Factos X Senso Comum Neoliberal
Muito bom. Uma excelente panorâmica que, da minha perspetiva, só peca em dois aspetos. Um é não denunciar o real motivo para o "bom" desempenho mediático do neoliberalismo: os media pertencem às mesmas corporações com participações cruzadas na saúde privada, e são esses media corporativos a impôr a agenda da ideologia dominante. O outro é propor um link para uma opinião neoliberalista sobre o papão da "carga fiscal" que não esclarece sobre quem recai esse alegado aumento, se sobre o trabalho ou o capital, nem sobre a diferença, em Portugal muito clara, entre impostos e contribuições sociais. É que, para quem não saiba, o aumento do emprego e dos salários faz crescer direta e imediatamente as contribuições sociais arrecadadas, e isso é bom porque significa que há mais trabalho e melhores salários.
O “caos” na Saúde, dizem eles
(Isabel do Carmo, Púbico, 2020/01/11)
Este clima atinge algo que é precioso – a relação utente ou doente com os serviços públicos e nomeadamente a relação médico-doente, que deve ir além da mera tecnocracia do diagnóstico e terapêutica.
O “caos” na Saúde, dizem eles
(Isabel do Carmo, Púbico, 2020/01/11)
Este clima atinge algo que é precioso – a relação utente ou doente com os serviços públicos e nomeadamente a relação médico-doente, que deve ir além da mera tecnocracia do diagnóstico e terapêutica.
2019/12/14
Neoliberalistas Não Sobrevivem Sem o Estado
Sem Estado, não há startups
(Bárbara Reis, Púbico, 2019/11/08)
As startups são projectos da iniciativa privada, mas sem o Estado não existiam. Nem nos EUA, nem em Portugal.
Na “carta ao meu país”, o jovem Manuel Bourbon Ribeiro cita São Tomás de Aquino para dizer que “o principal intuito do Estado deve ser o bem viver das pessoas”.
Parece uma evidência inocente, mas muitos dos que comentaram o texto foram directos à ideia que alimenta parte da direita: um leitor falou da “teta do Estado”, outro disse que Portugal “só serve para se ser escravo dos impostos” e outro disse que o Estado “castiga a iniciativa privada”.
(Bárbara Reis, Púbico, 2019/11/08)
As startups são projectos da iniciativa privada, mas sem o Estado não existiam. Nem nos EUA, nem em Portugal.
Na “carta ao meu país”, o jovem Manuel Bourbon Ribeiro cita São Tomás de Aquino para dizer que “o principal intuito do Estado deve ser o bem viver das pessoas”.
Parece uma evidência inocente, mas muitos dos que comentaram o texto foram directos à ideia que alimenta parte da direita: um leitor falou da “teta do Estado”, outro disse que Portugal “só serve para se ser escravo dos impostos” e outro disse que o Estado “castiga a iniciativa privada”.
2019/12/13
Os Liberalistas Precisam do Estado
“O que seria da Google sem a Internet e o GPS? Nada”
(Mariana Mazzucato, ao Púbico, 2017/12)
Mariana Mazzucato, economista especialista em política de inovação, defende que “o Estado tem de ser recompensado pelos riscos que assume”, esteve em Sintra, no Fórum do Banco Central Europeu.
Com a publicação do livro “The Entrepreneurial State” em 2013, a economista Mariana Mazzucato passou a ser uma voz incontornável nos debates em torno das questões da inovação e do crescimento. Professora na University College de Londres, esta economista, com cidadania italiana e norte-americana, tenta contrariar a ideia de um Estado que apenas tem o papel de regular um sector privado extremamente dinâmico, defendendo que muitos dos avanços tecnológicos mais importantes foram o resultado de uma acção mais ambiciosa do Estado. Ao PÚBLICO diz que não é pela sua pequena dimensão que Portugal não pode seguir uma estratégia em que o Estado é o grande dinamizador da inovação, sendo importante contudo definir à partida uma grande ideia sobre aquilo que se pretende fazer.
(Mariana Mazzucato, ao Púbico, 2017/12)
Mariana Mazzucato, economista especialista em política de inovação, defende que “o Estado tem de ser recompensado pelos riscos que assume”, esteve em Sintra, no Fórum do Banco Central Europeu.
Com a publicação do livro “The Entrepreneurial State” em 2013, a economista Mariana Mazzucato passou a ser uma voz incontornável nos debates em torno das questões da inovação e do crescimento. Professora na University College de Londres, esta economista, com cidadania italiana e norte-americana, tenta contrariar a ideia de um Estado que apenas tem o papel de regular um sector privado extremamente dinâmico, defendendo que muitos dos avanços tecnológicos mais importantes foram o resultado de uma acção mais ambiciosa do Estado. Ao PÚBLICO diz que não é pela sua pequena dimensão que Portugal não pode seguir uma estratégia em que o Estado é o grande dinamizador da inovação, sendo importante contudo definir à partida uma grande ideia sobre aquilo que se pretende fazer.
2019/08/06
Contrato ou Convenção?
Achei estranho o "ativista laboral" dizer que «se andava a falar muito dos mil euros mas que, em cima da mesa, estava toda uma convenção que ultrapassava em muito a questão dos mil euros» ele eram os mil euros e mais isto e mais aquilo. Achei estranho o senhor usar o termo convenção enquanto a FECTRANS anda a negociar com o patronato um Contrato Colectivo de Trabalho, mas a coisa entrou por um, saiu pelo outro, e foi arrumada na gaveta das imbecilidades dos recém chegados ao mundo do trabalho.
Depois vi a capa do público de hoje e percebi que não é uma imbecilidade. É mais um vigaro-neologismo(*) que a ideologia dominante se deve estar a preparar para introduzir no vocabulário dos incautos. Matam dois coelhos com uma cajadada (perdoe-me o PAN): substituem a incómoda sacrossanta obrigatoriedade contratual pela voluntária convencionalização entre amigos e removem o ideologicamente estafado "trabalho", uma chatice que nem se justifica em tempo de férias. Marotos os gajos hem?
Só para refrescar ideias aqui ficam outros exemplos de vígaro-neologismos(*) inventados nestes últimos anos:
«A CIA já não mata ninguém, neutraliza pessoas ou desocupa zonas. O governo já não mente, envolve-se em desinformação. O pentágono mede radiação numa coisa a que chama unidades de brilho solar. Os assassinos israelitas chamam-se comandos e os árabes terroristas».
Não sou eu que o digo, é um tal de George Carlin, comediante e ativista com um humor alegadamente bastante negro. Tomando-o como mote aproveito para listar alguns dos meus favoritos:
[Os] Activistas Laborais - Prova acabada do horror que o BE tem ao trabalho e aos sindicatos de classe é o novo conceito de activismo laboral, mais abrangente, menos proletário, mais intelectual [sei láá!] que serviu de chapéu para reunir as parcas centenas de adeptos do bloco que se ocupam dessas trivialidades. Antes chamávamos-lhes sindicalistas, sei láá!
Bairros Precários - Nada disso! Não, não são bairros com contratos a prazo. São os antigos e démodès bairros da lata, agora feitos de plástico, nylon e cartão, rebaptizados na capa do público de 2018/04/06.
Campos de Triagem - ... a criar em países do norte de áfrica ou do médio oriente. Errado! Não, não são campos de tendas brancas rodeados por cercas de madeira, com médicos e enfermeiros, destinados a conter epidemias de ébola ou de cólera. Campos de triagem é o eufemismo inventado pelos governos da UE para campos de tendas amarelas e telheiros, rodeados por arame farpado, destinados a "alojar temporariamente", leia-se, prender enquanto não morrerem, os migrantes resgatados das águas mediterrânicas, até se concluir se são legais por estarem a fugir das guerras que os governos da UE fomentaram nas terras deles, ou se são ilegais, por estarem a fugir da fome que os governos ocidentais fomentam em áfrica.
Campos de Retenção - ... a criar nos países da UE que para tal se voluntarizem. É verdade, a ideia é que sejam campos, não verdejantes campos de golfe rodeados de elevadas sebes, mas campos daqueles com barracos de madeira, ou tendas de campanha, ou uns telheiros de zinco rodeados de arame farpado. Chamávamos-lhes campos de concentração, lembram-se? E serviam para "concentrar" os diferentes a caminho do matadouro. Hoje os governos europeus decidiram abrir campos de concentração, perdão, de retenção, para prender, perdão, reter, migrantes que entrem ilegalmente no espaço da UE. Lembram-se? Nós chamávamos-lhes c a m p o s d e c o n c e n t r a ç ã o.
[Os] Colaboradores - Os trouxas que aceitam ver pago em "Espírito de Equipa" o trabalho que executam para o patrão. Antes chamávamos-lhes trabalhadores.
Convenção Colectiva - está aí para substituir o conhecido Contrato Colectivo de Trabalho. Vejam lá como o que se convencionou chamar modernização vocabular, dá um jeitaço para, de uma penada, remover duas incomodidades vocabulares. Substitui-se a sacrossanta obrigatoriedade de um Contrato por uma feminina modernidade, comum e voluntariamente "convencionada", e remove-se o incómodo e tão ideológico, cruzes canhoto, termo trabalho. O que resta? A bela voluntariedade colectiva, patronato e trabalho juntos na mesma luta até à escravização final de quem produz.
Ditadura Constitucionalizada - é o eufemismo que a lixívia da ideologia dominante encontrou para chamar ao salazarento fascismo, constitucionalizado num plebiscito onde os votos brancos, nulos e abstenções contaram como votos a favor, juntamente com os votos dos mortos, paralíticos e dos ausentes no estrangeiro que votaram pela mão do legionário chefe de quadra.
[As] Famílias - Anteriormente cidadãos contribuintes e trabalhadores, passaram a agora a ser tratados pelo termo a quem se "retira" ou "aumenta" os rendimentos ao sabor do dictat neo-liberal.
Movimento Social - no Aeroporto Paris-Charles De Gaule desapareceram as greves, agora só há movimentos sociais a atrasar voos da AirFrance. Acho que esta ainda não chegou cá.
[As] Reformas Estruturais - As «reformas estruturais» continuam sempre presentes no discurso do PSD e CDS-PP, ainda que os últimos anos tenham revelado o seu real significado: cortes nos salários, nas pensões, nos direitos e nos serviços públicos. Sinónimo desideologizado de recuo civilizacional, liberalização de mercados, desregulamentação legislativa e privatização de direitos.
Remuneração Mínima - a alternativa têvêista ao ideologíssimo Salário Mínimo Nacional, vulgo SMN, o famoso e perigosissimamente marxista salário ... buuuu ... fujam que vêm aí os bolcheviques com os salários deles, as explorações deles e as buuuuu ideológicas mais valias. Vamos acabar com os ultrapassados e passadistas salários do século XIX e substitui-los pelas ultra modernas remunerações high-tech.
(*) vigaro-neologismo - Trata-se de um "substantivo" neologismo inventado pela @Refer&ncia para "adjectivar" os neologismos inventados pelos vigaristas ao serviço do capital com o intuito de aprofundar a vigarização desinformativa :-)
Depois vi a capa do público de hoje e percebi que não é uma imbecilidade. É mais um vigaro-neologismo(*) que a ideologia dominante se deve estar a preparar para introduzir no vocabulário dos incautos. Matam dois coelhos com uma cajadada (perdoe-me o PAN): substituem a incómoda sacrossanta obrigatoriedade contratual pela voluntária convencionalização entre amigos e removem o ideologicamente estafado "trabalho", uma chatice que nem se justifica em tempo de férias. Marotos os gajos hem?
Só para refrescar ideias aqui ficam outros exemplos de vígaro-neologismos(*) inventados nestes últimos anos:
«A CIA já não mata ninguém, neutraliza pessoas ou desocupa zonas. O governo já não mente, envolve-se em desinformação. O pentágono mede radiação numa coisa a que chama unidades de brilho solar. Os assassinos israelitas chamam-se comandos e os árabes terroristas».
Não sou eu que o digo, é um tal de George Carlin, comediante e ativista com um humor alegadamente bastante negro. Tomando-o como mote aproveito para listar alguns dos meus favoritos:
[Os] Activistas Laborais - Prova acabada do horror que o BE tem ao trabalho e aos sindicatos de classe é o novo conceito de activismo laboral, mais abrangente, menos proletário, mais intelectual [sei láá!] que serviu de chapéu para reunir as parcas centenas de adeptos do bloco que se ocupam dessas trivialidades. Antes chamávamos-lhes sindicalistas, sei láá!
Bairros Precários - Nada disso! Não, não são bairros com contratos a prazo. São os antigos e démodès bairros da lata, agora feitos de plástico, nylon e cartão, rebaptizados na capa do público de 2018/04/06.
Campos de Triagem - ... a criar em países do norte de áfrica ou do médio oriente. Errado! Não, não são campos de tendas brancas rodeados por cercas de madeira, com médicos e enfermeiros, destinados a conter epidemias de ébola ou de cólera. Campos de triagem é o eufemismo inventado pelos governos da UE para campos de tendas amarelas e telheiros, rodeados por arame farpado, destinados a "alojar temporariamente", leia-se, prender enquanto não morrerem, os migrantes resgatados das águas mediterrânicas, até se concluir se são legais por estarem a fugir das guerras que os governos da UE fomentaram nas terras deles, ou se são ilegais, por estarem a fugir da fome que os governos ocidentais fomentam em áfrica.
Campos de Retenção - ... a criar nos países da UE que para tal se voluntarizem. É verdade, a ideia é que sejam campos, não verdejantes campos de golfe rodeados de elevadas sebes, mas campos daqueles com barracos de madeira, ou tendas de campanha, ou uns telheiros de zinco rodeados de arame farpado. Chamávamos-lhes campos de concentração, lembram-se? E serviam para "concentrar" os diferentes a caminho do matadouro. Hoje os governos europeus decidiram abrir campos de concentração, perdão, de retenção, para prender, perdão, reter, migrantes que entrem ilegalmente no espaço da UE. Lembram-se? Nós chamávamos-lhes c a m p o s d e c o n c e n t r a ç ã o.
[Os] Colaboradores - Os trouxas que aceitam ver pago em "Espírito de Equipa" o trabalho que executam para o patrão. Antes chamávamos-lhes trabalhadores.
Convenção Colectiva - está aí para substituir o conhecido Contrato Colectivo de Trabalho. Vejam lá como o que se convencionou chamar modernização vocabular, dá um jeitaço para, de uma penada, remover duas incomodidades vocabulares. Substitui-se a sacrossanta obrigatoriedade de um Contrato por uma feminina modernidade, comum e voluntariamente "convencionada", e remove-se o incómodo e tão ideológico, cruzes canhoto, termo trabalho. O que resta? A bela voluntariedade colectiva, patronato e trabalho juntos na mesma luta até à escravização final de quem produz.
Ditadura Constitucionalizada - é o eufemismo que a lixívia da ideologia dominante encontrou para chamar ao salazarento fascismo, constitucionalizado num plebiscito onde os votos brancos, nulos e abstenções contaram como votos a favor, juntamente com os votos dos mortos, paralíticos e dos ausentes no estrangeiro que votaram pela mão do legionário chefe de quadra.
[As] Famílias - Anteriormente cidadãos contribuintes e trabalhadores, passaram a agora a ser tratados pelo termo a quem se "retira" ou "aumenta" os rendimentos ao sabor do dictat neo-liberal.
Movimento Social - no Aeroporto Paris-Charles De Gaule desapareceram as greves, agora só há movimentos sociais a atrasar voos da AirFrance. Acho que esta ainda não chegou cá.
[As] Reformas Estruturais - As «reformas estruturais» continuam sempre presentes no discurso do PSD e CDS-PP, ainda que os últimos anos tenham revelado o seu real significado: cortes nos salários, nas pensões, nos direitos e nos serviços públicos. Sinónimo desideologizado de recuo civilizacional, liberalização de mercados, desregulamentação legislativa e privatização de direitos.
Remuneração Mínima - a alternativa têvêista ao ideologíssimo Salário Mínimo Nacional, vulgo SMN, o famoso e perigosissimamente marxista salário ... buuuu ... fujam que vêm aí os bolcheviques com os salários deles, as explorações deles e as buuuuu ideológicas mais valias. Vamos acabar com os ultrapassados e passadistas salários do século XIX e substitui-los pelas ultra modernas remunerações high-tech.
(*) vigaro-neologismo - Trata-se de um "substantivo" neologismo inventado pela @Refer&ncia para "adjectivar" os neologismos inventados pelos vigaristas ao serviço do capital com o intuito de aprofundar a vigarização desinformativa :-)
2019/08/01
Um Entrevistado Inteligente
Entrevista Miguel Tiago: “Sou um traidor da minha classe”
(Nuno Ribeiro, Público, 2018/08/27)
A cumprir 39 anos, o ex-deputado do PCP sente-se honrado por ter barrado o caminho ao poder de Passos e Portas. Quanto à reedição da fórmula que permitiu ao PS governar, tudo depende do momento político pós-eleições.
É filho da Margem Sul e tem no horizonte trabalhar como geólogo na área de Setúbal após a saída da bancada parlamentar comunista, depois de ter sido um dos jovens deputados do PCP. Motard de alta cilindrada, vai na terceira Super Ténéré 1200, e já participou na concentração de Góis. Pratica aikido, mas diz que durante um ano como porteiro de discoteca recorreu à persuasão para evitar conflitos. Desde o 25 de Abril que a família materna vive no Brasil, onde nasceu por acaso, e confessa: “Sou um traidor da minha classe.”
Sai do Parlamento em Setembro para a comissão de actividades económicas do Comité Central, e para se dedicar à sua actividade profissional, a geologia. Como lida com um trabalho político de retaguarda após ter estado na primeira fila?
Vou lidar bem, estive 13 anos no Parlamento, mas estive desde 1994 na Juventude Comunista Portuguesa e desde 1997 no PCP. A experiência no Parlamento é marcante, tem características próprias, uma exposição que se traduz em responsabilidade. Não sei como a mudança se reflectirá na minha vida, espero que não haja alterações, pois enquanto estive no Parlamento sempre fiz o possível por preservar o meu estilo de vida e as minhas características.
(Nuno Ribeiro, Público, 2018/08/27)
A cumprir 39 anos, o ex-deputado do PCP sente-se honrado por ter barrado o caminho ao poder de Passos e Portas. Quanto à reedição da fórmula que permitiu ao PS governar, tudo depende do momento político pós-eleições.
É filho da Margem Sul e tem no horizonte trabalhar como geólogo na área de Setúbal após a saída da bancada parlamentar comunista, depois de ter sido um dos jovens deputados do PCP. Motard de alta cilindrada, vai na terceira Super Ténéré 1200, e já participou na concentração de Góis. Pratica aikido, mas diz que durante um ano como porteiro de discoteca recorreu à persuasão para evitar conflitos. Desde o 25 de Abril que a família materna vive no Brasil, onde nasceu por acaso, e confessa: “Sou um traidor da minha classe.”
Sai do Parlamento em Setembro para a comissão de actividades económicas do Comité Central, e para se dedicar à sua actividade profissional, a geologia. Como lida com um trabalho político de retaguarda após ter estado na primeira fila?
Vou lidar bem, estive 13 anos no Parlamento, mas estive desde 1994 na Juventude Comunista Portuguesa e desde 1997 no PCP. A experiência no Parlamento é marcante, tem características próprias, uma exposição que se traduz em responsabilidade. Não sei como a mudança se reflectirá na minha vida, espero que não haja alterações, pois enquanto estive no Parlamento sempre fiz o possível por preservar o meu estilo de vida e as minhas características.
2019/02/06
Diz o Domingos Lopes no Público
Venezuela, para que conste
(Domingos Lopes, Público, 2019/02/05)
Não há ninguém com o mínimo de honestidade intelectual que não aceite que a crise venezuelana, para além da incompetência e dos erros da ação governativa, enfrenta pressões e ingerências dos EUA. É para vergar o regime pela miséria que se juntam os que querem as riquezas daquele país.
Há, em torno da crise venezuelana, um redemoinho infernal de notícias. A grande maioria das notícias foca a realidade do que se passa naquele país do seguinte modo: há um ditador e uma ditadura nascida com o chavismo de um lado e, do outro, os opositores à ditadura, que, neste momento, têm Guaidó como cabeça, e que é o presidente da Assembleia Nacional (Parlamento). Isto é, há um Parlamento eleito democraticamente. Estranha ditadura... que chegou com Chávez, Presidente eleito em todas eleições a que concorreu, e reconhecidas por todo o mundo como tendo sido livres e limpas. Portanto, na Venezuela, não houve e não há uma ditadura.
(Domingos Lopes, Público, 2019/02/05)
Não há ninguém com o mínimo de honestidade intelectual que não aceite que a crise venezuelana, para além da incompetência e dos erros da ação governativa, enfrenta pressões e ingerências dos EUA. É para vergar o regime pela miséria que se juntam os que querem as riquezas daquele país.
Há, em torno da crise venezuelana, um redemoinho infernal de notícias. A grande maioria das notícias foca a realidade do que se passa naquele país do seguinte modo: há um ditador e uma ditadura nascida com o chavismo de um lado e, do outro, os opositores à ditadura, que, neste momento, têm Guaidó como cabeça, e que é o presidente da Assembleia Nacional (Parlamento). Isto é, há um Parlamento eleito democraticamente. Estranha ditadura... que chegou com Chávez, Presidente eleito em todas eleições a que concorreu, e reconhecidas por todo o mundo como tendo sido livres e limpas. Portanto, na Venezuela, não houve e não há uma ditadura.
2019/01/22
O Tribunal das Corporações e a Reforma do Capitalismo
A "sociedade civil" que não travou o CETA parece ter acordado para o horror do tribunal das corporações imposto por esse mesmo CETA. Chama-se Investor-State Dispute Settlement (ISDS) em anglo-saxonês e serve para as corporações multarem as democracias quando estas não lhes andarem ao jeito. A par da chantagem com a especulação capitalista sobre as dividas soberanas este é mais um instrumento de sujeição do poder civil democrático ao poder financeiro. Porque interessa pensar neste instrumento neo-liberal-capitalista de sujeição das democracias á luz da reforma do capitalism deixo aqui duas opiniões recentemente vindas a lume no âmbito da luta europeia contra estes tribunais. O problema é que enquanto andamos a lutar contra estes tribunais o capital vai pensando noutra forma de sujeitar as leis dos estado soberanos ás "regras dos mercados". Conintuo a acreditar que a única solução é mesmo acabar com o Capitalismo, t o d o! @Refer&ncia
2018/10/08
Há Que Perder o Medo!
Em dois dias foram dois textos a apontar o medo como principal causa dos afloramentos fascizantes que por esse mundo despontam. O primeiro, do Domingos Lopes, aqui em baixo, mais centrado no Brasil, o segundo, do Manuel Loff, mais alicerçado na história contemporânea, ambos apontam o medo para explicar o mesmo fenómeno: como é que um fascista incompetente arrastou 40 milhões de brasileiros com um discurso de ódio, violência e morte.
Ambos concluem ser o medo, o medo sem objeto, o medo de tudo, da diferença, da pobreza, do outro, do crime, do vizinho, da droga, do desconhecido, do terrorismo. Foi aliçerçado em todos estes medos, acirrando uns contra os outros, culpando o diferente, o outro, o vizinho, o desconhecido que o fascista incompetente arrastou 40 milhões de votos.
Acredito. Mas acho que podemos, e devemos, ir um bocadinho mais fundo. Quem criou e alimentou os medos? Quem criou a crise politica e institucional? Quem deu o golpe? Quem foram os corruptos que apontaram o dedo à única não corrupta? Onde andou a Globo nas vésperas, durante e depois do golpe? Quem andou com o fascista incompetente ao colo antes e durante a campanha? Quem alimenta a miséria, mãe de todos os medos? A ignorância, filha da barriga vazia? Quem? Ou o quê?
E já agora. Quem confia no voto electrónico? Quem garante que o número escrito na RAM não é "aleatóriamente" enviezado relativamente ao que eu primo no teclado por três linhazitas de código malandradrecas, perdidas algures no controlador do teclado e auto-eliminadas quando se fecha a urna?
Quem não tem medo do medo? E de Bolsonaro?
(Domingos Lopes, in Público, 2018/10/05)
Jair Bolsonaro sabe que ao defender este “programa” convoca o medo para a partir dele pôr o Brasil na ordem ditatorial e na paz dos cemitérios.
O medo existe para condicionar ou impor aos outros um determinado comportamento. Uma sociedade onde o medo impera não é uma sociedade em que os seus membros se sentem livres. Uma ditadura impõe-se pelo medo que provoca nos cidadãos. O medo é como um colete que se cola ao corpo e o aperta a lembrar-lhe o que não pode fazer.
Ambos concluem ser o medo, o medo sem objeto, o medo de tudo, da diferença, da pobreza, do outro, do crime, do vizinho, da droga, do desconhecido, do terrorismo. Foi aliçerçado em todos estes medos, acirrando uns contra os outros, culpando o diferente, o outro, o vizinho, o desconhecido que o fascista incompetente arrastou 40 milhões de votos.
Acredito. Mas acho que podemos, e devemos, ir um bocadinho mais fundo. Quem criou e alimentou os medos? Quem criou a crise politica e institucional? Quem deu o golpe? Quem foram os corruptos que apontaram o dedo à única não corrupta? Onde andou a Globo nas vésperas, durante e depois do golpe? Quem andou com o fascista incompetente ao colo antes e durante a campanha? Quem alimenta a miséria, mãe de todos os medos? A ignorância, filha da barriga vazia? Quem? Ou o quê?
E já agora. Quem confia no voto electrónico? Quem garante que o número escrito na RAM não é "aleatóriamente" enviezado relativamente ao que eu primo no teclado por três linhazitas de código malandradrecas, perdidas algures no controlador do teclado e auto-eliminadas quando se fecha a urna?
Quem não tem medo do medo? E de Bolsonaro?
(Domingos Lopes, in Público, 2018/10/05)
Jair Bolsonaro sabe que ao defender este “programa” convoca o medo para a partir dele pôr o Brasil na ordem ditatorial e na paz dos cemitérios.
O medo existe para condicionar ou impor aos outros um determinado comportamento. Uma sociedade onde o medo impera não é uma sociedade em que os seus membros se sentem livres. Uma ditadura impõe-se pelo medo que provoca nos cidadãos. O medo é como um colete que se cola ao corpo e o aperta a lembrar-lhe o que não pode fazer.
2018/10/07
Hoje Somos Todos Brasileiros: Haddad ou Ditador?
Orbán, Trump, Bolsonaro: como chegámos até aqui?
(Manuel Loff, in Público, 2018/10/06)
Mais do que em quaisquer outros recursos do Estado, é nos aparelhos securitários que a extrema-direita se quer infiltrar
Bolsonaro sairá amanhã à frente na corrida para a 2.ª volta das eleições brasileiras – e eu sou dos que temo que seja mesmo eleito no próximo dia 28. Os Le Pen pai e filha já chegaram duas vezes à 2.ª volta das presidenciais francesas. Trump foi eleito presidente da maior economia e do maior arsenal de armas do mundo. A extrema-direita tem 15%-25% dos votos em meia Europa e, só na UE, dirige ou participa em governos de coligação de dez países (da Itália e Bélgica à Hungria e Polónia).
(Manuel Loff, in Público, 2018/10/06)
Mais do que em quaisquer outros recursos do Estado, é nos aparelhos securitários que a extrema-direita se quer infiltrar
Bolsonaro sairá amanhã à frente na corrida para a 2.ª volta das eleições brasileiras – e eu sou dos que temo que seja mesmo eleito no próximo dia 28. Os Le Pen pai e filha já chegaram duas vezes à 2.ª volta das presidenciais francesas. Trump foi eleito presidente da maior economia e do maior arsenal de armas do mundo. A extrema-direita tem 15%-25% dos votos em meia Europa e, só na UE, dirige ou participa em governos de coligação de dez países (da Itália e Bélgica à Hungria e Polónia).
2018/09/20
Não ao Fascismo e aos Seus Criadores
Depois de ler a declaração de voto do PCP confesso que não só compreendi o voto deles como tive de o apoiar.
1. Porque, por principio, e ainda mais para um país que já sofreu na pele a ingerência da troika, a intervenção do capital representado em Bruxelas é inaceitável.
2. Porque o capital representado em Bruxelas, obreiro e responsável pelos fascismos que despontam por essa Europa fora, resultados de politicas neo-liberais e de desrespeito sucessivo pelas vontades e direitos dos povos, não tem moral para sancionar as suas próprias criações.
3. Porque com este arremedo sancionatório, o capital representado em Bruxelas quer branquear e encobrir as politicas que geraram as ondas migratórias, que esse mesmo capital quer continuar a manter, económica e xenofobamente, na orla da legalidade, como forma de pauperizar o trabalho com direitos.
4. Porque há que combater os fascismos combatendo esse mesmo capital representado em Bruxelas que, ao impor a pauperização dos direitos do trabalho, ao destruir o estado social herdado da guerra fria, cria as serpentes a que depois diz querer cortar cabeças. @Refer&ncia
Combater a serpente, sem esquecer os ovos
(João Ferreira in Público, 2018/09/18)
A UE tem sido protagonista de (ou conivente com) clamorosos desrespeitos pela democracia e mesmo de claras violações de direitos fundamentais.
As enormes faixas impõem-se ao transeunte. Do fundo branco destacam-se letras azuis que afirmam “precisamos de proteger as nossas fronteiras”, “precisamos de gerir as migrações”, e até um elucidativo “precisamos de proteger o nosso modo de vida”.
1. Porque, por principio, e ainda mais para um país que já sofreu na pele a ingerência da troika, a intervenção do capital representado em Bruxelas é inaceitável.
2. Porque o capital representado em Bruxelas, obreiro e responsável pelos fascismos que despontam por essa Europa fora, resultados de politicas neo-liberais e de desrespeito sucessivo pelas vontades e direitos dos povos, não tem moral para sancionar as suas próprias criações.
3. Porque com este arremedo sancionatório, o capital representado em Bruxelas quer branquear e encobrir as politicas que geraram as ondas migratórias, que esse mesmo capital quer continuar a manter, económica e xenofobamente, na orla da legalidade, como forma de pauperizar o trabalho com direitos.
4. Porque há que combater os fascismos combatendo esse mesmo capital representado em Bruxelas que, ao impor a pauperização dos direitos do trabalho, ao destruir o estado social herdado da guerra fria, cria as serpentes a que depois diz querer cortar cabeças. @Refer&ncia
Combater a serpente, sem esquecer os ovos
(João Ferreira in Público, 2018/09/18)
A UE tem sido protagonista de (ou conivente com) clamorosos desrespeitos pela democracia e mesmo de claras violações de direitos fundamentais.
As enormes faixas impõem-se ao transeunte. Do fundo branco destacam-se letras azuis que afirmam “precisamos de proteger as nossas fronteiras”, “precisamos de gerir as migrações”, e até um elucidativo “precisamos de proteger o nosso modo de vida”.
2018/09/10
Festa do Avante - Uma Crónica
O Relógio da Festa
(Adriano Miranda, Público, 2018/09/09)
Com dez anos, naquele mês de Setembro, pensei que toda a população do mundo estava junto ao rio Tejo, em Lisboa. Nunca tinha visto e sentido tanta gente. Por vezes não se conseguia andar. Olhava para cima, na tentativa de alertar os adultos par o facto de estar ali. Sentia-me apertado. Quase esmagado. Aquela massa compacta de gente estava feliz. Invadiam todos os lugares da antiga FIL. Eram milhões de conversas, milhares de sorrisos, infinitos abraços. E no domingo à tarde o comício teve de vir para a rua. A grande nave era pequena de mais.
Era a primeira edição da Festa do Avante!. Estávamos em 1976. Nunca se tinha visto nada igual. Foi a primeira vez que vi um palco gigante. Que vi músicos a sério. Sentia-me bem. A palavra que mais se ouvia era “camarada”. A segunda, “liberdade”. Tudo era novidade. Corredores de política. Corredores de comida. Corredores de música. Corredores de arte. Mas o espaço que ficou gravado na minha memória, porque passei lá imenso tempo, era o Espaço Internacional. Milhares de pessoas queriam ver o pavilhão da União Soviética, da RDA ou da Checoslováquia. Ali estavam os países socialistas e os partidos irmãos. Ali estava o imaginário.
2018/02/21
Polónia de Regresso ao Fascismo
Polónia: vítimas, cúmplices e manipuladores
(Manuel Loff in Público, 2018/02/03)
Há anos visitei o Museu da Insurreição de Varsóvia (de 1944, contra o ocupante nazi). Além do tom de ludicização da história, que transforma os museus em quase-discotecas (música, ruído de bombardeamentos e do matraquear das metralhadoras, actores que “reconstituem” a história…), nele se exalta a Polónia mártir e heróica, atraiçoada por todos (soviéticos, britânicos, americanos). No final, um colega polaco que me acompanhara, percebendo o desconforto meu e o de uma colega grega, explicou-nos que a historiografia polaca desde a queda do regime comunista se dividia entre “nacionalistas” e “patriotas”…
(Manuel Loff in Público, 2018/02/03)
Há anos visitei o Museu da Insurreição de Varsóvia (de 1944, contra o ocupante nazi). Além do tom de ludicização da história, que transforma os museus em quase-discotecas (música, ruído de bombardeamentos e do matraquear das metralhadoras, actores que “reconstituem” a história…), nele se exalta a Polónia mártir e heróica, atraiçoada por todos (soviéticos, britânicos, americanos). No final, um colega polaco que me acompanhara, percebendo o desconforto meu e o de uma colega grega, explicou-nos que a historiografia polaca desde a queda do regime comunista se dividia entre “nacionalistas” e “patriotas”…
2017/11/05
As Revoluções no Centenário de Outubro
Por vezes, sempre menos do que gostaríamos, surgem pequenas pérolas de pensamento materialista-histórico que nos deixam com vontade de ler mais. Já não é a primeira vez que Manuel Loff nos brinda com esses pequenos prazeres. Chegado ao fim, fui à procura de mais, do resto do artigo. Não havia mais. Fiquei com a impressão de ter lido uma introdução, com a sensação de que muito mais haveria para ler.
As Revoluções no Centenário de Outubro
(Manuel Loff, in Público 2017/11/04)
Foi o acontecimento central da história do séc. XX”, dizia Eric Hobsbawm (A Era dos Extremos, 1994), “da mesma forma como a Revolução Francesa o foi do séc. XIX”. Sendo puros produtos da modernidade ocidental, em toda a sua contradição interna, a qual ajudaram a transformar como nenhum outro processo político, ambas foram transformadas em objetos históricos malditos por todas as direitas do mundo, que as tentaram desocidentalizar como se, numa rançosa lógica colonial, elas não fossem mais do que processos de mudança tumultuária às mãos de massas ignorantes e fanatizadas.
As Revoluções no Centenário de Outubro
(Manuel Loff, in Público 2017/11/04)
Foi o acontecimento central da história do séc. XX”, dizia Eric Hobsbawm (A Era dos Extremos, 1994), “da mesma forma como a Revolução Francesa o foi do séc. XIX”. Sendo puros produtos da modernidade ocidental, em toda a sua contradição interna, a qual ajudaram a transformar como nenhum outro processo político, ambas foram transformadas em objetos históricos malditos por todas as direitas do mundo, que as tentaram desocidentalizar como se, numa rançosa lógica colonial, elas não fossem mais do que processos de mudança tumultuária às mãos de massas ignorantes e fanatizadas.
2017/10/09
A nossa economia política é o trabalho
A nossa economia política é o trabalho
(João Rodrigues in Público 2017/10/06)
Há 150 anos atrás, em 1867, saía o primeiro livro de O Capital, da autoria de Karl Marx, que se tornaria uma obra central na história da economia política. A certa altura, Marx exorta o leitor a segui-lo “até ao lugar oculto da produção”, franqueando a porta que diz proibida a entrada a pessoas estranhas ao serviço. Só aí, onde se trabalha e cria valor, se tornaria visível para todos “como o capital produz, mas também como se produz ele próprio, o capital”.
Esta exortação mantém no século XXI uma grande actualidade em termos de método, de possibilidade de conhecimento, e em termos políticos. De facto, as relações laborais continuam a ser o elo central das sociedades capitalistas. Isto não impede, antes pelo contrário, que exista todo um esforço ideológico liberal para as ocultar. Mas de vez em quando, por denúncia de quem trabalha, o leitor tem um vislumbre do que se passa num tempo em que os freios e contrapesos legislativos e sindicais ao poder patronal foram enfraquecidos.
Recentemente, o PÚBLICO expunha o lado laboral oculto do só aparentemente glamoroso sector turístico, com o exemplo do que se passa nos barcos do Douro: “Salários baixos. Contratos maioritariamente temporários, quase sempre de três ou de seis meses. Sazonalidade. Jornadas laborais de 60 horas semanais. Contínuas. Folgas em plano b. Dormidas a bordo em espaços exíguos, sem privacidade. Refeições feitas de restos.
(João Rodrigues in Público 2017/10/06)
Há 150 anos atrás, em 1867, saía o primeiro livro de O Capital, da autoria de Karl Marx, que se tornaria uma obra central na história da economia política. A certa altura, Marx exorta o leitor a segui-lo “até ao lugar oculto da produção”, franqueando a porta que diz proibida a entrada a pessoas estranhas ao serviço. Só aí, onde se trabalha e cria valor, se tornaria visível para todos “como o capital produz, mas também como se produz ele próprio, o capital”.
Esta exortação mantém no século XXI uma grande actualidade em termos de método, de possibilidade de conhecimento, e em termos políticos. De facto, as relações laborais continuam a ser o elo central das sociedades capitalistas. Isto não impede, antes pelo contrário, que exista todo um esforço ideológico liberal para as ocultar. Mas de vez em quando, por denúncia de quem trabalha, o leitor tem um vislumbre do que se passa num tempo em que os freios e contrapesos legislativos e sindicais ao poder patronal foram enfraquecidos.
Recentemente, o PÚBLICO expunha o lado laboral oculto do só aparentemente glamoroso sector turístico, com o exemplo do que se passa nos barcos do Douro: “Salários baixos. Contratos maioritariamente temporários, quase sempre de três ou de seis meses. Sazonalidade. Jornadas laborais de 60 horas semanais. Contínuas. Folgas em plano b. Dormidas a bordo em espaços exíguos, sem privacidade. Refeições feitas de restos.
2017/08/14
Sobre o problema do Comunismo
O problema do Comunismo
por João André Costa in P3
O maior problema do Comunismo é ainda estar por acontecer, sendo um ideal para o qual se trabalha e luta para que nunca, mas mesmo nunca, o Homem volte a explorar o Homem.
O problema do Comunismo é defender que somos todos iguais, nem mais nem menos que os outros, com acesso a educação, saúde, paz, pão, habitação, emprego e um futuro, sem nada em troca. Ora, isto não é apenas impensável nos dias de hoje, é errado, para não dizer perigoso. Afinal, o que seria deste mundo se todo um povo se decidisse a ter acesso às premissas básicas da vida, ao sonho e à capacidade de sonhar, desejar, almejar e conquistar?
O problema do Comunismo é este desejo de alfabetizar, educar, ensinar, cuidar, cultivar, desmistificar, esclarecer mitos, patranhas, medos e mentiras, insistindo e teimando na necessidade de cada um pensar por si e não em nome de um todo chamado capital, julgando e condenando pares e iguais em função dos números de uma conta bancária.
O problema do Comunismo é a defesa do livre arbítrio, uma conquista da Humanidade e uma grande dor de cabeça para meia dúzia de indíviduos e famílias, os quais acabam por dedicar grande parte do seu tempo e energias a combater direitos, liberdades e garantias em detrimento dos seus próprios negócios. E isto é, também, uma grande chatice.
Até porque o problema do Comunismo é, igualmente, a defesa do fim da propriedade privada, lá está, pelo bem comum, o que é meu é teu e vice-versa, se hoje és tu quem precisa, amanhã somos nós, e o mundo seria um lugar tão bom se todos concordássemos em partilhar esta Terra onde um dia nascemos e de onde, pragmaticamente, haveremos de partir.
E isto independentemente da quantidade estúpida de dinheiro que possas ter quando a morte está bem morta, desde sempre, livre de todos os bens materiais e, no entanto, tão ávida de ti.
Até porque o problema do Comunismo é defender cegamente a não existência de um Deus ou, pelo menos, a não existência de um Deus que se possa comprar, e digam-me lá qual a importância do dinheiro quando se pode criar vida, planetas, universos inteiros na ponta dos dedos enquanto se caminha numa praia cujos grãos de areia somos nós?
O problema do Comunismo é a malta ainda não se ter esquecido de quando teve de emigrar para o Brasil depois de tudo [ter] feito ao longo de 48 anos de ditadura por um povo injustamente ingrato.
Mas continuemos, para quem ainda não percebeu, o Comunismo tem muitos problemas, sendo um deles a ausência de chefias, líderes ou responsáveis máximos quando todos somos responsáveis, não tendo ninguém para culpar a não ser nós mesmos sempre que tudo corre mal e tudo corre bem. E isto não só é uma grande chatice, é também difícil de compreender.
E o problema do Comunismo é votar de mão no ar e não secretamente, respeitando opiniões contrárias, procurando saber, debater, aprender ao sabor dos tempos para assim viver, sem morrer, século XXI adentro. O maior problema do Comunismo é ainda estar por acontecer, sendo um ideal para o qual se trabalha e luta para que nunca, mas mesmo nunca, o Homem volte a explorar o Homem. E, apesar de não existir, saber todo o mal que se fez em seu nome para que hoje tantos lutem ferozmente sempre que um trabalhador se levanta a exigir que é seu por direito.
Mas se não existe, há-de existir, e o problema dos comunistas é saberem ser a razão da História, de pouco importando a celebração deste dia por vir quando se trabalha em prol das gerações futuras e se vive esta alegria. O problema da Venezuela não é ser de esquerda, radical ou comunista.
O problema da Venezuela é ter petróleo e, quiçá, “[nuclear] weapons” no sentido de uma mais que provável intervenção estrangeira. Não tivesse petróleo e, estou certo, os venezuelanos poderiam ser livres e o mundo inteiro não deixaria de girar por isso.
por João André Costa in P3
O maior problema do Comunismo é ainda estar por acontecer, sendo um ideal para o qual se trabalha e luta para que nunca, mas mesmo nunca, o Homem volte a explorar o Homem.
O problema do Comunismo é defender que somos todos iguais, nem mais nem menos que os outros, com acesso a educação, saúde, paz, pão, habitação, emprego e um futuro, sem nada em troca. Ora, isto não é apenas impensável nos dias de hoje, é errado, para não dizer perigoso. Afinal, o que seria deste mundo se todo um povo se decidisse a ter acesso às premissas básicas da vida, ao sonho e à capacidade de sonhar, desejar, almejar e conquistar?
O problema do Comunismo é este desejo de alfabetizar, educar, ensinar, cuidar, cultivar, desmistificar, esclarecer mitos, patranhas, medos e mentiras, insistindo e teimando na necessidade de cada um pensar por si e não em nome de um todo chamado capital, julgando e condenando pares e iguais em função dos números de uma conta bancária.
O problema do Comunismo é a defesa do livre arbítrio, uma conquista da Humanidade e uma grande dor de cabeça para meia dúzia de indíviduos e famílias, os quais acabam por dedicar grande parte do seu tempo e energias a combater direitos, liberdades e garantias em detrimento dos seus próprios negócios. E isto é, também, uma grande chatice.
Até porque o problema do Comunismo é, igualmente, a defesa do fim da propriedade privada, lá está, pelo bem comum, o que é meu é teu e vice-versa, se hoje és tu quem precisa, amanhã somos nós, e o mundo seria um lugar tão bom se todos concordássemos em partilhar esta Terra onde um dia nascemos e de onde, pragmaticamente, haveremos de partir.
E isto independentemente da quantidade estúpida de dinheiro que possas ter quando a morte está bem morta, desde sempre, livre de todos os bens materiais e, no entanto, tão ávida de ti.
Até porque o problema do Comunismo é defender cegamente a não existência de um Deus ou, pelo menos, a não existência de um Deus que se possa comprar, e digam-me lá qual a importância do dinheiro quando se pode criar vida, planetas, universos inteiros na ponta dos dedos enquanto se caminha numa praia cujos grãos de areia somos nós?
O problema do Comunismo é a malta ainda não se ter esquecido de quando teve de emigrar para o Brasil depois de tudo [ter] feito ao longo de 48 anos de ditadura por um povo injustamente ingrato.
Mas continuemos, para quem ainda não percebeu, o Comunismo tem muitos problemas, sendo um deles a ausência de chefias, líderes ou responsáveis máximos quando todos somos responsáveis, não tendo ninguém para culpar a não ser nós mesmos sempre que tudo corre mal e tudo corre bem. E isto não só é uma grande chatice, é também difícil de compreender.
E o problema do Comunismo é votar de mão no ar e não secretamente, respeitando opiniões contrárias, procurando saber, debater, aprender ao sabor dos tempos para assim viver, sem morrer, século XXI adentro. O maior problema do Comunismo é ainda estar por acontecer, sendo um ideal para o qual se trabalha e luta para que nunca, mas mesmo nunca, o Homem volte a explorar o Homem. E, apesar de não existir, saber todo o mal que se fez em seu nome para que hoje tantos lutem ferozmente sempre que um trabalhador se levanta a exigir que é seu por direito.
Mas se não existe, há-de existir, e o problema dos comunistas é saberem ser a razão da História, de pouco importando a celebração deste dia por vir quando se trabalha em prol das gerações futuras e se vive esta alegria. O problema da Venezuela não é ser de esquerda, radical ou comunista.
O problema da Venezuela é ter petróleo e, quiçá, “[nuclear] weapons” no sentido de uma mais que provável intervenção estrangeira. Não tivesse petróleo e, estou certo, os venezuelanos poderiam ser livres e o mundo inteiro não deixaria de girar por isso.
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