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2017/11/26

Kerenskys, Mários e Carlos, Tudo Fruta do Chão

Kerenskys, Mários e Carlos, Tudo Fruta do Chão
Escrevia o Rafael Silva no Manifesto 74 , aqui há umas semanas, «que se a força da independência emanar do povo, ela por si só vencerá. Se emanar de gabinetes ou dos interstícios do parlamentarismo oco e burocrata, não passará de um gigantesco fracasso.».

Passados 20 dias os intervenientes do que foi uma janela revolucionária começam a levantar o véu sobre o que se passou nos gabinetes, nos interstícios do poder oco e burocrata e nas cabeças dos burgueses que cavalgaram o povo das ruas.

Desta vez foi o Carlos, não o príncipe windsoriano mas o burguês Puigdemont. Se os kerenskys e os mários do passado nunca tiveram dúvidas sobre a burguesa necessidade de correr com o povo das ruas para lhe cercear ânsias de poder, este Carlos teve dúvidas, no último instante hesitou sobre a melhor forma de tirar o povo das ruas. Apaziguá-lo com uma independenciazinha republicana ou mandá-lo para casa com umas eleiçõezinhas monárquicas. Há noite, sozinho em casa, decidiu recuar, voltar aos doces braços da sonolenta monarquia. Mas ao acordar, pela manhã, o povo das ruas lá o empurrou, e ele, titubeante, lá declarou a independência. Dizem agora que a contragosto. Dizem.

Razão tem o Rafael Silva.

E não, esclareça-se já. Eu não fui partidário de primeira hora de uma Catalunha independente. Ainda hoje me sinto dividido nessa questão. Ainda hoje hesito entre os princípios impostos por um cosmopolita internacionalismo que quer derrubar todas as fronteiras e a realidade de um povo na rua a levantar uma fronteira nacionalista, republicana verdade seja dita e notada, mas burguesa e nacionalista, frise-se. Agora, uma vez espartilhado entre o povo das ruas e a repressão da monarquia castelhana não pude vacilar, deixei de ter escolha, a reacção monárquica empurrou-me para o lado certo da barricada e aí chegado os catalães escolheram por mim.

Só aqui chegado, a este lado da barricada, mais por imposições alheias do que por livre e antecipada escolha, consegui ver no burguês e republicano levantamento nacionalista catalão o que não foi e podia ter sido.

Não foi uma revolução. Felizmente? Infelizmente? Não sei. Sei que a esquerda revolucionária, a que pugna por transformar o mundo, parece já não saber liderar revoluções, aparenta ter perdido esse conhecimento na medida inversa em que o poder capitalista aprendeu a provocá-las, aqui nas ucranianas europas, lá pelas líbias bordas mediterrânicas ou nos longínquos brasis sul-americanos. Estaremos nós no século das revoluções regressistas, reaccionárias? Até quando? Até onde os deixaremos continuar a roubar impunemente o nosso trabalho?

Mas foi qualquer coisa. Foi qualquer coisa de fresco, solidário, recheado de risos e sorrisos, cravos e vilas morenas, gente com filhos nas ruas, pacíficos, sorridentes. Violento só o poder castelhano, personificado por uma guarda civil militarizada e respaldado no dinossáurio olé-franquismo. Foi uma janela revolucionária, foram momentos em que quem mandava não conseguia impor e quem obedecia não se sujeitava, foram umas horas em que o povo se apoderou das urnas e votou na República, uma e outra vez, foram umas horas em que o poder esteve na rua. Faltou quem o agarrasse, quem o liderasse e o conduzisse a algo de mais profundo. Entretanto desfez-se em desistências, fugas e prisões.

Como resultado, vamos ter, dizem as sondagens burguesas, um parlamento catalão de onde os conservadores monárquicos do PPC serão varridos e os independentistas conservadores reduzidos a um terço da sua atual representação. Tudo isto para serem substituídos pelos C's, bombeiros de serviço reacionariamente neoliberais, que reinarão num segundo lugar com cerca de trinta eleitos. E aqui chegados fica o negro apagão da imprensa de classe ao serviço do Capital: o tão autodenominado global e objetivo El Pais esconde da capa as previsões para a evolução do Catalunya Sí que es Pot (CSQP)(*), agora Catalunya en Comú, onde estão os Comunistas da Catalunha. Na 1ª página completo silêncio, nada, nem uma palavra para quem tem 11 deputados no atual parlamento, tantos como o monárquico e reacionário PPC de extrema-direita. Nem uma palavra sobre a esquerda que, de acordo com a sondagem deles, passará a contar com o dobro dos deputados do PPC. A objetividade jornaleiristica da imprensa de classe faz-se destas cirúrgicas e omnipresentes omissões, destas omniausências.

(*) Cataluña Si Se Puede em castelhano.

2017/11/05

A Castelhana (In) Justiça de Classe

Independencia, desobediencia
E, ainda sobre a (in)justiça castelhana, lembremo-nos do que ela fez ao juiz que se atreveu a querer investigar o genocídio franquista. Lembremo-nos que o honesto burguês  Baltazar Garçon está suspenso das suas funções.

Lembremo-nos de que por pouco não foi preso quando quis abrir as valas comuns franquistas onde jazem os corpos dos heróis republicanos, homens e mulheres que defenderam a legalidade republicana, democraticamente sufragada e golpisticamente afogada num mar de sangue, violência e tortura pelo caudilho que, de áfrica, veio repor a monarquia dos bourbons, nunca democraticamente votada, nunca democraticamente sufragada, e que agora  se arroga de uma qualquer (in)justiça para punir homens e mulheres eleitos com um programa que garantia a execução de um referendo.

Lembremo-nos sempre que a justiça espanhola continua a ser, antes de mais, a justiça franquista, falangista, fascista, criada em cima dos cadáveres republicanos.

E porque o Rafael Silva levanta a lebre da (in)justiça castelhana na repressão das livres aspirações do povo catalão, vou aqui arranjar-lhe um outro poiso para ficar mais à mão. @Refer&ncia

Catalunha: ou o Povo ou Nada
(Rafael Silva, in Manifesto74, 2017/11/04)
O escândalo de corrupção conhecido como “caso Gürtel”, envolvendo directamente o Partido Popular espanhol e alguns dos seus mais destacados membros, começou em Novembro de 2007 e, volvidos dez longos anos, ainda não se acha concluído pela justiça espanhola. Em Julho deste ano, o chefe de governo, Mariano Rajoy, o ultimamente tido como arauto da justiça e da legalidade, foi ouvido pelas autoridades para dizer que “desconhecia” as questões económicas e financeiras do seu partido, até porque, à altura dos factos, se ocupava apenas de “questões políticas”. Outro dos casos de corrupção no mesmo país, desta feita envolvendo membros da família real – o caso Nóos ou Urdangarín – levou sete anos a ser concluído. Terminou com a sentença de prisão para Iñaki e uma ténue multa à infanta Cristina, que, coitada, “não sabia de nada”. Ou seja, eis a duplicidade da justiça que alguns alegam existir no seio da “pura” e “democrática” Espanha “constitucional”: anos e anos a julgar casos de complexa mas comprovada corrupção; escassos dias para meter na cadeia todo um governo catalão democraticamente eleito pelo povo!