Vale sempre a pena ler e reler quem, remando contra a maré da história escrita pelos vencedores, continua a olhar para esse Maio meio centenário em que as esperanças eram todas e os resultados foram parcos.
A "não-revolução" do Manuel Augusto Araújo, que abaixo se reproduz, interessa desde logo porque nos fala das raízes e das involuções dos grandes protagonistas, ou nisso tornados pelos media que escrevem a história dos vencedores. Fala-nos nos Cohn-Bendits que hoje acompanham um Macron de pacotilha, fabricado ao gosto de clientes enganados, e dos Henrys-Levys, hoje atlantistas ferrenhos, conservadores que apelidam de racistas os multiculturalistas. Diz-me onde acabaste dir-te-ei quão enganado andaste, ou melhor, dir-te-ei quão bem andaste a enganar tolos nesses idos de maio.
Mas não se fica pela referência ao simples trajecto dos então grandes revolucionários e hoje instalados burgueses. Vai mais longe. Vai mais longe e dá-nos a ler algumas das pérolas da Internacional Situacionista que, já nesses idos de Maio, apelava à espontaneidade das massas, por oposição à sua organização que estaria já fora de moda, tal como já então estariam fora de moda os partidos, pelos Situacionistas empurrados para a amálgama da "política especializada" e onde podemos adivinhar o actual e neo-liberal dizer d'"os politicos" que, para estes sempre instalados e muito experimentados burgueses, sempre foram e continuam a ser "todos iguais", mas olhem que não, olhem que não são todos iguais e há mesmo alguns muito diferentes.
Mas sabem o que é mais importante para mim? É que eu consigo imaginar-me de um mesmo lado da barricada com essas versões das juventudes deles. Também eu quero gritar que «a criação é a mais alta forma de actividade humana e a arte a forma mais alta de criação», também eu quero o mar das praias que estão logo por baixo da calçadas de granito. Também para mim, mas hoje, passados cinquenta anos, a esperança só pode vir dos desesperados. Mas isso sou eu, de esquerda, solidário, comunista, que quero transformar o mundo e aprendi com a história que só organizadamente o poderemos fazer. Que o primeiro passo para as praias de areia dourada é o fim da exploração do Trabalho pelo Capital. Que para nos libertar a todos para um mundo de criatividade, não basta "decretar a «felicidade permanente», é preciso primeiro acabar com quem nos nega o pão da felicidade e o conhecimento criativo. Mas isso sou eu, porque nem mesmo as suas versões de Maio me quiseram ao lado deles, nas barricadas que já então eram só deles. Hoje sou eu que não os posso aceitar do meu lado da barricada, hoje eles são já claramente inimigos de classe. Te-lo-ão sido sempre? @Refer&ncia
Maio 68, a não-revolução
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 13 de Maio 2018)
O impulso revolucionário é desviado para o território do espectáculo. Os mitos dadaístas e anarquistas na política e na arte aterram, com a Internacional Situacionista, em Paris, no Maio 68.
Maio 68 faz cinquenta anos. A 13 de Maio a França assistiu à maior greve geral de sempre, que paralisou o país. Uma greve só comparável à greve de 1936 e à que antecedeu a Comuna de Paris. A maior greve geral que alguma vez aconteceu na Europa ou em qualquer parte do mundo.
Era o culminar de lutas operárias que se tinham intensificado desde os princípios dos anos 60, com lutas enquadradas, algumas desenquadradas, pelas estruturas sindicais, e das lutas estudantis desse ano.
Estudantes e operários confluíram nesse dia numa batalha contra o poder gaulista, corporizado por um general reaccionário que até aí tinha a maior oposição em Miterrand, um político oportunista.
Maio 68 destrói o jogo de xadrez em que esses dois filibusteiros se enfrentavam. Destrói o jogo mas não destrói o tabuleiro. O jogo irá continuar com outros gambitos e, como os lances imediatos e os seguintes a curto e médio prazo mostraram, são eles que acabam por sair triunfantes.
«Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação. Só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir.»(Sérgio Godinho)
Mostrar mensagens com a etiqueta #Anarquismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta #Anarquismo. Mostrar todas as mensagens
2018/05/13
2018/04/30
História - Passado Com Vista Para o Futuro
Da Federação Maximalista à fundação do Partido Comunista Português
(Domingos Abrantes in DORL.pcp.pt)
A Federação Maximalista Portuguesa foi fundada há 90 anos por iniciativa de um grupo de destacados dirigentes sindicais profundamente ligados à luta dos trabalhadores e que, embora perfilhassem todos eles os ideais anarquistas, foram influenciados pelo impacto internacional da Revolução de Outubro na Rússia.
A FMP propunha-se como objectivo «difundir os princípios tendentes ao estabelecimento do socialismo comunista», assumindo como tarefa prática imediata defender a revolução russa e propagar os seus princípios.
Dois momentos relevantes assinalam e balizam a constituição da FMP: a apresentação da Declaração de Princípios/Estatuto orgânico e da sua direcção (Maio de 1919)1 e o começo da publicação do seu órgão «A Bandeira Vermelha»2 (5/X/1919).
(Domingos Abrantes in DORL.pcp.pt)
A Federação Maximalista Portuguesa foi fundada há 90 anos por iniciativa de um grupo de destacados dirigentes sindicais profundamente ligados à luta dos trabalhadores e que, embora perfilhassem todos eles os ideais anarquistas, foram influenciados pelo impacto internacional da Revolução de Outubro na Rússia.
A FMP propunha-se como objectivo «difundir os princípios tendentes ao estabelecimento do socialismo comunista», assumindo como tarefa prática imediata defender a revolução russa e propagar os seus princípios.
Dois momentos relevantes assinalam e balizam a constituição da FMP: a apresentação da Declaração de Princípios/Estatuto orgânico e da sua direcção (Maio de 1919)1 e o começo da publicação do seu órgão «A Bandeira Vermelha»2 (5/X/1919).
Subscrever:
Mensagens (Atom)