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2018/05/13

Ainda Maio'68 - à Revelia do Pensamento Dominante

Vale sempre a pena ler e reler quem, remando contra a maré da história escrita pelos vencedores, continua a olhar para esse Maio meio centenário em que as esperanças eram todas e os resultados foram parcos.

A "não-revolução" do Manuel Augusto Araújo, que abaixo se reproduz, interessa desde logo porque nos fala das raízes e das involuções dos grandes protagonistas, ou nisso tornados pelos media que escrevem a história dos vencedores. Fala-nos nos Cohn-Bendits que hoje acompanham um Macron de pacotilha, fabricado ao gosto de clientes enganados, e dos Henrys-Levys, hoje atlantistas ferrenhos, conservadores que apelidam de racistas os multiculturalistas. Diz-me onde acabaste dir-te-ei quão enganado andaste, ou melhor, dir-te-ei quão bem andaste a enganar tolos nesses idos de maio.

Mas não se fica pela referência ao simples trajecto dos então grandes revolucionários e hoje instalados burgueses. Vai mais longe. Vai mais longe e dá-nos a ler algumas das pérolas da Internacional Situacionista que, já nesses idos de Maio, apelava à espontaneidade das massas, por oposição à sua organização que estaria já fora de moda, tal como já então estariam fora de moda os partidos, pelos Situacionistas empurrados para a amálgama da "política especializada" e onde podemos adivinhar o actual e neo-liberal dizer d'"os politicos" que, para estes sempre instalados e muito experimentados burgueses, sempre foram e continuam a ser "todos iguais", mas olhem que não, olhem que não são todos iguais e há mesmo alguns muito diferentes.

Mas sabem o que é mais importante para mim? É que eu consigo imaginar-me de um mesmo lado da barricada com essas versões das juventudes deles. Também eu quero gritar que «a criação é a mais alta forma de actividade humana e a arte a forma mais alta de criação», também eu quero o mar das praias que estão logo por baixo da calçadas de granito. Também para mim, mas hoje, passados cinquenta anos, a esperança só pode vir dos desesperados. Mas isso sou eu, de esquerda, solidário, comunista, que quero transformar o mundo e aprendi com a história que só organizadamente o poderemos fazer. Que o primeiro passo para as praias de areia dourada é o fim da exploração do Trabalho pelo Capital. Que para nos libertar a todos para um mundo de criatividade, não basta "decretar a «felicidade permanente», é preciso primeiro acabar com quem nos nega o pão da felicidade e o conhecimento criativo. Mas isso sou eu, porque nem mesmo as suas versões de Maio me quiseram ao lado deles, nas barricadas que já então eram só deles. Hoje sou eu que não os posso aceitar do meu lado da barricada, hoje eles são já claramente inimigos de classe. Te-lo-ão sido sempre? @Refer&ncia

Maio 68, a não-revolução
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 13 de Maio 2018)
O impulso revolucionário é desviado para o território do espectáculo. Os mitos dadaístas e anarquistas na política e na arte aterram, com a Internacional Situacionista, em Paris, no Maio 68.

Maio 68 faz cinquenta anos. A 13 de Maio a França assistiu à maior greve geral de sempre, que paralisou o país. Uma greve só comparável à greve de 1936 e à que antecedeu a Comuna de Paris. A maior greve geral que alguma vez aconteceu na Europa ou em qualquer parte do mundo.

Era o culminar de lutas operárias que se tinham intensificado desde os princípios dos anos 60, com lutas enquadradas, algumas desenquadradas, pelas estruturas sindicais, e das lutas estudantis desse ano.

Estudantes e operários confluíram nesse dia numa batalha contra o poder gaulista, corporizado por um general reaccionário que até aí tinha a maior oposição em Miterrand, um político oportunista.

Maio 68 destrói o jogo de xadrez em que esses dois filibusteiros se enfrentavam. Destrói o jogo mas não destrói o tabuleiro. O jogo irá continuar com outros gambitos e, como os lances imediatos e os seguintes a curto e médio prazo mostraram, são eles que acabam por sair triunfantes.

2017/11/15

Mais Factos no Centenário da Revolução de Outubro

Primeiros decretos
Os Primeiros Decretos
(Café Central, in facebook 2017/11/15)

Na noite de 7 de Novembro, os operários armados rodeavam o Palácio De Inverno e o tomavam horas depois. Os operários contemplavam atónitos a riqueza e o luxo com que tinham vivido os czares durante anos. Pela primeira vez na história, a classe operária tomava as rédeas do Estado. Agora faltava levar o poder soviético a cada um dos cantos da Rússia e vencer a feroz resistência dos capitalistas para manter os seus privilégios. Mas, por onde começar? Como se destrói uma máquina estatal para criar outra?

No dia 8 de Novembro iniciava-se a obra legislativa da Grande Revolução Socialista de Outubro.

- O Decreto ao Mundo ou Decreto sobre a Paz

Foi esta a primeira norma do poder soviético. Nele se decreta a Paz sem anexações tal como deseja a imensa maioria da classe trabalhadora de qualquer país. O decreto proclama solenemente a sua vontade de assinar imediatamente um tratado de paz que faça cessar a guerra nas condições indicadas, igualmente equitativas para todos os povos sem excepção. Também elimina as negociações secretas e decreta uma trégua. Era a máxima prioridade naquele momento para a classe operária russa e europeia, acabar com uma guerra em que os operários morriam defendendo os interesses dos capitalistas.

- O Decreto da terra

Este decreto elimina a propriedade privada da terra. As grandes propriedades privadas, assim como as terras da Coroa, os conventos, a igreja, com todo o seu gado e utensílios, os seus edifícios e todas as dependências, passam a depender dos comités de terras das comarcas e dos sovietes de deputados camponeses do distrito. A única propriedade privada que este decreto mantém são as terras dos camponeses. Um fundo nacional de terras é criado para colocar à disposição dos camponeses. Proíbe-se a contratação, a terra é de quem a trabalha.


2017/11/05

As Revoluções no Centenário de Outubro

As massas na revolução
Por vezes, sempre menos do que gostaríamos, surgem pequenas pérolas de pensamento materialista-histórico que nos deixam com vontade de ler mais. Já não é a primeira vez que Manuel Loff nos brinda com esses pequenos prazeres. Chegado ao fim, fui à procura de mais, do resto do artigo. Não havia mais. Fiquei com a impressão de ter lido uma introdução, com a sensação de que muito mais haveria para ler.

As Revoluções no Centenário de Outubro
(Manuel Loff, in Público 2017/11/04)

Foi o acontecimento central da história do séc. XX”, dizia Eric Hobsbawm (A Era dos Extremos, 1994), “da mesma forma como a Revolução Francesa o foi do séc. XIX”. Sendo puros produtos da modernidade ocidental, em toda a sua contradição interna, a qual ajudaram a transformar como nenhum outro processo político, ambas foram transformadas em objetos históricos malditos por todas as direitas do mundo, que as tentaram desocidentalizar como se, numa rançosa lógica colonial, elas não fossem mais do que processos de mudança tumultuária às mãos de massas ignorantes e fanatizadas.