As FARC Entre a Esperança e a História
(Loic Ramirez, ODiário.info, 2018/10/11)
Diz-se que a História se repete; sem dúvida que é nisso que acreditam a maioria dos membros das FARC. Em 1984, a mais importante das guerrilhas da Colômbia assinava um cessar-fogo com o governo de Belisário Betancur. Nascida em 1964, a organização insurreccional FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo) agarrava a possibilidade de participar na vida política do país sem recurso às armas. Esta trégua deu origem à criação da União Patriótica [UP], um partido político legal [N.do T.: 1985] designado como o receptáculo em que deviam entrar os combatentes. E de imediato passou a ser o seu caixão. Reconvertidos em figuras públicas da política local e nacional, os antigos guerrilheiros tornaram-se alvos mais fáceis do que quando viviam nas florestas. E com eles, também um conjunto de militantes, mulheres e homens, que se lhes tinham juntado na UP, comunistas na sua maioria. Primeiro foi um camarada morto. Depois dois, três cinco, dez, cem… Sem se deter, a cruel soma de mortos e desaparecidos asfixia todas as forças da esquerda colombiana. O Estado-Maior da guerrilha dirige-se às suas tropas a partir de 1987, concluindo que toda a tentativa pacífica de conquista do poder se tinha transformado num suicídio. De 1985 a 2002, entre 3.000 e 5.000 vítimas enlutaram a União Patriótica. Do simples simpatizante até ao candidato às eleições presidenciais, todos foram alvo de uma repressão orquestrada pelos círculos mais reaccionários do Estado em colaboração com as Forças Armadas da Colômbia e grupos paramilitares. «Eles não conseguiram destruir politicamente o Partido, mas fizeram-no fisicamente», remata Fernando, quando se recorda deste período [1]. Comunista, este homem era membro da União Patriótica no Departamento de Meta (centro do País), «Nós eramos um grupo de 36 militantes, no nosso grupo, só 3 sobreviveram», assegura. sorrindo, barriga avantajada e os cinquenta anos visivelmente marcados, Fernando não parece um miraculado. No entanto, foi a opção de regressar à guerrilha em meados dos anos 80 o que lhe permitiu escapar das matanças e poder contar hoje as suas recordações.