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2018/12/05

Proletariado, chamem-lhe proletariado

Do artigo abaixo, interessa-me essencialmente o pedaço de ideologia dedicado ao conceito de classe e como se ganha essa consciência de classe.

Numa época de transição, durante uma revolução nas tecnologias de produção, importa discutir e compreender o processo de construção da consciência de classe que vai diferenciar uma classe de um saco de batatas.

Todo o debate em redor desta centralidade "classe e consciência de classe" é essencial para que os marxistas consigam voltar a liderar o proletariado. Para isso precisamos de saber onde ele anda, quais são as suas preocupações imediatas, quem são hoje em dia "as batatas", como é que ganham consciência de que podem ser mais do que batatas e qual o papel que um partido de vanguarda pode ter na fundamentação dessa consciência de classe.

Porque é no confronto com as contradições do imperialismo globalizado que o proletariado ganha consciência de classe e deixa de ser um mero saco de batatas.

Ouçamos o Mauro Iasi sobre o assunto:

2018/09/02

A Real Cuba Em Boa Prosa

CUBA
(Manuel Rocha, As Beiras, 2018/09/01)

Quando David carregou na funda a pedra que colheu num rio dali, Golias há de ter tido abundante vontade de rir. Dois metros de gente e uma espada de ferro não é grandeza que se despreze, sobretudo quando o volume do adversário não é de modo a aconselhar confrontos.

Mas nem sempre o que parece o é, pelo que, para a História e nas lições que dela se desprendem, coube a David passar aos vindouros a mensagem de que, nas coisas dos humanos, ser-se grande nunca é um dado adquirido. Havana era, até meados do século passado, o bordel dos Estados Unidos da América, abundante em servos e frutas tropicais, terra de clima ameno e gente amável, ainda por cima com queda para a música e para a dança (esta última em níveis de encanto a que, convenhamos, os descendentes das europas só chegam com muito esforço e dedicação – e, mesmo assim, sem qualquer garantia de sucesso à partida).

2018/08/25

Marx e o capital no século XXI

Marx e o capital no século XXI
(uma entrevista com David Harvey, blogue da Boitempo, 2018/08/18)

David Harvey fala sobre seu novo livro "A loucura da razão econômica: Marx e o capital no século XXI" em entrevista a David Denvir: "Tenho apostando na construção de alianças. Para construir alianças, você precisa ter uma imagem da totalidade de uma sociedade capitalista. Daí a importância de ler Marx hoje."
Publicado em 17/08/2018

Entrevista especial com David Harvey.

David Harvey é um dos marxistas mais influentes da atualidade. Geógrafo de formação, ele desenvolveu uma leitura bastante original da obra de Marx informada por uma sensibilidade às dinâmicas de urbanização que acompanham a história do capitalismo e suas crises. Seu mais novo livro, A loucura da razão econômica: Marx e o capital no século XXI, é um esforço culminante desse projeto intelectual e político. Nele, Harvey se propõe a atualizar o pensamento de Karl Marx à luz das novas transformações da globalização capitalista contemporânea. Disparando contra a “loucura da razão econômica”, ele revela a total impotência da dita “ciência econômica” imperante para lidar com os problemas postos pela crise atual do capitalismo. Trata-se de uma obra de amplo alcance temático – abordando fenômenos diversos como bitcoin, inteligência artificial, a ascensão do fascismo, os megaprojetos chineses e a crise da Zona Euro – que procura fornecer um instrumental teórico à altura das complexidades e armadilhas da lógica do capital para que os diversos movimentos e organizações sociais possam calibrar melhor suas estratégias políticas diante do inimigo comum.

Na semana que vem, David Harvey desembarca no Brasil para uma série de atividades de lançamento do livro. Confira a agenda completa dele ao final deste post. Para esquentar, reproduzimos abaixo a entrevista que ele deu a Daniel Denvir, colaborador da Jacobin, para o The Dig. A tradução é de José Carlos Ruy, do Portal Vermelho.

Boa leitura!

* * *

Daniel Denvir: Você tem lecionado sobre O capital, de Marx, por um bom tempo. Faça uma breve visão geral de cada um dos três volumes.

David Harvey: Marx está muito nos detalhes, e às vezes é difícil entender exatamente no que consiste sua concepção de capital. Mas na verdade é simples. Os capitalistas começam com certa quantia de dinheiro, levam esse dinheiro ao mercado e compram algumas mercadorias, como meios de produção e força de trabalho, que colocam para trabalhar num processo de produção que gera novas mercadorias. Elas são vendidas por dinheiro, com um lucro. Então o lucro é redistribuído de várias maneiras, na forma de aluguéis e juros, e então circula de volta para aquele dinheiro, e reinicia o ciclo de produção.

É um processo de circulação. E os três volumes de O capital lidam com diferentes aspectos desse processo. O primeiro trata da produção. O segundo lida com a circulação e o que chamamos de “realização” – a maneira como a mercadoria é convertida em dinheiro. E o terceiro lida com a distribuição – quanto vai para o proprietário, quanto vai para o financista, quanto vai para o comerciante, antes que tudo seja revirado e reenviado de volta ao processo de circulação.

É o que tento ensinar, para que as pessoas entendam as relações entre os três volumes de O capital e não se percam totalmente em nenhum volume ou em partes deles.


2018/07/30

A Batalha Onde Nasceu Angola

A Batalha de Quifangondo
(Martinho Junior, Luanda, 2009/11/13)

A batalha de Quifangondo foi um das mais decisivas para a derrota da “operação de trespasse” de Angola, da bandeira de Portugal, para uma bandeira representativa das ingerências neo coloniais em África.

A partir da Conferência de Alvor, a 15 de Janeiro de 1975, a abdicação de Portugal abrindo espaço à “arquitectura” de Henry Kissinger, tinha de contar com um tempo curto, uma espécie de “contra relógio”, visando impedir a independência angolana e colocar em Luanda um regime dócil e de suas próprias conveniências, o que seria vital tanto para a sobrevivência do regime de Mobutu, quanto para a sobrevivência do regime do “apartheid” na África do Sul. (1)

De facto era imperioso para a “arquitectura” de Henry Kissinger evitar que com o MPLA se tornasse possível surgir em Angola alguém que assumisse que “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul estivesse a continuação da nossa luta”, a continuação da luta contra o colonialismo português, num processo que correspondesse à descolonização total do continente africano. (2)

2017/11/03

Aos Cidadãos da Rússia

A 7 de Novembro, pelas 10:00 da manhã, completar-se-ão 100 anos sobre a distribuição deste panfleto* pelas ruas de Petrogrado.

Dirigindo-se «aos cidadãos da Rússia», o «Comité Militar Revolucionário do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado» informava que:
1. O governo provisório fora deposto.
2. O poder de estado passara para as mãos do Comité Militar Revolucionário do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado.
3. As causas pelas quais o povo lutara estavam asseguradas:
- A proposta imediata de uma paz democrática,
- A supressão da propriedade latifundiária da terra,
- O controlo operário sobre a produção,
- A criação de um Governo Soviético

A primeira revolução liderada por um partido comunista acabara de triunfar.

Os anos seguintes seriam de afirmação do poder soviético. O rechaçar de uma invasão por parte das potencias burguesas, uma guerra civil, um «comunismo de guerra», uma revolução agrária, a eliminação da propriedade privada dos meios de produção, uma nova politica económica, uma nova arte, uma nova educação, uma mulher com os mesmos direitos do homem, e mais, muito mais.

Depois, bem, depois muita água correu por baixo das pontes e o mundo nunca mais foi o mesmo. Durante 70 anos várias gerações viram um outro mundo, um mundo onde não havia quem vivesse do trabalho alheio, onde todos podiam trabalhar por um salário honroso, onde tinham direito a um teto, a cuidados médicos, a uma educação de qualidade.

Foi perfeito? Não, não foi. Mas foi só a segunda tentativa. E correu muito melhor e durou muito mais do que os meses da comuna.

Podia ser melhor? Podia. Pode! Tem de ser. Quem fez esta já não faz outra, mas nós temos o dever de aprender com os erros e os sucessos de quem viveu aquela experiência de 70 anos. Até esse dia, importa celebrar aquele 7 de Novembro que há 100 anos abriu os olhos da humanidade para um outro mundo. Um mundo sem amos.

  * o cartaz foi roubado ao abrilabril ;-)