Está escuro no pico do meio-dia
(Pepe Escobar, in ODiario.info, 2018/11/04)
Jean Baudrillard definiu um dia o Brasil como “a clorofila do nosso planeta”. Contudo, um país tão amplamente associado em todo o mundo ao poder suave duma joie de vivre criativa acaba de eleger um fascista para presidente.
O Brasil é uma terra dilacerada. O antigo paraquedista Jair Bolsonaro foi eleito com 55,63% dos votos. Mas 31 milhões de votos foram de abstenção, ou brancos ou nulos, um autêntico recorde. Foram 46 milhões os brasileiros que votaram no candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, professor e antigo prefeito de São Paulo, uma das gigantescas metrópoles do Sul global. O facto impressionante é que mais de 76 milhões de brasileiros não votaram em Bolsonaro.
O seu primeiro discurso, como presidente, exalava o sentimento de uma guerra santa degradada, feita por uma seita fundamentalista, entrelaçada com uma vulgaridade omnipresente e a exortação a uma ditadura de inspiração divina, como a via para uma nova Era de Ouro brasileira.