«Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação. Só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir.»(Sérgio Godinho)
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2024/09/06
2021/09/02
A Festa do Avante (re)Começa Amanhã!
A Festa do Avante! por quem lá vai todos os anos, desde 1976
(Catarina Pires, Diário de Noticias, 2020/09/05)
A multidão da primeira Festa, na antiga FIL, e a rampa cheia do Jamor, o Chico Buarque e a chuvada no Alto da Ajuda, as moscas de Loures, o porto seguro da Atalaia e a certeza de que este ano é mais importante do que nunca fazer a Festa. O Avante! nas palavras de quatro veteranos.
Era madrugada quando chegou a Alcântara, à antiga FIL, numa camioneta vinda de Castelo Branco, onde participava nas campanhas de alfabetização do Movimento Alfa. Manuel Pires da Rocha, 58 anos, músico e violinista da Brigada Victor Jara, tinha 14 anos e muito sono naquele dia que voltava a ser inicial inteiro e limpo. Depressa acordou.
"Foi brutal porque aquilo era imenso. Estamos a falar de Portugal em 1976, pouco depois do 25 de novembro. O contexto histórico de fim de revolução amplia o que foi a realização da primeira Festa do Avante! Lembro-me de me sentir um gajo grandíssimo, embora só tivesse 14 anos. O primeiro impacto foi logo à entrada - ainda guardo a EP - e depois lá dentro foi o delírio. Nunca tinha visto - nem eu nem ninguém - tantos palcos, tantos concertos, tantas coisas ligadas à revolução, entrávamos e éramos logo levados pela multidão, entre o aperto e a euforia".
(Catarina Pires, Diário de Noticias, 2020/09/05)
A multidão da primeira Festa, na antiga FIL, e a rampa cheia do Jamor, o Chico Buarque e a chuvada no Alto da Ajuda, as moscas de Loures, o porto seguro da Atalaia e a certeza de que este ano é mais importante do que nunca fazer a Festa. O Avante! nas palavras de quatro veteranos.
Era madrugada quando chegou a Alcântara, à antiga FIL, numa camioneta vinda de Castelo Branco, onde participava nas campanhas de alfabetização do Movimento Alfa. Manuel Pires da Rocha, 58 anos, músico e violinista da Brigada Victor Jara, tinha 14 anos e muito sono naquele dia que voltava a ser inicial inteiro e limpo. Depressa acordou.
"Foi brutal porque aquilo era imenso. Estamos a falar de Portugal em 1976, pouco depois do 25 de novembro. O contexto histórico de fim de revolução amplia o que foi a realização da primeira Festa do Avante! Lembro-me de me sentir um gajo grandíssimo, embora só tivesse 14 anos. O primeiro impacto foi logo à entrada - ainda guardo a EP - e depois lá dentro foi o delírio. Nunca tinha visto - nem eu nem ninguém - tantos palcos, tantos concertos, tantas coisas ligadas à revolução, entrávamos e éramos logo levados pela multidão, entre o aperto e a euforia".
2020/09/05
2020/08/26
Não há festa como esta
«Para eles será sempre milagre nós irmos, como cantava o Zeca, sem sabermos de dores nem mágoas. Lembras-te? Das praias do mar onde o vento cortou amarras na baía do Seixal? Lembras-te das vagas, virando a proa à nossa galera, no mar de gente a descer à noite em direcção ao Palco 25 de Abril? Lembras-te de navegarmos na fresca brisa, onde a vitória ainda nos espera para dançar a carvalhesa? E não andamos ainda todos, de formas diferentes, é certo, à procura da moura encantada? E não esperamos, no fundo, que ainda venha a manhã clara?» (António Santos, Manifesto74)
Precisamos cada vez mais de textos bonitos, textos que nos espelhem a alma, nos acalentem a esperança. Nestes tempos de crescentes escuridões, do neoliberalismo, da pandemia, da precariedade, do desemprego, precisamos de coisas bonitas, da beleza da festa que é de todos os que a quiserem fazer. Vem isto a propósito da campanha de escuridão com que os donos disto tudo querem trancar as nossas almas do lado de fora da festa. Não vão conseguir. Vamos entrar pela festa dentro com toda a esperança num mundo onde a beleza seja de todos.
2019/09/02
2ª - 3ª - 4ª - 5ª - Festa Festa Festa
4 dias ->3 dias -> 2 dias -> Só falta 5ª -> Festa Festa Festa!
Mas aparece!
2018/09/11
Festa do Avante - Outra Crónica
Um dia no Avante!: "Talvez o meu pai tenha razão e eu tenha ido bebé de colo"
(Catarina Pires, Diário de Notícias, 2018/09/08)
Ontem, Jerónimo de Sousa declarou aberta a 42.ª edição da Festa do Avante!, depois de agradecer, como de costume, aos construtores da festa, camaradas e amigos, que, com o seu trabalho militante e voluntário, a ergueram, para desfrute de todos nós, os visitantes. "Mais ninguém te faz festas com esta", lê-se numa t-shirt à venda no stand do Porto. E é bem capaz de ser verdade.
Chegar à Quinta da Atalaia, Amora, Seixal (temos sempre que acrescentar Amora, Seixal, porque há mais Amoras na terra), na primeira sexta-feira de setembro, com o sol a descer, é como voltar a casa. Não se explica muito bem. Entra-se ali e está-se em casa.
(Catarina Pires, Diário de Notícias, 2018/09/08)
Ontem, Jerónimo de Sousa declarou aberta a 42.ª edição da Festa do Avante!, depois de agradecer, como de costume, aos construtores da festa, camaradas e amigos, que, com o seu trabalho militante e voluntário, a ergueram, para desfrute de todos nós, os visitantes. "Mais ninguém te faz festas com esta", lê-se numa t-shirt à venda no stand do Porto. E é bem capaz de ser verdade.
Chegar à Quinta da Atalaia, Amora, Seixal (temos sempre que acrescentar Amora, Seixal, porque há mais Amoras na terra), na primeira sexta-feira de setembro, com o sol a descer, é como voltar a casa. Não se explica muito bem. Entra-se ali e está-se em casa.
2018/09/10
Festa do Avante - Muito Mais Do Que O Maior Festival De Verão
A Festa do Avante! é muito mais do que o maior festival de verão, é A Festa.
Três dias mal chegam para ver a Festa do Avante!, e esta Festa não é para ver é para viver.
É uma Festa feita por homens e mulheres, para ser vivida por gente de todas as idades. Passeada, Lida, Ouvida, Comida, Cheirada - Vivida.
Para quem nunca lá foi, a cartelização censória encarrega-se de ir deixando a cortina de fumo e silenciamento com que os donos disto tudo mandam calar o mundo novo que por ali regressa ano após ano, com uma teimosia própria dos heróis que a constroem.
Para quem lá vai uma vez, fica a sensação de um mundo a descobrir que ainda não foi totalmente desvendado. Almoçou-se em Sesimbra, jantou-se na Madeira, os concertos levam-nos a noite, por vezes as tardes, entrevêm-se debates e palestras, debate-se tudo, na cidade internacional o mundo, no Alentejo o sequeiro, no espaço central uma política de esquerda, vê-se no mapa que ainda falta o parque de merendas e a esplanada da festa e o polidesportivo e os matraquilhos e a roda gigante. A ver se para o ano ando nisto só para ver as vistas.
Para os outros, os comunistas e amigos que por lá passam anualmente para rever amigos, músicas, paladares, para viver a festa, a Festa é nova todos os anos, mais relva, mais espaço, uma cidade internacional a transbordar para fora das muralhas, com a China, a Catalunha e a Galiza já pela alameda abaixo, a Quinta do Cabo a obrigar às subidas e descidas, o Pavilhão Central com um café que se espraia no rio.
Só para dar uma ideia do que por lá se fez nestes três dias, só para tentar explicar porque é que me dói não ver a Festa abrir telejornais e encher primeiras páginas, enquanto 50 jotinhas reunidos para ouvir o tina(*) dos mesmos ddt's(*), chamam jornaleiros dos quatro cantos do país, ficam aqui umas imagens do Programa da Festa. Isto sim é uma Festa!
Até para o ano.
Na Festa.
Não há festa como Esta ;-)
(*) tina - there is no alternative - não há alternativa dizem os ddts' - donos disto tudo. Clique aqui para consultar o wikicionário da Refer&encia.
Três dias mal chegam para ver a Festa do Avante!, e esta Festa não é para ver é para viver.
É uma Festa feita por homens e mulheres, para ser vivida por gente de todas as idades. Passeada, Lida, Ouvida, Comida, Cheirada - Vivida.
Para quem nunca lá foi, a cartelização censória encarrega-se de ir deixando a cortina de fumo e silenciamento com que os donos disto tudo mandam calar o mundo novo que por ali regressa ano após ano, com uma teimosia própria dos heróis que a constroem.
Para quem lá vai uma vez, fica a sensação de um mundo a descobrir que ainda não foi totalmente desvendado. Almoçou-se em Sesimbra, jantou-se na Madeira, os concertos levam-nos a noite, por vezes as tardes, entrevêm-se debates e palestras, debate-se tudo, na cidade internacional o mundo, no Alentejo o sequeiro, no espaço central uma política de esquerda, vê-se no mapa que ainda falta o parque de merendas e a esplanada da festa e o polidesportivo e os matraquilhos e a roda gigante. A ver se para o ano ando nisto só para ver as vistas.
Para os outros, os comunistas e amigos que por lá passam anualmente para rever amigos, músicas, paladares, para viver a festa, a Festa é nova todos os anos, mais relva, mais espaço, uma cidade internacional a transbordar para fora das muralhas, com a China, a Catalunha e a Galiza já pela alameda abaixo, a Quinta do Cabo a obrigar às subidas e descidas, o Pavilhão Central com um café que se espraia no rio.
Só para dar uma ideia do que por lá se fez nestes três dias, só para tentar explicar porque é que me dói não ver a Festa abrir telejornais e encher primeiras páginas, enquanto 50 jotinhas reunidos para ouvir o tina(*) dos mesmos ddt's(*), chamam jornaleiros dos quatro cantos do país, ficam aqui umas imagens do Programa da Festa. Isto sim é uma Festa!
Até para o ano.
Na Festa.
Não há festa como Esta ;-)
(*) tina - there is no alternative - não há alternativa dizem os ddts' - donos disto tudo. Clique aqui para consultar o wikicionário da Refer&encia.
Festa do Avante - Sobre o Vil Silenciamento
O Perigo
(Anabela Fino, Avante!, Ed. Especial, 2018/09/09)
A receita é velha de mais de quatro décadas, mas à falta de melhor continua a ser usada, seja porque escasseia a imaginação seja porque se acredita que ainda pode dar frutos. A coisa é simples: primeiro ignora-se, esconde-se, omite-se; depois ataca-se com venenos vários, mentiras torpes, malévolas insinuações. Salvo as raras e honrosas excepções, que as há, é assim que a Festa é tratada na comunicação social dominante desde a sua primeira edição. Tanta persistência, tanta raiva, tanto ódio figadal tem obviamente una razão de ser: já que a morte tantas vezes anunciada do ideal comunista se revelou e revela manifestamente exagerada, há que continuar a malhar (ainda que o ferro esteja frio) nem que seja para apresentar serviço ou aliviar a bílis.
(Anabela Fino, Avante!, Ed. Especial, 2018/09/09)
A receita é velha de mais de quatro décadas, mas à falta de melhor continua a ser usada, seja porque escasseia a imaginação seja porque se acredita que ainda pode dar frutos. A coisa é simples: primeiro ignora-se, esconde-se, omite-se; depois ataca-se com venenos vários, mentiras torpes, malévolas insinuações. Salvo as raras e honrosas excepções, que as há, é assim que a Festa é tratada na comunicação social dominante desde a sua primeira edição. Tanta persistência, tanta raiva, tanto ódio figadal tem obviamente una razão de ser: já que a morte tantas vezes anunciada do ideal comunista se revelou e revela manifestamente exagerada, há que continuar a malhar (ainda que o ferro esteja frio) nem que seja para apresentar serviço ou aliviar a bílis.
Festa do Avante - Uma Crónica
O Relógio da Festa
(Adriano Miranda, Público, 2018/09/09)
Com dez anos, naquele mês de Setembro, pensei que toda a população do mundo estava junto ao rio Tejo, em Lisboa. Nunca tinha visto e sentido tanta gente. Por vezes não se conseguia andar. Olhava para cima, na tentativa de alertar os adultos par o facto de estar ali. Sentia-me apertado. Quase esmagado. Aquela massa compacta de gente estava feliz. Invadiam todos os lugares da antiga FIL. Eram milhões de conversas, milhares de sorrisos, infinitos abraços. E no domingo à tarde o comício teve de vir para a rua. A grande nave era pequena de mais.
Era a primeira edição da Festa do Avante!. Estávamos em 1976. Nunca se tinha visto nada igual. Foi a primeira vez que vi um palco gigante. Que vi músicos a sério. Sentia-me bem. A palavra que mais se ouvia era “camarada”. A segunda, “liberdade”. Tudo era novidade. Corredores de política. Corredores de comida. Corredores de música. Corredores de arte. Mas o espaço que ficou gravado na minha memória, porque passei lá imenso tempo, era o Espaço Internacional. Milhares de pessoas queriam ver o pavilhão da União Soviética, da RDA ou da Checoslováquia. Ali estavam os países socialistas e os partidos irmãos. Ali estava o imaginário.
2017/09/11
Grande Reportagem de uma Grande Homenagem
Grande texto, grande reportagem de uma grande homenagem.
Tudo em grande como costuma sair da pena do "Manel do Violino".
Obrigado Manel, não pares de escrever violino, perdão, de tocar violino.
A música dos dias em que o futuro nasceu
(Manuel Pires Rocha in Avante!, 2017/09/07)
Quando as primeiras notas da Carvalhesa soaram nas colunas de som do Palco 25 de Abril, a orquestra e o coro estavam já instalados e prontos a iniciar o Concerto “100 Anos de Futuro”. A praça foi então tomada pela dança colectiva que sempre acompanha o toque da velha moda transmontana. Por breves instantes a Sinfonietta de Lisboa e o Coro Lisboa Cantat foram o público, e o público o protagonista.
Calado o brado das muitas vozes, acendidas as luzes sobre o palco, instalado o silêncio na praça, por sobre o sussurro da Festa, as madeiras abriram caminho às vozes da primeira das Danças Polovtsianas de Borodine, no primeiro dos maravilhamentos do Concerto. Portuguesas as vozes mas russo o cantar, Alexander Borodine moldando a música do seu povo. Era o surgimento de uma nova Rússia, a vida colectiva construída a partir da imagem sonora popular, um traço mais na criação da consciência revolucionária que viria a dar origem à Revolução de Outubro. Vibrante a orquestra, as Danças foram fixando no relvado, ainda pouco pisado, quem passava pela avenida que circunda a praça.
Tudo em grande como costuma sair da pena do "Manel do Violino".
Obrigado Manel, não pares de escrever violino, perdão, de tocar violino.
A música dos dias em que o futuro nasceu
(Manuel Pires Rocha in Avante!, 2017/09/07)
Quando as primeiras notas da Carvalhesa soaram nas colunas de som do Palco 25 de Abril, a orquestra e o coro estavam já instalados e prontos a iniciar o Concerto “100 Anos de Futuro”. A praça foi então tomada pela dança colectiva que sempre acompanha o toque da velha moda transmontana. Por breves instantes a Sinfonietta de Lisboa e o Coro Lisboa Cantat foram o público, e o público o protagonista.
Calado o brado das muitas vozes, acendidas as luzes sobre o palco, instalado o silêncio na praça, por sobre o sussurro da Festa, as madeiras abriram caminho às vozes da primeira das Danças Polovtsianas de Borodine, no primeiro dos maravilhamentos do Concerto. Portuguesas as vozes mas russo o cantar, Alexander Borodine moldando a música do seu povo. Era o surgimento de uma nova Rússia, a vida colectiva construída a partir da imagem sonora popular, um traço mais na criação da consciência revolucionária que viria a dar origem à Revolução de Outubro. Vibrante a orquestra, as Danças foram fixando no relvado, ainda pouco pisado, quem passava pela avenida que circunda a praça.
2017/09/04
MEC foi à Festa do Avante! (IV)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (IV)
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(conclusão)
Espero que não se ofendam os sportinguistas e comunistas quando eu disser que estar na Festa do Avante! foi como assistir à festa de rua quando o Sporting ganhou o campeonato. Até aí eu tinha a ideia, como sábio benfiquista, que os sportinguistas eram uma minúscula agremiação de queques em que um dos requisitos fundamentais era não gostar muito de futebol. Quando vi as multidões de sportinguistas a festejar – de todas as classes, cores e qualidades de camisolas -, fiquei tão espantado que ainda levei uns minutos a ficar profundamente deprimido.
Por outro lado, quando se vê que os comunistas não fazem o favor de corresponder à conveniência instantaneamente arrumável das nossas expectativas - nem o PCP é o IKEA -, a primeira reacção é de canseira. Como quem diz:”Que chatice – não só não são iguais ao que eu pensava como são todos diferentes. Vou ter de avaliá-los um a um. Estou tramado. Nunca mais saio daqui.” Nem tão pouco há a consolação ilusória do pick and choose. ...É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas... Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Há uma frase do Jerónimo de Sousa no comício de encerramento que diz tudo. A propósito de Cuba (que não está a atravessar um período particularmente feliz), diz que “resistir já é vencer”. É verdade – sobretudo se dermos a devida importância ao “já”. Aquele “já” é o contrário da pressa, mas é também “agora”.
Na Festa do Avante! Não se vêem comunistas desiludidos ou frustrados. Nem tão pouco delirantemente esperançosos. A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles. Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar.
Na Festa do Avante! Sente-se a satisfação de chatear. O PCP chateia. Os sindicatos chateiam. A dimensão e o êxito da Festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Do ensimesmamento online, do relativismo ou niilismo ideológico. Chatear é uma forma especialmente eficaz de resistir. Pode ser miudinho – mas, sendo constante, faz a diferença. Resistir é já vencer. A Festa do Avante! é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espírito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante!: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas. Parabéns! E, para mais, pouquíssimo contrariado. (E só com um bocadinho de nada com medo)
In revista "Sábado" - Edição de 13 de Setembro de 2007
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(conclusão)
Espero que não se ofendam os sportinguistas e comunistas quando eu disser que estar na Festa do Avante! foi como assistir à festa de rua quando o Sporting ganhou o campeonato. Até aí eu tinha a ideia, como sábio benfiquista, que os sportinguistas eram uma minúscula agremiação de queques em que um dos requisitos fundamentais era não gostar muito de futebol. Quando vi as multidões de sportinguistas a festejar – de todas as classes, cores e qualidades de camisolas -, fiquei tão espantado que ainda levei uns minutos a ficar profundamente deprimido.
Por outro lado, quando se vê que os comunistas não fazem o favor de corresponder à conveniência instantaneamente arrumável das nossas expectativas - nem o PCP é o IKEA -, a primeira reacção é de canseira. Como quem diz:”Que chatice – não só não são iguais ao que eu pensava como são todos diferentes. Vou ter de avaliá-los um a um. Estou tramado. Nunca mais saio daqui.” Nem tão pouco há a consolação ilusória do pick and choose. ...É uma sólida tradição dizer que temos de aprender com os comunistas... Infelizmente é impossível. Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Há uma frase do Jerónimo de Sousa no comício de encerramento que diz tudo. A propósito de Cuba (que não está a atravessar um período particularmente feliz), diz que “resistir já é vencer”. É verdade – sobretudo se dermos a devida importância ao “já”. Aquele “já” é o contrário da pressa, mas é também “agora”.
Na Festa do Avante! Não se vêem comunistas desiludidos ou frustrados. Nem tão pouco delirantemente esperançosos. A verdade é que se sente a consciência de que as coisas, por muito más que estejam, poderiam estar piores. Se não fossem os comunistas: eles. Há um contentamento que é próprio dos resistentes. Dos que existem apesar de a maioria os considerar ultrapassados, anacrónicos, extintos. Há um prazer na teimosia; em ser como se é. Para mais, a embirração dos comunistas, comparada com as dos outros partidos, é clássica e imbatível: a pobreza. De Portugal e de metade do mundo, num Portugal e num mundo onde uns poucos têm muito mais do que alguma vez poderiam precisar.
Na Festa do Avante! Sente-se a satisfação de chatear. O PCP chateia. Os sindicatos chateiam. A dimensão e o êxito da Festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Do ensimesmamento online, do relativismo ou niilismo ideológico. Chatear é uma forma especialmente eficaz de resistir. Pode ser miudinho – mas, sendo constante, faz a diferença. Resistir é já vencer. A Festa do Avante! é uma vitória anualmente renovada e ampliada dessa resistência. ... Verdade se diga, já não é sem dificuldade que resisto. Quando se despe um preconceito, o que é que se veste em vez dele? Resta-me apenas a independência de espírito para exprimir a única reacção inteligente a mais uma Festa do Avante!: dar os parabéns a quem a fez e mais outros a quem lá esteve. Isto é, no caso pouco provável de não serem as mesmíssimas pessoas. Parabéns! E, para mais, pouquíssimo contrariado. (E só com um bocadinho de nada com medo)
In revista "Sábado" - Edição de 13 de Setembro de 2007
o MEC foi à Festa do Avante! (III)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (III)
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(Continuação)
A Exposição do Mundo português era “para inglês ver”, mas a Festa do Avante! em muitos aspectos importantes, parece mesmo inglesa. Para mais, inglesa no sentido irreal. As bichas, direitinhas e céleres, não podiam ser menos portuguesas. Nem tão-pouco a maneira como cada pessoa limpa a mesa antes de se levantar, deixando-a impecável. As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante! dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisíveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca. O preconceito anticomunista dá-os como disciplinados e regimentados – se calhar, estamos a confundi-los com a Mocidade portuguesa. Não são nada disso. A Festa funciona para que eles não tenham de funcionar. Ao contrário de tantos festivais apolíticos, não há pressa; a ansiedade da diversão; o cumprimento de rotinas obrigatórias; a preocupação com a aparência. Há até, sem se sentir ameaçado por tudo o que se passa à volta, um saudável tédio, de piquenique depois de uma barrigada, à espera da ocupação do sono.
Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro. Nem vale a pena indagar acerca da marca do champô. Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes. E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. É um alívio a falta de entusiasmo fabricado – e, num sentido geral, de esforço. Não há consensos propostos ou unanimidades às quais aderir. Uns queixam-se de que já não é o que era e que dantes era melhor; outros que nunca foi tão bom.
É claro que nada disto será novidade para quem lá vai. Parece óbvio. Mas para quem gosta de dar uma sacudidela aos preconceitos anticomunista é um exercício de higiene mental. Por muito que custe dize-lo, o preconceito - base, dos mais ligeiros snobismos e sectarismos ao mais feroz racismo, anda sempre à volta da noção de que “eles não são como nós”. É muito conveniente esta separação. Mas é tão ténue que basta uma pequena aproximação para perceber, de repente, que “afinal eles são como nós”. Uma vez passada a tristeza pelo desaparecimento da justificação da nossa superioridade (e a vergonha por ter sido tão simples), sente-se de novo respeito pela cabeça de cada um.
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(Continuação)
A Exposição do Mundo português era “para inglês ver”, mas a Festa do Avante! em muitos aspectos importantes, parece mesmo inglesa. Para mais, inglesa no sentido irreal. As bichas, direitinhas e céleres, não podiam ser menos portuguesas. Nem tão-pouco a maneira como cada pessoa limpa a mesa antes de se levantar, deixando-a impecável. As brigadas de limpeza por sua vez, estão sempre a passar, recolhendo e substituindo os sacos do lixo. Para uma festa daquele tamanho, com tanta gente a divertir-se, a sujidade é quase nenhuma. É maravilhoso ver o resultado de tanto civismo individual e de tanta competência administrativa. Raios os partam.
Se a Festa do Avante! dá uma pequena ideia de como seria Portugal se mandassem os comunistas, confessemos que não seria nada mau. A coisa está tão bem organizada que não se vê. Passa-se o mesmo com os seguranças - atentos mas invisíveis e deslizantes, sem interromper nem intimidar uma mosca. O preconceito anticomunista dá-os como disciplinados e regimentados – se calhar, estamos a confundi-los com a Mocidade portuguesa. Não são nada disso. A Festa funciona para que eles não tenham de funcionar. Ao contrário de tantos festivais apolíticos, não há pressa; a ansiedade da diversão; o cumprimento de rotinas obrigatórias; a preocupação com a aparência. Há até, sem se sentir ameaçado por tudo o que se passa à volta, um saudável tédio, de piquenique depois de uma barrigada, à espera da ocupação do sono.
Quando se fala na capacidade de “mobilização” do PCP pretende-se criar a impressão de que os militantes são autómatos que acorrem a cada toque de sineta. Como falsa noção, é até das mais tranquilizadoras. Para os partidos menos mobilizadores, diante do fiasco das suas festas, consola pensar que os comunistas foram submetidos a uma lavagem ao cérebro. Nem vale a pena indagar acerca da marca do champô. Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes. E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre “nós” dirigentes e “eles” militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. É um alívio a falta de entusiasmo fabricado – e, num sentido geral, de esforço. Não há consensos propostos ou unanimidades às quais aderir. Uns queixam-se de que já não é o que era e que dantes era melhor; outros que nunca foi tão bom.
É claro que nada disto será novidade para quem lá vai. Parece óbvio. Mas para quem gosta de dar uma sacudidela aos preconceitos anticomunista é um exercício de higiene mental. Por muito que custe dize-lo, o preconceito - base, dos mais ligeiros snobismos e sectarismos ao mais feroz racismo, anda sempre à volta da noção de que “eles não são como nós”. É muito conveniente esta separação. Mas é tão ténue que basta uma pequena aproximação para perceber, de repente, que “afinal eles são como nós”. Uma vez passada a tristeza pelo desaparecimento da justificação da nossa superioridade (e a vergonha por ter sido tão simples), sente-se de novo respeito pela cabeça de cada um.
o MEC foi à Festa do Avante! (II)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (II)
Terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(continuação)
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades. Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante! é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira e dissessem e fizessem as mesmas coisas – paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo – mas não estão. Estão é fartos do capitalismo – e um bocadinho zangados. Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista.
Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias.
Convinha-nos pensar que as comunas eram um rebanho mas a parecença é mais com um jardim zoológico inteiro. Ali uma zebra; em frente um leão e um flamingo; aqui ao lado uma manada de guardas a dormir na relva.
Quando se chega à Festa o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre de trânsito, é como voltar aos anos 60. Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós. Mesmo assim tenho de confessar, como reaccionário que sou, que me passou pela cabeça que a razão de tanta preocupação talvez fosse a probabilidade de todos os potenciais bombistas já estarem lá dentro, nos pavilhões internacionais, a beber copos uns com os outros e a divertirem-se.
A Festa do Avante! é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é difícil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. O desaparecimento da União Soviética foi, deste ponto de vista, particularmente infeliz por ter eliminado a potência cujas ordens eram cegamente obedecidas pelo PCP. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice. Quer se queira quer não (eu não queria), sente-se na Festa do Avante! Que está ali uma reserva ecológica de Portugal. Se por acaso falharem os modelos vigentes, poderemos ir buscar as sementes e os enxertos para começar tudo o que é Portugal outra vez.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada. (Fiquemos por aqui que já estou a escrever à comunista).
Terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
(continuação)
Toda a gente se trata da mesma maneira, sem falsas distâncias nem proximidades. Ninguém procura controlar, convencer ou impressionar ninguém. As palavras são ditas conforme saem e as discussões são espontâneas e animadas. É muito refrescante esta honestidade. É bom (mas raro) uma pessoa sentir-se à vontade em público. Na Festa do Avante! é automático.
Dava-nos jeito que se vestissem todos da mesma maneira e dissessem e fizessem as mesmas coisas – paciência. Dava-nos jeito que estivessem eufóricos; tragicamente iluminados pela inevitabilidade do comunismo – mas não estão. Estão é fartos do capitalismo – e um bocadinho zangados. Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista.
Sabe bem passear no meio de tanta rebeldia. Sabe bem ficar confuso. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias.
Convinha-nos pensar que as comunas eram um rebanho mas a parecença é mais com um jardim zoológico inteiro. Ali uma zebra; em frente um leão e um flamingo; aqui ao lado uma manada de guardas a dormir na relva.
Quando se chega à Festa o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre de trânsito, é como voltar aos anos 60. Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós. Mesmo assim tenho de confessar, como reaccionário que sou, que me passou pela cabeça que a razão de tanta preocupação talvez fosse a probabilidade de todos os potenciais bombistas já estarem lá dentro, nos pavilhões internacionais, a beber copos uns com os outros e a divertirem-se.
A Festa do Avante! é sempre maior do que se pensa. Está muito bem arrumada ao ponto de permitir deambulações e descobertas alegres. Ao admirar a grandiosidade das avenidas e dos quarteirões de restaurantes, representando o país inteiro e os PALOP, é difícil não pensar numa versão democrática da Exposição do Mundo Português, expurgada de pompa e de artifício. E de salazarismo, claro.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava-nos jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. O desaparecimento da União Soviética foi, deste ponto de vista, particularmente infeliz por ter eliminado a potência cujas ordens eram cegamente obedecidas pelo PCP. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice. Quer se queira quer não (eu não queria), sente-se na Festa do Avante! Que está ali uma reserva ecológica de Portugal. Se por acaso falharem os modelos vigentes, poderemos ir buscar as sementes e os enxertos para começar tudo o que é Portugal outra vez.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada. (Fiquemos por aqui que já estou a escrever à comunista).
o MEC foi à Festa do Avante! (I)
Uma aventura dentro do comunismo real - o MEC foi à Festa do Avante! (I)
Segunda-feira, 1 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
E teve medo, muito medo. Às constantes tentativas de intimidação por parte dos inimigos comunistas, o repórter assumidamente reaccionário respondeu com a sua polaróide e registou todas as adversidades. Entre uma e outra conversas mais azeda, ainda teve tempo para comer bem e beber melhor.
Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante! faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante! faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça!, Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas. Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária e só uma – então, muito francamente, é aterrador. Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Bem sei que a condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez, que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “ capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "Se não fossem os comunistas, hoje não haveria..." e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas " que lhe devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão.
É por isso que não se sentem “derrotados”. O desaparecimento da URSS, por exemplo, pode ter sido chato mas, na amplitude do panorama marxista-leninista, foi apenas um contratempo. Mas não é só por isso que a Festa do Avante! faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o show off é mínimo e saudável.
Segunda-feira, 1 de Setembro de 2008
Texto Miguel Esteves Cardoso
E teve medo, muito medo. Às constantes tentativas de intimidação por parte dos inimigos comunistas, o repórter assumidamente reaccionário respondeu com a sua polaróide e registou todas as adversidades. Entre uma e outra conversas mais azeda, ainda teve tempo para comer bem e beber melhor.
Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante! Estas são as mais populares: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
Já é a segunda vez que lá vou e posso garantir que não é nada dessas coisas e que não só é escusado como perigoso fingir que é. Porque a verdade verdadinha é que a Festa do Avante! faz um bocadinho de medo.
O que se segue não é tanto uma crónica sobre essa festa como a reportagem de um preconceito acerca dela - um preconceito gigantesco que envolve a grande maioria dos portugueses. Ou pelo menos a mim.
Porque é que a Festa do Avante! faz medo?
É muita gente; muita alegria; muita convicção; muito propósito comum. Pode não ser de bom-tom dizê-lo, mas o choque inicial é sempre o mesmo: chiça!, Afinal os comunistas são mais que as mães. E bem dispostos. Porquê tão bem dispostos? O que é que eles sabem que eu ainda não sei?
É sempre desconfortável estar rodeado por pessoas com ideias contrárias às nossas. Mas quando a multidão é gigante e a ideia é contrária e só uma – então, muito francamente, é aterrador. Até por uma questão de respeito, o Partido Comunista Português merece que se tenha medo dele. Tratá-lo como uma relíquia engraçada do século XX é uma desconsideração e um perigo. Mal por mal, mais vale acreditar que comem criancinhas ao pequeno-almoço.
Bem sei que a condescendência é uma arma e que fica bem elogiar os comunistas como fiéis aos princípios e tocantemente inamovíveis, coitadinhos.
É esta a maneira mais fácil de fingir que não existem e de esperar, com toda a estupidez, que, se os ignoramos, acabarão por se ir embora.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça.
A condescendência leva-nos a alvitrar que “assim também eu” e que as festas dos outros partidos também seriam boas caso estivessem um ano inteiro a prepará-las. Está bem, está: nem assim iam lá. Porque não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo.
Em vez de usar, para explicar tudo, o velho chavão da “ capacidade de organização” do velho PCP, temos é que perguntar porque é que se dão ao trabalho de se organizarem.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. E talvez sejam. Basta completar a frase "Se não fossem os comunistas, hoje não haveria..." e compreende-se que, para eles, são muitas as conquistas meramente "burguesas " que lhe devemos, como o direito à greve e à liberdade de expressão.
É por isso que não se sentem “derrotados”. O desaparecimento da URSS, por exemplo, pode ter sido chato mas, na amplitude do panorama marxista-leninista, foi apenas um contratempo. Mas não é só por isso que a Festa do Avante! faz medo. Também porque é convincente. Os comunas não só sabem divertir-se como são mestres, como nunca vi, do à-vontade. Todos fazem o que lhes apetece, sem complexos nem receios de qualquer espécie. Até o show off é mínimo e saudável.
A Festa do Avante Incomóda Muita Gente
A Festa do «Avante!» chateia…
(António Vilarigues em O Castendo 2010/09)
Dizem-se muitas mentiras acerca delas mas, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
A Festa do Avante! é a maior iniciativa político-cultural do país. Ela é, como se sabe, o resultado do trabalho voluntário de milhares e milhares de militantes e simpatizantes comunistas. A forma como é tratada pela comunicação social dominante é um exemplo, dos mais evidentes, do silenciamento a que é submetida nos jornais, revistas, rádios e televisões toda a actividade do PCP. Uma actividade que, sublinhe-se, é maior do que a soma das actividades de todos os restantes partidos.
Quando não é o silêncio, é a inverdade. Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante!: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas. É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça. Mas não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer, só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo. Por isso o conceito do PCP de "colectivo partidário" parece provocar indisposições a muito comentador de serviço.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. Por isso sobre a construção da festa cai um silêncio ensurdecedor.
Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo, até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. Por isso, a festa é um "perigo" que há que exterminar.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre "nós" dirigentes e "eles" militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. Por isso, ao programa da festa, anunciado em conferências de imprensa, é concedido meia dúzia de linhas ou de segundos.
Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a- dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Por isso a dimensão e o êxito da festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação.
Escrito com a colaboração (in)voluntária do "camarada" MEC Nota final: Desafio ao leitor: o que é escrito meu e o que não é? O texto original de Miguel Esteves Cardoso está na revista Sábado, edição de 2007/09/13. E aqui na Internet
(António Vilarigues em O Castendo 2010/09)
Dizem-se muitas mentiras acerca delas mas, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas.
A Festa do Avante! é a maior iniciativa político-cultural do país. Ela é, como se sabe, o resultado do trabalho voluntário de milhares e milhares de militantes e simpatizantes comunistas. A forma como é tratada pela comunicação social dominante é um exemplo, dos mais evidentes, do silenciamento a que é submetida nos jornais, revistas, rádios e televisões toda a actividade do PCP. Uma actividade que, sublinhe-se, é maior do que a soma das actividades de todos os restantes partidos.
Quando não é o silêncio, é a inverdade. Dizem-se muitas mentiras acerca da Festa do Avante!: que é irrelevante; que é um anacronismo; que é decadente; que é um grande negócio disfarçado de festa; que já perdeu o conteúdo político; que hoje é só comes e bebes.
As festas do Avante!, por muito que custe aos anticomunistas reconhecê-lo, são magníficas. É espantoso ver o que se alcança com um bocadinho de colaboração. Não só no sentido verdadeiro, de trabalhar com os outros, como no nobre, que é trabalhar de graça. Mas não basta trabalhar: também é preciso querer mudar o mundo. E querer, só por si, não chega. É preciso ter a certeza que se vai mudá-lo. Por isso o conceito do PCP de "colectivo partidário" parece provocar indisposições a muito comentador de serviço.
Porque os comunistas não se limitam a acreditar que a história lhes dará razão: acreditam que são a razão da própria história. É por isso que não podem parar; que aguentam todas as derrotas e todos os revezes; que são dotados de uma avassaladora e paradoxalmente energética paciência; porque acreditam que são a última barreira entre a civilização e a selvajaria. Por isso sobre a construção da festa cai um silêncio ensurdecedor.
Não há psicologias de multidões para ninguém: são mais que muitos, mas cada um está na sua. Isto é muito importante. Ninguém ali está a ser levado ou foi trazido ou está só por estar. Nada é forçado. Não há chamarizes nem compulsões. Vale tudo, até o aborrecimento. Ou seja: é o contrário do que se pensa quando se pensa num comício ou numa festa obrigatória. Muito menos comunista. Todos os portugueses haviam de ir de cinco em cinco anos a uma Festa do Avante!, só para enxotar estereótipos e baralhar ideias. Por isso, a festa é um "perigo" que há que exterminar.
Assim se chega a outro preconceito conveniente. Dava jeito que a festa do PCP fosse partidária, sectária e ideologicamente estrangeirada. Na verdade, não podia ser mais portuguesa e saudavelmente nacionalista. Sem a orientação e o financiamento de Moscovo, o PCP deveria ter também fenecido e finado. Mas não: ei-lo. Grande chatice.
A teimosia comunista é culturalmente valiosa porque é a nossa própria cultura que é teimosa. A diferença às modas e às tendências dos comunistas não é uma atitude: é um dos resultados daquela persistência dos nossos hábitos. Não é uma defesa ideológica: é uma prática que reforça e eterniza só por ser praticada.
Enquanto os outros partidos puxam dos bolsos para oferecer concertos de borla, a que assistem apenas familiares e transeuntes, a Festa do Avante! enche-se de entusiásticos pagadores de bilhetes.
E porquê? Porque é a festa de todos eles. Eles não só querem lá estar como gostam de lá estar. Não há a distinção entre "nós" dirigentes e "eles" militantes, que impera nos outros partidos. Há um tu-cá-tu-lá quase de festa de finalistas. Por isso, ao programa da festa, anunciado em conferências de imprensa, é concedido meia dúzia de linhas ou de segundos.
Ser-se comunista é uma coisa inteira e não se pode estar a partir aos bocados. A força dos comunistas não é o sonho nem a saudade: é o dia-a- dia; é o trabalho; é o ir fazendo; e resistindo, nas festas como nas lutas. Por isso a dimensão e o êxito da festa chateiam. Põem em causa as desculpas correntes da apatia. Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação.
Escrito com a colaboração (in)voluntária do "camarada" MEC Nota final: Desafio ao leitor: o que é escrito meu e o que não é? O texto original de Miguel Esteves Cardoso está na revista Sábado, edição de 2007/09/13. E aqui na Internet
2017/09/02
Venham Ver a Festa !
Não é novidade e por isso nem sequer me surpreende, mas cansa.
Começou ontem o maior evento político-cultural nacional.
Durante dois dias e meio vão passar pela Festa do Avante mais de 200 artistas, visitantes do norte ao sul do país e de todos os cinco continentes, representantes de dezenas de partidos comunistas de todo o mundo e de todas as fábricas, escolas, campos, distritos e concelhos do país.
Durante mais dois dias vão ter lugar dezenas de concertos de música popular portuguesa e do mundo, vão realizar-se dezenas de debates, com pessoas que estiveram nos locais, sem comentadeiros de ouvir dizer e que reproduzem as imagens das centrais que vendem desinformação a metro. Vão lá estar sírios que estiveram na guerra, palestinianos que saíram do campo de concentração de Gaza, ex-guerrilheiros das FARC que pela primeira vez viajam com passaporte, venezuelanos que votaram na constituinte e compram produtos nos armazéns estatais porque os golpistas pinochistas queimam e escondem a comida. Alemães que gritam em letras garrafais serem dos bons, por contraposição aos maus que nos impuseram uma austeridade destruidora. Estão lá representantes de toda a manta de retalhos do comunismo espanhol, os eurocomunistas do PCE, os refundadores, os catalães, os galegos, todos.
Qualquer jornalista passaria ali os três dias em diretas de 24 horas para ouvir, gravar, questionar esta amálgama de informação em primeira mão. Qualquer? Sim, mas teriam de ser jornalistas e não jornaleiros, teriam de trabalhar para meios de informação e não caneiros publicitários de propaganda.
Sabiam?
Não?
Eu sei porque estive lá ontem. Nos pasquins nacionais nem uma referência de capa. Combinaram todos? É cartel? Não, é pior! São os meios de informação todos nas mãos da burguesia a reproduzirem a ideologia dominante. A censurar, a esconder, a silenciar um mundo que está ali ao alcance de todos nós.
Basta ir lá.
Não querem passar por lá?
É ali na Atalaia, Seixal. Aquilo está maior, tem espaço para mais gente.
Apareçam, bebam umas jolas, ou umas vodcas, umas ponchas ou uns mojitos, ou uns Douros, ou uns Dãos que estão a bom preço, comam umas espetadas, ou umas catchupas, ou uma mariscada de Sesimbra, ou um esparguete bolonhesa feito por italianos, ou uma sandes de leitão na Bairrada, ou uma patatas diablo, oiçam umas coisas e conversem com o tipo do lado que não morde ;-)
Apareçam ;-)
Começou ontem o maior evento político-cultural nacional.
Durante dois dias e meio vão passar pela Festa do Avante mais de 200 artistas, visitantes do norte ao sul do país e de todos os cinco continentes, representantes de dezenas de partidos comunistas de todo o mundo e de todas as fábricas, escolas, campos, distritos e concelhos do país.
Durante mais dois dias vão ter lugar dezenas de concertos de música popular portuguesa e do mundo, vão realizar-se dezenas de debates, com pessoas que estiveram nos locais, sem comentadeiros de ouvir dizer e que reproduzem as imagens das centrais que vendem desinformação a metro. Vão lá estar sírios que estiveram na guerra, palestinianos que saíram do campo de concentração de Gaza, ex-guerrilheiros das FARC que pela primeira vez viajam com passaporte, venezuelanos que votaram na constituinte e compram produtos nos armazéns estatais porque os golpistas pinochistas queimam e escondem a comida. Alemães que gritam em letras garrafais serem dos bons, por contraposição aos maus que nos impuseram uma austeridade destruidora. Estão lá representantes de toda a manta de retalhos do comunismo espanhol, os eurocomunistas do PCE, os refundadores, os catalães, os galegos, todos.
Qualquer jornalista passaria ali os três dias em diretas de 24 horas para ouvir, gravar, questionar esta amálgama de informação em primeira mão. Qualquer? Sim, mas teriam de ser jornalistas e não jornaleiros, teriam de trabalhar para meios de informação e não caneiros publicitários de propaganda.
Sabiam?
Não?
Eu sei porque estive lá ontem. Nos pasquins nacionais nem uma referência de capa. Combinaram todos? É cartel? Não, é pior! São os meios de informação todos nas mãos da burguesia a reproduzirem a ideologia dominante. A censurar, a esconder, a silenciar um mundo que está ali ao alcance de todos nós.
Basta ir lá.
Não querem passar por lá?
É ali na Atalaia, Seixal. Aquilo está maior, tem espaço para mais gente.
Apareçam, bebam umas jolas, ou umas vodcas, umas ponchas ou uns mojitos, ou uns Douros, ou uns Dãos que estão a bom preço, comam umas espetadas, ou umas catchupas, ou uma mariscada de Sesimbra, ou um esparguete bolonhesa feito por italianos, ou uma sandes de leitão na Bairrada, ou uma patatas diablo, oiçam umas coisas e conversem com o tipo do lado que não morde ;-)
Apareçam ;-)
2017/08/22
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