A não perder o artigo do Manuel Augusto Araújo aqui no AbrilAbril.
«Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação. Só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir.»(Sérgio Godinho)
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2022/08/29
Este ano não ponho os pés na feira
«A miserável queima de livros na Ucrânia emparceira com outras fogueiras célebres em que livros foram consumidos como no incêndio da Biblioteca de Alexandria pelos romanos em 48 a.C.; a de livros islâmicos ordenada pelo cardeal Cisneros em Granada, em 1501; dos manuscritos aztecas em 1560, pelos invasores espanhóis; pelos nazis em várias cidades alemãs, em 1933; dos livros marxistas na década de 50 por McCarthy; pela queima de livros considerados subversivos por Pinochet, em 1973; os livros ímpios que o Estado Islâmico descobriu em 2015 na Biblioteca de Mossul. A lista podia ser mais longa, mas é a bastante e suficiente para colocar Zelensky em lugar destacado entre essa estirpe de gente que odeia a cultura. É isso que, mal ou bem, o pavilhão da Ucrânia na Feira de Lisboa, queiram ou não queiram os seus promotores, acaba por celebrar.»
2020/07/29
Cultura e Luta de Classes
Imperialismo & imperialismos, SA
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2020/07/27)
Nos tempos actuais há uma evidente preponderância do capitalismo neoliberal cujo foco principal é a financeirização da economia e a adopção de políticas que visam reduzir os custos do factor trabalho, sejam quais forem as consequências sociais e económicas dessas políticas que precarizam o trabalho, atacam os direitos dos trabalhadores, fragmentam e proletarizam a força de trabalho, ainda que muitos não reconheçam a proletarização a que estão sujeitos.
Para impor e consolidar essa nova ordem, que se começa a definir a partir dos finais dos anos 60, é tão importante a produção de bens de consumo e de instrumentos financeiros como o controle dos meios de comunicação social que preparam e justificam as acções políticas e militares imperialistas através dos meios tradicionais, rádio, televisão, jornais e dos novos proporcionados pelas redes informáticas, e a construção de um imaginário global com os meios da cultura mediática de massas com dois grandes objectivos: um económico, pela captura pelos mercados dos bens culturais e pela concentração das indústrias culturais e criativas; outro político-social impondo a hegemonia da cultura anglo-saxónica pela exportação massiva dos seus produtos de entretenimento, tratando a cultura como uma campanha publicitária. Uma situação em que Adorno surge como um quase profeta quando, em 1944, com Horkheimer(1), define a indústria cultural como um sistema político e económico que tem por finalidade produzir bens de cultura – filmes, livros, música popular, programas de televisão, etc. – como mercadorias, com uma estratégia de controlo social modelando as consciências das massas populares.
Essa tendência torna-se mais evidente quando o Estado-nação vai progressivamente renunciando à sua soberania e se alarga a superfície global onde se dissolve o território, a língua e a identidade cultural, tornados conceitos móveis e transitivos. Acelera-se com o fim da equivalência do dólar-ouro e a primeira grande crise do petróleo em 1973, impõe-se nos anos 80 com as novas tecnologias.
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2020/07/27)
Nos tempos actuais há uma evidente preponderância do capitalismo neoliberal cujo foco principal é a financeirização da economia e a adopção de políticas que visam reduzir os custos do factor trabalho, sejam quais forem as consequências sociais e económicas dessas políticas que precarizam o trabalho, atacam os direitos dos trabalhadores, fragmentam e proletarizam a força de trabalho, ainda que muitos não reconheçam a proletarização a que estão sujeitos.
Para impor e consolidar essa nova ordem, que se começa a definir a partir dos finais dos anos 60, é tão importante a produção de bens de consumo e de instrumentos financeiros como o controle dos meios de comunicação social que preparam e justificam as acções políticas e militares imperialistas através dos meios tradicionais, rádio, televisão, jornais e dos novos proporcionados pelas redes informáticas, e a construção de um imaginário global com os meios da cultura mediática de massas com dois grandes objectivos: um económico, pela captura pelos mercados dos bens culturais e pela concentração das indústrias culturais e criativas; outro político-social impondo a hegemonia da cultura anglo-saxónica pela exportação massiva dos seus produtos de entretenimento, tratando a cultura como uma campanha publicitária. Uma situação em que Adorno surge como um quase profeta quando, em 1944, com Horkheimer(1), define a indústria cultural como um sistema político e económico que tem por finalidade produzir bens de cultura – filmes, livros, música popular, programas de televisão, etc. – como mercadorias, com uma estratégia de controlo social modelando as consciências das massas populares.
Essa tendência torna-se mais evidente quando o Estado-nação vai progressivamente renunciando à sua soberania e se alarga a superfície global onde se dissolve o território, a língua e a identidade cultural, tornados conceitos móveis e transitivos. Acelera-se com o fim da equivalência do dólar-ouro e a primeira grande crise do petróleo em 1973, impõe-se nos anos 80 com as novas tecnologias.
2020/01/08
A Estupidificação Da Nova Ordem Capitalista
As modernidades para lá do espelho
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2020/01/07)
Ultrapassado o espelho da «modernidade» assumida por algumas esquerdas, por mais que lapidem a realidade o que se encontra, de facto, é a renúncia a uma sociedade que se oponha à desordem do mundo actual.
A batalha ideológica que se trava desde que Marx estabeleceu as traves mestras de interpretação do mundo, em que a ideia central é a relação entre o capital e o trabalho, a luta de classes, as relações entre infra-estrutura e superestrutura, tem sido intensa e, na actualidade, é polarizada pelo imperialismo norte-americano que persegue dois grandes objectivos consonantes: um económico e outro cultural.
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2020/01/07)
Ultrapassado o espelho da «modernidade» assumida por algumas esquerdas, por mais que lapidem a realidade o que se encontra, de facto, é a renúncia a uma sociedade que se oponha à desordem do mundo actual.
A batalha ideológica que se trava desde que Marx estabeleceu as traves mestras de interpretação do mundo, em que a ideia central é a relação entre o capital e o trabalho, a luta de classes, as relações entre infra-estrutura e superestrutura, tem sido intensa e, na actualidade, é polarizada pelo imperialismo norte-americano que persegue dois grandes objectivos consonantes: um económico e outro cultural.
2019/12/22
Sobre Bananas a Propósito da Ideologia Dominante
As bananas e suas cascas
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2019/12/17)
Anda o mundo infestado de performers que fazem parte da epifania colectiva destes tempos de danação em que quase deixa de haver lugar para a criação artística excepto como forma de ganhar dinheiro.
Um artista, Maurizio Castellan, cola numa parede uma banana com fita adesiva prateada, em três versões, duas provas de artista e uma final, depois de um ano a «trabalhar nessa ideia». Um trabalho muitíssimo árduo como se presume, em que acabou por escolher três bananas entre as centenas que andam pelos mercados. Aos compradores, entre eles um museu, a «obra» foi vendida por 120 mil dólares. O curador da galeria explica que é necessário ir substituindo a banana todas as semanas, «como uma flor».
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2019/12/17)
Anda o mundo infestado de performers que fazem parte da epifania colectiva destes tempos de danação em que quase deixa de haver lugar para a criação artística excepto como forma de ganhar dinheiro.
Um artista, Maurizio Castellan, cola numa parede uma banana com fita adesiva prateada, em três versões, duas provas de artista e uma final, depois de um ano a «trabalhar nessa ideia». Um trabalho muitíssimo árduo como se presume, em que acabou por escolher três bananas entre as centenas que andam pelos mercados. Aos compradores, entre eles um museu, a «obra» foi vendida por 120 mil dólares. O curador da galeria explica que é necessário ir substituindo a banana todas as semanas, «como uma flor».
2019/12/08
Os Liberalistas São Fascistas
Os tubarões não são vegetarianos
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril 2019/11/08)
Os cotrins figueiredos e os venturas são faces da mesma perigosíssima moeda. O fascismo está sempre no horizonte dos liberais, se a desenfreada exploração capitalista for posta em causa.
As intervenções de dois dos novos partidos com representação na Assembleia da República (AR), Chega e Iniciativa Liberal, são bem elucidativas da sua raiz, que os faz percorrer, por caminhos diversos, o objectivo comum de pôr em prática políticas económicas e sociais para que a exploração desbragada do capital sobre o trabalho não conheça fronteiras. Há quem lhes cole o selo edulcorado de extrema-direita para não os identificar com o que na realidade são: fascistas. O que também é uma forma de não reconhecer que o fascismo, nas diferentes expressões, é o alfa e o ómega do capitalismo.
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril 2019/11/08)
Os cotrins figueiredos e os venturas são faces da mesma perigosíssima moeda. O fascismo está sempre no horizonte dos liberais, se a desenfreada exploração capitalista for posta em causa.
As intervenções de dois dos novos partidos com representação na Assembleia da República (AR), Chega e Iniciativa Liberal, são bem elucidativas da sua raiz, que os faz percorrer, por caminhos diversos, o objectivo comum de pôr em prática políticas económicas e sociais para que a exploração desbragada do capital sobre o trabalho não conheça fronteiras. Há quem lhes cole o selo edulcorado de extrema-direita para não os identificar com o que na realidade são: fascistas. O que também é uma forma de não reconhecer que o fascismo, nas diferentes expressões, é o alfa e o ómega do capitalismo.
2019/10/20
Não São Liberalistas São Mesmo Fascistas!
Contra os populismos que meteram os pés na porta
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2019/10/15)
Os desafios futuros para a esquerda, contra a tralha neoliberal e os populismos em marcha, não são fáceis. Há que lutar, contra todas as evidências, sabendo de ciência certa que a razão está do lado da esquerda mesmo.
Pela primeira vez três partidos, Livre, Iniciativa Liberal (IL) e Chega, meteram o pé na porta da Assembleia da República (AR), colocando um deputado cada e o outro, o PAN, que já tinha metido o pé na porta nas eleições anteriores elegendo um deputado, viu aumentada a sua representação para quatro deputados. A direita viu a sua presença na AR ampliada em número de partidos embora com menos 18 deputados do que tinha em 2015. As esquerdas, embora aumentassem o número de deputados em relação a 2015, mais dezasseis deputados, perderam quase 50 mil votantes, o que deve preocupar. Nestas contas direitas/esquerdas não entra o PAN que afirma não ser de direita nem de esquerda. Uma espécie de partido sem eira nem beira, de um oportunismo sem peias.
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2019/10/15)
Os desafios futuros para a esquerda, contra a tralha neoliberal e os populismos em marcha, não são fáceis. Há que lutar, contra todas as evidências, sabendo de ciência certa que a razão está do lado da esquerda mesmo.
Pela primeira vez três partidos, Livre, Iniciativa Liberal (IL) e Chega, meteram o pé na porta da Assembleia da República (AR), colocando um deputado cada e o outro, o PAN, que já tinha metido o pé na porta nas eleições anteriores elegendo um deputado, viu aumentada a sua representação para quatro deputados. A direita viu a sua presença na AR ampliada em número de partidos embora com menos 18 deputados do que tinha em 2015. As esquerdas, embora aumentassem o número de deputados em relação a 2015, mais dezasseis deputados, perderam quase 50 mil votantes, o que deve preocupar. Nestas contas direitas/esquerdas não entra o PAN que afirma não ser de direita nem de esquerda. Uma espécie de partido sem eira nem beira, de um oportunismo sem peias.
2019/10/09
Democratações Censuradoras
Quinze dias contra a corrente
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2019/10/03)
Um tempo em que se exige às esquerdas coerentes a reinvenção da política e a intensificação da luta de classes em que as lutas eleitorais são uma das suas frentes.
Os períodos eleitorais nas democracias representativas são um interregno controlado na desinformação continuada dos meios de comunicação social, mesmo os de serviço público, sobre a actividade política na sua generalidade e, em particular, na dos partidos políticos que se desenquadram do sistema prevalecente, lutando dentro dele contra ele. Interregno que atenua mas não invalida a deformação comunicacional que, entre eleições para o poder central, poder local, europeias e presidenciais, e mesmo durante esse período, é produzida pelos celebrados critérios editoriais que beneficiam descaradamente uns em detrimento de outros. Vários estudos universitários demonstram, sem margem para quaisquer dúvidas, o enviesamento dos media, ainda que partam de princípios discutíveis como o de colocarem todos os comentadores do Partido Socialista do lado da esquerda – o que, ouvindo-os e lendo-os, é altamente questionável e é ainda mais superlativamente contestável com os supostamente independentes. A conclusão, por mais ginásticas que se pratiquem, é que a direita é francamente maioritária, que a representação parlamentar não se repercute nos tempos de antena concedidos.
(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2019/10/03)
Um tempo em que se exige às esquerdas coerentes a reinvenção da política e a intensificação da luta de classes em que as lutas eleitorais são uma das suas frentes.
Os períodos eleitorais nas democracias representativas são um interregno controlado na desinformação continuada dos meios de comunicação social, mesmo os de serviço público, sobre a actividade política na sua generalidade e, em particular, na dos partidos políticos que se desenquadram do sistema prevalecente, lutando dentro dele contra ele. Interregno que atenua mas não invalida a deformação comunicacional que, entre eleições para o poder central, poder local, europeias e presidenciais, e mesmo durante esse período, é produzida pelos celebrados critérios editoriais que beneficiam descaradamente uns em detrimento de outros. Vários estudos universitários demonstram, sem margem para quaisquer dúvidas, o enviesamento dos media, ainda que partam de princípios discutíveis como o de colocarem todos os comentadores do Partido Socialista do lado da esquerda – o que, ouvindo-os e lendo-os, é altamente questionável e é ainda mais superlativamente contestável com os supostamente independentes. A conclusão, por mais ginásticas que se pratiquem, é que a direita é francamente maioritária, que a representação parlamentar não se repercute nos tempos de antena concedidos.
2018/10/29
São mesmo fascistas
São mesmo fascistas
(Manuel Augusto Araújo, in AbrilAbril, 2018/10/26)
Têm todos o mesmo e forte traço comum, qualquer que seja o rótulo colado às suas políticas, mais ou menos violentas conforme as circunstâncias. Nada os faz recuar, mesmo os crimes mais hediondos.
Vivem-se os tempos sombrios do capitalismo pós-democrático em que o fascismo nas suas variantes, que a comunicação social estipendiada, eufemisticamente vai nomeando como radicalismo de direita, extrema-direita e outras etiquetas para travestir e edulcorar a realidade, irrompe para demonstração cabal do que sempre foi: o sistema a que as forças mais reaccionárias recorrem para assegurar os seus interesses quando as crises se agudizam e os ameaçam. Actual continua a caracterização que Gyorgi Dimitrov fez do fascismo como «a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro» para «assegurar no sentido político o êxito da ofensiva do capital, da exploração e do saque das massas populares pela minoria capitalista e garantir a unidade da dominação dessa minoria sobre a maioria popular».
(Manuel Augusto Araújo, in AbrilAbril, 2018/10/26)
Têm todos o mesmo e forte traço comum, qualquer que seja o rótulo colado às suas políticas, mais ou menos violentas conforme as circunstâncias. Nada os faz recuar, mesmo os crimes mais hediondos.
Vivem-se os tempos sombrios do capitalismo pós-democrático em que o fascismo nas suas variantes, que a comunicação social estipendiada, eufemisticamente vai nomeando como radicalismo de direita, extrema-direita e outras etiquetas para travestir e edulcorar a realidade, irrompe para demonstração cabal do que sempre foi: o sistema a que as forças mais reaccionárias recorrem para assegurar os seus interesses quando as crises se agudizam e os ameaçam. Actual continua a caracterização que Gyorgi Dimitrov fez do fascismo como «a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro» para «assegurar no sentido político o êxito da ofensiva do capital, da exploração e do saque das massas populares pela minoria capitalista e garantir a unidade da dominação dessa minoria sobre a maioria popular».
2018/05/13
Ainda Maio'68 - à Revelia do Pensamento Dominante
Vale sempre a pena ler e reler quem, remando contra a maré da história escrita pelos vencedores, continua a olhar para esse Maio meio centenário em que as esperanças eram todas e os resultados foram parcos.
A "não-revolução" do Manuel Augusto Araújo, que abaixo se reproduz, interessa desde logo porque nos fala das raízes e das involuções dos grandes protagonistas, ou nisso tornados pelos media que escrevem a história dos vencedores. Fala-nos nos Cohn-Bendits que hoje acompanham um Macron de pacotilha, fabricado ao gosto de clientes enganados, e dos Henrys-Levys, hoje atlantistas ferrenhos, conservadores que apelidam de racistas os multiculturalistas. Diz-me onde acabaste dir-te-ei quão enganado andaste, ou melhor, dir-te-ei quão bem andaste a enganar tolos nesses idos de maio.
Mas não se fica pela referência ao simples trajecto dos então grandes revolucionários e hoje instalados burgueses. Vai mais longe. Vai mais longe e dá-nos a ler algumas das pérolas da Internacional Situacionista que, já nesses idos de Maio, apelava à espontaneidade das massas, por oposição à sua organização que estaria já fora de moda, tal como já então estariam fora de moda os partidos, pelos Situacionistas empurrados para a amálgama da "política especializada" e onde podemos adivinhar o actual e neo-liberal dizer d'"os politicos" que, para estes sempre instalados e muito experimentados burgueses, sempre foram e continuam a ser "todos iguais", mas olhem que não, olhem que não são todos iguais e há mesmo alguns muito diferentes.
Mas sabem o que é mais importante para mim? É que eu consigo imaginar-me de um mesmo lado da barricada com essas versões das juventudes deles. Também eu quero gritar que «a criação é a mais alta forma de actividade humana e a arte a forma mais alta de criação», também eu quero o mar das praias que estão logo por baixo da calçadas de granito. Também para mim, mas hoje, passados cinquenta anos, a esperança só pode vir dos desesperados. Mas isso sou eu, de esquerda, solidário, comunista, que quero transformar o mundo e aprendi com a história que só organizadamente o poderemos fazer. Que o primeiro passo para as praias de areia dourada é o fim da exploração do Trabalho pelo Capital. Que para nos libertar a todos para um mundo de criatividade, não basta "decretar a «felicidade permanente», é preciso primeiro acabar com quem nos nega o pão da felicidade e o conhecimento criativo. Mas isso sou eu, porque nem mesmo as suas versões de Maio me quiseram ao lado deles, nas barricadas que já então eram só deles. Hoje sou eu que não os posso aceitar do meu lado da barricada, hoje eles são já claramente inimigos de classe. Te-lo-ão sido sempre? @Refer&ncia
Maio 68, a não-revolução
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 13 de Maio 2018)
O impulso revolucionário é desviado para o território do espectáculo. Os mitos dadaístas e anarquistas na política e na arte aterram, com a Internacional Situacionista, em Paris, no Maio 68.
Maio 68 faz cinquenta anos. A 13 de Maio a França assistiu à maior greve geral de sempre, que paralisou o país. Uma greve só comparável à greve de 1936 e à que antecedeu a Comuna de Paris. A maior greve geral que alguma vez aconteceu na Europa ou em qualquer parte do mundo.
Era o culminar de lutas operárias que se tinham intensificado desde os princípios dos anos 60, com lutas enquadradas, algumas desenquadradas, pelas estruturas sindicais, e das lutas estudantis desse ano.
Estudantes e operários confluíram nesse dia numa batalha contra o poder gaulista, corporizado por um general reaccionário que até aí tinha a maior oposição em Miterrand, um político oportunista.
Maio 68 destrói o jogo de xadrez em que esses dois filibusteiros se enfrentavam. Destrói o jogo mas não destrói o tabuleiro. O jogo irá continuar com outros gambitos e, como os lances imediatos e os seguintes a curto e médio prazo mostraram, são eles que acabam por sair triunfantes.
A "não-revolução" do Manuel Augusto Araújo, que abaixo se reproduz, interessa desde logo porque nos fala das raízes e das involuções dos grandes protagonistas, ou nisso tornados pelos media que escrevem a história dos vencedores. Fala-nos nos Cohn-Bendits que hoje acompanham um Macron de pacotilha, fabricado ao gosto de clientes enganados, e dos Henrys-Levys, hoje atlantistas ferrenhos, conservadores que apelidam de racistas os multiculturalistas. Diz-me onde acabaste dir-te-ei quão enganado andaste, ou melhor, dir-te-ei quão bem andaste a enganar tolos nesses idos de maio.
Mas não se fica pela referência ao simples trajecto dos então grandes revolucionários e hoje instalados burgueses. Vai mais longe. Vai mais longe e dá-nos a ler algumas das pérolas da Internacional Situacionista que, já nesses idos de Maio, apelava à espontaneidade das massas, por oposição à sua organização que estaria já fora de moda, tal como já então estariam fora de moda os partidos, pelos Situacionistas empurrados para a amálgama da "política especializada" e onde podemos adivinhar o actual e neo-liberal dizer d'"os politicos" que, para estes sempre instalados e muito experimentados burgueses, sempre foram e continuam a ser "todos iguais", mas olhem que não, olhem que não são todos iguais e há mesmo alguns muito diferentes.
Mas sabem o que é mais importante para mim? É que eu consigo imaginar-me de um mesmo lado da barricada com essas versões das juventudes deles. Também eu quero gritar que «a criação é a mais alta forma de actividade humana e a arte a forma mais alta de criação», também eu quero o mar das praias que estão logo por baixo da calçadas de granito. Também para mim, mas hoje, passados cinquenta anos, a esperança só pode vir dos desesperados. Mas isso sou eu, de esquerda, solidário, comunista, que quero transformar o mundo e aprendi com a história que só organizadamente o poderemos fazer. Que o primeiro passo para as praias de areia dourada é o fim da exploração do Trabalho pelo Capital. Que para nos libertar a todos para um mundo de criatividade, não basta "decretar a «felicidade permanente», é preciso primeiro acabar com quem nos nega o pão da felicidade e o conhecimento criativo. Mas isso sou eu, porque nem mesmo as suas versões de Maio me quiseram ao lado deles, nas barricadas que já então eram só deles. Hoje sou eu que não os posso aceitar do meu lado da barricada, hoje eles são já claramente inimigos de classe. Te-lo-ão sido sempre? @Refer&ncia
Maio 68, a não-revolução
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 13 de Maio 2018)
O impulso revolucionário é desviado para o território do espectáculo. Os mitos dadaístas e anarquistas na política e na arte aterram, com a Internacional Situacionista, em Paris, no Maio 68.
Maio 68 faz cinquenta anos. A 13 de Maio a França assistiu à maior greve geral de sempre, que paralisou o país. Uma greve só comparável à greve de 1936 e à que antecedeu a Comuna de Paris. A maior greve geral que alguma vez aconteceu na Europa ou em qualquer parte do mundo.
Era o culminar de lutas operárias que se tinham intensificado desde os princípios dos anos 60, com lutas enquadradas, algumas desenquadradas, pelas estruturas sindicais, e das lutas estudantis desse ano.
Estudantes e operários confluíram nesse dia numa batalha contra o poder gaulista, corporizado por um general reaccionário que até aí tinha a maior oposição em Miterrand, um político oportunista.
Maio 68 destrói o jogo de xadrez em que esses dois filibusteiros se enfrentavam. Destrói o jogo mas não destrói o tabuleiro. O jogo irá continuar com outros gambitos e, como os lances imediatos e os seguintes a curto e médio prazo mostraram, são eles que acabam por sair triunfantes.
2018/03/23
Superar a Cultura de Catástrofe em Permanência
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Monumento Nacional. Tinta da china e fotografia. Diário de Lisboa,1969/11/21. João Abel Manta |
(Manuel Augusto Araújo in AbrilAbril, 2018/03/19)
Não haverá uma tradução que exprima a amplitude do significado de spleen, o que explica porque Baudelaire o utilizou, sem tentar traduzir, no título de um grupo de poemas Spleen de Paris e no título de vários dos poemas dessa série (*). Spleen é o que Walter Benjamin descreve «como o sentimento que corresponde à catástrofe em permanência». Nos tempos que se estão a viver é determinante para o pensamento único impor um sistema a partir de condições pré-estabelecidas para dissuadir os homens de intervir. Vive-se mergulhado num permanente spleen.
Sistema que faz prova de vida como se fosse um caleidoscópio em que, sempre com os mesmos cristais, quando se roda o tubo se transforma a desordem numa nova ordem e as sucessivas imagens virtuais simulam uma pulsação que não existe nem desinquieta a base com que se formam novas imagens. A realidade permanece quase imutável por debaixo das camadas de maquilhagem que se vão acumulando, deixando intocado o essencial. A perversidade é a crescente importância que as imagens virtuais adquirem para garantir a quase imobilidade do sistema, num cenário em que o simulacro e simulação substituíram a realidade.
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