Já li melhores. Digo isto a propósito de uma opinião do João Dinis no abrilabril.
Não vou falar da forma que merecia uma redacção mais cuidada - e ainda vai a tempo de a fazer, ou alguém por ele, é uma das vantagens do digital sobre a letra pintada a preto no papel que custa árvores - mas vou deter-me em três aspectos do discurso.
O primeiro é o apelo à demissão da ministra, primeira brecha numa politica, consistente e corretamente mantida neste quadrante politico, de que as pessoas pouco importam, relevantes são as politicas. É para manter? A politica? Quero dizer, a consistência da politica alicerçada na realidade da história ou vamos começar a ceder no estratégico ao conjuntural em nome de mais uns sapos de grande porte engolidos para manter o pafismo longe do sns, dos circulos uninominais e da ruina da segurança social? Eu confesso, sou adepto incondicional desta solução viabilizada por uma AR pela primeira vez democrática em 41 anos, mas prefiro um pragmatismo alicerçado numa consistência teorica a arrepios de populismo conjuntural. Cuidado, vão no bom caminho, mas é estreito e não convém deixar ir o menino com a àgua suja do banho. Ou se pede a demissão do conjunto ou se exije a mudança radical da politica, incluindo os investimentos necessários ao arrepio dos mandantes.
O segundo é a falta de cristalina clareza no apontar do dedo. O Agostinho Lopes já fez melhor com uma raiva sem fim ao escrever que uma melhor politica de protecção da floresta e de combate ao fogo é possivel. É! Escreve ele que é possivel, mas é mais cara e Bruxelas não deixa e essa é a principal causa das desgraças - incluindo as florestais - que grassam neste bocado de planeta. É preciso denunciar e repetir à exaustão os nomes de quem impôe uma floresta de combustivel em nome de uma fileira do papel: O Capital das celuloses, os seus serventuários de Bruxelas e os moços de recados do centrão "Social-Democrata" aqui nos limites do império. É verdade, é verdade que a culpa é de uma PAC toda ela orientada para uma agricultura privadamente industrializada, com o objectivo único do lucro, sem a menor preocupação com as reais necessidades alimentares ou a sustentabilidade dessa agricultura intensiva. Mas mais uma vez cuidado, cuidado com os voluntarismos populistas. A mecanização, industrialização, robotização e informatização da agricultura é um processo - felizmente - imparável. A história está aí a demonstrá-lo. Antes dos sindicatos e das reivindicações queimaram-se teares, só com raiva, os teares ficaram e hoje um Engenheiro de Sistemas controla 10, 20, 50 teares a partir de uma consola, 50 teares mantidos por 5 técnicos especializados e controlados por um engenheiro a partir de uma consola. Chama-se progresso tecnológico. É inelutavel. As lutas no campo já foram pela jornada de oito horas, e hoje que os esclavagistas a vão estendendo às dez e doze, os migrantes lutam por melhores condições ergonómicas dos tabuleiros rotativos que impõem o ritmo na apanha da alface. Chama-se progresso tecnológico. É imparável. Felizmente. Há que o pôr ao serviço do Trabalho e da sustentabilidade da vida.
O terceiro é a ausência da enumeração e da descrição das soluções propostas por quem as conhece. A CNA tem vindo a propor ano após ano uma outra política agrícola, florestal, decente. Os Verdes têm propostas ambientais, propostas para uma floresta sustentavel. Têm não têm? Quais? Enumerem-nas, descrevam-nas. O emparcelamento como via para o aumento da rentabilidade e da sustentabilidade da floresta? Pois. E mais? E mais? E mais? Como diz o moço do macdrive. E mais? Cada vez que oiço um comunista a dizer que não são precisas mais comissões, e não são, de facto, porque já foi tudo estudado e dito e redito e impresso com tinta preta em papel que custa florestas, fico sempre com a pergunta: e quais?
E ao terceiro dia elas vieram: resultados da reunião do PCP com o 1º ministro
Bom, o link para o objecto deste escrito já está lá em cima, mas só para quem tenha chegado aqui e ganho curiosidade, fica aqui mais uma vez.
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