2020/07/18

O Sindicalismo para os tele-trabalhadores

«A tecnologia deve servir para fazer avançar a sociedade e não para a fazer retroceder. [...] Seja sob a forma de automação, digitalização ou aposta na inteligência artificial: a tecnologia, em si fruto do trabalho, deve ser colocada ao serviço dos trabalhadores e das suas condições de vida e de trabalho, ao serviço do desenvolvimento soberano do País, dando um contributo para a promoção da coesão social e territorial» salientou Isabel Camarinha, lembrando a posição da CGTP-IN sobre o desenvolvimento tecnológico.

Concordo quase plenamente, deixando de lado a conservadora territorialidade do país com odor a inexplicáveis nacionalismos e substituindo-os pela humanidade e o internacionalismo proletário.

E Cuidado.

O sindicalismo começou a perder o comboio quando não soube antecipar a ofensiva ideológica com que o capital acompanhou a precarização e o endividamento dos trabalhadores, formas de fortificar o exército de desempregados usado pelo capital para combater os direitos do trabalho.

Perdeu-o quando não soube identificar a massiva terceirização do trabalho proporcionada pela, ainda em fase de plena implantação, robotização dos setores primário e secundário.

Se quisermos voltar a colocar o sindicalismo no centro da luta de classes, se quisermos fazer dos sindicatos veiculos de progresso social, se quisermos que o sindicalismo lidere o proletariado (que hoje, no ocidente imperialista, transcende já largamente o operariado) nas imprescindiveis transformações sociais que dêem lugar a outras formas de propriedade dos meios de produção, importa ir além da denúncia dos males do teletrabalho, importa procurar e encontrar as formas de mobilizar as massas de tele-proletários precarizados, desprotegidos e sobre-explorados que inexoravelmente vão ocupar o lugar dos grandes e ineficientes centros de escritórios.

A robotização e a generalização do tele-trabalho são felizmente imparáveis, tal como imparável foi no século XIX a industrialização dos setores primário e secundário que exterminou o garimpo e a produção artesanal, e no século XX, a informatização e as comunicações, que revolucionaram os setores terciário e financeiro, e como o são em qualquer momento histórico as deslocações massivas de sobre-explorados das terras da fome e da guerra para as do pão e do mel. Chama-se processo histórico segundo os canhanhos do marxismo-leninismo.

Marx e Engels souberam ver e exprimir no século XIX a inexorabilidade da emancipação humana do trabalho com dor, imposto pela necessidade de sobreviver, rumo ao prazer do trabalho criativo voluntário, numa sociedade em que os meios de produção fossem propriedade colectiva de todos os produtores.

Cabe-nos a nós encontrar as formas de impor a distribuição justa e equitativa dos frutos do trabalho. Para tal não podemos deixar-nos encurralar em meros discursos de denúncia ou tentativas de parar ou mesmo retardar a enxurrada.

Para voltarmos a colocar o sindicalismo no centro da luta de classes, temos de procurar e encontrar os meios, as formas, os discursos e as acções que nos permitam voltar a mobilizar as massas proletarizadas que nem disso têm consciência, identificá-las e trabalhar no seu seio, temos de reaprender o proselitismo dos dealbares sindicalistas, resgatar das mãos religiosas as instituições de caridade transformando-as em palcos de solidariedade que nos permitam dialogar com os mais desprotegidos. Não podemos deixar-nos encurralar em nacionalismos conservadores mas antes procurar e encontrar, muito  além das imprescindiveis solidariedades internacionalistas, a internacionalização das causas e das lutas por essas causas. Se não conseguimos fazê-lo com as nossas, temos de trabalhar nas lideradas por outros demonstrando-lhes a necessidade de mais profundas e radicais transformações. É na luta que se cria a consciência de classe. Atualmente, onde há luta falta organização e consciência de classe e onde está esta não se divisa a primeira.

Que parte do "Proletários de todo o mundo uni-vos" é que nos está a escapar?

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