2020/08/26

Não há festa como esta

«Para eles será sempre milagre nós irmos, como cantava o Zeca, sem sabermos de dores nem mágoas. Lembras-te? Das praias do mar onde o vento cortou amarras na baía do Seixal? Lembras-te das vagas, virando a proa à nossa galera, no mar de gente a descer à noite em direcção ao Palco 25 de Abril? Lembras-te de navegarmos na fresca brisa, onde a vitória ainda nos espera para dançar a carvalhesa? E não andamos ainda todos, de formas diferentes, é certo, à procura da moura encantada? E não esperamos, no fundo, que ainda venha a manhã clara?» (António Santos, Manifesto74)

Precisamos cada vez mais de textos bonitos, textos que nos espelhem a alma, nos acalentem a esperança. Nestes tempos de crescentes escuridões, do neoliberalismo, da pandemia, da precariedade, do desemprego, precisamos de coisas bonitas, da beleza da festa que é de todos os que a quiserem fazer. Vem isto a propósito da campanha de escuridão com que os donos disto tudo querem trancar as nossas almas do lado de fora da festa. Não vão conseguir. Vamos entrar pela festa dentro com toda a esperança num mundo onde a beleza seja de todos. 


(Manuel Augusto Araújo, AbrilAbril, 2020/09/03) «[...] Será útil reler Henri Lefebvre em Contra os Tecnocratas, (Moraes Editores, 1969) que desmonta essas teses. Eles, os tecnocratas, «executam ordens, ordens do poder político que organiza as “variáveis estratégicas” dos seus estudos e pareceres. O poder impõe aos tecnocratas à sua disposição as opções decisivas. Eles – os tecnocratas – propõem soluções para os problemas oficialmente reconhecidos e formulados, o poder de Estado escolhe entre elas (…) A pretensa tecnocracia é nociva, não tanto pela sua imagem real, como pela imagem que oferece de si-própria e da sociedade. Segundo essa imagem, a racionalidade social, finalmente amadurecida, já reina ou irá reinar em breve. Esta crença divulgada na opinião resulta de uma propaganda: é uma ideologia. Tal ideologia é o produto mental da tecnocracia, a sua justificação, a compensação da sua impotência e incapacidade, o seu contributo real para a acção do poder». É por esta lente, que nega a ficção da técnica pura, que se devem ler quaisquer pareceres técnicos. Há, no entanto que dar razão ao secretário de Estado da Saúde num dos seus considerandos: a Festa sempre teve um carácter excepcional, pelo que desde sempre foi o centro de ataques das outras forças políticas que não têm capacidade político-cultural e muito menos de militância para arquitectarem uma Festa como esta.»

A gripe de São José 
(Ricardo Santos, Manifesto74, 2020/08/31)  «[...] o PCP, sozinho, ainda não mereceu qualquer atenção do Público por exigir “políticas de aumentos salariais ou de defesa de direitos dos trabalhadores (…) propostas e exigências de medidas para serem negociadas com o Governo e vertidas no Orçamento do Estado de 2021, nem mesmo com a apresentação de ideias que ajudem a combater a pandemia de covid-19”, embora o tenha feito. Por outro lado, conforme referi anteriormente, sempre que o assunto pode servir para atacar o PCP, lá está a chamada à primeira página. É assim compreensível a dificuldade que a jornalista denota em acompanhar a atividade política do PCP, que interessa pouco ou nada ao seu jornal. Nós sabemos que o Partido Comunista Português não é aquele partido que, quando espirra, constipa toda a comunicação social. Mas espera-se mais seriedade da parte de alguns jornalistas. Ou, se calhar, não. Para ajudar São José Almeida, fica uma ferramenta que lhe permitirá, com certeza reconhecer que errou e mentiu, chama-se Whatsapp, o contacto é o 917771694 e ficará surpreendida com tudo o que o seu jornal não lhe conta sobre o que é atividade diária do PCP. Sem risco de se engripar»

Avante: unidos pelo fio que nos separa 
(António Santos, Manifesto74) Inédia prodigiosa ou anorexia mirabilis é o nome com que a taumaturgia católica designa o prodígio de sobreviver sem alimentação. São Nicolau, santo padroeiro dos suíços, por exemplo, foi expeditamente canonizado quando, na sequência de um sonho em que viu um cavalo a comer um lírio, abandonou a mulher e os dez filhos para ser eremita, sobrevivendo durante os dezanove anos seguintes numa ravina muito isolada - um detalhe relevante, note-se - sem outro sustento que não a fé.

Um excesso de fraternidade
“(...) possíveis 33 mil (...) que virão de toda a parte do país e que findo o Avante partirão para toda a parte do país. Aliando a isto toda uma atmosfera de fraternidade e união.” Este é um dos argumentos com que nos podemos topar na maré de comentários que têm sido feitos em milhares de publicações, relacionadas directa, indirectamente ou mesmo alheias ao tema da realização da festa do avante! 

(Agostinho Lopes, Jornal Económico)  O espaço da Festa do Avante! em tempo de pandemia. Em 1976, uma potente bomba tentou liquidar a Festa que então nascia ali na FIL, na Junqueira. A extrema-direita não nasceu com o Chega. Aliás, dá-se até o caso de uma interessante coincidência e continuidade com a personagem que é hoje a segunda figura e putativo deputado dessa organização pertencer então ao MDLP, autor desse operação terrorista. Mas a Festa ultrapassou o acontecimento.

O direito à alegria é para todos
(Manuel Rocha, Avante!) Os humanos não foram feitos para «confinamentos». E, pior ainda, quando uma emergência sanitária como a que está em curso acelera a vulnerabilização das condições de vida dos trabalhadores e do povo. No contexto actual, de luta pela valorização dos serviços públicos, de exigência de reforço da soberania nas suas diversas dimensões, acentua-se a importância da realização da Festa do Avante!, celebração política e cultural de grande alcance, portadora inquestionável dos valores da Revolução de Abril.

A polémica já não é sobre a Festa do "Avante!" 
(Bruno Carvalho, Manifesto74) Jornais, rádios e televisões distanciaram-se tanto da realidade daquilo a que se chama cidadão comum que praticamente já ninguém lhes dá qualquer credibilidade. No fundo, esta armadilha mediática em que vivemos é identificada com o sistema político, económico, social e cultural em que vivemos. O mesmo que mantém os trabalhadores na miséria. Os milionários que financiam o Chega fazem parte da mesma elite que financia o PS, o PSD e o CDS-PP e que sabem a importância de terem alguém que instrumentalize o descontentamento social de forma a que não caia nas mãos dos comunistas. Foi assim nos anos 20 e 30, é assim agora. Portanto, esta ofensiva praticamente inédita, nos últimos anos, contra a Festa do "Avante!" não seria possível sem a instrumentalização do medo das pessoas em relação à pandemia. É a oportunidade perfeita, pensam todos. E daí a aliança política-económica-mediática para meter toda a lenha na fogueira. Não importa sequer que lhes caia a careca quando Marcelo celebra as Feiras do Livro de Lisboa e do Porto, que se aplauda a prova de Fórmula 1 no Algarve com tantos assistentes como a Festa do "Avante!", que haja concertos em vários pontos do país ou manifestações e comícios do Chega. Sabem que detêm a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social e sabem que a extrema-direita fará o seu trabalho nas redes sociais.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário ficará disponível após verificação. Tentaremos ser breves.