2022/06/01

Só Para Crentes ...

Um Dia Hão-de Acordar! (Hugo Dionisio, Facebroncas, 2020/05/28)

E depois dirão assim: “ninguém esperava por isto”? ao que responderemos: “ninguém”? “Mas nós dissemos que…” e ele responde: “pois, pois…”. “agora disseram tudo”!

Foi assim quando os EUA foram derrotados no Afeganistão e fugiram de mala às costas. Claro que quem lia outras fontes [...] sabia que chamavam a Karzai [...] o “presidente da Câmara de Kabul”. Foi assim com a crise de 2008, quando abundavam artigos económicos sobre a bolha imobiliária nos EUA. [...] O que conta para o cidadão medianamente informado é o que dá na TV!

Depois de assistir a uma pivot (para não lhe chamar jornalista) da CNN Portugal, a qual perante um general do exército, classificou a situação de Azovstal como uma “vitória estratégica” do regime nazovista de Ze… Fiquei tão estupefacto quanto o militar – cujo nome agora não recordo. Contudo, esta situação permitiu-me proceder a um exercício mental, sempre muito útil, e que consiste em tentarmos colocar-nos na cabeça do outro. Neste caso, da outra.

Partindo deste plano, dou apenas alguns exemplos do que pode chegar a ser a forma enviesada como um cidadão medianamente informado na TV e nos órgãos da industria monopolista da comunicação ocidental, olha para a realidade:

a) Para este cidadão a NATO é uma força de paz, mesmo que lhe acenemos com todas as provas de força e destruição que são conhecidas – afinal é a Televisão os jornais e a internet que o dizem; Para ele a Rússia não tem direito a ver a expansão da NATO como ameaça, pois a NATO só se quer defender!

b) Acredita que vivemos em liberdade de informação, sem censura, mesmo quando lhe acenamos com algoritmos que temos de contornar quando publicamos os nossos textos sob pena de os apagarem ou de nos bloquearem o acesso às redes; quando vemos a EU censurar canais de TV e órgãos de comunicação do seu adversário; quando vemos prender Assange; quando vemos fugir Snowden; quando vemos perseguir Chelsea Manning; quando assistimos a Guantánamo;

c) Acredita que existe liberdade de expressão, mesmo quando demonstramos que o Google filtra os resultados colocando em primeiro lugar as fontes ocidentais pró-nato; quando o Twitter bloqueia o acesso a jornalistas de renome internacional; quando o Youtube apaga milhões de vídeos que não seguem a narrativa do Pentágno, via Reuters, que nos entra (na minha não) pelas TV’s adentro;

d) Acredita que o Estado não interfere no mercado, que o mercado é livre, mesmo quando vemos o Facebook, Twitter, Google intervencionados pelo governo dos EUA, ou quando impediram a Huawei de usar o Android ou quando impediram os vassalos de instalarem a 5G da Huawei (os Ingleses que já a tinham, estão a removê-la);

e) Acredita que a guerra na Ucrânia começou em 24 de Fevereiro de 2022, sendo mentira russa ou, pelo menos, um exagero, que a guerra tenha começado há mais de 8 anos no Donbass; sendo também mentira que tenham morrido mais de 14 mil pessoas vítimas dos ataques do regime Ucronazi;

f) Acredita que o regime Ucraniano é uma vítima do malvado russo, mesmo que tenha 4 ministros nazis; tenha dado guarida a laboratório biomilitares secretos dos EUA; tenha usado o dinheiro do FMI para se armar até aos dentes à custa da miséria do povo; tenha bombardeado continuadamente desde 2014 o seu próprio povo e sirva de campo de treino para a extrema direita europeia (o público noticiou isto em 2020, já agora);

g) Acredita que não existem assim tantos nazis na Ucrânia, mesmo que estes estejam no exército, no Governo, na guarda nacional e a sua representatividade na Ucrânia ocidental seja tão grande que Ze não consegue colocar uma foto das suas tropas sem inadvertidamente lá estar um qualquer símbolo nazi;

h) Acredita que a guerra é entre os Russos e a Ucrânia, mesmo que Biden tenha dito querer “enfraquecer a Rússia com esta guerra”; que Blinken tenha dito que “a guerra vai durar muitos anos”; que Borrel tenha dito “não nos podemos dar ao luxo de perder esta guerra”; que tenham lá sido apanhados militares da NATO; que a NATO para lá envie 40 mil milhões em armas, pagas pelo cada vez mais pobre povo americano; e mesmo com estas confissões todas, a guerra não é com a NATO;

i) Acredita que Zelinsky é um patriota Ucraniano (seja lá o que isso for); mesmo que lhe demonstremos que já foram publicadas leis que habilitam o governo a integrar em cargos públicos membros dos EUA e Inglaterra e, agora, desde ontem, da Polónia;

j) Acreditam que a Ucrânia está a ganhar a guerra, não porque abundem vitórias ucranianas ou porque cada vez empurrem mais os russos para fora do Donbass; mas somente porque a América o diz e o Ze também; quanto às dezenas de milhares de nazovites mortos, os 20.000 desertores e prisioneiros detidos nas republicas gémeas e o movimento das “Mães de Maidan” contra o uso dos seus filhos como carne para canhão… disso não se fala na TV. São mentiras de Putin.

k) Acreditam que em azovstal se tratou de uma “evacuação” e uma “desmobilização”, mesmo que em linguagem militar signifique “rendição”; mesmo demonstrando que todos foram presos pelos russos, incluindo generais dos EUA e Canadá, que dirigiam as operações de uso de escudos humanos em Mariupol;

l) Acredita que a economia está a piorar por causa do Putin; mesmo que demonstremos que parte da causa são as sanções que ricochetearam, mas também o neoliberalismo que tem retirado ao estado a capacidade de regular e intervir na economia; para além da crescente concentração de riqueza em cada vez menos mãos; a sua vida piora, e a culpa é dos russos;

m) Acreditam que o exército russo está a matar à fartazana (e qualquer morte civil é de lamentar, nada de confusões); mesmo a praticar genocídio; mesmo quando lhes damos com os números e os comparamos com os verdadeiros genocídios praticados pela NATO e EUA à volta do mundo; afinal, a NATO, os EUA, o regime Ucronazi e a TV o dizem, fontes privilegiadas da sua informação;

n) Acreditam que o PCP apoia a guerra, mesmo que demonstremos que o único partido que sempre esteve contra qualquer guerra tenha sido o PCP, que o único partido que é anti-imperialista é o PCP; que o único partido que é anti-blocos militares é o PCP; tudo porque o PCP atribui a responsabilidade a quem realmente a tem;

o) Ouvem constantemente, ao longo de anos, os EUA referirem que “é preciso conter a China”; “é preciso enfraquecer a Rússia”; “temos de cercar a China”; “a China é uma ameaça vital, a Rússia é uma ameaça aguda”; assistem a golpes de estado perpetrados pelos EUA há dezenas de anos junto às fronteiras da Rússia e da China, actos anti-democráticos, contra a vontade democrática dos povos desses países (como a Ucrânia); assistem aos EUA dizerem que o acordo entre a China e as Ilhas Salomão é uma ameaça nacional; mas nunca se questionam porque raio os EUA têm sempre de considerar tudo uma ameaça; porque raio têm de controlar tudo e porque raio nenhum país pode crescer e desenvolver-se à sua maneira sem constituir uma ameaça para os EUA; E porque raio 5% da humanidade tem de controlar os outros 95%;

p) Acreditam que a Rússia é só Putin, mesmo que demonstremos que o que o povo Russo sofreu, nos anos 90, por causa dos EUA e do neoliberalismo, voltaria qualquer povo contra esse país, porque nenhum povo quer ser quintal desse país, a não ser esse cidadão medianamente informado que tudo aceita desde que se diga na TV;

q) Acredita que a Rússia está isolada internacionalmente, mesmo que a Rússia continue em paz com 88% da humanidade e apenas seja rejeitada pelos 12% compostos pelos EUA e seus quintais; mesmo que o sul Global esteja em peso contra as sanções e cada vez mais aproveite esta oportunidade para se libertar do jugo imperialista (India a negociar em Rupias e Rublos; Obrador a querer criar outra OEA; Paquistão com governo derrubado por golpe militar apoiado pelos EUA por não alinhar nas sanções);

r) Acredita que todo o mundo celebrou a vitória Ucraniana na Eurovisão, mesmo quando 88% do mundo nem sabe o que isso é e está a borrifar-se para a Ucrânia, porque tem guerras muito mais duradouras, devastadoras para se preocupar, perpetradas pelos mesmos responsáveis, que calham a ser os outros 12%;

s) Acreditam que o terrorismo nasce de geração espontânea, mesmo que demonstremos que só surge terrorismo onde existe conflito de interesses com os EUA, com Israel, com a Inglaterra, França e EU; quando o demonstramos… Dizem que é teoria da conspiração, mesmo que o ISIS tenha surgido na Síria e Iraque que os EUA agora ocupam; que os azovites tenham nascido na Ucrânia, cuja parte ocidental a Polónia faz agora planos para ocupar em nome da NATO e para salvar o que sobra em mais uma derrota estrondosa do imperialismo; que os Talibans tenha surgido no Afeganistão para combater a URSS; que o exército Jihadista Líbio tenha surgido para combater o Kadhafi…;

t) Preocupam-se muito com as mulheres afegãs, mas nunca os vi condenarem quem criou os Talibans, para combaterem o único governo afegão que reconhecia e impunha a igualdade de género (o governo socialista do Afeganistão apoiado pela URSS); nem tão pouco os vi condenarem 20 anos de ocupação, matança e destruição, a 100 milhões de dólares mensais, que deixaram o país ainda pior do que com os talibãs que eles criaram;

u) Acreditam que os EUA são uma democracia, mesmo quando lhes demonstramos que todos os congressistas e senadores são financiados pelos multimilionários que representam e que o seu governo gasta mais em armas do que no resto de todos os serviços públicos federais;

v) O regime Ucraniano é democrático e representa a liberdade, mesmo que demonstremos que mais de 30 partidos à esquerda do Ze tenham sido dissolvidos, incluindo partidos como aqueles em que vota o tal cidadão medianamente informado, como o caso de um PS ou mesmo um PSD, caso seja constituído por russófonos;

w) Acredita que o exército russo é uma fraude, mal equipado e mal preparado, acreditando na informação Ucraniana, Estado Unidense e inclusive de mercenários Russos sobre o assunto (veja-se lá); mesmo que se lhe demonstre que esta conclusão nada mais é do que propaganda que visa desacreditar o adversário para assim motivar recrutas a integrarem o exército de carne para canhão;

x) Acredita que todos os Ucranianos lutam contra os russos, inclusive os de Mariupol, Odessa ou Kharkov, mesmo que demonstremos que para estes locais foram enviados a partir de 2014 os mais brutais soldados nazovistas, para assim condicionarem, perseguirem e calarem a oposição russófona; factos reportados e compilados pela OSCE, mas nunca publicados;

y) Acredita que o exército Russo é um exército de gente malvada, indisciplinada e ansioso de cometer crimes de guerra, mesmo que as fontes de tais crimes se resumam à parte Ucraniana e da NATO; mesmo que todos os jornalistas – TODOS – que lograram ir além do domínio da NATO, encontraram uma Ucrânia em que as queixas são todas contra os nazovistas e contra o próprio exército Ucraniano, por este usar escudos humanos (já reportado pelo próprio NYtimes), por ocuparem as escolas, hospitais e clinicas; por se fazerem transportar em ambulâncias e outros veículos do tipo; por pilharem os bens do seu próprio povo. Só que isto não dá na TV, porque quando dá qualquer coisa, o jornalista – como Bruno de Carvalho, Patrick Lancaster, Maurizio Vesozzi, Tim Kirby, Jesse Zurawell, Brian Berletic, Russel Texas, Jim Chambers, Max Blumenthal, Eva Barlett... – é perseguido sem dó nem piedade por aqueles que deveriam defender a liberdade de informação mesmo que não concordem com o conteúdo;

z) Acredita que o único sítio onde há guerra é na Ucrânia, o que justifica a sua reacção, tal como Guterres que achou incrível “uma guerra no século XXI”, devendo perguntar-se onde andava quando apoiou as invasões do Iraque, Líbia, Líbano, Iémen, Síria, Afeganistão e outras mais;

aa) Acredita que não é racista, mas é cúmplice com a perseguição dos russos e com o tratamento privilegiado dos refugiados ucranianos, mesmo que todos os dias morram centenas de pessoas, cujos países foram e são destruídos pelos EUA, a tentar atravessar o mediterrâneo, tal o estado em que os deixaram;

bb) Acredita que os EUA são uma força do bem, quando são o grande agente de criação do fundamentalismo, seja islâmico, seja nazi, seja outro, que usa para virar as sociedades contra si mesmas, para provocar mudanças de regime e, no meio do caos, levar os povos desses países a agirem contra os seus próprios interesses; e mesmo estando todo este plano da internet (Pact for New American century - Pentágono – 1994; Stressing Russia – Rand Corporation – 2018), sendo amplamento discutido e referido, mesmo assim é uma teoria da conspiração, porque não dá na TV;

cc) Acredita que os órgãos monopolistas empresariais da comunicação corporativa (vulgo “social”) falam sempre a verdade e que a sua “verdade” não tem um conteúdo político ou de classe, mesmo quando basta esperar uns dias para ouvir mais desmentidos, quando os comentadores pululam entre o centro direita e a extrema direita; a única fonte de informação internacional é a Reuters e suas conexões; quando providenciam uma informação parcialista e enviesada, mesmo quando “verdadeira”. Um exemplo: falam da fome na Venezuela, sem referirem o bloqueio, as sanções e o boicote dos EUA. Eis como funciona a indústria de comunicação de massas. Um fundo de verdade sob uma capa de omissões e intenções.

E a lista poderia continuar até ao infinito, pois os EUA são o país que tem de ser compreendido. Este país foi construído em cima do genocídio, da pilhagem e da barbárie. Há uma série recente que espelha bem o “ser americano” e como se formaram as oligarquias que hoje dominam aquele povo, aquele país e querem continuar a dominar o mundo: chama-se “1988”, para quem quiser ver. É americana, já agora. Um excelente documento da mentalidade que os EUA exportam além fronteiras: o mundo é um quintal onde tens de apanhar o que é teu! (You want it? You have to fight for it). E eles querem o mundo todo!

A Europa, o nosso país, será a grande vítima, com a cumplicidade deste cidadão medianamente informado na TV.

Afinal, quanto mais perderem no resto do mundo - e a desagregação está [...] em andamento - mais os EUA ajoelham a Europa, como única colónia estável. Como disse Marx, será no centro do capitalismo e do império a luta mais dura.

Estamos a viver tempos históricos, muito duros e cujas repercussões darão origem a um mundo multipolar, com uma arquitectura de segurança ainda inexistente. Mas a batalha pela hegemonia mundial, os EUA já perderam. Só falta saber que preço pagará o sul global - e a Europa - pela sua libertação do jugo promovido por este gang mafioso imperialista.

E enquanto isso, o cidadão medianamente informado pela TV dos monopólios da industria da comunicação de massas, permanece num mundo alternativo, em que nada mudará!

Alguém o acorda?

P.S. querendo dar uma imagem de força, só a dão de divisão. Filândia e Suécia na NATO, dizem! De faca no pescoço lá tiveram de aceitar, por razões de propaganda pura. O que se demonstra na condição de lá não serem instaladas bases e armas nucleares. Pois, afinal esses povos não querem ser alvo de ninguém. Nunca quiseram. nenhum quer!

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