2017/12/21

O Mundo das Desigualdades Chama-se Capitalismo

Porque os dados objectivos são fundamentais para discutir o imparável crescimento das desigualdades geradas pelo Capitalismo, e este artigo refere alguns dados interessantes, fica já aqui uma cópia para referência futura.

Globalização insustentável
(Marco Capitão Ferreira, in Expresso Diário, 2017/12/19)

A globalização do comércio mundial tem trazido um crescimento generalizado da riqueza. Mas esse crescimento tem tido um preço muito alto: mais desigualdade.

Muito mais.



O recente World Inequality Report, elaborado por uma rede de cerca de 100 economistas agregados em torno da Paris School of Economics mostra o que já se intuía, com dados expressivos. Com as limitações que tem – e que são detalhadamente assumidas pelos autores – tem muito que nos ensinar.

Primeiro, a desigualdade mundial tem crescido, mais acentuadamente na América do Norte e na Ásia, de forma mais moderada na Europa e encontra-se cristalizada em níveis muito elevados no Médio Oriente, África e Brasil.

Segundo, o decil mais rico da população controla entre 37% e mais de 60% do total da riqueza, em todo o mundo. São números avassaladores.

Ninguém acredita, genuinamente, que este estado de coisas possa ser sustentável para sempre.

O descontentamento de uma maioria que, como veremos, inclui as classes média e quase toda a alta, também elas privadas de uma participação equitativa na distribuição de rendimentos, cria um campo fértil para despotismos e populismos perigosos, que já se fazem sentir.

Se o sistema não tiver um mínimo de justiça, mais dia menos dia, cai. E, ensina-nos a história, as mais das vezes com violência e mortes.

Paz e prosperidade são indissociáveis. Pensar que as duas possam andar separadas por muito tempo é de uma inocência a que não nos podemos permitir.

A ganância, contudo, desafia a lógica e o que vemos é que se é verdade que a globalização tirou milhões da pobreza, também é verdade que ela beneficiou desmesuradamente quem já tinha rendimento muito elevados.

Os 50% mais pobres beneficiaram de apenas 12% do crescimento económico, ainda assim menos de metade dos 27% que o 1% mais rico guardou para si. Ganância. Não tem outro nome.

Repare-se, é o grupo entre os 60% e uns elevadíssimos 95% quem menos beneficia. Aquilo a que se pode chamar classe média e alta.

A resposta a isto? Bom, não vão gostar de ouvir isto (outra vez).

Impostos muito mais progressivos, alinhamento das taxas de impostos dos rendimentos de trabalho e de capital, imposto sucessório (em nome, já agora, também da meritocracia com que muitos gostam de encher a boca) e o fim da permissividade em torno dos chamados paraísos fiscais.

Tudo isto acompanhado, desejavelmente, de políticas públicas fortes na saúde, na educação, na proteção social e outras, que garantam um patamar mínimo de dignidade a quem vive do seu trabalho.

Por este caminho, temo bem, não vamos lá. Um dia, mais cedo do que mais tarde, a panela de pressão terá de rebentar.

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