2019/04/18

Crónica de Uma Invasão Anunciada

Na semana da "greve" dos camionistas portugueses, os estados unidos dão um passo de gigante na preparação da invasão. Por enquanto reúnem-se para "discutir" a invasão da Venezuela. Depois da campanha de descredibilização da geringonça, perdão, do chavismo, e da greve dos camionistas venezuelanos, e dos guarimbos, e da nomeação de um pró-consul do império, e da sabotagem da rede eléctrica, e da ajuda militária terem falhado todas, só lhes resta mesmo invadir. Até pode ser por interposto Brasil ou de cocaínomana Colômbia, o que é certo é que a invasão esteve em cima da mesa na reunião de 10 de Abril.

E para quem não acredite que "isto está tudo ligado", a propósito das invasões que se preparam noutros continentes e da greve dos camionistas portugueses, importa relembrar a greve patronal dos "camionistas" chilenos que em 1972 antecedeu o golpe fascista do pinochet, e a greve dos camionistas venezuelanos que deu o pontapé de partida para o "desabastecimento" dos golpazos em 2017.

Já não me espanto quando o capital neo-liberalizante entra por estes invíos caminhos aqui na periferia europeia. Mas isto sou eu que sou ingénuo e nunca pensei que um governo do PS, com orçamentos aprovados à esquerda e acompanhados de ténues recuperações de rendimentos para o trabalho, fosse tão aterrador para os donos disto tudo. Isto é a minha ingenuidade a fazer-me esquecer o assassinato do Aldo Moro, uns dias depois de ele "convidar" comunistas italianos para o governo, onde nunca chegaram a por os pés porque o anfitrião foi ... assassinado em plena Europa das livres e democráticas máfias.

Não tenham dúvidas, o capital não vai deixar mais quatro anos deste horripilante exemplo luso, "tarrenego satanás". Daqui até ao fim do ano «vai valer tudo até arrancar olhos» ...

A Invasão da Venezuela Debatida em Washington)
(Max Blumenthal, The Grayzone Project/O Lado Oculto, 2019/04/17)

O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um “think tank” com sede em Washington, promoveu no dia 10 de Abril uma mesa-redonda privada subordinada ao tema “Avaliando a utilização da força militar na Venezuela”. The Grayzone Project teve acesso à lista de participantes; dois deles confirmaram que a reunião se efectuou mas recusaram-se a dar mais pormenores.



Entre os cerca de 40 convidados para discutir off the record uma eventual acção militar dos Estados Unidos contra Caracas estiveram alguns dos conselheiros mais influentes na política do presidente Donald Trump para a Venezuela. Participaram, designadamente, actuais e antigos responsáveis do Departamento de Estado, do Conselho de Inteligência Nacional e do Conselho de Segurança Nacional, juntamente com o almirante Kurt Tidd, que foi, até há pouco tempo, o comandante do Comando Sul das Forças Navais dos Estados Unidos.
Participaram igualmente altos funcionários das embaixadas da Colômbia e do Brasil em Washington, como o general colombiano Pablo Amaya e representantes do governo paralelo do dirigente golpista Juan Guaidó.

De Janeiro a Abril

Em 23 de Janeiro, depois de manobras de bastidores, os Estados Unidos iniciaram abertamente uma tentativa de golpe contra o governo eleito da Venezuela, reconhecendo o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como “presidente interino” do país.

Desde então, a Venezuela sofreu uma série de provocações e uma escalada permanente de sanções económicas. O presidente Nicolás Maduro acusou os Estados Unidos de ataques contra a central hodroeléctrica Símon Bolívar, na barragem de Guri, que provocou apagões em todo o país, celebrados abertamente por altos funcionários de Trump.

Num telefonema de 5 de Março, em que actores imitadores se fizeram passar pelo presidente da Suíça, o enviado especial dos Estados Unidos para a Venezuela, Elliot Abrams, descartou uma acção militar contra a Venezuela revelando que apenas tentara “deixar o exército venezuelano nervoso”.
Desde então, contudo, Guaidó não conseguiu mobilizar a onda de protesto nacional que o governo Trump tinha antecipado e os militares venezuelanos demonstraram uma inabalável lealdade a Maduro. Em Washington, o sentido de urgência foi-se tornando diariamente mais forte.

“Falámos sobre opções militares na Venezuela”

A reunião do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais para “avaliar a utilização da força militar na Venezuela” sugere que a administração Trump está a explorar as opções de intervenção mais seriamente do que antes, possivelmente devido ao facto de todas as outras armas no seu arsenal não terem contribuído para derrubar Maduro.

Em 10 de Abril obtive uma lista de convidados para a reunião. Aparentemente, o documento foi datado de maneira incorrecta, pois anunciava a reunião para 20 de Abril. Porém acontecera mais cedo, naquele dia às 15 horas.

Confirmei que a reunião se realizou junto de Sarah Baumunk, investigadora associada do Programa das Américas do CSIS e cujo nome estava na lista de participantes. “Conversámos sobre opções militares … hummm… na Venezuela; mas isso foi no início desta semana”, disse-me Baumunk quando lhe perguntei sobre a reunião que fora erradamente prevista para 20 de Abril. Ao interrogá-la sobre se a reunião decorrera mesmo em 10 de Abril pareceu ficar nervosa. “Desculpe, mas porque está a fazer-me essas perguntas? Posso ajudá-lo?, disse.

Voltei a perguntar sobre o encontro, altura em que Baumunk interrompeu a conversa. “Desculpe, mas não me sinto apta a responder a essas perguntas”, disse antes de desligar.

Recebi uma confirmação adicional por parte de Santiago Herdoiza, investigador associado de Hills & Company, também incluído na lista de participantes. “Desculpe mas a reunião já acabou, boa noite”, comentou Herdoiza quando lhe pedi pormenores sobre o que acontecera.

Quem é quem entre os conselheiros de Trump

A lista de convidados do CSIS não confirma apenas que a Administração Trump e os seus conselheiros externos estão a ponderar um ataque militar contra a Venezuela; revela também o tipo de personagens envolvidos na preparação da operação de mudança de regime no país.
Alguns destes nomes não serão familiares ao público, mas muitos vêm desempenhando um papel influente nos planos norte-americanos para desestabilizar a Venezuela.

Almirante Kurt Tidd, ex-comandante do SOUTHCOM dos EUA
Entre 2015 e 2018 Tidd foi o comandante do Comando Sul das Forças Navais dos Estados Unidos, supervisionando as operações na América Central e na América do Sul. Em Outubro passado, Tidd escreveu: “o meu feed do Twitter é composto por 50% de pessoas acusando-me de planear e tramar a invasão da Venezuela e outros 50% implorando-me para planear e tramar a invasão da Venezuela”. Os seus acusadores ganharam um ponto com a realização da reunião do CSIS sobre o ataque à Venezuela.
Em 20 de Fevereiro, o sucessor de Tidd, o almirante Craig Faller, ameaçou as Forças Armadas da Venezuela e desafiou-as a apoiar a tentativa de golpe apoiada pelos Estados Unidos.

Embaixador William Brownfield
Nomeado embaixador dos Estados Unidos na Venezuela na Administração de George W. Bush, promovido a secretário de Estado adjunto para assuntos internacionais de combate ao narcotráfico por Barack Obama e agora conselheiro sénior do CSIS, Brownfield tem estado no centro das operações de guerra psicológica contra a Venezuela. De acordo com McClatchy, Brownfield contribuiu para a elaboração de um plano para impor sanções contra todos os membros do círculo de confiança de Maduro excepto um: Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte e em tempos encarado pelos Estados Unidos como um potencial rival do presidente. A ideia era lançar a suspeita de que Cabello era um activo da CIA, o que “iria mexer com a mentalidade herdada de Chávez”.

Brownfield aconselhou o Conselho de Segurança Nacional de Trump: “Não sancionem todos; acertem nas pessoas certas e deixem outras assustadas e a imaginar quando serão atingidas”. Mark Feierstein, na época membro do Conselho de Segurança Nacional e agora um associado sénior do CSIS, participou na reunião de 10 de Abril e terá estado envolvido neste enredo. No entanto, o plano desfez-se na altura em que os Estados Unidos impuseram as sanções contra Cabello, sob pressão do senador Marco Rubio.

Fernando Cutz e Juan Cruz, ex-funcionários do CSN
Cutz colaborou estreitamente com Brownfield no plano para gerar divisões no círculo próximo de Maduro. Nascido no Brasil, Cutz fez carreira no serviço de relações externas da USAID, trabalhou para Obama em assuntos cubanos e entrou no Conselho de Segurança Nacional de Trump pela mão do seu ex-director HR McMaster. Segundo o Wall Street Journal, foi Cutz quem apresentou a Trump o primeiro conjunto de opções para desestabilizar a Venezuela, a começar por “um blackout financeiro às exportações de petróleo” do país.

Juan Cruz, companheiro de Cutz no chamado “grupo Cohen”, foi director de Trump para a América Latina. Em Março de 2018, foi o primeiro representante oficial dos Estados Unidos a pedir abertamente aos militares venezuelanos para desobedecerem a Maduro e organizarem um golpe.

Pedro Burelli, ex-executivo do banco JP Morgan
Burelli é também ex-director da empresa petrolífera nacional da Venezuela. Terá ajudado a pagar 52 mil dólares para a realização de uma série de reuniões no México, em 2010, durante as quais Guaidó e seus pares planearam derrubar o então presidente Hugo Chávez através da desestabilização nas ruas. Numa entrevista ao Grayzone Project, Burelli considerou as reuniões no México como “uma actividade legítima”, embora recusando-se a confirmar a sua participação. Hoje já não faz segredo do seu desejo de derrubar Maduro pela força, twitando imagens do antigo presidente do Panamá, Manuel Noriega, preso nos Estados Unidos, e do dirigente líbio Muammar Khaddafi, assassinado pela NATO, como destinos preferidos a dar ao presidente da Venezuela.

Roger Noriega, American Enterprise Institute
Um veterano dos escândalos Irão-Contras e das mudanças de regime no Haiti e em Cuba; a propósito deste país, projectou sabotar os esforços de reaproximação que existiram na anterior administração dos Estados Unidos. “A estabilidade é inimiga, o caos é amigo”, diz.
Noriega tem estado no centro dos esforços de Washington para impor a sua vontade à Venezuela. Em Novembro passado, recomendou a Trump a nomeação de Brownfield para liderar os planos de contingência para uma invasão militar do país.

Carlos Vecchio e Francisco Marquez, embaixada-sombra de Guaidó nos EUA
Designado como embaixador simbólico do golpe de Guaidó na capital federal norte-americana, Vecchio não supervisiona instalações consulares e não tem qualquer autoridade diplomática. É procurado na Venezuela por actividades criminosas e foi fotografado juntamente com um jovem que decapitou brutalmente uma mulher chamada Liliana Hergueta. Marquez é associado à Vision Democrática, uma entidade de lobby baseada em Washington que emprega outro membro da oposição venezuelana participante na reunião do CSIS sobre utilização da força militar, Carlos Figueroa.

Sergio Guzmán, Bernardo Rico, Karin McFarland, USAID
A USAID, agência dos Estados Unidos para “ajuda internacional e desenvolvimento”, tem funcionado como ponta de lança das tentativas da administração de Washington para minar o governo da Venezuela. Depois de ter começado a desenvolver as suas actividades na Venezuela em 2007, a USAID contribui com 45 a 50 milhões de dólares por ano para a oposição política venezuelana, meios de comunicação e sociedade civil. Em 23 de Fevereiro, o director da USAID, Mark Green, dirigiu uma tentativa deliberadamente provocatória de fazer passar remessas de ajuda humanitária para a Venezuela através da fronteira colombiana. O espectáculo intervencionista humanitário correu mal e a operação culminou com hooligans da oposição lançando fogo aos carregamentos de ajuda usando cocktails molotov. (Green acusou falsamente as forças de Maduro de atearem fogo à carga). Em Fevereiro, a USAID lançou o projecto de formação de uma “Equipa vermelha… para treinar trabalhadores do sector humanitário como forças especiais” aptas a “executar um misto de operações ofensivas, defensivas e de estabilização em condições extremas”.

Emiliana Duarte, Caracas Chronicles
Conselheira da dirigente oposicionista Maria Corina Machado. O nome de Duarte foi riscado da lista de convidados do CSIS para a reunião sobre a intervenção militar, o que revela que não compareceu. É articulista de Caracas Chronicles, uma conhecida publicação em língua inglesa que reproduz posições da oposição extremista venezuelana. Também escreveu para o New York Times, em Fevereiro, um artigo no qual defendeu que uma tentativa de golpe apoiada pelos Estados Unidos era, de facto, “uma revolução muito natural na Venezuela”. Nos seus escritos, Duarte esconde que está ao serviço de Maria Corina Machado, aliada muito próxima do senador Marco Rubio e uma das figuras mais extremistas da oposição na Venezuela.

Em 2014 foram divulgados vários e-mails revelando o papel de Machado num suposto plano de assassínio. “Acho que chegou a hora de reunir esforços; faça os contactos necessários e obtenha um financiamento para aniquilar Maduro e o resto desmorona-se”, escreveu Machado numa dessas mensagens.

Santiado Herdoiza, Hills & Company
Embora Herdoiza pareça ter pouco relevo, trabalha numa empresa de estratégia internacional muito influente fundada por ex-funcionários do governo de George W. Bush. Esta empresa tem, entre os seus clientes a Chevron, a Boeing e a Bechtel. Objectivo: “eliminar barreiras de acesso ao mercado e aos lucros".

Em alguns casos, a empresa afirma que tem sido capaz de persuadir os governos a reduzir tarifas e a abandonar a oposição aos acordos de comércio livre. Através da sua participação na reunião privada do CSIS, a Hills & Company deu sinal de que defende o uso da força militar para abrir o mercado da Venezuela aos seus clientes.

David Smolansky, coordenador da OEA para a migração
Depois de dirigir o partido Voluntad Popular, de Juan Guaidó, Smolansky refugiou-se em Washington e começou a trabalhar pela mudança de regime em 2017. Após o reconhecimento de Guaidó como “presidente interino”, Smolansky foi nomeado por Luis Almagro, presidente da Organização dos Estados Americanos (OEA), como coordenador da migração venezuelana. Embora se desconheça o teor da intervenção de Somalsky na reunião do CSIS sobre uma agressão militar contra o seu país, existe um consenso em Washington segundo o qual um ataque provocaria uma massiva crise migratória. Uma guerra contra a Venezuela “seria prolongada, seria feia, haveria baixas em massa”, declarou Rebecca Chavez, membro do Inter-American Dialogue, em depoimento perante a Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos efectuado em Março. (O chefe de Chávez, Michael Shifter, também participou na reunião de 10 de Abril sobre o uso da força).

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