2018/09/10

Festa do Avante - Sobre o Vil Silenciamento

O Perigo
(Anabela Fino, Avante!, Ed. Especial, 2018/09/09)

A receita é velha de mais de quatro décadas, mas à falta de melhor continua a ser usada, seja porque escasseia a imaginação seja porque se acredita que ainda pode dar frutos. A coisa é simples: primeiro ignora-se, esconde-se, omite-se; depois ataca-se com venenos vários, mentiras torpes, malévolas insinuações. Salvo as raras e honrosas excepções, que as há, é assim que a Festa é tratada na comunicação social dominante desde a sua primeira edição. Tanta persistência, tanta raiva, tanto ódio figadal tem obviamente una razão de ser: já que a morte tantas vezes anunciada do ideal comunista se revelou e revela manifestamente exagerada, há que continuar a malhar (ainda que o ferro esteja frio) nem que seja para apresentar serviço ou aliviar a bílis.



O busílis da questão não está «apenas» no .anticomunismo primário que sempre andou por aí e agora volta a deitar as garras de fora com renovado furor, mas também na manifesta incapacidade de alguns em compreender que fenómeno é este que leva milhares e milhares de pessoas, com e sem partido, a eleger esta festa como a Festa a que não se pode faltar. Mais, não conseguem sequer vislumbrar por que motivo tanta gente faz da força de vontade as ferramentas com que se ergue a Festa, doa trabalho e saberes para todos os anos a renovar, e ainda paga para usufruir da obra que ajudou a criar. E tudo isto, espante-se, com uma imensa alegria.

Tamanho mistério é necessariamente sintoma de algo muito perigoso. Fossem os tempos esses tempos por que aspiram os que acima de tudo temem os que assim são capazes de inventar a amizade, a solidariedade, a militância, e por todo o lado já haveria cartazes denunciando,« ... em letras enormes do tamanho do medo / da solidão / da angústia», os homens e as mulheres que têm « ... olhos e coração e fome de ternura», como antes do 25 de Abril escreveu Daniel Filipe na sua (ainda) tão actual Invenção do Amor. Não se duvide de que para os detractores da Festa «Está em jogo o destino da civilização que construímos / o destino das máquinas / das bombas de hidrogénio / das normas de discriminação racial / o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos / a verdade incontroversa das declarações políticas», ainda nas palavras do poeta, e que para eles «é preciso evitar o contágio ... antes que seja demasiado tarde e a memória da infância nos jardins escondidos acorde a tolerância no coração das pessoas».

O cerco está aí, presente, actual, disfarçado ou às claras, dos que acima de tudo tememos que não baixam os braços, os que alimentam a esperança, os que constroem o futuro, na certeza, como escreveu Paul Éluard, de que existe sempre au bout du chagrin une fenêtreouverte une fenêtre eclairée (no fim da tristeza uma janela aberta/ uma janela iluminada).

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