2018/02/14

Critica da Imprensa Corporativa - I

No dia em que as parangonas são os juros dos cartões de crédito, as armas para a PSP na luta contra o terrorismo(*), a lei da paridade e os rendimentos da fundação, o prémio de "Irrelevância Criativa" vai para o "i", com o seu importado e consumista dia do consumo à pala de serem namorados, ou gostarem uns dos outros, ou não terem nada que fazer vou-com-el@-ao-chopem-a-ver-se-abicho-qualquer-coisa. Mas estaria a ser injusto se, em tanta primeira página, não reconhecesse uma única notícia. Claro que as há! Uma ou duas, mas apesar de tudo aparecem. Coisas como o facto de o governo ainda ter na gaveta a lei da paridade, as repercussões nacionais da Lava-Jato brasileira ou mesmo os desenvolvimentos em redor do independentismo catalão são sem dúvida notícias, todas na capa do DN.

Depois?

Bem, depois vêm "as curtas". Coisas como o carnaval que já acabou e a musa do Ricardinho são desculpas para o líder de audiências mostrar carne. O futebol só está ausente nas capas da Sonae e da Newsplex. Mais uns carnavais e uns dias de consumo à lá americana e o uso que as vítimas de AVC fazem do 112 completam o ramalhete das irrelevâncias com que os fazedores de factos tentam enganar otários e pescar compradores.

Porque é que não compro jornais?

As capas são as montras dos conteúdos e pelas parangonas se percebe que nenhum dos editores sabe o que é informar, talvez tenham uns laivos de marketing ilustrados por umas interpretações esconsas de estudos de mercado, mas sobre jornalismo népias. Notícias? Nada que vá além do dono que mordeu o cão, e muitas vezes mesmo aquém do cão que mordeu o dono («Portugueses levam 2 horas a chamar o 112», «Medicina Chinesa abre» uma guerra de arlequim e mangerona nas licenciaturas, «séries da BBC com tecnologia» cá da casa).

Mas até há notícias

E no entanto haveria muito para encher as capas com informação, desde o facto de 51% das receitas dos hospitais privados serem provenientes do estado, isto é, dos nossos impostos, passando pelos dados do último boletim do INE de onde concluímos que a «Reposição de rendimentos resulta no maior crescimento económico desde 2000» até às noticias do Trabalho, para sabermos que a «Hotelaria do Norte tem 80 mil trabalhadores com salários congelados» e que o Metro de Lisboa subcontrata para colmatar necessidades quando essa «Opção sai mais cara do que contratação directa», ou que nos dizem algo sobre o mundo em que «Pela primeira vez, um órgão de supervisão europeu, o Comité Europeu de Direitos Sociais, reconhece, explicitamente, direitos sindicais para o pessoal militar [na Irlanda].»
Eu sei que isto dito assim até parece publicidade ao AbrilAbril, mas não é, trata-se apenas de constatar que onde há jornalistas nascem notícias e onde sobrevivem jornaleiros cresce erva ruim.

(*) Búúúuu tenham medo, muito medo do terrorismo, assim não vêm os nossos donos a meter ao bolso os vossos impostos.

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