2017/11/14

O Mundo Deles Onde Nós Por Acaso Sobrevivemos

O Mundo Deles Onde Nós Por Acaso Sobrevivemos
Há mais de cem anos dois jovens barbudos provaram à saciedade que a infraestrutura económica e financeira determina a superestrutura politica, legal, policial, social e cultural, pondo-a ao seu serviço e fazendo desta superestrura o mecanismo de defesa e perpetuação da ordem económica infraestrutural.
 
O texto do Vitor Mareco espelha bem a visão de quem hoje olha para «o mundo deles onde nós por acaso sobrevivemos» e vê como "eles" lá nos vão deixando sobreviver no mundo deles, com os politicos deles, as leis deles, a policia deles, as festas deles, os filmes deles e o mais que eles nos queiram impingir a bem deles e da perpetuação do mundo deles. @Refer&ncia

Sem Titulo
(Vitor Mareco, in facebook 2017/11/14)

Neste momento já não é surpresa para ninguém que os ricos e poderosos desviam os seus capitais para uma economia paralela própria de nome offshore, onde conseguem acumular riqueza longe de qualquer escrutínio estatal. Esta deixou até de ser secreta passando a ser uma nova ordem mundial de desigualdades crescentes em que vivemos. Estes paraísos não são fruto de algum cenário de filme de suspense ou crime onde sinistros capitalistas russos ou mafiosos neo liberais se financiam para governar o mundo. É real e os personagens deixaram de ser exclusivamente os pronunciados, juntando-se o seu actor ou cantor preferido, o seu adorado craque da bola, o seu querido mecenas ou mesmo aquela suposta instituição de caridade onde costuma pôr alguma doação de IRS.

Resumindo: Todos os que tenham dinheiro para isso estão metidos. Os paraísos fiscais revelam ser mesmo uma realidade financeira central. Todos os biliões escondidos funcionam como um planeta onde a sua gravidade atrai os nossos lideres e a nossa economia para um certo rumo - A riqueza extrema de poucos paga com o empobrecimento de muitos vai levar à destruição da classe média e empurrar a maior parte da população mundial para o limiar da pobreza.



A sociedade de hoje vive com uma sensação de eterna revolta interior e vota na mudança irreflectida, resultando sempre na vitória de mais um politico errado porque é quase sempre pior ou igual do que o outro. Cresce a intolerância, aponta-se o dedo aos judeus, aos muçulmanos, à função publica ou ao próprio trabalhador que é acusado por instâncias internacionais de que não é produtivo e que andou a viver acima das suas possibilidades. Culpa-se o mais carenciado e corta-se as suas regalias sociais, vão mas é trabalhar!! exclama o preconceituoso. Apertem o cinto que todos juntos vamos conseguir sair da bancarrota nacional!! Exalta o governante austero. Mas TODOS, mesmo TODOS? O aumento da taxação dos que tem mais em relação aos que tem menos é impensável, dizem. Então não são eles que criam emprego nas sua empresas, não são eles que investem no progresso nacional - Argumentação mesquinha para justificar a criação de uma classe de super homens. Classe constituída por um bando elitista de pessoas que literalmente pensam que são melhores do que todos os outros.

Celebridades, lideres políticos e religiosos, lideres de negócios, todos eles elevados acima de nós, por nós próprios, mas que não querem ter nada connosco...Mea Culpa, digo por todos nós comuns mortais. Os outros, os super seres vivem num mundo só deles. Mundo esse que tem a protecção das nossas próprias leis, a protecção policial, do exercito ou mesmo da força aérea se for preciso para defender a sua propriedade privada.

Embora comendo da mesma comida e respirando o mesmo ar de gente comum, esperam que sejamos nós e apenas nós que os mantenham puros e saudáveis para que consigam estar comestíveis e respiráveis. Exigem que nos eduquemos antes de irmos servi-los com a nossa força de trabalho na criação de mais valias para as suas empresas, sendo o custo das despesas do ensino publico apenas nosso. Esperam que vejamos os seus filmes, que gritemos os seus golos, que compremos os seus produtos, que usemos os seus softwares. Esperam que toda uma classe média seja uma leal e fiel consumidora. Mas lá no Olimpo, onde estão, não necessitam de fazer o que é preciso para manter toda esta máquina económica. Preferem passar esse fardo, esse aborrecimento para outro, para nós seres comuns, bossais e enfadonhos. Retiram os seus biliões para fora do sistema e enfiam-nos numa economia paralela onde reside 10% da riqueza mundial, protegida pela lei, só deles. Tudo é legal, nem sequer foram eles que o aldrabaram, apenas tiraram vantagens nas falhas do sistema que foi construído assim deliberadamente para atingir estes tristes fins. Aqui é que deve residir a nossa revolta, a nossa fúria. Os estados falharam na sua obrigação de mobilizar os recursos necessários para a promoção dos direitos económicos, sociais e culturais das pessoas assim como os recursos necessários para a preservação da espécie humana que se encontra ameaçada face às alterações climatéricas existentes.

Nada disto tem relação com o emprego ou com o crescimento, nem mesmo com liberdade, porque a única liberdade pessoal existente nestes paraísos fiscais é a dos bilionários terem uma vida melhor à custa da nossa. Quantos passaram fome nestes últimos anos para que alguns detentores destas contas offshore pudessem apreciar os seus jactos privados em paz, temos um serviço nacional de saúde degradante para que estes “Special Ones” tenham um segundo yate maior do que o outro e um ensino publico falido para que um par destes indivíduos relaxem nas suas próprias praias privadas. Pensem no que se podia ter feito com as somas do que se perdeu nesta evasão fiscal que já vem desde os anos 80 do século passado. Todas as promessas que os políticos insistem em fazer nas suas campanhas eleitorais poderiam ter sido efectivadas em vez de só prometidas. Mas os nossos lideres preferiram promover uma ínfima classe de individuas, construir-lhes um paraíso terrestre tornando a sua vida sobranceiramente deliciosa e com um poder muito aquém da nossa imaginação. Hoje são eles que decidem o rumo do mundo. Um mundo que é deles, nós por acaso vivemos nele.

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