Apesar de as eleições para o parlamento sueco estarem a decorrer, vale sempre a pena ler a panorâmica que o esquerda.net publicou na passada 6a dia 8 sobre a história e a realidade contemporânea dos partidos politicos que hoje se apresentam aos eleitores suecos. E porque quero ficar com ela aqui mais à mão para refer&ncia futura, vou copiá-la na integra.
Eleições na Suécia: extrema-direita perto de resultado histórico
(Jorge Martins, esquerda.net, 2018/09/08)
As eleições legislativas que decorrerão no próximo domingo, na Suécia, deverão ter como desfecho principal uma forte subida dos Democratas Suecos (SD), uma força política de extrema-direita, anti-imigração, islamofóbica, antissemita, socialmente conservadora e eurocética. O Partido da Esquerda (V) espera, igualmente, obter importantes ganhos, mas estes ficarão bastante aquém dos da direita radical.
Um rei sem poderes reais
A Suécia é uma monarquia constitucional. A partir da revisão constitucional de 1974, o monarca passou a ter apenas o título oficial de chefe de Estado e deixou de ter quaisquer poderes executivos formais, como nomear o primeiro-ministro ou promulgar as leis. Logo, não passa, hoje, de uma figura decorativa, cujo papel é meramente cerimonial, sem qualquer papel na política governativa do país. O poder executivo pertence ao gabinete governamental, chefiado por um primeiro-ministro, escolhido pelo presidente do Parlamento, de acordo com os resultados eleitorais. A promulgação da legislação cabe ao chefe do governo ou a qualquer um dos ministros.
Um sistema eleitoral bastante proporcional
O Parlamento (Riksdag) é unicameral, sendo composto por 349 deputados, eleitos por sufrágio universal, direto e secreto para um mandato de quatro anos.
São eleitos através de um sistema de representação proporcional: 310 em 29 círculos eleitorais, baseados nos 21 condados (län), em que se divide o país, e os restantes 39 num círculo nacional de compensação, através de uma versão modificada do método de Saint-Laguë. Neste, os votos são divididos sucessivamente pelos divisores ímpares (1,3,5,7,9, …), algo que favorece as forças políticas de pequena e média dimensão, ao contrário do de Hondt, em a divisão daqueles é feita por 1,2,3,4,5 e assim sucessivamente, beneficiando as maiores. No caso sueco, o primeiro divisor foi alterado, de 1 para 1,4 (valor aproximado da raiz quadrada de 2), o que torna mais difícil a eleição de deputados pelos partidos mais pequenos.
Embora apresentando listas próprias, várias formações podem coligar-se num ou mais círculos ou, mesmo, a nível nacional. Nesse caso, para efeito de alocação dos mandatos, os seus votos são contados em conjunto e os lugares atribuídos em função desse número. Posteriormente, serão divididos entre os partidos coligados, de acordo com a proporção de votos obtidos por cada um deles. Existe uma cláusula-barreira para a obtenção de representação parlamentar: 4% dos votos válidos a nível nacional ou 12% a nível de uma circunscrição regional. Para os partidos que a ultrapassem, o sistema é altamente proporcional, já que a distribuição dos mandatos é feita a nível nacional. Após o cálculo dos lugares que cabem a cada força política, são descontados, para cada uma delas, o número de lugares obtidos nos círculos regionais. Os que restam são eleitos através do círculo de compensação. Se algum(ns) partido(s) tiver(em) obtido mais deputados nas circunscrições regionais que os que lhe cabem na distribuição nacional, te(e)m direito a mantê-los, reduzindo-se, então, o número de eleitos no círculo compensatório. Um procedimento que é muito semelhante ao sistema que rege as eleições regionais nos Açores. Porém, na Suécia, não existe uma lista de candidatos ao círculo de compensação, sendo os lugares conquistados por esse círculo atribuídos às circunscrições em que esses partidos estiveram mais próximos de eleger deputados, o que, na prática, funciona como uma espécie de repescagem a nível regional.
Para terminar, de referir que existe um sistema de voto preferencial. O eleitor pode votar no partido, num dos candidatos da lista ou, mesmo, escrever um nome alternativo num boletim em branco. O(s) candidato(s) que conseguir(em) 8% ou mais dos votos do seu partido nessa circunscrição, passa(m) para o cimo da lista.
As consequências da subida da extrema-direita na governação
Durante muito tempo, a política sueca foi dominada por dois grandes blocos: o do centro-esquerda ou “vermelho-verde”, constituído, agora, por social-democratas, verdes e esquerda, e o da direita, também conhecido por “burguês” e que, em 2014, se apresentou unido na Aliança pela Suécia, do qual fazem parte democrata-cristãos, conservadores, liberais e centristas ou agrários. Porém, nas últimas eleições, os Democratas Suecos, da extrema-direita, conseguiram uma votação que impediu qualquer um dos dois blocos de obter uma maioria parlamentar. Como a esquerda tinha uma maioria relativa e os social-democratas foram a formação política mais votada, o seu líder, Steven Löfven, formou um governo minoritário com os verdes e o apoio parlamentar da esquerda. Porém, em dezembro, o orçamento foi chumbado pelo voto conjugado dos partidos da Aliança e da extrema-direita. O chefe do governo anunciou a realização de novo ato eleitoral no dia 29 desse mês, mas um acordo de última hora evitou esse cenário. Assinado por todos os partidos, com exceção dos Democratas Suecos e da Esquerda, previa que, até 2022, nenhum dos partidos signatários votaria contra qualquer orçamento apresentado, comprometendo-se as forças da oposição a abster-se. Contudo, no ano seguinte, os democrata-cristãos desvincularam-se do acordo e este deixou de estar em vigor. Contudo, no resto da legislatura, conservadores, liberais e centristas abstiveram-se, deixando, assim, passar os orçamentos da coligação entre social-democratas e verdes, apoiada pela esquerda.
Nas eleições do próximo domingo, tudo indica que os oito partidos representados no Parlamento aí se manterão, não sendo previsível a ascensão à representação de quaisquer forças extraparlamentares.
Social-democratas esperam o pior resultado de sempre
Os social-democratas, oficialmente Partido dos Trabalhadores - Social-democratas (Arbetarepartiet–Socialdemokraterna), vulgarmente conhecidos por Social-democratas (Socialdemokraterna) e pela sigla S, são o maior partido do país, fundado em 1899, a partir de uma forte base sindical. Chegados ao poder em 1932, mantiveram-se nele sozinhos ininterruptamente até 1976, governando, primeiro, com o apoio parlamentar dos agrários/centristas e, mais tarde, do pequeno partido comunista, já que raramente tiveram uma maioria absoluta no Riksdag. A exceção foi o período da 2ª guerra mundial, em que lideraram um executivo de unidade nacional, com exclusão apenas dos nazis e dos comunistas. O seu longo período de governação teve o grande mérito de ter transformado uma nação até aí pobre (nos finais do século XIX e até ao primeiro conflito mundial, mais de um milhão de suecos emigraram para os EUA, onde se estabeleceram, essencialmente nos estados do Midwest, com destaque para o Minnesota) num país industrializado e próspero. Sob as lideranças de Tage Erlander e, especialmente, de Olof Palme, o país criou um verdadeiro “estado de bem-estar”, com serviços públicos de educação e saúde gratuitos e de qualidade, um generoso sistema de pensões e de subsídios de desemprego (aliás, bastante baixo nesse período), a atribuição de um rendimento mínimo e um sistema de novas oportunidades para os trabalhadores menos qualificados, um vasto programa de habitação social e de rendas subsidiadas, apoios estatais às pessoas com deficiência, às crianças, às famílias monoparentais e aos imigrantes, entre outras medidas de justiça social. Este era financiado através da redistribuição fiscal, possível graças a um sistema de impostos diretos fortemente progressivos (as taxas para os mais ricos podiam chegar aos 80% do seu rendimento) e facilitada por um forte movimento sindical, que permitia a valorização salarial e impunha limites claros ao poder patronal. Assim, a pobreza, nesse período, tornou-se residual no país. Além disso, foi dos primeiros estados a tomar medidas com vista à igualdade de género, aos direitos LGBT e, nos anos 70, à proteção ambiental, embora tenha mantido o seu programa de energia nuclear para a produção de eletricidade. Em política externa, praticou uma política próxima do não alinhamento, condenando com vigor tanto os bombardeamentos dos EUA no Vietname como a invasão da Checoslováquia por parte da URSS, e apoiou política e financeiramente os movimentos de libertação africanos, com destaque para os das ex-colónias portuguesas e os que lutavam contra o “apartheid”, e algumas guerrilhas latino-americanas. Conciliando as liberdades cívicas e políticas com os direitos económicos e a justiça social, a social-democracia sueca, não sendo uma experiência socialista, foi, porventura, a que, até hoje, obteve resultados mais próximos dos ideais do socialismo. Isto, claro, beneficiando de condições excecionais, ao nível geográfico (ser um país grande e relativamente pouco povoado), sociológico (nessa época, era relativamente homogéneo do ponto de vista étnico, linguístico e religioso), histórico (beneficiou muito do grande crescimento económico da Europa capitalista durante os “30 gloriosos” e de um tempo onde existiam fortes limitações aos movimentos de capitais) e económico (as multinacionais suecas beneficiavam muito dos lucros obtidos no exterior, onde, apesar de mais “civilizadas” que as suas congéneres dos EUA, aproveitavam a mão de obra barata existente nos países periféricos da Europa do sul e de outros continentes), algumas das quais são irrepetíveis. O assassinato, ainda hoje inexplicado, de Olof Palme, em 1986, após ter regressado ao poder quatro anos antes, aceleraram a conversão do partido às teses da “terceira via” e consequente adesão às políticas neoliberais. Aliás, não sendo muito adepto das teorias da conspiração, tenho para mim que o referido assassínio foi encomendado pelos DDT mundiais, já que foi a partir daí que se assistiu à progressiva rendição dos partidos social-democratas europeus e mundiais ao neoliberalismo, expresso no chamado “consenso de Washington”. Daí que os S tenham vindo a perder força eleitoral, tendo, nos últimos sufrágios, ficado pouco acima dos 30%. Assim, nas eleições de 2013, obteve 31,0% dos votos, o que lhe valeu a eleição de 113 deputados. Agora, sob a liderança do primeiro-ministro, Steven Löfven, que luta pela recondução no cargo, deverá pagar por alguma impopularidade do executivo, pelo que as sondagens não são simpáticas, prevendo um resultado entre os 23 e os 26%, ou seja, o seu pior resultado eleitoral de sempre, desde que concorreu pela primeira vez a eleições legislativas, em 1911.
Conservadores também enfrentam descida eleitoral
Na legislatura agora finda, a maior força política da oposição de centro-direita foi o Partido Moderado ou da Aliança Moderada (Moderata samlingspartiet), vulgarmente conhecidos por Moderados (Moderaterna) e pela sigla M. Trata-se de um partido liberal-conservador, geralmente associado aos interesses dos setores empresarial e financeiro e às franjas mais conservadoras da sociedade sueca. Fundado em 1904, por um grupo de políticos conservadores, em resposta ao aparecimento dos liberais e dos social-democratas, com o nome de Liga Geral Eleitoral, surgiu como partido nacionalista e pró-monárquico, defendendo o protecionismo económico e uma defesa forte, com reforço das Forças Armadas. Contudo, nos anos 20, converteu-se ao liberalismo económico e tornou-se menos nacionalista. Em 1938, adotou a designação de Höger (Direita) e, em 1952, Högerpartiet (Partido da Direita). Após a conquista do poder pelos social-democratas, em 1932, esteve na oposição até 1976, com exceção do governo de unidade nacional existente no tempo da 2ª guerra mundial. Com uma linha próxima dos conservadores britânicos, o partido exerceu uma oposição radical às políticas da social-democracia, clamando contra a elevada carga fiscal e em defesa da propriedade privada, contra o que considerava ser uma forma de implantar gradualmente o socialismo no país. Contudo, a popularidade do “estado do bem-estar” tornou as suas propostas anacrónicas e o partido passou a ser visto como uma formação de direita radical, defensora dos interesses das classes altas, o que o levou, a partir de meados da década de 50, a perder popularidade. Por isso, em 1969, adotou a atual designação. Voltou ao poder entre 1976 e 1982, embora os executivos tivessem sido liderados pelo Partido do Centro, então o maior do bloco “burguês”. A partir daí, tornaram-se a maior força política do centro-direita e, em 1991, o seu líder, Carl Bildt, tornou-se primeiro-ministro. O seu governo encetou uma série de reformas no sentido do neoliberalismo: privatizou setores estratégicos, cortou no investimento público, reduziu os impostos aos mais ricos e às empresas, desregulou a legislação laboral, introduziu o cheque-ensino e autorizou os grupos privados de saúde a nível regional. Essas políticas custaram a derrota à coligação de direita em 1994, embora os Moderados tenham subido a sua votação. O partido só voltou ao poder em 2006, sob a liderança de Fredrik Reinfeldt, que adotou uma plataforma mais centrista, menos hostil ao Estado Social, o que lhe valeu a reeleição quatro anos depois. É abertamente pró-UE, sendo favorável à adesão ao euro e à entrada do país na NATO, juntamente com a Finlândia. Daí ter feito regressar o serviço militar obrigatório. Em 2014, sofreu uma derrota eleitoral, obtendo 23,3% dos votos e a eleição de 84 parlamentares. Desde então, sob a liderança de Anna Batra, virou novamente à direita, passando a defender políticas mais duras contra o crime, um maior investimento na defesa e um maior controlo da imigração. Apesar disso, a sua popularidade não cresceu e Ulf Kristersson substituiu a impopular líder. Contudo, as sondagens continuam a não ser nada favoráveis para os conservadores, prevendo um resultado entre os 17 e os 19% e a eventual queda para terceira força política, atrás dos social-democratas e da extrema-direita.
Extrema-direita à beira de um resultado histórico
Os Democratas Suecos (Sverigedemokraterna), com a sigla SD, são o principal partido da extrema-direita do país. Fundados em 1988, a partir da fusão de pequenos partidos da direita nacionalista e alguns grupos neofascistas e neonazis, defensores da supremacia branca, foram, até 2002, uma força política ultraminoritária, não atingindo sequer 0,5% dos sufrágios. Contudo, desde o final dos anos 90 que o partido vinha procurando distanciar-se das suas origens, proibindo a simbologia pró-nazi e expulsando alguns membros mais radicais das suas hostes. Após a chegada à liderança de Jimmie Åkesson, em 2005, intensificou-se essa estratégia de “desdiabolização”, que valeu o aumento do apoio popular à formação. Assim, em 2010, os SD chegaram ao Parlamento, obtendo 5,7% dos votos e, em 2014, mais que duplicaram a sua votação, conseguindo 12,9% dos sufrágios e elegendo 49 lugares. Apesar disso, estamos em presença de uma força política de extrema-direita, com uma retórica fortemente anti-imigração, islamofóbica e também antissemita. É abertamente contra o multiculturalismo, defendendo o que considera serem os “valores suecos” e considera que existem demasiados estrangeiros no país, muitos dos quais não se integram na sociedade sueca, contribuindo, na sua opinião, para o aumento da criminalidade e da violência. Defende, assim, a deportação dos ilegais e a criação de condições que permitam aos restantes regressar aos seus países, bem como a rejeição à entrada de refugiados. Possuem uma visão racista e xenófoba da identidade sueca e defendem o fim dos direitos concedidos às minorias étnicas existentes no país, em especial os sami. Estes, anteriormente conhecidos por lapões, vivem no Grande Norte, tanto na Suécia como na Noruega, na Finlândia e na península de Kola, na Rússia, e são, em geral, criadores de renas. Recebem importantes apoios estatais e possuem, em cada um desses países, um Parlamento Sami, com autonomia para tratar dos assuntos específicos da sua comunidade, embora o russo não seja oficialmente reconhecido pelo governo de Moscovo. Recebem, ainda, subsídios estatais para o desenvolvimento das suas atividades económicas, algo a que os SD se opõem. Defendem, então, o fim de todas as discriminações positivas para as minorias étnicas e religiosas. Em contrapartida, apregoam o aumento dos apoios aos mais idosos. Afirmam-se defensores da lei e da ordem e advogam penas mais pesadas para os crimes violentos e a pedofilia, instituindo a prisão perpétua sem possibilidade de libertação posterior. São, igualmente, conservadores no plano dos costumes, priorizando a chamada “família tradicional”. Logo, opõem-se ao casamento LGBT, embora afirmem nada ter contra os homossexuais. Têm, ainda, uma visão negacionista das alterações climáticas. Na política económica, defendem o protecionismo face ao exterior e a renacionalização das empresas estratégicas para o país, mas, em contrapartida, pretendem uma descida dos impostos sobre os mais ricos (baixando as taxas do IRS e dos impostos sobre a propriedade e eliminando o imposto sucessório) e sobre as empresas. No plano externo, são abertamente eurocéticos, defendendo a realização de um referendo sobre a manutenção da Suécia na UE, pretendendo substituir a presença do país nesta pela criação de uma Comunidade Nórdica. Opõem-se à adesão à NATO, embora apoiem o aumento das despesas militares. Apesar da tentativa de se demarcarem das posições mais extremistas, a verdade é que tem sido frequente alguns parlamentares e dirigentes nacionais e locais tropeçarem em declarações racistas, xenófobas, homofóbicas, islamofóbicas e antissemitas, levando à sua demissão e, em alguns casos, à expulsão do partido. Apesar dos ataques e dos cortes que sofreu nos últimos anos, por parte dos governos da direita e também de alguns executivos social-democratas, a verdade é que o Estado Social sueco ainda é bastante mais generoso do que a maioria dos seus congéneres europeus. Contudo, o aumento do desemprego e da criminalidade que são consequência dessas políticas levam uma parte significativa da sociedade a corroborar os argumentos da extrema-direita de que existe uma ligação direta entre aqueles problemas sociais e a imigração. Ao mesmo tempo, a acusação aos imigrantes e refugiados de que “não querem trabalhar, mas apenas receber subsídios” tem eco numa sociedade fortemente marcada pela ética protestante, como é a sueca. Por outro lado, a chegada dos imigrantes, com culturas muito diferentes, perturbou, de alguma forma, a tradicional quietude (embora aparente, como mostram Stieg Larsson e Camila Läckberg, entre outros escritores suecos de policiais) das sociedades nórdicas, até então bastante homogéneas. Há, ainda, o cansaço face ao sistema político e aos partidos tradicionais. Em 1982, Olof Palme, regressado ao poder, reverteu grande parte das medidas dos dois anteriores governos de direita que, em seu entender, punham em causa o “estado de bem-estar”. Com a rendição dos social-democratas e dos verdes ao neoliberalismo dominante, a alternativa entre centro-direita e centro-esquerda transformou-se em mera alternância de poder. Logo, para muitos, o voto nos SD, que se apresenta como uma formação antissistema, funciona como voto de protesto. Estes continuam a ganhar apoios, especialmente entre antigos eleitores conservadores e social-democratas, e a maioria das sondagens prevê que se tornem na segunda força política do país, com uma votação entre os 17 e os 20%, apesar de as suas intenções de voto terem sofrido alguma quebra nos últimos dias.
Verdes com previsão de perdas significativas
A quarta força política representada no Parlamento que agora finda o mandato é o Partido do Ambiente Os Verdes (Miljöpartiet de gröna), conhecido pela sigla MP. Foi fundado em 1981, após a derrota tangencial dos partidários do abandono da energia nuclear num referendo nacional, realizado no ano anterior. Contudo, apenas chegou ao Parlamento em 1988, mas perdeu a representação parlamentar no ano seguinte. Regressou em 1994 e nunca mais saiu, mas os seus resultados estão longe dos de alguns dos seus congéneres europeus, quedando-se entre os 4,5 e os 7,5%. O partido preconiza a prossecução de um desenvolvimento sustentável, pelo que defende o fim do nuclear no país e a prioridade na luta contra as alterações climáticas. É ainda defensor dos direitos das mulheres, das crianças, das comunidades LGBTI e das minorias étnicas, com integração harmoniosa dos imigrantes, dos direitos dos animais e da democracia participativa. De matriz pacifista, opõe-se à entrada do país na NATO e mantém uma visão eurocética, embora tenha deixado de defender a saída do país da UE. É o único partido sueco que possui uma liderança paritária, sendo colíderes Gustav Fridolin (atual ministro da Educação) e Isabella Lövin. (que detém a pasta da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento). Tem integrado o bloco vermelho-verde, embora, a nível local, não descarte alianças com o centro-direita. Assim, deu apoio parlamentar aos governos social-democratas entre 1994 e 2006. Nas eleições de 2014, obteve 6,9% dos votos e elegeu 25 parlamentares, um dos seus melhores resultados. Daí que os social-democratas os tenham convidado para uma coligação governamental, algo que sucedeu pela primeira vez. Contudo, acabaram por ser atingidos pela impopularidade do governo e, durante algum tempo, houve inquéritos que os colocavam abaixo da cláusula-barreira de 4%. Contudo, nos últimos meses, recuperou algum apoio e as últimas sondagens atribuem-lhe intenções de voto entre os 4,5 e os 5,5%.
Partido do Centro com boas perspetivas de crescimento eleitoral
O segundo maior partido da aliança do centro-direita nesta última legislatura foi o Partido do Centro (Centerpartiet), sigla C. A sua existência radica numa originalidade dos países nórdicos: a existência de importantes partidos agrários. Esta explica-se pelo facto de nunca ter existido aí um regime feudal semelhante ao que caracterizou a Idade Média no resto da Europa. Assim, os camponeses foram, desde sempre, pessoas livres, o que lhes permitiu intervir politicamente na sociedade, logo no advento das democracias liberais. Numa altura em que a revolução industrial produzia uma crescente urbanização das sociedades, estas forças políticas procuravam, de alguma forma, defender os interesses dos agricultores e das populações rurais. Na Suécia, o partido agrário nasceu em 1913, com a designação de Liga dos Agricultores, e foi, até meados dos anos 50, o principal parceiro de coligação dos social-democratas. Contudo, em 1957, na sequência dos maus resultados nas eleições do ano anterior, mudou o nome para a designação atual, assumindo-se como uma formação política centrista (algo que seria seguido, anos depois, pelos seus homólogos norueguês e finlandês) e passou a integrar o chamado bloco “burguês”. Em 1976, após 44 anos de governos social-democratas, a direita venceu as eleições e o líder do partido, Thorbjörn Fälldin, assumiu a chefia do governo, que manteve, com um pequeno intervalo, até 1982. Após a derrota eleitoral nesse ano, os centristas perderam popularidade, ficando o seu eleitorado cada vez mais confinado às áreas rurais, onde goza do apoio dos pequenos agricultores. Daí que, desde 1988, a sua percentagem de votação não atinja aos dois dígitos. Desde o início do século que o partido se tem aproximado cada vez mais da direita liberal, apresentando uma visão abertamente pró-mercado, em especial defendendo os pequenos empresários da agricultura, indústria e comércio. Mostra algumas preocupações ambientais e é favorável a uma maior descentralização do poder. Defende a abertura à imigração e o acolhimento de refugiados, embora considere que estes têm de fazer um esforço de integração na sociedade sueca. Apoia a presença do país na UE, mas defende uma maior autonomia dos estados nacionais face a Bruxelas e é contrário à adoção do euro. Nas eleições de 2014, obteve 6,1% dos votos, que lhe valeram 22 mandatos, tendo-se mantido na oposição, embora viabilizando a manutenção do governo, através da abstenção. Alguns setores social-democratas procuraram convencer o partido a mudar de bloco, passando a integrar o vermelho-verde, a exemplo dos seus congéneres noruegueses, mas a sua líder, Annie Lööf, rejeitou a proposta. Esta é uma mulher bastante inteligente e simpática, o que lhe garante alguma popularidade, sendo possível que possa ir buscar alguns eleitores liberais e conservadores. Daí que as sondagens sejam animadoras, prevendo para os centristas um resultado entre os 8,0 e os 10,0%, o que, a confirmar-se, será o seu melhor resultado dos últimos 30 anos.
Partido da Esquerda espera grande aumento de votação
O Partido da Esquerda (Vänsterpartiet), conhecido pela sigla V, poderá ser uma das grandes surpresas destas eleições. Tem as suas origens numa cisão dos social-democratas, ocorrida em 1917, na sequência da revolução russa, que levou à criação do Partido da Esquerda Social-Democrata Sueca (SSV). Este transformar-se-ia, em 1921, no Partido Comunista da Suécia (SKP), após a expulsão dos seus elementos mais moderados. Nos anos 20 e 30, foram várias as cisões e dissensões no seu seio. Durante a 2ª guerra mundial, em que a Suécia se manteve neutra, o partido adotou essa posição até à invasão da URSS pela Alemanha nazi. A partir daí, passou a apoiar a causa aliada e ajudou, quer com a participação dos seus militantes, quer com o fornecimento de materiais que desviavam das fábricas e minas, as resistências norueguesa e dinamarquesa. Tal como sucedeu com outros partidos comunistas da Europa ocidental, a resistência ao nazi-fascismo fez crescer a sua popularidade, tendo, nas eleições de 1944, obtido mais de 10% dos votos. Contudo, rapidamente esse apoio popular se esboroou, em especial devido às políticas soviéticas na Europa de leste e também devido à oposição que lhes foi movida pelos social-democratas no seio do movimento sindical. Também as políticas de construção de um forte “estado de bem-estar” por parte daqueles reduziram a base se apoio dos comunistas. Apesar disso, apenas em duas eleições intercalares (1958 e 1968), o partido não superou a cláusula-barreira de 4%, mantendo, em geral, um eleitorado relativamente estável, entre os 4,5 e os 5,5%. Após a rutura dos centristas com os social-democratas, estes passam a necessitar do apoio parlamentar dos comunistas para governar, sempre que não têm maioria absoluta. No início dos anos 60, o SKP começa a distanciar-se da linha pró-soviética e, em 1967, adota a designação de Partido da Esquerda – Comunistas (VPK), aderindo ao que, então, ficou conhecido como eurocomunismo. No ano seguinte, foi o primeiro partido comunista a condenar a invasão da Checoslováquia pelas tropas soviéticas. Dez anos depois, uma parte dos militantes mais ortodoxos deixa o partido e cria uma nova formação política. Em 1990, na sequência da queda do muro de Berlim, deixa cair a designação “Comunistas”, ficando apenas como Partido da Esquerda (V). Sob a liderança de Gudrun Scheyman, a primeira mulher à frente na sua história, o V adota o feminismo como uma das suas bases ideológicas. A sua popularidade cresce: em 1994, consegue 6,2% dos sufrágios e, em 1998, quase duplica a sua votação, obtendo o seu melhor resultado eleitoral de sempre, com 12,0% dos votos. Nesse período, fez parte da maioria governamental vermelho-verde, o que lhe permitiu influenciar algumas medidas do executivo, como a que pune os clientes que recorram a serviços sexuais. Contudo, em 2002, o V cai para os 8,5% e, dois anos depois, a sua líder abandona o partido e cria a Iniciativa Feminista. Daí para cá, os resultados não têm sido famosos, situando-se, aproximadamente, entre 5,5 e os 6%. O partido tem como objetivo a construção de uma democracia socialista e assenta em três bases ideológicas: marxismo, feminismo e ecologia. Defende a renacionalização das empresas estratégicas, o investimento nos serviços públicos, o fim do cheque-ensino, o aumento dos direitos laborais e sindicais e dos apoios a crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência e desempregados, políticas conducentes à igualdade de género, como o fim das desigualdades salariais entre homens e mulheres, os direitos das comunidades LGBTI, o fim do nuclear e a luta contra as alterações climáticas e pelo desenvolvimento sustentável. Para votar a favor do último orçamento, exigiu que o valor das taxas pagas nos serviços públicos não pudesse reverter para o setor privado. Defende a integração harmoniosa de imigrantes e refugiados, com políticas ativas de emprego a eles destinadas, bem como cursos gratuitos de aprendizagem da língua sueca. Na política externa, segue uma linha pacifista e opõe-se abertamente à NATO. É, ainda, acentuadamente eurocético, tendo votado contra a adesão do país à UE e sendo, em última análise, favorável à sua saída. Aderiu, juntamente com os seus congéneres dinamarquês e finlandês, à aliança Agora o Povo, fundada pelo Bloco de Esquerda, pelo Podemos e pela France Insoumise, com vista às próximas eleições europeias. No último ato eleitoral, o partido, já sob a liderança de Jonas Sjöstedt, um antigo operário e dirigente sindical metalúrgico, recolheu 5,7% dos sufrágios, o que lhe garantiu a conquista de 21 lugares parlamentares. Agora, as sondagens são bastante animadoras e a esquerda poderá ter um excelente resultado, com uma votação entre os 9,5 e os 10,5% dos votos.
Liberais manterão as suas posições
Os Liberais (Liberalerna), com a sigla L, são o terceiro partido da aliança de direita. Adotaram essa designação em 2015, já que até então eram o Partido Popular Liberal (Folkpartiet liberalerna), conhecido pela sigla FP. As suas origens remontam a 1902, quando foi formada a Associação Nacional dos Livres-pensadores, com vista a promover a laicização da sociedade sueca. Era, então, uma força progressista, que, entre outras aspirações, apoiou o movimento sufragista, que levou à consagração do sufrágio feminino nas eleições municipais, em 1909, e nas legislativas, em 1921. A “lei seca”, introduzida dois anos depois, levou à cisão na organização, com os opositores à proibição do consumo e venda de álcool a formar o Partido Liberal, que, em 1934, adotaria a designação de Partido Popular. Se, até aos anos 20, foi aliado dos social-democratas, passou a ser adversário daqueles, já que se opunha firmemente à sua política de nacionalizações. Só voltou ao poder em 1976, após o histórico triunfo da direita, que pôs termo a 44 anos de governos social-democratas. Após um desentendimento na coligação vencedora, o seu líder, Ola Ulisten, foi primeiro-ministro por um breve período de tempo, em 1978 e 1979. Em 1990, adotou a designação de Partido Popular Liberal, que viria a cair em 2015. Posteriormente, integrou os governos de centro-direita de Carl Bildt (1990-1994) e Fredrik Reinfeldt (2006-2014). O partido, que, originariamente, se definia como social-liberal, pugnando por uma economia mista e um Estado Social baseado em mecanismos de mercado, foi progressivamente virando à direita, tendo-se tornado um entusiasta das políticas neoliberais. No plano dos costumes, defende a igualdade de género e os direitos das comunidades LGBTI. A nível internacional, apoia uma maior ajuda internacional ao desenvolvimento. Opôs-se ao nazismo e, durante a “guerra fria”, adotou uma linha fervorosamente anticomunista e antissoviética, defendendo, desde sempre, a integração do país na NATO. É abertamente pró-UE e advoga a adesão da Suécia ao euro. Defende o acolhimento de imigrantes e refugiados, embora, após a derrota eleitoral de 1998 (onde esteve prestes a não ultrapassar a cláusula-barreira), tenha adotado uma linha populista de defesa da lei e da ordem, de luta contra a criminalidade e o terrorismo, com reforço dos poderes das forças policiais e das penas para os crimes violentos, bem como a ênfase na disciplina nas escolas e a realização de um teste linguístico para os imigrantes. Depois de, a partir de meados dos anos 50, ter vindo, paulatinamente, a perder popularidade, a adoção dessa linha valeu-lhe, em 2002, o seu melhor resultado desde 1985, atingindo 13,5% dos sufrágios, algo a que não serão estranhos os efeitos dos atentados de 11 de setembro do ano anterior. Contudo, nas eleições seguintes, o apoio diluiu-se, ficando na casa dos 7,5%. Os liberais corrigiram, então, a sua posição e passaram a defender o acolhimento de imigrantes e refugiados, acompanhado de medidas que facilitem a sua integração na sociedade sueca. Dirigido, desde 2007, por Jan Björklund, antigo ministro da Educação nos governos de Reinfeldt, o partido ficou-se por uns modestos 5,4% nas eleições de 2014, elegendo 19 deputados. Para domingo, as sondagens preveem uma subida pouco significativa, correspondente a intenções de voto entre os 5,5 e os 6,5%.
Democrata-cristãos deverão subir ligeiramente
Os Democrata-Cristãos (Kristdemokraterna), conhecidos pela sigla KD, são o último partido com representação parlamentar, sendo o mais recente e, até agora, o mais pequeno da aliança do centro-direita. Foi fundado em 1964, na sequência dos protestos contra o fim da educação religiosa nas escolas públicas, levada a efeito pelo governo social-democrata de então, com o nome de União Democrata-Cristã, até adotar a atual designação em 1996. A sua implantação é maior nas chamadas “igrejas livres”, isto é, as confissões protestantes minoritárias no país, onde a maioria da população é luterana e pertencente à chamada Igreja da Suécia, que teve o estatuto de religião oficial até 2000. Para além da defesa de valores conservadores no plano dos costumes, como a defesa da família tradicional e a oposição à legalização do aborto (que abandonaria na década de 80), o partido foi o primeiro a defender uma abordagem ambientalista, tendo votado pelo fim da opção nuclear no referendo de 1980. Apesar de algumas resistências, dos que queriam mantê-lo como uma força política com uma agenda própria, independente dos dois blocos partidários, acabou por aderir à aliança de centro-direita. Do seu programa constam a redução dos impostos, a desregulamentação em favor das empresas, a “liberdade de escolha” na educação e na saúde, o aumento do apoio aos idosos e a defesa da transição energética. Elegeu o seu primeiro deputado nas listas do Partido do Centro, em 1985. Contudo, só seis anos depois entrou no Parlamento por mérito próprio, obtendo 7,2% dos sufrágios, o que lhe valeu a participação no gabinete de Carl Bildt. Após uma descida no ato eleitoral seguinte, obteve o seu melhor resultado de sempre em 2002, com 11,8% dos votos, graças à grande popularidade do seu líder de então, Alf Svensson. Com a saída deste, o apoio popular ao partido diminuiu, o que levou a divisões no seu seio: alguns setores mais tradicionalistas propuseram uma agenda social-conservadora, com destaque para a oposição ao aborto e aos direitos LGBTI e, mesmo, uma abordagem proibicionista face ao álcool e a algumas formas de tabaco; outros, onde se integra a nova líder, Ebba Busch, pretendem transformá-lo num partido liberal-conservador e não numa formação de inspiração religiosa. Em 2014, ficou pouco acima da cláusula-barreira, com uns modestos 4,6% dos votos e a eleição de 16 deputados. Agora, as sondagens, que, até há poucos meses, davam o KD abaixo dos 4%, são mais animadoras e tudo indica que melhore ligeiramente a sua posição, com uma votação sensivelmente entre os 6,0 e os 7,0% dos sufrágios, podendo, mesmo, ultrapassar os liberais e os verdes.
Outras forças políticas sem hipóteses de chegar ao Parlamento
Das outras forças participantes, há a registar a Iniciativa Feminista (Feministiskt initiativ), sigla FI. Fundada em 2005 pela ex-líder do Partido da Esquerda, Gudrun Schyman, como grupo de pressão feminista, transformou-se pouco depois em partido político e concorreu às legislativas do ano seguinte. Os resultados foram bastante modestos, o mesmo sucedendo quatro anos depois. O partido foi vítima de várias incompreensões e má fé por parte de alguma comunicação social, que acusava uma proposta da FI de querer acabar com o casamento e de permitir a poligamia. Porém, nas eleições europeias de 2009, obtivera 2,2% dos sufrágios, insuficientes para obter um mandato, mas, ainda assim, promissores. Em 2014, mais que duplicou a sua votação e, com 5,3% dos votos, conseguiu uma eleita no Parlamento Europeu, que se viria a sentar no Grupo Socialista. Nesse mesmo ano, nas legislativas, falhou por pouco a entrada no Riksdag, ao obter 3,1%. Contudo, para as eleições de domingo, as sondagens mais otimistas não preveem uma votação superior a 1,5%, devendo o partido ser vítima do chamado “voto útil” nas forças de esquerda com representação parlamentar (social-democratas, verdes e esquerda).
Também o Partido Pirata (Piratpartiet) merece alguma atenção, já que foi pioneiro a nível mundial. Foi fundado em 2006, tendo como objetivo a liberdade total de cópia dos conteúdos existentes na Internet, defendendo a alteração das leis que regem a propriedade individual e o ”copyright”. A partir daí, vários partidos similares cresceram em todo o mundo, formando mesmo uma Internacional de Partidos Piratas. Para além dessa agenda libertária, que considera essencial para preservar os direitos individuais contra a interferência estatal, coloca, igualmente, a ênfase na transparência da ação governativa. O seu momento de glória ocorreu nas europeias de 2009, quando, com 7,1% dos votos, os ”piratas” elegeram dois eurodeputados. Porém, cinco ano depois, ficaram.-se pelos 2,2% e perderam a representação no PE. Nas eleições nacionais, os resultados são bastantes modestos, sempre abaixo de 1% (0,4% há quatro anos) e não se prevê que desta vez seja diferente.
Há, ainda, a Alternativa para a Suécia (Alternativ för Sverige), a AFS, uma formação da extrema-direita, resultante de uma cisão nos Democratas Suecos, e que retirou a designação dos seus congéneres alemães. Porém, não deve ultrapassar 1% dos votos.
Depois, há várias pequenas formações de diferentes matizes ideológicos e outras de âmbito regional e local, que terão, seguramente, uma votação residual.
Prováveis cenários pós-eleitorais
Face ao quadro exposto, e apesar das variações na votação dos diferentes partidos parlamentares, com perdas significativas dos dois maiores até ao momento (social-democratas e “moderados”), tudo indica que, no essencial, teremos um quadro semelhante ao da última eleição, em que nenhum dos dois grandes blocos (do centro-esquerda e do centro-direita) terá a maioria absoluta dos lugares parlamentares. Com os dados das últimas sondagens, é de prever que o primeiro obterá mais mandatos que o segundo, como sucedeu há quatro anos, embora isso não seja totalmente certo. Caso não haja um qualquer entendimento entre ambos para facilitar a governação, como ocorreu nesta legislatura, a extrema-direita terá sempre a possibilidade de bloquear a ação do executivo, votando ao lado da oposição, seja ela qual for, como aconteceu na crise orçamental de 2014. Uma hipótese seria a possibilidade, já acima referida, de os centristas mudarem de campo, como na vizinha Noruega, mas haveria sempre o risco de tal ser considerado uma traição por boa parte dos seus eleitores. Resta saber se, em alguns setores do centro-direita, não haverá a tentação de incluir os Democratas Suecos no seu campo, a exemplo do que sucede na Dinamarca, com o Partido Popular Dinamarquês a apoiar o governo da direita, em troca do endurecimento das políticas migratórias, ou na Noruega, onde o Partido do Progresso se “domesticou”, tornando-se numa formação de matriz nacional-conservadora, e integra o executivo de centro-direita. Acontece que os DS, tanto pelas suas origens como pelas declarações dos dirigentes, mais radicais que os seus congéneres, apesar da estratégia de “desdiabolização” levada a cabo por Jimmie Åkesson e os seus próximos na direção do partido. Por isso, se entrarem na área do poder, tudo indica que a Suécia será mais um país a juntar-se à onda populista e xenófoba que varre a Europa neste ano de 2018.
(*) Professor. Mestre em Geografia Humana e pós-graduado em Ciência Política. Membro da coordenadora concelhia de Coimbra do Bloco de Esquerda
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