A armadilha das "teorias da conspiração" funciona porque algumas delas são tão reais que, na ausência de bases teóricas explicativas bem fundamentadas, muitos de nós acabamos a deixar-nos enredar nas outras que são meras manobras da ideologia dominante.
Um exemplo preocupante é a campanha anti-vacinação que vai ganhando terreno numa esquerda alternativa esvaziada dos fundamentos marxistas, por definição humanistas, adeptos da ciência e do método cientifico e que colocam a luta de classes como motor da história e, portanto, a existência de duas classes com interesses antagónicos, no centro de qualquer análise de qualquer problema socio-económico.
O caso da vacinação não escapa a uma análise classista, mas comecemos por uma argumentação mais cientifica.
Desde Koch e Pasteur a vacinação já conseguiu eliminar uma doença - a varíola - e esteve quase a eliminar outra, a tuberculose que matava essencialmente os sub-alimentados das classes baixas , os que não podiam pagar os prolongados e repetidos tratamentos nas estâncias termais das altas montanhas. Só não a erradicou nos anos 70-80 do século XX porque, subitamente, a OMS deu a doença como "controlada" e acabou com a vacinação mundial massiva.
Num interlúdio político (teoria da conspiração?) importa notar que a decisão da OMS acontece a par da onda neo-liberalizante privatizadora (Reagan-Teatcher-Wojtyła), também na saúde, e que, como resultado dessa decisão, hoje, as várias versões das tuberculoses multiresistentes montadas em cima da sida são campo de investigação e de lucros multimilionários para a big-farma.
Voltemos aos factos. Uma vacina é essencialmente uma pequena porção de "doença" (bacilos, bactérias, vírus) suficientemente "morta" (envenenados, queimados, entoxicados, estraçalhados) para não "infetar" o hospedeiro (o ser humano) mas suficientemente viva para despertar e produzir no organismo humano os anticorpos que possam lutar contra a "doença" quando ela surgir na versão "vivinha-e-pronta-a-matar". É por isso absolutamente natural que se encontrem nas vacinas vestígios de mil e um venenos, tóxicos e lixos. Do pó de talco à soda cáustica vale tudo para enfraquecer até à quase morte a bactéria. Os venenos todos estão lá em quantidade suficiente para manter o agressor "quase-morto" e insuficiente para fazer mal ao organismo humano no seu todo. Esses tóxicos estão lá, não subrepticiamente, mas propositadamente para manter os responsáveis pela doença "quase-mortos" ou mesmo "mortos".
Regressemos então à nossa teoria da conspiração, mas a uma que use a visão classista da sociedade, para deixar algumas perguntas cujas respostas talvez ajudem os adeptos progressistas da não vacinação a compreender porque é que este movimento, nascido no seio das comunidades mais retrógradas e conservadoras dos eua, só recentemente foi empurrado para as portas da "naturalidade" das comunidades alternativas, culturalmente radicalizadas na desconfiança da ciência e social e economicamente alienadas do marxismo.
Na sua inevitável e incessante busca do maior lucro, a big farma prefere as soluções que erradiquem uma doença ou as que "tratem" a doença quando ela surgir?
Quantas vacinas da gripe pode a big farma vender a um cidadão para evitar a gripe e quantas embalagens de comprimidos lhe consegue impingir para a tratar?
Quem estará interessado e quem não estará numa prevenção barata e universal de uma doença até à sua erradicação?
Será razoável deixar nas mãos de uma indústria capitalista a escolha das linhas de investigação no combate ou prevenção da doença? Irá essa indústria guiar-se pelos interesses da humanidade ou pela maximização do lucro quando tiver (e tem!) de escolher entre o doente e o lucro?
Como é que, no contexto de uma já tradicional vacinação contra a gripe, surgiu o pânico da "gripe das aves", de origem asiática, que originou o fabrico apressado e mal atamancado de uma pseudo-vacina para a "gripe-asiática" que salvou um potentado norte-americano da falência? A quem interessou essa "vigarice"? Quem lucrou? Qual o real impacto dessa "vigarice" no movimento antivacinação?
O problema está nas vacinas ou em quem as produz?
Podemos confiar na indústria capitalista para nos tratar da saúde?
Uma indústria que precisa de lucrar com a doença prefere tratamentos, curas ou prevenções?
Os 10% de detentores dos meios de produção preferem uma saúde privada, paga, de onde possam extrair lucros ou uma saúde pública e gratuita com o intuito único de curar?
E para os 90% que não lucram nada, nunca? Qual a escolha mais óbvia?
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