Nada melhor para comemorar os 44 anos de Abril, do que uma viagenzinha à verdade histórica daquele fim de PREC, parteiro desta conspurcada democratadura em que vivemos há 43 anos.
O livro chama-se "O 25 de Novembro e os Media Estatizados" e é uma crua, cruel e objetiva história das malfeitorias que os vencedores de Novembro fizeram aos vencedores de Abril. Uma história narrada pelos testemunhos de quem ficou desempregado, a ganhar os processos judiciais todos, desde a 1ª instância até ao supremo, o calvário todo, completo, imposto pelos novembristas, recurso a recurso, só para fazer passar o tempo, só para atrasar a inelutavel readmissão. Mesmo para lá da amnistia. Tudo para, quando se acabaram os recursos, lhes dizer na cara: "olhe que foi readmitido, mas o 25 de Novembro ainda não acabou". Vale a pena ler. É um lindo retrato da ditadura da classe dominante, família toda, a corpo inteiro. Vêem-se bem os caninos espetados.
Ribeiro Cardoso, jornalista, entrevista os saneados e os algozes, os abrilistas e os novembristas. Os "suspensos" trabalhadores da rádio, da tv, dos jornais, e os caciques que, à revelia de qualquer lei, como verdadeiros pistoleiros da fronteira, mandaram afixar com fita cola, nas portas, a ordem de serviço tal e tal de 26 de Novembro, a suspender e a proibir a entrada nas instalações aos trabalhadores abaixo nomeados. Zás-Trás-Pás, de uma pazada, num só dia, centena e meia de profissionais, suspensos, arrumados, despedidos, sem quês nem porquês. Quarenta aqui, vinte ali, trinta acolá, uma centena e meia de homens e mulheres arrumados na prateleira, sem justificação, sem processo disciplinar, sem serem ouvidos e sem saberem porquê. Porque sim, disse o major de serviço, o cabo, o sargento lateiro do 24 alcandorado a mandante pelos novembristas vencedores.
Porque essa perigosa centena de profissionais, locutores, redatores, sonoplastas, administrativos, jornalistas, radialistas, homens e mulheres poderiam contestar a verdade única que, a partir dessa noite de 25 de Novembro, passou a reinar no país. Digo-vos eu.
Esses mesmos novembristas, sempre cinzentos, bem instalados nesta democratadura corporativa, assumem hoje que "aquilo não teve nada a ver com a lei, aquilo foi pura política" dos novembros em que o Almeida Santos mandava no ministério da comunicação social e o Mário Soares dava ordens ao primeiro ministro Pinheiro de Azevedo.
Vivemos hoje a herança de Abril? Sim, sem dúvida. Na cor, nos sorrisos, na liberdade de aqui escrevinhar uns ditos sobre o livro que lemos, o banqueiro ladrão, o xuxalista corrupto e mandar às malvas a direitalha canalha e os donos disto tudo. Nesses risos, sorrisos, cravos e liberdades vivemos a herança de Abril. Mas vivemo-la em tempos de novembro. Nestes tempos de desigualdades, misérias, bancos roubados, país queimado, imprensa calada, mansa, domesticada, expurgada dos que a poderiam ter feito importante, relevante, verdadeira.
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