2018/04/07

Só 25 Milhões? Eu Só Quero Investir 1% em Cultura!

Isso mesmo, ao longo dos próximos 3 anos vamos gastar 75 milhões em cultura. Uma média de 25 milhões por ano.

Depois da bronca sair à rua, o governo aumentou o "favorzinho" em 4 milhões e propõe-se, agora, "oferecer" este ano 19 milhões aos "agentes culturais.

Os "agentes culturais" exigem 25, o governo dá 19. A discussão, a polémica, anda em torno de gastar, "em cultura", um bocadinho menos de 20 ou um bocadinho mais de 20. Milhões.

Alguém perguntou a alguém quanto é que "o governo" devia gastar em submarinos? Ninguém discute a utilidade dos 880 milhões enterrados em dois supositórios pretos? 880 milhões só na compra. Manutenção e operação são contas à parte. Um bocadinho menos de mil em supositórios pretos, um bocadinho menos de 20 em cultura. 1000 para supositórios, 20 para cultura. Milhões. See what I mean?

Alguém contestou os 11 000 milhões? É isso mesmo, 11 mil milhões, 11 000 000 000, de exposição dos contribuintes ao NovoBanco? Sim! Só ao NovoBanco! Só ao NovoBanco que agora é do fundo abutre Lone Star. Alguém sabe sequer que entre o que já enterrámos, já emprestámos, podemos ter de vir a enterrar, e podemos vir a ser obrigados a emprestar, ao NovoBanco, que pertence ao fundo privado LoneStar, andam 11 mil milhões de euros? 11 000 para o NovoBanco da LoneStar, 20 para a nossa cultura, para a cultura portuguesa, para a música e os músicos e os maestros e as orquestras e os bombos e os violinos e os pianos, para o teatro, o cinema, os atores, encenadores, realizadores, sonoplastas, figurinistas, escritores e dramaturgos, guionistas, para a pintura e os pintores, para os palhaços que fazem rir crianças e põem sorrisos nas vidas dos adultos, para isto tudo e muito mais, e ainda para estes todos que somos nós quando deles vamos usufruir, 20, para um fundo privado, dedicado a estraçalhar a economia real: 11 000. Milhões.

Mas este escrito nem tem nada a ver com cultura. Os 20 com que o poder quer calar a nossa cultura, foi só a primeira coisa que me veio à cabeça, ao ler o artigo do José Goulão sobre mais um, este sim gigantesco, "investimento", que vamos ser chamados a pagar com o dinheiro que não quisermos investir em cultura, educação, saúde e habitação.

Preparem-se porque não tarda nada vai ser mais um regabofe de autoestradas, rotundas, pontes e viadutos para tornar tudo compatível com a plena liberdade de circulação de ... material militar.

Acaba ele assim: «As despesas ficam a cargo dos cidadãos de cada Estado membro, recorda-se, como se não lhes bastassem a austeridade, os salários congelados, o desemprego, as consequências da obsessão do défice, a precariedade, a anarquia imparável atacando o mercado laboral e outras consequências da moderna vida em paz, liberdade e democracia. Poderão os países, contudo, vir a usufruir de uma eventual «contribuição financeira» da União Europeia. Que além de incerta, pela própria formulação, certamente será canalizada pelas vias opacas por onde costumam sumir-se os subsídios, em direcção às contas on ou offshore dos beneficiários habituais.

Em termos meramente formais, é certo, estas medidas da militarização do nosso quotidiano são ainda projectos em poder dos mecanismos de decisão. Cabe aos cidadãos quebrar as barreiras que vão sendo erguidas para os impedir de conhecer o que se prepara à sua revelia e combater tão monstruosa como desumana engrenagem. Mesmo que seja cada vez mais poderosa esta sensação de inutilidade e vulnerabilidade perante a imensa máquina de guerra em movimento.»

Mas vão lá ler o artigo, vale a pena.

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