O Lado Oculto continua a ser uma fonte de preciosa informação. É graças a ele que ficamos a saber quem é o democratador que os governos da UE e o silva os negócios estrangeiros aceitam como cão de fila encarregue de gerir o pró-consul estado-unidense para a Venezuela. @Refer&ncia
Abrams: Restabelecer democracias é com ele
(José Goulão, O Lado Oculto, 2019/01/29)
Elliot Abrams, o enviado de Donald Trump para a Venezuela com a missão de “assessorar” o “presidente interino”, Juan Guaidó, no golpe de Estado comandado de Washington, é dono de um dos currículos mais sinistros e sangrentos das intervenções norte-americanas no estrangeiro, principalmente na América Latina. A sua escolha é um verdadeiro livro aberto sobre as intenções reais dos Estados Unidos neste processo e que deveria ser de leitura obrigatória para todos os governos que caminham ao lado de Trump na operação.
A designação de Abrams é a confirmação de como o ex-patrão da CIA e actual secretário de Estado, Michael Pompeo, assumiu as rédeas da política externa da administração norte-americana, principalmente a partir do momento em que o presidente anunciou a intenção de retirar as tropas da Síria.
Juntamente com John Bolton, o conselheiro de segurança nacional do presidente, Pompeo forma a dupla neoconservadora de falcões conhecidos por não olhar a meios, tanto públicos como clandestinos, para concretizar as ambições do establishment imperialista.
Elliot Abrams, um dos principais responsáveis pela criação do National Endowment for Democracy (NED), entidade formada para cumprir e encobrir objectivos da CIA em operações de “expansão da democracia”, ganhou parte da sua já consolidada e justa fama de carniceiro na América Latina durante o consulado de Ronald Reagan – quando foram instaurados os pilares essenciais do neoliberalismo global.
Homem dos direitos humanos
Principalmente na Nicarágua e em El Salvador, Elliot Abrams destacou-se através da utilização de esquadrões da morte, montagem e desenvolvimento de organizações fascistas e financiamento clandestino do terrorismo, actividades em que não hesitou sequer em mentir ao Congresso – acabando por ser condenado por este facto, por duas vezes, em 1991. No entanto, o presidente George Bush (pai), antigo director da CIA, logo o ilibou das condenações. Segundo Abrams, todas as acusações assentavam em “propaganda comunista” para ensombrar as “grandes conquistas” alcançadas “pelas forças democráticas”.
Abrams montou a tristemente célebre operação Irão-Contras, uma actividade clandestina da administração Reagan através da qual os Estados Unidos financiaram os grupos terroristas criados para fazer a contrarrevolução na Nicarágua com fundos obtidos através do tráfico de droga e da venda ilegal de armas ao Irão – país contra o qual Washington estabelecera sanções de acesso a armamento.
Em El Salvador, Abrams alimentou a cruel guerra civil através de esquadrões da morte e organizações político-militares fascistas, provocando a morte a milhares de homens, mulheres e crianças. Fê-lo desempenhando no governo o cargo de secretário de Estado adjunto para os Direitos Humanos.
Experiência na Venezuela
Elliot Abrams é também considerado um dos autores do conceito de “teopolítica”, isto é, a utilização de fundamentalismos religiosos, designadamente islâmicos, para servir de base à mobilização de hordas terroristas transnacionais de índole mercenária.
Condenado pelo Congresso norte-americano, em 1991, precisamente por ter mentido por duas vezes a propósito das suas actividades clandestinas em El Salvador, e logo perdoado por Bush, Abrams ressurgiu dez anos depois como conselheiro de George Bush (filho) “para a democracia global”, cargo em que foi um fervoroso artífice da invasão do Iraque. Toda ela, como se sabe, assente em mentiras hoje amplamente comprovadas.
Entretanto, fazendo uso dos seus sólidos laços com a conspiração fascista e golpista latino-americana, Abrams foi um dos organizadores do golpe de 2002 na Venezuela contra o presidente Hugo Chávez, eleito democraticamente. Alguns dos elementos mais activos na “oposição” que enquadra agora Juan Guaidó e as organizações que o sustentam foram agentes nesse golpe, que acabou por ser derrotado pela mobilização popular em torno do presidente. Nessa ocasião foi nomeado igualmente um “presidente interino”, enquanto Chavez esteve preso, por sinal o chefe da associação das organizações patronais, Pedro Carmona. Dessa feita, as investigações realizadas em Washington sobre o que aconteceu em Caracas não detectaram “nada de errado” no comportamento do organizador do golpe.
Chamado agora por uma das duplas mais adeptas dos meios violentos que passou por Washington para assessorar Guaidó em Caracas, com o objectivo de “restabelecer a democracia” na Venezuela, Elliot Abrams traz com ele um currículo único de 40 anos de abusos e violência, guerras civis, golpes militares, mudanças forçadas de regimes políticos supostamente de âmbito “institucional”, organização de gangues, esquadrões da morte e outros grupos terroristas.
Abrams é o eleito para fazer o trabalho pretendido por Trump, Pompeo, Bolton e por todos quantos estão com eles para transformar a situação “interina” em definitiva na Venezuela, país que alberga as maiores reservas de petróleo disponíveis no mundo.
“Restabelecer democracias” é, sem dúvida, a especialidade de Elliot Abrams.
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