2019/01/19

BE Mais Uma Vez Contra as Democracias Latino-Americanas

Já sobre a Nicarágua tive a oportunidade de ler uns escritos no esquerda.net claramente inspirados nas narrativas mais bolorentas do imperialismo estado unidense que pôs no poder brasileiro o fascista bolsonaro. Na altura tentei comentá-los mas a democracia implementada no site do BE não mo permitiu. Desta vez o alvo é a Venezuela. Pergunto-me: estarão os opinadeiros desses escritos a ser financiados com os trinta dinheiros das democratadoras fundações do George Soros? @Refer&ncia

O BE defende um golpe militar na Venezuela?
(Bruno Carvalho, Manifesto74, 2019/01/18)

O Bloco de Esquerda publica um artigo inenarrável contra a Venezuela que defende um golpe militar, assinado por Tomás Marquez, que repete o argumentário utilizado pelos governos, partidos de direita e órgãos de comunicação social alinhados com o imperialismo. Vamos desmontar, ponto por ponto, uma posição que se inscreve na linha histórica do BE de se orientar na sua reflexão sobre política internacional por aquilo que é dito por Washington ou pela União Europeia.



1. "não foram compridos os requisitos que são exigidos em Democracia, para a realização de eleições livres e democráticas".

Depois da violência desatada pela oposição nas ruas da Venezuela, Nicolás Maduro apelou à paz e propôs reuniões com os líderes opositores que se vieram a realizar na República Dominicana com o apoio do Vaticano e de José Luiz Rodriguez Zapatero, ex-chefe do governo espanhol e antigo secretário-geral do PSOE. Desses diálogos, as duas partes chegaram a acordo sobre convocar eleições. Recordemos que a oposição fez uma campanha recolhendo assinaturas para convocar um referendo que destituísse Nicolás Maduro e conduzisse a eleições antecipadas. Ou seja, houve um princípio de acordo para a realização de eleições que, inexplicavelmente, uma parte da oposição logo a seguir recusou. Ainda assim, o presidente da Venezuela convocou eleições nas quais participaram, para além do próprio, outros candidatos opositores, apesar do boicote de uma parte.

Sobre a validade democrática do plebiscito basta-nos recordar o que disse Jimmy Carter sobre as eleições venezuelanas. O ex-presidente norte-americano que monitorizava eleições em todo o mundo há mais de uma década disse que "o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo". Nicolás Maduro ganhou com 67,84% dos votos. O opositor Henri Falcón teve 20,93% e o opositor Javier Bertucci chegou aos 10,82%.

2. "Nicolás Maduro e seu partido mal denominado Socialismo do século XXI, não são mais do que usurpadores do poder através das armas, das ameaças e da corrupção, enganando o seu próprio povo e levando-o a uma ditadura, com a promessa de um novo estado social-democrático."

Desde que Hugo Chávez chegou ao poder pela via eleitoral, em 1998, foram realizadas dezenas de eleições e referendos na Venezuela. Na maioria, ganhou o chavismo. Noutras a oposição, que, diga-se, nunca renunciou aos cargos que elegeu reconhecendo assim as eleições. A única vez que houve um golpe violento protagonizado por "usurpadores do poder através das armas" foi em 2002 quando um sector golpista do exercito, em conjunto com os partidos da oposição, sequestrou Hugo Chávez. Apesar disso nenhum partido da oposição foi ilegalizado.

3. "Em 20 anos de demagogia destruíram uma nação inteira, saquearam as sua riquezas, desapareceram com as suas reservas internacionais, expropriaram tudo o que havia e o que não havia também, expropriaram os sonhos e a vida dos venezuelanos e dos estrangeiros que fizeram da Venezuela a suas casa e a sua Pátria."

Durante meio século, o sistema político e económico defendido pela oposição, por Tomás Marquez e, pelos vistos, pelo BE, afundou na miséria milhões e milhões de venezuelanos. Às crianças davam-lhes comida para cão para que não morressem de fome, o analfabetismo grassava pelo país, uma parte da população nunca tinha visto um médico e viviam em casas de cartão como cantou Ali Primera. Os avanços operados pela revolução bolivariana, mesmo com as consequências da actual guerra económica sobre o povo venezuelano, são indesmentíveis. Ao contrário de antes, o lucro do petróleo não ficou nas mãos da oligarquia mas foi repartida com a população. Como? O analfabetismo foi erradicado como atestou a UNESCO, a Venezuela tem, hoje, uma das mais elevadas taxas de acesso ao ensino universitário do mundo, construi 2,5 milhões de apartamentos onde alojou milhões de famílias e encheu as favelas de consultórios médicos. A água, electricidade, gás, combustível, telecomunicações são praticamente gratuitos. É a oposição que quer expropriar tudo isso e devolver o poder às elites.

4. "Cabe ao povo venezuelano, aos militares e à comunidade internacional, em cumprimento dos artigos 232, 233 e 350 da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, reestabelecer a ordem democrática no país."

Não há muito a dizer. Tomás Marquez e o BE, por intermédio, apelam a um golpe militar que cumpra os sonhos molhados da oligarquia venezuelana. Assim, sem esconder ao que vão, sustentam a tese de que Nicolás Maduro não é o presidente legítimo quando foi eleito por 67,84% dos votantes e tomou posse no Supremo Tribunal de Justiça porque, como diz a Constituição, a Assembleia Nacional não estava habilitada para o fazer porque a oposição não quer substituir por outros seus deputados desse órgão que foram eleitos em condições anormais.

A revolução bolivariana pese as suas contradições e erros próprios de um processo que apenas tem duas décadas de existência protagonizou avanços sociais, económicos, políticos e culturais. É uma revolução democrática assediada por todos os lados e também por esquerda que se diz democrática mas que usa a bússola do imperialismo para se definir. A derrota do chavismo na Venezuela seria um rude golpe e uma vitória do capitalismo.

Há cem anos, também havia na Alemanha quem se dissesse de esquerda mas se alinhasse com o imperialismo. Foi essa esquerda, dita democrática, que quando chegou ao poder assassinou violentamente Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Hoje são os mesmos que não têm problemas em apoiar invasões na Líbia e golpes na Venezuela.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário ficará disponível após verificação. Tentaremos ser breves.