É Matemático
(Hugo Dionisio, Facebook, 2018/01/04)
Começa sempre de mansinho… Uma palavra dita ao acaso, do tipo: “o 25 de Abril foi evolução”. Depois chegaram os “colaboradores”, “o estado ocupa muito espaço na economia”, ou “o estado deve diminuir o peso na economia”, para além de “o capital faz falta, o tempo da luta de classes acabou”. Alguém constatou que estes eram os princípios estampados no Estatuto Nacional do Trabalho de Salazar? Uma cópia quase fiel da Carta Del Lavoro de Mussolini?
Mas de antes já vinham as colagens como: “O comunismo era para a esquerda o que o nazismo foi para a direita”; “Lenine o ditador”; “os comunistas queriam uma ditadura”;etc… Ou, ainda pior, a reprodução interminável das patranhas que os nazis inventaram sobre a URSS, para assim criarem um pretexto para a sua invasão.
Ao mesmo tempo vem o “esse discurso do estado social está ultrapassado”; “a justiça social é do século passado”. E isto tudo, ao mesmo tempo que se desregulam as leis laborais, se atacam as massas trabalhadoras com a austeridade; se concentra a riqueza numa parcela ainda amais pequena de população (1% dos mais ricos tem mais do que os 50% mais pobres); se descredibilizam os partidos com o “são todos iguais”, escondendo sempre que, com todos os defeitos e virtudes que aos seres humanos é permitido, há pelo menos um partido em Portugal no qual os seus quadros não enriquecem (devolvem o que ganham a mais do que o salário que já tinham, devolvem senhas de presença…), não são condenados por corrupção e não estão envolvidos em escândalos económicos – o Partido comunista, precisamente. Sei que dói a muitos, mas é mesmo por doer que se cala.
Entretanto, a própria social-democracia passou a ser chamada de socialismo, o socialismo de “esquerda radical” e a “esquerda radical”, de ditadora, totalitária, num grupo no qual cabem comunistas, anarquistas, trotskistas, maoistas e todos os que mais ou menos consequentemente se opõem à ideia – draconiana e apocalíptica – de que um mundo mais justo é impossível. Roubam a esperança de um mundo melhor , e chamam de irrealistas a quem o defende, deixando o povo na amargura existencial.
À medida que se recentram os valores políticos à direita, usando a máquina infernal que é a comunicação social, apelidando de “esquerdista” e “vermelho” tudo o que cheira a luta por justiça social, igualdade e progresso social, não se assume que, com isso, se está a abrir espaço aos soldados políticos da direita institucional – a extrema-direita. Afinal, há muito que os cientistas evolucionistas, naturalistas, marxistas nos disseram que tudo funciona numa relação de forças contraditórias, em que umas superam as outras, resolvendo-se para um lado ou para o outro. Seja na natureza (o crescimento de uma planta contra os elementos), seja na sociedade (uma classe contra outra).
Embrutece-se a população com Big-brothers, despolitizam-se as massas e desinformam-se os incautos, abrindo-lhes as perspectivas para um discurso inflamado, mas básico; superficial, mas incisivo; banal, mas populista; típico da extrema-direita e típico de quem quer ser percebido por toda a gente, especialmente as massas menos letradas.
Até a Igreja começa com o “não vendamos os nossos princípios por uns tostões na reforma ou no salário”, como que dizendo: “não se deixem enganar por esses malditos comunas”.
As movimentações subterrâneas – as forças – das quais esta realidade é apenas a face visível, têm uma e mesma origem – o capitalismo – que em momentos de difícil expansão, joga sempre a mesma cartada: domínio oligárquico pela força.
Eis o que lhes passa pela cabeça: “Para quê dar ouvidos a pretensos “sociais-democratas”, se o papel histórico da social-democracia está esgotado”? “A URSS já não existe e já não há o perigo – pelo menos por agora – da revolução social global que supere este modo de produção capitalista”. “Para que serve a social-democracia”? “Para desviar recursos à oligarquia do 1% de mais ricos, que assim vão para os mais pobres”? “Que perda de valor”!
É porque têm medo do comunismo? Talvez, algum. Preconceito, pelo menos. Mas é sobretudo porque querem abrir espaço a um outro mundo. Um mundo que a história já conhece e que, por sinal, começa sempre mais ou menos da mesma forma.
Depois disto tudo: alguém acredita na ingenuidade desta gente? Na ingenuidade de quem se admira com o facto de a extrema-direita estar a voltar em força?
Marx diria: é da natureza intrínseca do capital… Eu acrescentaria: é matemática pura!
"Primeiro foram os comunistas"…
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