2018/07/14

O Rabo na Boca da Fertagus

Coincidência ou nem por isso a verdade é que duas opiniões juntas valem três vezes mais.

Esta semana ficámos a saber, pela boca do presidente da CP, que o que lá falta é material circulante e pessoal para por a funcionar o que está avariado.

Ficámos também a saber, pela boca desse mesmo infiltrado do Capital, que a solução não vai passar por contratar mais trabalhadores para arranjar o material avariado, mas subcontratar os arranjinhos no estrangeiro e, em vez de comprar material circulante, porque o Centeno da Costa não deixa, aluga-se à renfe aqui dos nuestros hermanos que por uma vez não serão germanos.

A despropósito disso e muito mais, esta semana, o Manuel Gouveia escreve no Avante!, sobre o dinheiro que o país tem para resolver esses problemas mas o PS prefere gastar em juros da dívida e prebendas ao Capital sob forma de PPP's.

Interessante é notar que a Crista de galinha aproveita essa mesma falta de tudo que os privados impôem na CP para defender a Parceria Para os Privados com a fertagus que vende passes a mais de 130 euros por mês. Agora a propósito: sabiam que a concessão do comboio da ponte acaba em 2019? Podiamos acabar com essa PPP! Queremos? Quem quer e quem não quer? @Refer&ncia



Rabo na Boca
(Manuel Gouveia in Avante!, 2018/07/12)

O PS anda a repetir a mesma cantilena que os partidos da política de direita repetem há largos anos para justificar a sua política de reconstrução do capitalismo monopolista. Podia-se resumir em quatro versos: não temos dinheiro / se queremos investimento / precisamos de privatizar / que os capitalistas é que têm dinheiro.

A coisa não rima mas funciona, como funcionam muitos dos jingles. E é tão falsa como a maior parte deles. Vamos por partes: o País tem dinheiro, muito dinheiro. Podia ter mais claro. Teria mais se as grandes empresas estratégicas continuassem nacionais e públicas. Teria mais se o Estado apostasse numa política de desenvolvimento do aparelho produtivo nacional, substituindo importações e explorando devidamente as riquezas nacionais. Etc. Aliás, basta contar o tamanho e a quantidade dos «nossos» ricos para perceber que a conversa do Portugal pobrezinho só serve para esconder as causas da injusta distribuição da muita riqueza criada.

Atentemos no Orçamento de Estado. Há um superavit de 5 mil milhões, que é transformado num défice pelo pagamento de juros, mas que já antes tinha sido encurtado pelo pagamento de swaps, pelo pagamento de PPP, pelo salvamento de bancos, pelas transferência de lucros para o estrangeiro, pelas isenções fiscais aos capitalistas. É este o dinheiro que não temos: o que entregamos ao grande capital. E depois apresentam-nos como solução a mesma política que nos criou o problema: pedir emprestado ao grande capital, fazer com ele um «acordo» de parceria ou entregar-lhe novos sectores para explorar directamente.

Parece um problema tipo «pescadinha de rabo na boca». Mas na realidade, é mais do tipo do «nó górdio». E desde Alexandre que se sabe como se desatam esse tipo de nós!

As Greves, Esse Desespero
(Margarida Botelho in Avante!, 2018/07/12)

A Comissão de Utentes dos Transportes da Margem Sul lançou um manifesto pelo fim da Parceria Público-Privado (PPP) da Fertagus, reivindicando a integração do chamado comboio da ponte no sector público, que foi assinado por mais de uma centena de personalidades da área metropolitana de Lisboa. A concessão à Fertagus termina em 2019 e essa é uma excelente oportunidade para acabar com esse negócio ruinoso para o Estado português.

Uma das questões que mais motiva o descontentamento dos utentes é o preço: não só o passe social intermodal não é válido na Fertagus como as passagens são escandalosamente caras. Um único e esclarecedor exemplo: da Azambuja a Lisboa, linha da CP, o passe custa 55,75€; de Setúbal a Lisboa, quase os mesmos quilómetros mas na linha da Fertagus, custa 131,95€. Claríssimo, não é?

Não para o CDS-PP de Almada, que lançou uma campanha online contra aquilo a que chama «a nacionalização do transporte ferroviário na ponte». Acusa a Comissão de Utentes de querer acabar «com o melhor serviço público de transporte operado por uma empresa privada que oferece aos seus utentes, comodidade e qualidade, cumpridora dos seus horários, não desespera os utentes com greves e mantém em simultâneo um considerável serviço de segurança para os passageiros». Acrescenta que só «para cumprimento de uma agenda ideológica, preconceituosa e completamente ultrapassada no tempo e no espaço»se pode defender tal coisa.

Reparou o leitor como a argumentação omite a questão central do preço? Como se agarra a esteriotipos contra o que é público e os trabalhadores? Pois é, quando a verdade é tão clara como esta, só mesmo usando argumentos preconceituosos, falsos e ultrapassados é que se pode tentar atacá-la.

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