2018/10/10

Sinal de Alerta

Sinal de alerta
(Anabela Fino, in Avante!, 2018/10/04)

O tempo não volta para trás, mas o mesmo não se pode dizer dos valores sociais.

A nível internacional assiste-se à ascenção dos Trump, na Europa como no continente americano, para não ir mais longe.

No Brasil, que no domingo vai às urnas, e só a título de exemplo, um dos candidatos com maiores intenções de voto é Jair Bolsonaro, assumido fascista, homofóbico, racista, machista, que «seria incapaz de amar um filho homossexual», preferindo vê-lo morto, e para quem o erro da ditadura brasileira «foi torturar e não matar» os opositores.



Nos EUA, o energúmeno que ocupa a Casa Branca é um dos nomeados para o Nobel da Paz, como se não fosse quem manda bombardear a Síria matando civis, em especial crianças; quem agravou o bloqueio a Cuba, condenado há anos pela ONU; reacendeu o conflito israelo-palestiniano ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel; retirou o país da Unesco e do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas; anunciou que os EUA só ajudarão os países que respeitem a política externa norte-americana e que sejam «amigos» dos norte-americanos, etc., etc., etc.

Na Europa, onde proliferam governos xenófobos e mais ou menos abertamente fascistas, não parece escandalizar ninguém, por exemplo, que a democrática Dinamarca impulsione leis como a que prevê que, a partir de um ano de idade, os filhos de imigrantes sejam obrigados a frequentar centros especiais, 25 horas por semana, para assimilarem os «valores dinamarqueses», incluindo as tradições do Natal e da Páscoa.

Por cá, onde ninguém é racista, nem xenófobo, nem machista e muito menos fascista, o

Tribunal da Relação do Porto decidiu por estes dias manter a condenação de pena suspensa aplicada pelo Tribunal de Gaiaaos violadores de uma mulher inconsciente. Argumentaram os juízes que a «culpa dos arguidos situa-se na mediania, ao fim de uma noite com muita bebida alcoólica» e um «ambiente de sedução mútua», concluindo que a ilicitude «não é elevada», até porque não houve «danos físicos».

Num país onde só 37% dos condenados por crimes sexuais vão para a prisão (29% no caso de abuso de menores), violar com jeitinho, sob o efeito dos copos, é uma diabrura. E a tentativa de homicídio, por ciúme, é compreensível, como considerou há um ano o Tribunal da Relação de Guimarães, que suspendeu a pena de um jovem condenado a seis anos de prisão por agredir à facada a ex-namorada. Para os juízes, o ciúme, embora «muito reprovável, não pode ser qualificado como fútil, isto é, irrelevante ou insignificante, ou como torpe, ou seja, vil e abjecto». E até citaram Otelo, de Shakespeare, para mostrar que o ciúme «tem sido universal e intemporal».

Tão perturbantes sinais de retrocesso civilizacional não podem ser ignorados. Os cavaleiros do apocalipse andam de novo à solta. É preciso avisar toda a gente.

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