Estranheza
(Anabela Fino, Avante!, 2018/12/20)
Solidariedade: (...) responsabilidade recíproca entre elementos de um grupo social, profissional, institucional ou de uma comunidade; adesão ou apoio a uma causa, a um movimento ou a um princípio... (in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa).
Nada mais claro: ser solidário é/pode ser um sentimento e/ou uma nobre atitude. Mas não é preciso cogitar muito para perceber que não há nobreza – no sentido filosófico do termo, ou seja, relacionado com valores morais humanos como a generosidade, a lealdade, a honestidade – na solidariedade com causas que atentam contra o bem comum. Tal como não há nobreza nenhuma no recurso a mecanismos obscuros para atingir inconfessáveis fins.
Vem isto a propósito do crowdfunding que financia a greve dos enfermeiros aos blocos operatórios, que recolheu 370 mil euros até 22 de Novembro e se propõe angariar, para nova greve, 400 mil euros até 14 de Janeiro. Catarina Barbosa, uma dos cinco enfermeiros que integram o Movimento Greve Cirúrgica, disse ao DN que preferem chamar-lhe «ajuda solidária», mas é no mínimo curioso que o sistema, anunciado por Santana Lopes aquando da formação do seu partido Aliança, tenha sido implementado por duas organizações recém-formadas, ao que consta por fracções do PSD, e aplaudido pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros, também do PSD.
Diz Catarina Barbosa que o processo é «transparente», que a maioria dos donativos é de «enfermeiros», que todas as contribuições ficam registadas «através do NIB». Será modalidade nova, esta, a de o NIB revelar a profissão?
Por justas que sejam as reivindicações dos enfermeiros, causa estranheza a facilidade em angariar fundos para uma greve que atinge o SNS quando o SNS está sob o fogo cerrado dos que querem acabar com ele. Ou não?
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